segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A prática de escrever


            Quer saber? Existem alguns amigos que já me manifestaram desânimo à primeira tentativa de rabiscar umas linhas: “Não consigo juntar duas palavras. Falta-me assunto...”.
            Quer sinceridade? Não é assunto que falta. O assunto está aí, a todos os momentos, diante de nós, quase palpável, perceptível sob qualquer prisma. O que falta é um pouco de esforço (mental) para atingir esse objetivo. Aliás, já dizia o grande escritor português José Saramago: “Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não”.
            A prática de escrever não é fácil. Também não é tão difícil como tantos imaginam. Ela é reflexo da boa leitura. Ninguém escreve sem antes ter uma boa bagagem de leitura. Vai ter que passar por cima de mim o jovenzinho ranheta adepto da frase “Machado de Assis é um saco”. Já briguei com muitos moleques por causa disso. O famoso autor de Dom Casmurro é ainda um dos maiores nomes quando se pensa em bons livros – e não à toa, mas pelo puro mérito de saber costurar palavras da maneira invejável. Como sempre digo: ler um bom livro, faz-me sentir novo em folha.
            Nem vou me alongar muito aqui sobre o referido tema. Porém, dizer ainda que o ato de escrever também estimula o cérebro (existem diversos estudos publicados sobre isso). Um deles defende inclusive que as crianças precisam do movimento da escrita para seu desenvolvimento cerebral, pois sem isso elas teriam alguma deficiência na fase adulta.
            Ao testarem estudantes, através de pesquisas, descobriram que, quando faziam redações escritas a mão, eles geravam mais ideias do que quando as faziam usando computador. Eu, particularmente, no momento que estou meio travado de ideias, gosto de escrever a mão. Quando já tenho a ideia é preciso apenas tirá-la da minha cabeça para destrinchá-la melhor.
            Sacou, né? A boa leitura faz você escrever por osmose.


                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                             Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

PEC dos Penduricalhos


            Em tempos desalentos, a saída é buscar referências inspiradoras. E isso é saudável, pois favorece àqueles que têm visão de mundo, diferente. Cito como exemplo o jovem parlamentar paraibano Pedro Cunha Lima que, com discurso comovente e convincente, rejeita a “velha prática política”.
            O referido deputado federal tem sido muito bom, direto, claro e corajoso no seu mister, notadamente quando idealizou a “PEC dos Penduricalhos”. A ideia é gastar menos com o custeio da máquina administrativa. Hoje, até mesmo o parlamentar que se reelege recebe um penduricalho para custear a mudança para Brasília, assim como para comprar roupas, fora mordomias com carros, combustível, motoristas e assessores (chega a 70). É o avesso do avesso do avesso. É preciso dar um basta.
            Passa da hora a classe política acordar para essa obviedade. É proibido aceitar esse tipo de mimo. Ainda, a meu ver, um ato de indignação, com as manchas de hipocrisia que grassam por aí. Ora, seria bom se isso valesse também para outros poderes, todos carregados de mordomias e auxílios diversos.
            A guisa de comparação. Nos EUA, o presidente paga as refeições da família na Casa Branca – excetuam-se aquelas em que há uma reunião de trabalho. E, na Suprema Corte, há um só carro de representação, o do presidente. Os outros ministros se quiserem carro, que o comprem.
            Existem política e atores políticos. O campo em que ocorre seu jogo sempre foi intrigante e nebuloso. Para tanto, recomendável, há que ter visão estratégia, inteligência, paciência, ponderação, noção dos limites do poder e, sobretudo, plano de voo claro e detalhado. E mais: tem que ter a coragem do parlamentar Pedro Cunha Lima para combater os privilégios impregnados vergonhosamente nos Poderes da República.
            Seguramente não se faz política sem coragem. Segundo Winston Churchill, “é a primeira das qualidades do ser humano, por assegurar todas as demais”. Sem coragem não vamos à esquina, ninguém ganha eleições, não se governa.


