Não.
Chega. Basta. A fantasia de que o Brasil está um paraíso, uma maravilha,
acabou. Os protestos pelo o País afora demonstram que a população esgotou,
chegou ao seu limite e reivindica decência com a coisa pública.
Há, em toda a sociedade, um estado
de beligerância que explode de várias maneiras. E aí passa pela minha cabeça (é
vero) a pertinente omissão: sobre quanto poderia ter feito e não fiz; sobre as
passeatas em que não estive presente; sobre os artigos indignados ou
indicativos de solução que não escrevi; sobre meus votos mal concedidos. E logo vem, sem nenhum disfarce e em forma
pleonástica: “mea-culpa, mea máxima culpa”.
A mobilização, verdadeira alma da
democracia, é o melhor antídoto contra a humilhação que é a nossa saúde pública
vilipendiada, o ensino público depauperado, a vida absurda das cidades, os
entulhos de automóveis pelos incentivos do governo federal, a violência que não
para de crescer e nos transportes públicos relativamente mais caros (e
precários) do mundo. Sem falar, evidentemente, da corrupção que envolve a
classe política. É uma espécie de cachaça da profissão de parlamentar.
Meu amigo Cordeiro, obcecado pelas
palavras, sobre essas manifestações, alfinetou: “Foi um pé no saco dos
políticos”. E foi mesmo. Só que eles estão pouco se lixando, já que os seus
currais eleitorais só acreditam no que eles dizem e sempre votaram neles. Por
isso, investir em educação no futuro vai atrapalhá-los, pois um povo educado
sabe quando está sendo manipulado e não gosta de atitudes populistas. Prática escabrosa
que nos leva a sentir vergonha de ser honesto, de ter estudado duro e
trabalhado sempre, criado e preparado filhos para serem cidadãos íntegros e
corretos.
Tenho falado, aqui neste espaço, que
o Brasil está de joelhos diante de tais mazelas. E a presidente Dilma, segundo
um articulista, chacoalhou demais o barco brasileiro, provocando náuseas
generalizadas tanto em sua tripulação como entre seus passageiros/eleitores.
Redundante asseverar que a imprensa,
de modo geral, tem que ser mais combativa nas trincheiras (ideias) das revoltas
populares, intransigente na defesa da democracia, como bem definiu Millôr
Fernandes: “Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.
Democracia é barulho. Quem gosta de
silêncio prefere ditaduras. Porém, o bom-senso não pode tolerar que arruaceiros
e vândalos dominem as manifestações, sob pena deles perderem a grandeza, os
altos sentimentos e os objetivos pelos quais nasceram.
Com essa insatisfação popular, vamos
mostrar que a democracia deixa de ser uma mera expressão retórica. Que nos
sirva de lições!
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e Mestre em Administração