domingo, 27 de março de 2011

Masmorras medievais

            Já dizia Guimarães Rosa que “viver é muito perigoso”, imagine viver nas prisões de nosso país, comparadas a autêntica “masmorras medievais” pelo próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
            É um inferno, uma vergonha, um horror!... Como anteriormente escrevi aqui, repito agora que denunciar o desrespeito humano nas cadeias não se confunde com tolerância diante do crime. Ao contrário, o quadro de miséria, criminalidade, animalidade e brutalização, como se vê nos cárceres brasileiros só vem mostrar que tipo de pessoas será devolvido à sociedade, após o cumprimento da pena.
            Dá revolta ver a omissão das autoridades, pois num povo com sensibilidade (no mínimo!) esta situação já teria mudado há muito tempo. É um verdadeiro escárnio não só para os apenados como para os seus familiares.
            Engrossando esse caldo, o irônico é que ao lado de superlotação, insalubridade e maus-tratos nos presídios, ocorra à escancarada ações do tráfico de drogas, assassinato de seus pares e da corrupção policial.
            Quem não se lembra do Juiz da comarca de Sobral (MA) que liberou da cadeia todos os detentos ao recolhimento domiciliar (continuando sob a custódia do Estado), em virtude da situação caótica e chocante que eles se encontravam. É mister dizer que o ato desse magistrado está totalmente de acordo com a CF e os tratados internacionais de direitos humanos. É preciso dizer mais? Sim. Está também em conformidade a Lei de Execução Penal (art.185).
            Numa dessas dramaticidades do noticiário televisivo, diz um presidiário, angustiado, soluçando, em tom de desespero: “Queremos apenas um lugar digno para nos recuperar!”. Fez uma pausa e enxugou as lágrimas. Outro, irritado e desesperado, vociferou, entre os dentes: “Vamos todos morrer!”.
            Desço ainda a um detalhe da reportagem: o problema da crise nacional penitenciária não é o excesso de presos, mas a falta de vagas agravada por irresponsáveis cortes de investimento no Fundo Penitenciário Nacional.
            Ah, outra coisa: atualmente, existem 200 mil presos excedentes no país, sendo necessário construir não apenas os 93 presídios até 2012, mas também 440 novas unidades para abrigar novos criminosos retirados das ruas.
            Para encurtar a conversa, está na hora de mudar o discurso contrário e até bonitinho. Inadmissível, porém, que alguém espere chegar a morte para, só então, perceber que sobreviveu sem desfrutar a sobrevivência.


                            
                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         (lincolnconsultoria@hotmail.com)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Papai Noel

       É sempre assim, todos os anos, no mês de dezembro, deixo que a minha mente vague sorrateiramente. E logo vêm as reflexões: final de ano, festas de confraternização, amigo secreto, aulas acabando, muito trabalho a fazer, tarefas a terminar, entrega de projetos e todo mundo doido por férias.  E mais: praia, fazenda, descanso, décimo terceiro, crianças, viagens, presentes, família, época de esquecer os problemas e apenas se divertir...  Som na caixa!
            Em criança, quando todos insistiam para que eu acreditasse no Bom Velhinho, eu fingia que creditava, eles fingiam que não sabiam que eu sabia e tudo bem. Incrível, por mais que falassem que quem havia deixado os presentes debaixo da cama havia sido o Papai Noel, algo lá dentro (no meu interior) me dizia: “foi nada, foi meu pai mesmo!”, nunca os contestei.
            Independente desse meu tirocínio de pirralho, é importante deixar seu filho acreditar no famoso “Velhinho”, porque assim ele desenvolve a imaginação, o otimismo e até mesmo a crença de que seus sonhos podem se realizar. Ou seja, sem fantasia, a vida não tem a menor graça...
            Neste Natal, cada um de nós provavelmente presenteará aqueles que amam e até os que simplesmente gosta. E, se bobear, presenteará até quem não gostamos. Mas acho que dificilmente iremos nos presentear, pois ninguém presenteia a si mesmo no Natal. Mas penso que deveríamos fazê-lo!
            Você para estar em condições de obter esse presente, meu caro leitor, tem que fazer por onde merecer. A cada dia fica mais difícil para os humanos dialogar, compreender, amar e fazer-se amar pelos semelhantes. Às vezes, recorrendo a situação até melodramática para expressar a idéia de que “é conversando que a gente se desentende”.
            E como fica árduo entender, por exemplo, os recursos advindos dos Poderes Governamentais, onde na cultura de resultados em que vivemos, são caros demais, lentos demais, ineficazes demais para as necessidades aflitivas da população.
            Há, no entanto, um desafio constante para os que se empenham em promover a paz, pois a miséria e a violência sempre marcaram a história da humanidade.
            A miséria tem sua fonte no egoísmo, que gera a cobiça doentia, causando a desordenada concentração de riquezas nas mãos de uma minoria e relegando (aos outros) à condição de excluídos. É triste constatar os enormes bolsões de miséria que escondem milhões de cidadãos à espera de quem lhes estenda as mãos.
            Já a violência, por via de conseqüência, é resultado dessa tamanha injustiça distribuição de renda, com a inaceitável desigualdade social. Some-se a isso a volatilidade de atitudes das nossas autoridades e gestores, num registro quase cômico.
            Li em algum lugar, ou que talvez tenha ouvido alguém dizer: “amar o próximo como a si mesmo”, não significa que antes de tudo precisamos nos amar. Significa, na verdade, que qualquer coisa “menor” do que o amor não tem valor. O amor não exclui, ele envolve. Se não amamos ninguém além de nós mesmos, é porque não nos amamos.
            Papai Noel, enfim, como num trecho de um clássico da música popular brasileira: “Ah, se todos fossem iguais a você”.
            Feliz Natal, ho ho ho!!!

                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA

           
                       
            

Cadê as lojas de disco?

