segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Desatenção à saúde do idoso


            Não é exagero dizer que a saúde dos idosos no Brasil é de doer. E até de morrer. Como não bastasse dizer que cidadãos em geral estão sujeitos a perder a vida em corredores de hospital, inclusive nas da rede privada, imagine pessoas já em idade avançada.
            A sociedade brasileira está assistindo todos os dias na televisão mais uma novela burlesca, do gênero “a saúde vai de mau a pior”. Recentemente um jornal de nossa cidade registrou que para marcar uma consulta médica faz lembrar os “áureos” tempos do antigo INPS. Mesmo quem tem um bom convênio médico pode levar no mínimo dois meses para ser atendido, ao contrário da consulta particular, comumente marcado no horário escolhido por aquele que pode pagar pelo menos R$ 200,00 pelo privilégio.
            Ora, ignorar isso é ridículo, errado, feio, ilógico etc. À vontade, confesso, é bradar com alguns bons palavrões. Todavia, o sofrimento e os riscos são maiores quando se trata de idoso de baixo poder aquisitivo, sem plano de saúde para consultas, exames e eventuais internação. Se o caso for de emergência, é melhor contar com a sorte para não se viver um drama.
            Tal situação (de genética trivial) gera sentimento de enclausuramento, dor, dúvida, angústia e representa o fracasso do bicho humano moderno. Ou melhor: tudo isso nos parece ser uma grande e redundante sacanagem no trato com o ser humano. Nada ver com bondade barata.
Quer sinceridade? Nada disso é novidade. Virou lugar-comum afirmar que a saúde pública “só funciona para quem tem dinheiro”. E pior: até hoje não se viu nenhuma crítica arrebatadora contra essas mazelas, a não ser muita firula e pouca ação.
À questão vem à mente como algo que enoja e que, infelizmente, parece que não mudará tão cedo enquanto aceitarmos jogar tudo para debaixo do tapete. Ah, se eu pudesse, fazia um samba de protesto buarquiano, cujo mote seria o “desleixo da saúde pública no Brasil”.
É verdade. O desafio de superar as deficiências na atenção à saúde do idoso começa pela observância do que já está na lei, coisa que não acontece. É preciso conhecer e fazer cumprir a legislação, que inclui do atendimento preferencial imediato e individualizado até acompanhante nos período de internação e de observação, por tempo integral.
Ademais, para sair dessa sinuca, a melhoria na saúde (como todo) não se restringe apenas alocar mais recursos financeiros, mas também melhorar na eficiência da gestão, da diminuição da corrupção e do cumprimento do modelo SUS.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
lincoln.consultoria@hotmail.com
Advogado e Administrador de Empresas