                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                Advogado e mestre em Administração
           

terça-feira, 10 de setembro de 2019

A gratidão de Ruy Barbosa


            Continuo lendo livros, jornais, revistas. E quando eu tenho uma ideia, se estou na rua, eu decoro. Como sempre fiz. Aí chego em casa e anoto aquilo na minha agenda visando à publicação do meu artigo semanal.
            Faço isso antes de tamborilar qualquer coisa no teclado do meu computador. Foi nessa rota que me veio à mente um dos nossos grandes vultos da história brasileira, Ruy Barbosa, seja pelas qualidades de exímio jurista, seja pela sua postura de político.
            Não é para menos, tal lembrança, diante da fragilidade da política do Brasil, em que temos um ex-presidente preso, outro pendurado em várias acusações e uma imensidão de políticos sob investigação de corrupção, desvio de dinheiro etc.
            Além das qualidades acima referidas, Ruy era um grande ser humano. Quando seu pai João Barbosa faleceu, deixou várias dívidas decorrentes de compromissos para dar ao filho Ruy a mais esmerada instrução. Fazia empréstimos para pagar outros empréstimos. Vivia em permanente angústia com o assédio dos credores.
            Somente depois da morte do pai é que Ruy Barbosa tomou conhecimento da extensão dos seus sacrifícios. E ficou tão comovido com o desvelo paterno, que resolveu honrar a sua memória, resgatando todas as suas dívidas, mesmo sabendo que estavam prescritas.
            Ainda jovem, recém formado, procurou os credores, acertando prazos para os pagamentos e estabelecendo os juros. Anotou tudo numa caderneta, que acompanhou ao longo de 12 anos, tempo este que o levou para saldar todas as dívidas que o zeloso pai contraíra para lhe dar uma educação de qualidade.
            Ao saldar o último compromisso, Ruy Barbosa registrou na caderneta a seguinte anotação: “Nasci na pobreza, e tal me honro, porque esta pobreza era a coroa de uma vida, que o amargor do sacrifício não deixou frutificar em prosperidade. Com suor de muitas agonias, transformar espinhos em frutos de bênção, fazendo do meu trabalho um manto de respeito para a memória de meu pai”.


                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                 Advogado e mestre em administração

               

terça-feira, 3 de setembro de 2019

O perdão


            Não hesito em dizer que, com minha maturidade, seja pela idade, ou seja, pela experiência de vida, vejo que o “perdão” só faz bem. Sempre tive um pouco de preguiça mental para entender (abdicar) o direito de guardar rancor daqueles que me magoavam.
            Hoje sou livre do ódio e da amargura que me fazia tanto mal. “Ah, Lincoln, isso é romântico. Isso é utópico”, decretou meu velho amigo Cordeiro. Isso é correto? Não, não é. A ideia do “perdão” cimentou ainda mais meu gosto pela vida. Chegando a conclusão que uma das coisas mais importante para a vida de uma pessoa que quer ser feliz é o “perdão”, pelo fato de proporcionar paz ao coração e dá um real sentido à existência.
            Costumo recorrer a uma frase magnífica do pensador britânico Benjamin Disraeli que diz que “a vida é muito curta para ser pequena”. O que é uma vida pequena? É aquela vivida de forma banal, fútil, superficial, medíocre e que não valoriza o ato de grandeza do “perdão”.
            Estou certo de que a mente apaziguada é o alicerce da paz interior. E a paz interior traduza-se em paz exterior. E o “perdão”, por sua vez, está intrinsecamente ligado a essa assertiva. Ora, “perdoar” é esquecer, no sentido de que alguém sepultou o problema que fez tanto mal.
            Há poucos dias atrás li uma matéria de uma psicanalista paulistana, Suzana Avezum, que comprovou, através de sua pesquisa, “a dificuldade de perdoar aumenta o risco de infarto”. A mágoa provocada pelo “não perdão” gera um stress que não é momentâneo: retorna ao longo da vida, sempre que a situação é lembrada. Por defesa, o corpo aumenta a quantidade de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que, em excesso, fazem mal. O bombardeamento ao longo prazo arruína o coração.
            Lamentavelmente, o “perdão” ainda é entendido como um ato de fraqueza, mas é a maior dádiva que podemos conceder a nós mesmo, não ao outro. O verdadeiro “perdão humano” leva ao esquecimento (do mal).


                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                      Advogado e mestre em Administração