            Acredite se quiser: Não existe (ou quase) mais nenhuma loja de discos em João Pessoa!  Dá pra acreditar nisso?
            Para comprar um CD original, bonitinho, ao gosto, lançamento, é preciso ir às grandes lojas de departamento, onde, por sua vez, não se encontra aquele disco mais raro, aos de públicos segmentados, e sim, o pop do pop óbvio e convencional.
            As lojas desse gênero foram substituídas pelos carrinhos ambulantes dos piratas, preço baixo, concorrência desleal.  “Vai um calypso aí, moral? Um sertanejo? Um brega? Cinco paus”.
            Para aqueles aficionados da boa música e colecionador de discos não têm outra saída, a não ser, recorrer às compras pela internet, ou aos amigos quando viajam e se recomenda a compra de um disco especial.
            Seja ziguezagueando com os piratas e/ou a internet, o mercado fonográfico precisa dar um jeito de se adaptar a essa realidade.  Não sei se é uma coisa bem mundial mesmo ou só em países com vocação a pirataria, como o Brasil, mas é uma constatação um tanto indicativa do tamanho da crise apocalíptica que abala as estruturas dessa indústria no país.
            Volta e meia nos deparamos com reportagens ou estatísticas assombrosas a cerca da crise da indústria fonográfica.  Pirataria, alto preço dos CDS, popularização do CDR (o CD gravável) ou a escassez de novos talentos – explicações não faltam.
            “Obviamente a pirataria é o principal fator, já que quase 55% dos CDs vendidos no Brasil são piratas”, afirma o diretor da Universal Music, José Eboli.   Em nota, Associação Brasileira dos Produtos de Disco (ABPD), engrossa o coro: “A pirataria deixou de ser um produto do gueto para estar em toda esquina. É uma concorrência desleal”.
            Já o sempre verborrágico Lobão considera que a batalha é outra: “A principal guerra contra a pirataria seria a queda dos preços dos discos. É um negócio que tem a maior margem de lucro do planeta, com mais de 3000% por unidade”.
            Vejo, amiúde, que um preço de um CD, em média, era pra ser em torno de R$ 20,00, o que convenhamos, não inibiria a sua venda.  Reconheço, por outro lado, que não é ele (o preço) que vai resolver o problema. Se o produto não for interessante não adianta, mesmo com o preço lá em baixo, o público não compra.
            As gravadoras prendem-se muito a movimentos (exemplo: axé music, pagote, forró music, brega etc.) e são penalizadas logo em seguida por essas ondas – efêmeras – que elegem os sucessos do momento.
            O mais grave é que os discos (modus operandi pirataria) estão sempre entre os mais vendidos, ou cantores mais conhecidos, eles não têm a preocupação de lançar novos talentos. Prejudicando, assim, aqueles que estão começando na vida artística.
            Faz-me rir: não há crise de criatividade (compositores e intérpretes) no mercado musical, há uma falta de visão (noutras palavras: “embromación”) daqueles que estão à frente desse mercado.  Basta freqüentar à noite em qualquer lugar do Brasil e descobrir uma efervescência de grandes talentos musicais, tomada por gente nova, público forte e fiel.
            Não entendem ou fingem não entender. Ou seja: entender eles entendem, mas não compreendem face ao desejo imoderado.
            Falta incorporar isso, falta seriedade!!!


                                                     LINCOLN CARTAXO DE LIRA




                            
            

Show de Natal

      Segundo os nossos especialistas econômicos, este deve ser o melhor Natal dos últimos tempos para o comércio.  As condições são favoráveis, a indústria está aquecida e preparada para esse acontecimento festivo.   A moeda fortalecida permitiu que importasse produtos do que não tínhamos aqui.  E mais: não temos crise institucional no momento, o desemprego está caindo, houve aumento de renda e as taxas de inadimplência estão estáveis. É isso aí!!!
            Mesmo assim, é necessário que nossos empresários fiquem atentos, cabreiros, e não se limitem apenas a esses prognósticos macro-econômicos, mesmo que sejam verdadeiros, legítimos e tecnicamente irrepreensíveis. Vivemos num mundo globalizado. Do ponto de vista econômico, a maior conseqüência dessa globalização para as empresas é a competição.
            E quem ganha com isto? Ora bolas, o Cliente! A concorrência entre empresas está cada vez mais acirrada. Uma verdadeira “guerra comercial”. Principalmente nesse período natalino.
            Pois, além do preço e prazo para pagamento (a perder de vista!), é necessário atender, servir, satisfazer, encantar, cativar o cliente. Só assim, a empresa, poderá sobreviver, crescer, desenvolver e lucrar satisfatoriamente.
            Foi por esse norte, que as grandes cadeias de shoppings em São Paulo vêm desenvolvendo um programa de auditório com a palestra motivacional “Show de Natal”, voltada exclusivamente para vendedores do varejo. Cujo treinamento é feito pela filial brasileira da Fried-man, consultora criada nos EUA, lá pelos anos 80.
            “Vocês estão na loja para quê?”, pergunta o sujeito à platéia, que grita: “vender”. “Quando?”, continua, “sempre”, berra a platéia.  “Que horas são?”, segue ele. A turma devolve: “showtime”.
            O palestrante (consultor) – Marcelo Chita, dono de um estilo próprio (domador de palavras), de uma verve apurada e de extrema competência, diz que vendedores precisam ser artistas e que a venda é um show (daí o bordão do “show time”, hora do show, em inglês, repetido à exaustão). Nessa turbulência emocional, ele começa propondo um momento de reflexão: “Como você fechou 2007?” Aquele silêncio.  “Já escreveram a cartinha para o Papai Noel?”, pergunta à turma, como um tom mágico de efervescência intelectual e musical.
            E o melhor: o espírito natalino então baixa no lugar, que é “tempo de fraternidade, de ter sonhos e metas”. Ele não chega a colocar a trilha sonora “Então é Natal” (versão em português de “Happy Xmas”, de Jonh Lennon e Yoko Ono). Mas conta uma história sobre Lennon, com a seguinte moral: simplesmente, creia nos seus sonhos! Completando, eu diria: ... porque através deles você se liberta e transgride. O Consultor, finalizando, afirma: “Papai Noel existe, e é você que trabalha no varejo”.
            Feliz Natal!!!  Com boas compras, bons negócios.