domingo, 9 de setembro de 2012

O sucesso da mentira

       Já reparou que o discurso é sempre igual em período de eleição. É aquela mesma ladainha de dizer que é um político honrado, que está sempre ao lado do eleitor, que garante acabar com a pobreza, que vai construir escolas, creches, hospitais, pontes, cemitérios... Agora, mudaram o palavreado, estão prometendo distribuir eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos - de cabo a rabo. No caso, parece um acinte. Mas fazer o quê?
            Desde os tempos de escola, aprendi que “é mais sábio contar uma mentira que parece verdade do que uma verdade que parece mentira”. Ademais, apesar dos pesares, “uma bela mentira encontra mais seguidores do que uma verdade feia”. Daí descobri porque a maioria dos políticos desenvolve a imaginação da mentira para ter êxito nas eleições.
            No fundo, e nem tão fundo, uma coisa é certa: qualquer um sabe dizer a verdade, mas é preciso inteligência para mentir. Dia destes ouvi do meu amigo Cordeiro, com bom humor e sarcasmo, que conheceu um mentiroso de excelência cepa. Quis a sorte que houvesse um baiano numa plenária eleitoreira, que lhe falou: “Cara, isso na minha terra, se chama ‘enrolation’, ‘embromation’. Quer saber: tô fora!’”.
            Li em um só suspiro e reli sem acreditar na afirmação do especialista norte-americano David Livingstone, da Universidade da Nova Inglaterra, que mentir é tão natural quanto respirar – e ainda promove o bem-estar psicológico. E mais: tanto no trabalho quanto fora dele, não falar a verdade é por vezes indispensável para o relacionamento. “Só quem é doente mental diz a verdade o tempo todo”, provoca o referido pesquisador em seu livro “Por que Mentimos – Os Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Mentira”.
            Diante de tantas inverdades, acrescenta Livingstone: “Difícil imaginar a propaganda sem mentira. Quem quer romper à resistência a venda precisa ser bom manipulador – ou seja, um ótimo mentiroso. Mas ele não está sozinho. Outra pesquisadora, Pamela Meyer, chegou à conclusão semelhante em seu livro “Liespoting” (algo como “Pega-mentiras”), de que escamotear a verdade é uma das espinhas dorsais da vida social. Um dos estudos mencionados por Pamela conclui que durante uma semana nas empresas mente-se em 37% dos telefonemas, 27% das reuniões presenciais, 21% dos IMs de chats e 14% dos e-mails.
            Mesmo pela evidente ignorância que tenho sobre o assunto, concluo que talvez resida aí a razão do sucesso de tantos políticos carreiristas.


                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                           Advogado e Administrador de Empresas

               

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A democracia em perigo

       Jamais esqueci uma frase atribuída a Mark Twain que diz que “nós temos o melhor governo que o dinheiro pode comprar”. Para nós, brasileiros, uma constatação e uma fé ao avesso. Razão pela qual estou ficando cético em relação à democracia em geral. Parece que um país democrático é um lugar onde são realizadas muitas eleições, a um custo alto, sem discutir questões substantivas e com candidatos travestidos em moeda de troca.
            Não vou usar eufemismo, mas esse processo político eleitoral vai de fracasso em fracasso, como no samba de Antônio Maria. É loucura o valor de uma campanha eleitoral hoje em dia. E de onde vem tal dinheiro? Ou vem de empresas (do poder econômico) com as quais os partidos fazem conluios; ou vem do Estado, através da corrupção e do Caixa 2.
            Há quem diga, e não parece absurdo, as eleições no Brasil se tornaram disputas que se assemelham a rinhas de galo, em que os partidos e seus respectivos candidatos competem por poder numa arena sem limites. Nessa competição, impõe-se a lei do mais forte, do mais astuto, de quem estiver disposto a pisotear qualquer obstáculo ético.
            Vergonha, vergonha! O povo brasileiro sente vergonha desse quadro de compadrio partidário, de lobistas simpatizantes, dos assaltantes de cofre público e de empresários sem escrúpulos. Em que cada qual joga em seu próprio “tabuleiro de xadrez”. Um verdadeiro mercado que pode quebrar a democracia. Impedindo, por consequência, que pouquíssimos candidatos se elegem com base em posições ideológicas ou militância.
            Você, caro leitor, já deve ter ouvido esse palavrão “neopatrimonialismo”, segundo sociólogos, significa modelo político no qual a elite governante desvia recursos do Estado para consolidar seu poder, com suborno sistemático de pessoas influentes e hipnose do povo pela propaganda. Seria, então, despropositado achar que atualmente não vivenciamos essa triste situação. Conforme sublinhou um constitucionalista, numa palavra, escárnio!
            Demorou a cair a ficha. Mas, finalmente, caiu. Pois cheguei a conclusão que o poder político eleitoral de uma pessoa é tão maior quanto maior for sua renda. Enquanto na Constituição de 1824 um rico valia apenas um voto, atualmente ele vale tantos votos quanto a propaganda feita com seus recursos for capaz de carrear. Esse é um juízo brutalmente honesto.
            É bom terminar aqui o texto, porque daqui a pouco vão me chamar de chato ou, pior, de comunista. Ora, logo eu que só li Marx apenas (frise-se apenas!) por exigência acadêmica.

                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                 Advogado e Administrador de Empresas