                                                              LINCOLN CARTAXO E LIRA
             
             
           

A violência no trânsito

            A questão da violência e da criminalidade têm sido, há já um bom tempo, o centro das discussões, onde não falta a figura controvérsia sobre a leniência das leis e a impunidade. E quando falo em violência, obviamente não posso excluir aquela que vem diretamente do trânsito.
            Mais curioso ainda é saber que o Judiciário aceita como homicídio culposo a maioria (e que maioria!) dos acidentes de trânsito. Talvez seja útil transcrever um comentário que não foi cunhado por um advogado qualquer empolgado: “se alguém quiser assassinar um indivíduo, basta alugar um carro e dirigir bêbado”.
            Como bem sabemos: tempo de feriados, tempo de acidentes. Em finados(último), ocorreram no Brasil 1.650 acidentes, com 104 mortes e 1.076 feridos.
            Álcool, imprudência, alta velocidade e falta de consciência de condutor de veículos e pedestre, além disso, a falta de infra-estruturas e medidas mais duras no trânsito, esta combinação explosiva, faz com que o Brasil seja o país mais violento em acidentes de trânsito no mundo.
            Desnecessário dizer que o governo, por sua vez, tem que ser realístico ao enfrentar esse problema (já de calamidade!) e não resgatar a máxima do então ministro Rubens Ricupero, mais ou menos assim: “o que é bom a gente mostra, o que ruim a gente esconde”.
            Mas o pior, o mais atordoante, é que nos últimos dez anos, perdemos cerca de 330 mil vidas em acidentes de trânsitos!  O Código de Trânsito Brasileiro, aprovado em 1997, reduziu as mortes só no começo, até o ano 2.000.  A partir daí, eles subiram.  Hoje são cerca de 35 mil mortes por ano.
            Quando somos comparados a países da América Latina, aí é que fica lastimável e feio!  O Brasil, a taxa de mortes no trânsito é de 19 pessoas por cem mil habitantes.  O Uruguai, a taxa é de 22; na Colômbia, 21; na Venezuela, 11; no Equador, 10; no México, 4 (O Globo – 7/10/07).
            O Brasil perde mais de R$ 20 bilhões por ano com os acidentes e as milhares de vidas preciosas – a maioria jovens de 18 a 30 anos.  Não podemos continuar com esse quadro.  As autoridades precisam agir com firmeza, e não se limitar a borbulhas, slogans e rótulos de suas campanhas institucionais (mídia).
            Seja como for: cavalheiro medieval, samurai japonês, cowboy americano, até sertanejo do Brasil, não vão resolver (sem medidas educativas, punitivas e infra-estruturantes) esse estado de coisa. Pois, nossos jovens estão morrendo no trânsito, por ano, mais do que jovens americanos morreram na guerra do Vietnã.
            Diante disso, não se podem admitir sofismas. Quando vejo alguma nota dissonante e dissimulada dada por alguma autoridade, gestor sobre esse tema, da vontade de lhe sapecar – parafraseando o Rei Juan Carlos: “Por qué no te callas?”.


                                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
           
           


Tropa de Elite

            Independente da overdose midiática propalada pelo marketing do filme “Tropa de Elite”, recentemente lançado em circuito nacional, fui assisti-lo no cinema (estranho, né?). Hoje, ir a uma sala de cinema passou a ser “chique”; uma vez que curtir em casa uma “fitinha pirata” já passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros.
            Sem aquele brilhantismo do padrão hollywoodiano, esse filme, de José Padilha, tenta trazer à tona toda uma discussão em torno do problema da violência urbana e de suas facetas mais complexas.
            O filme não chega a empolgar em razão do seu formato (linguagem cinematográfica), sem uma dinâmica própria, quase documental, apoiada numa narrativa, que interrompe a todo instante o desenrolar da ação.
            A história é narrada em primeira pessoa pelo capitão Nascimento (Wagner Moura), um oficial do BOPE (Batalhão de Operação Policiais Especiais) da PM do Rio de Janeiro, que, prestes a ter o primeiro filho, quer se afastar do batalhão, mas não sem deixar um sucessor em seu lugar.
            Vi na imprensa comentários diversos: “Acho que o filme peca em vários momentos, por simplificar a situação (segurança pública)”;  “Ele humaniza o BOPE, o que é muito bacana, mas não humaniza os outros personagens, que ficaram caricatos”;  “É um filme de competência narrativa inegável, que usa todos os cacoetes da linguagem moderna, mas com problemas sérios do ponto de vista humanista”;  “Acho que ele realiza o desejo de parte da classe média de que bandido bom é bandido morto” e por aí vai ... !
            Até Luciano Huck (apresentador de televisão, que perdeu seu rolex num assalto), evoca o filme “Tropa de Elite” e manda chamar o protagonista, o comandante Nascimento, que é adepto da tortura para fazer cumprir a lei. Ou seja: aquela figura (o herói) que despe suas roupas de Clark Kent para virar o Super-Homem.
            Ao nosso querido cineasta Padilha, que tanto se queixou das críticas recebidas ao seu filme, vai aqui uma observação: no iluminismo, Montesquieu dizia que não se constrói uma sociedade baseada na virtude dos homens, mas na solidez das instituições.
            Sem pretensão de usar “os óculos do patrulhamento ideológico” e, tampouco, lançar mão de frases de efeito e de gosto duvidoso, espero que o filme provoque um debate mais sereno e responsável junto à sociedade e autoridades sobre a realidade da segurança pública e a falência do sistema.



                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
           
           
            

A violência no Rio de Janeiro

            No último meio século, as estatísticas têm demonstrado, nos países prósperos que todos queremos imitar, a ansiedade de comprar e ser comprado, a angústia de perder e ser descartado, passa a ser a grande sacada. E mais: no centro dessa odisséia, as pessoas duram mais, ganham mais e têm mais, mas se deprimem mais, enlouquecem mais, embriagam-se mais, drogam-se mais, suicidam-se mais e matam mais. Um script perfeito de paranóia modernista.
            É a maneira que vejo para entender um pouco o estado de violência que ora reina na cidade do Rio de Janeiro. Pois, os fatos não podem fugir e nem teimar em conspirar a verdade.
            Li recentemente um artigo interessante de um especialista em pedagogia militar no qual sustenta que o homem não está naturalmente inclinado à violência. Ao contrário do que se supõe, não é nada fácil ensinar a matar o próximo. A educação para a violência exige um intenso e prolongado adestramento, destinado a brutalizar os soldados e a desmantelar sistematicamente sua sensibilidade humana. Esse ensino começa, nos quartéis, logo aos dezoitos anos de idade, mas fora dos quartéis começa aos 18 meses, através da televisão (curso a domicílio).
            Recentemente, disse um menino de seis anos – “foi como na tevê” – quando assassinou um companheirinho de sua idade.
            Eis um retrato em branco e preto dessa Cidade Maravilhosa (será que ainda é?): a crítica ao populismo ingênuo com suas sínteses apressadas e artificiais não vão contribuir em nada, se não houver uma conscientização das Autoridades Constituídas de que o tecido social está doente, o remédio eficaz é a educação, é o crescimento econômico sustentável, com geração de emprego e justiça social. Ser justo é não oprimir nem privilegiar. É estabelecer regras sem dar vantagens para um e desvantagens para outros.
            A despeito dos vieses caricatos, a mídia, por sua vez, faz o seu papel que é discutir essas questões, de expor esta violência, mas com certeza, ao expor essa violência e colocar isto nas primeiras páginas de jornal, cria um processo de retroalimentação dessa violência.
            De atropelo a atropelo, idas e vindas, mais do que expor essa violência, é promover o debate sem enaltecer o policial que matou ou o bandido que morreu (ou vice-verso), numa lição de moral, mas provando pedagogicamente que o trabalho sem violência é mais efetivo.
            Assim, com recrudescimento da injustiça e da violência, urge superar esta situação caótica e demonstrar que um outro mundo é possível. Nada de vingança. Como vingança justa (como se existisse) viesse resolver o problema.
            A quantidade de desgraças, ilegalidades, cinismo e malfeitorias dos últimos tempos são atordoantes. É desnecessário gastar tempo para mostrar o caráter ridículo de algumas declarações de certas autoridades responsáveis pela segurança. Mas seria o caso de pedir a eles que, se não têm nenhuma contribuição a dar para a solução desse problema, que ao menos se abstenham de expor essas “teorias geniais” sobre o tema.
            Chega!!!  A população do Rio não quer insônia diurna e a angústia noturna. É preciso trabalhar os fatos e não as versões. As versões, geralmente, encerram vontades pessoais incontidas, oportunismo barato ou uma busca inconseqüente de atalhos.
            Não sei se foi Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino que disse ser o Bem uma via única e o Mal uma encruzilhada de caminhos. Enfim, não vejo à hora dessa cidade encontrar a sua via do Bem. Cujo fascínio maior: renovar-se, crescer turisticamente, divertir-se e eternizar-se como a única Cidade Maravilhosa do mundo.




                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
           

Aldemaro Campos

            Sempre detive, como conceito, de que a Família é o lugar onde o amor deveria ser praticado, vivenciado, desfrutado em toda sua essência.
            Inspirado nesse diapasão, confesso que jamais apagarei de minha mente a figura extraordinária do Dr.Aldemaro Campos (meu sogro). Era um homem inteligente, íntegro,  grande conhecedor de nossa literatura, e um grande visionário. De hábito simples (até demais). Vivia uma vidinha pacata, típica ao homem do campo.
            Depois de um longo expediente, não de sua Repartição Pública (Procuradoria do Estado), mas de suas atividades na fazenda, chegava em casa exausto, sujo, amarrotado, malcheiroso, moído e monossilábico, mesmo assim, não deixava de dirigir um gesto de atenção e de cordialidade as pessoas.
            Sempre se queixava da vida moderna: estresse, trânsito, correria, insegurança, colesterol, triglicérides etc.  Não era adepto a nostalgia esquizofrênica de seu tempo de mocidade. Dizia que o ser urbano enfrentava uma crise de referências.
            Entre tantos bate-papos que tivemos juntos, não me esqueço quando ele disse que todas as criaturas nascem flexíveis para morrerem rígidas. Donde a flexibilidade era discípulo da vida e a rigidez, da morte. Exemplificava-se com maestria essa teoria através da velha história do carvalho e do junco (plantas) que enfrentam a tempestade: o primeiro, por ser firme, quebra-se e morre. O segundo, maleável, sobrevive.
            Meu coração tem por essas lembranças, reais sentimentos de alegria, saudade e felicidade.  Mormente, as histórias ingênuas contadas por Dona Salete (como dizem por ai, a sua “cara-metade”, a “tampa da panela”) sobre a estonteante Maria Amaral - sua parenta.
            Não sei até hoje se tais narrativas eram reais ou de ficção. Ressaltando, qualquer semelhança com seus personagens vivos ou mortos teria sido mera coincidência.
            E mais: nessas histórias contadas por Dona Salete, sobre essa criatura indefectível, pareciam peças de Shakespeare por tratarem de temas universais, tipo traição, paixão, inveja, ódio, caridade etc.
            Quando estava em regime de inspiração total, Dona Salete (espécie de detergente d,alma) brilhava com umas histórias (sem fim) didática e empolgante sobre as travessuras trepidantes dessa tal Maria Amaral. Com vestígio de humor, ou de ironia, vinha lá Dr.Aldemaro com sua tirada: “Eeeiita!!!   Boa...  Boa...  Muito boa!!!   Já terminou???
            Por isso, todas às vezes que vejo um político tentando se defender (com histórias mirabolantes) nos embaraçosos escândalos de corrupção, sinto a falta da presença do Dr.Aldemaro, com sua maldita lealdade inabalável, para lhe sapecar: Chega... Chega de Maria Amaral!
           
                                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                           Advogado e Adm.Empresas        
           
             

A criança sob o olhar da mídia

            Quem não se lembra dessas expressões (midiático): “Não esqueça a minha Caloi”; “Compre Batom”; “Danoninho vale mais do que um bifinho”...  Que tanta influência teve na nossa infância, através dos apelos publicitários, sempre na passagem comemorativa ao Dia das Crianças.
            Ainda hoje, continua, de forma mais “descartabilizada”, onde as imagens e os sons que nos atravessam sem nos pedir permissão. A palavra foi substituída pela imagem. O abraço, pelo objeto. O desejo, pela necessidade. O medo do lobo mau, pelo medo da realidade.
            Segundo o mestre-psicólogo, Lais Fontenelle Pereira, a publicação participa da formação de nossas crianças tanto quanto a escola. As crianças são desde cedo incitadas a participar da lógica de mercado. A forma como são olhadas e investidas pelos outros passa pela cultura do consumo.
            Nossa sociedade é consumista, e isso equivale a dizer que acreditamos que os objetos (explorado pela mídia) poderão nos trazer tudo o que nos falta. E para fugir desse estereotípico temos que desmistificar essas ações, transformando esse dia num momento especial, no qual o presente não será o mais importante, e sim, uma demonstração do amor que os pais podem dar aos filhos.
            Daí, depreender-se ser fundamental termos a obrigação de filtrar para nossos filhos (ajudando-os a desenvolver uma atitude crítica) tudo com o que os meios de comunicação tendem a bombardeá-los. Explicando-lhes que a propaganda utiliza uma linguagem diferente (mercantil), que não tem nada de compromisso específico com as necessidades e os anseios de nossa família.
            A propaganda, o que há mais importante é ser o primeiro a chegar à sua mente e fazer de você um cliente. E se o elemento em questão é a mente, o assunto é realmente sério.
            Assim, não só as crianças, como também nós podemos ser influenciados pela mídia porque ela entra em nossa mente sem pedir licença. Basta você chegar em casa, ligar o televisor e já estará pagando um bom preço pelo que está vendo. Você é o pagamento; a sua atenção é o lucro dos anunciantes.
            E o mais grave: de acordo com pesquisa norte-americana, bastam apenas 30 segundos para uma marca influenciá-las. Se pensarmos que a criança brasileira passa em média cinco horas por dia em frente à TV (Ibope, 2005), quanta influência da mídia ela sofre?
            Sem falsear a verdade, a criança não se traumatiza por falta de grandes presentes, mas sim, quando se sente abandonado afetivamente pelos pais.
            Com ajustes daqui e dali vamos subverter a ordem estabelecida do consumo desenfreado, trocando o shopping pelo parque. Fabricando os próprios brinquedos, em vez de comprá-los prontos. Pois, o importante nisso tudo, não é o presente, mas o estado de felicidade que possa levar a criança; uma vez que ser feliz é o meio mais seguro de se aproximar do bem.
 Valeu, pirralhos!


                                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                         Advogado e Adm.Empresas
               
           
           
            

Vale a pena copiar!?

       Surfando nas ondas da “internet”, como dizem os nossos jovens, descobri como é a filosofia que dirige o sistema carcerário japonês, diferente do que rege todos os outros presídios ocidentais, que tentam reeducar o preso para que ele se reintegre a sociedade.
            O objetivo, no Japão, é levar o condenado ao arrependimento. Como errou, não é mais uma pessoa honrado e precisa pagar por isso.
            Os métodos para isso são duros para nossos olhos, mas em nada lembra os presídios brasileiros, famosos pela superlotação, formação de quadrilhas, violência interna e até abusos sexuais. Outra coisa: organização e limpeza imperam; detentos têm espaço de sobra; ficam no máximo seis por cela; estrangeiros têm quarto individual; ninguém fica sem trabalhar e não tem tempo livre para arquitetar fugas; o dia do preso japonês começa às 6:50 hs.; às 8:00 hs. ele já está na oficina trabalhando na confecções de móveis ou brinquedos; só pára por 40 minutos para o almoço e trabalha novamente até às 16:40 hs.; durante todo este período nenhum tipo de conversa é permitido, nem durante as refeições; às 8:00 hs. tem que retornar ao quarto, de onde só sairá no dia seguinte; os banhos não fazem parte da programação diária; no verão eles acontecem duas vezes por semana; no inverno apenas um a cada sete dias.
            Logo ao chegar à penitenciária, os presos recebem uma rígida lista do que poderão ou não fazer: olhar nos olhos de um policial, por exemplo, é absolutamente proibido; cigarro não é permitido em hipótese alguma; na hora da refeição o detento deve ficar de olhos fechados até que receba um sinal para abri-los; qualquer transgressão a uma das determinações e o detento termina numa cela isolada. Pesar de oferecer tudo o que teria num quarto normal (privada, pia e cobertor), ela tem pouca iluminação. Se houver reincidência na falha, será punido com algemas de couro, que imobilizam os braços nas costas. E o interessante é que não se ver nenhuma ou quase nenhuma “ONG” de direitos humanos interferir no sistema.
            Não sei se este é o modelo ideal?  Mas que funciona, funciona muito bem. Não é por acaso que é Japão é um dos países com menor índice de criminalidade do mundo.
            O governo criou a figura “esdrúxula” – para justificar a crise penitenciária – a falte de recursos para construção de mais presídios e a ampliação dos já existentes. Tem dinheiro para construir centro de convenções, transposições de rio, patrocinar uma copa de futebol e por ai vai, mas não se tem verba para investir na dignidade do ser humano.
            Deixa-nos embatucado, inseguro e desafiado, a um só tempo, como essa “embromación” de argumento. Observações vagas e bastante prosaicas, ainda do tipo” está bom, mas pode ser bem melhor”.





O interior, as tramas mostradas para TV “scripts” de como é o mundo lá dentro, está muito, e muito longe da realidade que passa em nossos presídios. A mente é para dar forma ao corpo. Impossível é que o corpo dê forma à mente. O apenado tem que está constantemente em atividade, seja através do trabalho ou da educação.
 Não só o trabalho, mas a escola é a principal instituição para reabilitar o homem, erguer um país e sustentar a democracia.  O filósofo não estava de todo errado, no seu manifesto: a cada dia fica mais difícil para os humanos aprender, compreender, amar e fazer-se amar pelos semelhantes. E que o incentivo ao apenado deverá começar pela recuperação da sua auto-estima como princípio elementar de ressocialização.
E mais: não há mais como esconder ou escamotear a crise que passa os nossos presídios. Vamos acabar o faz-de-conta. Deixar de dizer coisa com coisa. Nesse processo, inexistem soluções milagrosas, que mascaram a possibilidade da recuperação do preso e sua reinserção na sociedade. O resto é perfumaria – como diz um especialista no assunto.
Não faz muito tempo, li em algum jornal, no epicentro de um drama folhetinesco: presos seminus, famintos e espremidos numa cela, gritando desesperadamente por decência. Caso tipo de fuzilamento moral sumário; tornando-se irreversíveis depois de consumados.
A meu ver, em que (não pese) o hercúleo esforço que deveria ter as nossas autoridades responsáveis, é preciso urgente tomar decisão corajosa (e não charopenta) em prol da esperança, da cura e da cidadania de nossos apenados.
Assim, aguardamos, em clima de fim de novela, os próximos capítulos sobre esse tema tão “careta” (em razão do descaso), que para os japoneses já não são, porque eles já dispõem o antídoto garantido para debelar essa vergonhosa “patologia” prisional.



                                                  LINCOLN CARTXO DE LIRA
                                                                  Advogado e Adm.Empresas

           

                       
           
           
           

Valeu Renan!


            Triste... triste... muito triste!   A notícia dada pelos telejornais, nessa última quarta-feira, sobre o resultado da votação pela casação do Senhor Renan Calheiros, em que culminou com a sua absolvição, protegido pelo voto secreto e pelo debate fechado no plenário.
            Apesar das provas contundentes de negócios escusos com o lobista de uma construtora, favorecimento a uma cervejaria, o uso de laranjas na compra e venda de rádios e jornais e, por fim, denúncia de propinas em ministérios para beneficiar lobista; não foram suficientes para demolir a sua defesa “esdrúxula” e de “conteúdo fantasioso”.
            Dizer e não provar, é não dizer.  Foi assim que sua defesa foi desmontada pelos Senadores Oposicionistas, com a precisão de um relojoeiro. Rebatendo, uma a um, as teorias mais estapafúrdias apresentadas pelo seu advogado, aliados e por ele mesmo. Entrando de sola com a força de convencimento lógico contra a rapinagem do dinheiro público.
            O sentimento é de decepção para nós aqui no Brasil, e de extrema vergonha para quem nos observa lá de fora.  Convivemos não só com a imagem de país do samba, violência e futebol.  Agora, as piadas com os descasos dos políticos, esses que roubam, mas no final são santificados.
            Ora bolas, como disse o articulista (Veja) Roberto Pompeu: “O que deveria ser a regra se torna exceção, e a regra é a regra vigente em nosso(será que é ainda nosso?) Senado, nossa vergonha nacional (esta sim, mais nossa do que nunca)”.
            Cá com os meus botões, imaginei se pudesse assistir à votação da quebra de decoro parlamentar do Senhor Renan, mesmo sendo secreto, escolheria, como no cinema, sessão dupla, para ficar horas e horas em frente à tela mágica da televisão.  Como que assistisse ao mesmo filme duas vezes seguido.  A primeira, para entender a história  dos acordos espúrios, através dos argumentos da defesa e da acusação. A segunda, para observar cenários, figurinos, a interpretação cínica (não cinética) dos atores (senadores). Só isso?  Só.
            Este Brasil tolerante ao ponto dessa permissividade decisão, para alguns senadores, era como, tivesse nostalgia da ditadura.  Ou, síndrome de abstinência da ação revolucionária.
            Chega!!!  Precisamos dar um basta!!!  Não importa saber quais os senadores que voltaram pela sua absolvição, pois essa é a regra estabelecida por essa instituição.  Ou seja: voto secreto.  O Renan sabia que no escuro ele estaria livre – conforme a sua gargalhada contagiante e riso frouxo (na presente seção) - uma vez que a maioria, expressa na votação, tem o “rabo preso” nas cumplicidades dolosas, donde mostra a verdadeira face da quadrilha política que se esconde por trás de siglas partidárias, demagogia assistencialista e submissão covarde aos apelos do poder.
            Nesse episódio: diante de tantas coisas erradas e não corrigidas, sentimo-nos traídos, fracos e impotentes.  Então, a quem nos recorrer?  Acho que nós, os mortais, só podem contar com justiça divina, se é que merecemos!



                                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                Advogado e Adm.Empresas

O fracasso do programa primeiro emprego


            Uma das principais bandeiras da campanha eleitoral do Presidente Lula - o programa do Primeiro Emprego – surgiu com estrondo e se extinguiu como fracasso retumbante.  Cuja meta do seu governo, para os três primeiros anos, era gerar 780 mil empregos, e só conseguiu apenas 0,5% da meta estabelecida.
            Após uma letargia decepcionante desse programa, garbosamente lançado pelo nosso indefectível presidente em junho de 2003, chegou-se a conclusão que não era a falta de incentivos para as empresas contratarem iniciantes, e sim, a falta de qualificação dos jovens.
            Como se vê, pela experiência, qualquer outro programa com essa finalidade que venha a ser lançado (sem palanfrório) só terá sucesso na medida de proporcionar condições de emancipar os jovens e os pobres da dependência, e não de perpetuá-los simplesmente com donativos.
            Esse balé mágico de frivolidade dos programas sociais, idêntico ao da “Fome Zero” – não existe uma política de desenvolvimento no país que ofereça os empregos que a população tanto precisa.  O crescimento é pífio (2,5% ao ano) e não atende sequer a demanda daqueles que já se encontram inseridos no mercado. E mais: as barreiras que emperram este crescimento, como a tributação, a legislação trabalhista e a burocracia excessiva e disfuncional, permanecem inamovíveis.
            Embora o país tenha exibido com orgulho, durante o século XX, a fama de ser “país promessa”, “nação do amanhã”, “país do futuro”, tendo na sua juventude o seu maior triunfo para conseguir se firmar entre as maiores economias do mundo, hoje, a realidade é outra.
            Com um olhar mais acurado sobre o assunto nos levará a concluir que a juventude precisa de atenção e políticas específicas para o mercado de trabalho, através de cursos de qualificação e requalificação profissional.
             A falta de experiência é a principal barreira para o jovem conseguir trabalho.  Se para quem tem experiência o emprego está difícil, imagine só para quem está começando.  Só muita persistência, preparo e conhecimentos de algumas regras podem ajudar a dar o empurrão inicial.
            O certo, certíssimo, é que o futuro do trabalho ou do emprego depende da escolaridade e da experiência.  Uma economia globalizada, que ora vivenciamos, o mercado atual exige que nos qualifiquem permanentemente. Não é com a deturpação vulgar do ideário moderno de primeira hora, que se vá conseguir alguma coisa básica, decisiva e primordial.
De toda sorte, sem uma política de emprego séria e bem planejada, os jovens ficam com a auto-estima comprometida, com a sensação de fracasso por não ingressarem no mercado de trabalho. Ou seja: eles acham que são incapazes. É como se existissem empregos e eles não tivessem qualificação, gerando uma depressão profunda.  Daí ... acabam procurando “fugas” para as drogas ou a criminalidade.
            Continuar tratá-los como tal, é de desinteligência e insensibilidade assombrosa.  O jovem não merece.  É preciso que abra as cortinas do seu mundo e deixe entrar a luz do sol e o brilho da esperança.
           

                                                                 
                                                             LINCOLN CARTAXO DE LIRA

Jeitinho brasileiro

          
Talvez o tema não chame muita atenção, pelo fato de ser uma prática comum da paisagem de nossa vida cotidiana. Cuja regra: é a imposição do conveniente sobre o certo. É o tal pragmatismo tupiniquim: se dá certo é certo, sendo que, “dar certo”, equivale a resolver meu problema, ainda que provisoriamente.
Podemos até dizer que é quase impossível viver no Brasil sem ter que frequentemente dar um jeito em alguma coisa. Será que esta realidade realmente não pode ser mudada? Será que ainda é possível dar um jeito no jeitinho?
O jeitinho é sempre uma forma especial de resolver algum problema ou uma situação difícil ou proibida. A solução exija uma forma especial, eficiente e rápida de tratar o problema. Não serve qualquer estratégia. Ela tem de produzir os resultados desejados a curtíssimo prazo...  não importa se a solução encontrada é definitiva ou não, ideal ou provisória, legal ou ilegal.
O nosso divertido “jeitinho” está associado à malandragem, a favorecimento, a corrupção. Comumente o brasileiro reage bem à vida adaptando-se a situações difíceis, “somos o povo mais plástico do mundo...  damos um jeito em tudo”. Diz um adágio que, para o norte-americano, se alguma coisa não funcionar direito, consulta-se as normas. Para o brasileiro, se alguma coisa não funcionar, dá-se um jeito, afinal tem de dar certo de um jeito ou de outro.
O jeito, segundo o professor de teologia Lourenço Stelio Rego, é a síntese do caráter brasileiro e tornou-se uma estratégia que se espalhou pela sociedade e se fixou na vida do povo como alternativa ética diante do sistema de normas estabelecido.
Para alguns, ele é percebido e reconhecido longe de ser algo escuso, embaraçoso. O jeitinho é admitido, louvado e condenado, que gasta mais energia mental do que emocional na busca da solução ou da saída de uma situação opressiva ou indesejável.
No “bê-a-bá” da questão, ele já faz parte do brasileiro e contagiou a brasilidade. Diante do jeito não há sacrário que resista, nem placa “entrada proibida” que não provoque a política do “vai se quebrar o galho pra você”, “a gente se vira”, “vai se dar um jeito”, “não há problema”,  “isso é apenas formalidade”,  “por baixo dos panos”.
Apesar de tudo, o jeito não pode ser visto só pelo lado negativo. Ele pode ser ambivalente, isto é, servir tanto para o bem quanto para o mal. Serve para alguém se livrar da norma, “quebrar o galho”, mas serve também para trazer benefícios numa situação difícil ou inesperada, através da sua inventividade e criatividade.
Quando é para fugir das crises, lá vem o jeitinho – o brasileiro é um perito inventar profissões: guardador de carros, cambista de ingressos, vendedor de lugar na fila, carregador de bolsas na feira-livre, mula para atravessar fronteira.
Mas o lado triste do “jeito ou jeitinho” é quando àquele se acha que a lei não foi feita para ser obedecida.  Seja burlando alguma regra ou norma preestabelecida, seja sob forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Aí é quando ocorre o perigo da união incestuosa entre o jeito e a corrupção.
Logo, para que se dê um “jeito no jeitinho” o país tem que dá um exemplo de “decência”. CHEGA de autoridades (pop star) infratores da lei, de impostos em excesso, hospital gratuito mais parece açougue, aposentadoria até parece piada e escola oficial oferecendo ensino péssimo, quando não está em greve. E MAIS: a pessoa precisa sobreviver, não consegue emprego e não tem condições de legalizar uma firma.  Lamentavelmente, não há saída, a não ser passar por cima da lei e dar vazão ao espírito libertador para sobreviver.



Cadê a reforma tributária?


     Estamos no meio de um círculo vicioso. O setor privado investe pouco porque paga muito imposto, e o governo não investe porque gasta muito com o custeio da sua administração. O comentário não é meu, mas do Senhor Antônio Ermírio de Moraes, empresário de agudo senso crítico e sintonizado com a realidade histórica, política e econômica brasileira.

Outra coisa: um estudo citado na publicação da “Revista da Indústria – FIEP”, mostra que o Brasil é campeão no esbanjamento. A média das despesas públicas no mundo, contando os países mais desenvolvidos, é de 16,6% do PIB. O Brasil, é mais de 20% do PIB, e com serviços precários.
 A efetivação da reforma tributária chega a parecer impossível, intransponível e inultrapassável – todo mundo fala, fala e ninguém faz. Característica típica de nossa visão e prática tupiniquim.
Um país, já tão desigual como o nosso, parece um acinte quando se vê o Congresso Nacional se movimentando para a criação de mais seis Estados. Cujo gasto para instalação, estima-se na ordem de R$ 11,4 bilhões, a cargo da União.
Dói. Como dói.  Máquina governamental arranca da sociedade cerca de 38% de tudo o que é produzido, o que leva por sua vez inibir a capacidade de investimento da iniciativa privada.
A reforma do nosso sistema tributário está a la “efeitos especiais spielbergiano” – de aparência, onde o governo timidamente, a contra gota, e não em pacote, toma algumas iniciativas, a exemplo da Lei da Micro e Pequena Empresa-PLC-123/04.
Não adianta dispararem farpas venenosas para todos os lados. Uma vez que somos responsáveis também por essa doença (inércia). Para que possamos exercitar o espírito de cidadania, como se vê nos países avançados, é mister a mobilização de todos os formadores de opinião(entidades empresariais e de trabalhadores, partidos políticos, universitários etc.) com vista ao debate público de qualidade. Não apenas mobilização de protesto, mas ações práticas (propostas concretas).
E o melhor: defender o pacto federativo, que é a divisão dos tributos e das responsabilidades sociais entre a união, estados e municípios, como forma de conter essa centralização de poder e recursos.
Nesse diapasão das propostas da reforma, será importante informar o consumidor de uma mercadoria ou serviço quanto de imposto ele está pagando no ato da compra. Afim de que ele possa acompanhar e cobrar dos governantes a aplicação desses tributos.
Caso não seja levado a efeito, de imediato, a tão sonhada reforma (mil vezes anunciada e mil e uma vezes adiada), talvez o mais plausível seja a contratação de Osama Bin Laden (se ainda estiver vivo!) para a demolição do Brasil, de maneira que possamos reconstruí-lo sem os traumas e os vícios do passado.

O descaso com o meio ambiente

        O aquecimento global é real e causado irresponsavelmente pela atividade humana:  queima de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás, queima das florestas tropicais etc.
            Veja que não é lícito cerrar os olhos, as janelas e as portas diante desse perigo.  Se ainda podemos respirar e matar a nossa sede e fome com relativa tranqüilidade.  Essa é a leitura factóide de nosso governo midiático, tal qual peça de jingle publicitário.
            Manifestações para salvar o planeta têm sido realizadas ao redor do mundo.  O lógico é que o tema fosse à prioridade brasileira “número um”, premissa básica de todos os objetivos do PAC (Programa de Celebração do Crescimento), através de uma política consistente para atenuar os efeitos da mudança climática.
            Cá entre nós, talvez não haja razão para surpresas. Estigmatizado por escândalos, nos gabinetes do governo reina a regra simples e velha conhecida “o deixa como está para ver como fica”.
            Tudo isso seria apenas patético se não fosse fruto do cinismo dos debiloides do poder, incluindo tecnocratas, intelectuais e jornalistas chapa-branca, que tentam esconder ou escamotear os fatos da crise ambiental, com projetos já frustrados de um engodo técnico e uma marotice política, invariavelmente, contigenciando recursos e restringindo atuações.
            Os noticiários têm alertado a respeito do alto custo do aquecimento da terra para a humanidade.  Previsões tenebrosas sobre o colapso da economia mundial: milhões morrerão ou serão desalojados em virtude de secas, fomes e inundações; enquanto Londres, Nova York, Rio de Janeiro e Tóquio, juntamente com outras cidades litorâneas, afundarão em razão a elevação do nível do mar.
            Alerta ainda os cientistas que, além do aumento de organismo transmissores de doenças, todos os frutos do mar estarão extintos em cinqüenta anos, se providencias não forem tomadas rapidamente.
            Não é “trololó de ambientalistas”, pois o Brasil tem tudo para ser uma potencia ambiental.  Temos a maior floresta tropical do planeta, um dos principais reservatórios de água doce, biodiversidade riquíssima, equação energética limpa e a melhor experiência em biocombustível.  E por ironia, somos o quarto emissor de CO2 do mundo, incapaz de evitar os incendiários e devastadores de nossas florestas; perdendo, desse modo, a oportunidade de sermos a maior liderança moral e pro-ativa em defesa do meio ambiente.
            Po, gente, é preciso dar um jeito nisso!  Adaptar aos nossos tempos e de encarnar uma realidade indiscutível a nossa sobrevivência. Difundir nas escolas, ações embrionárias de conscientização à vida.  Independente que esse comportamento (orientação pedagógica) seja ou não exclusivo de países ricos nem culturalmente mais bem-aquinhoados.  Podemos até ser um país como desejava De Gaulle.  Mas, pelo menos, para nossa futura geração, temos que lhe garantir proteção, manter viva a vontade de viver, com doçura e esperança, com alegria e paixão.
            Decerto, nem sempre somos nós que escolhemos a forma de como viver.  Porém a decisão de viver com derrotas e vitórias é nossa.  O descaso com a vida é uma forma disfarçada e lente de suicídio.  Então: vamos cumprir firmemente a nossa parte.   Colabore!!!   Seja inteligente!!!





                                                             LINCOLN CARTAXO DE LIRA
            

O ATENDIMENTO AO CLIENTE


            Tenho que dar a mão à palmatória e voltar atrás na crença tradicional da teoria de que “o SEGREDO é a alma do negócio”.  Agora, devo admitir de forma concisa e verossímil que “o ATENDIMENTO é a alma do negócio”.
            Tal mudança de paradigma surgiu a partir do momento que adentrei num desses grandes magazines aqui em nossa cidade, com vista à compra do presente para minha querida consorte – dia dos namorados, que passei seriamente a rever este antigo modelo, que há tempo é pregoado como fórmula de viabilidade e perpetuação dos negócios.
            De quem esperava um ATENDIMENTO adequado, para não dizer “fantástico”, como recomenda os mandamentos do encantamento ao cliente.  Tive que suportar a apatia, a má vontade, a frieza, o desdém, o robotismo daquele que ali estava, simplesmente, para me servir bem!  Uma vez, servindo bem, criamos de forma natural, a obrigação dos outros retribuírem, seja em forma de elogio, recomendação, reconhecimento etc.
            Pouco a pouco, fui me dando conta dessa situação esdrúxula. Chateado, fiquei me perguntando se eu merecia isso.  Devo ter um parafuso a menor, pois não consegui compreender a razão desse faz-de-conta.
            Talvez não.  Mas talvez sim. O que mais me chocou mesmo foi a empresa, através de seus empregados, ter usado um dos golpes mais baixo do ser humano: a ironia.  Então, revoltado, pus a refletir: até onde vai o limite da intolerância e ignorância do homem.
            Mas de repente, assim mesmo, não mais que de repente, da esperança de comprar um bom presente fez-se a decepção, fez-se de falso que se fez de verdadeiro, de obscuro o seu comercial que pareceu claro, de complexo quem se mostrou tão simples.
            Pesquisas da US News confirmam que a insatisfação com o ATENDIMENTO é a principal causa da perda de cliente.  Cerca de 68% das vezes que um cliente vai embora - e não volta nunca mais! - tem como causa a insatisfação com a atitude do pessoal.  Na realidade, o cliente não vai embora da empresa, ele é expulso! - por funcionários despreparados, desmotivados e descompromissados.
            No mais, reforcei o meu aprendizado que, além do mundo WALL STREET, nossos empresários precisam colocar mais DISNEY em seus negócios.
            Ah!  Quanto ao presente, comprei sim, noutra loja onde fui tratado como verdadeiro patrão! Pois essa história de “vestir a camisa da empresa” é coisa do passado.  Ou seja, só vestindo a camisa do cliente, a empresa pode realizar sua meta maior: O LUCRO!!!


                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                          Advogado e Adm.Empresas