segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Momento da política


            Gosto muito quando Marx diz: “A humanidade nunca se coloca problemas que não possa resolver”. Pois bem. A mesma situação que gera o problema, e a consciência dele, gera também os meios para resolvê-lo. Logo temos uma questão política, isto é, um projeto para resolver o problema.
            Não é por acaso que a política é um recurso poderoso, civilizador. Está a serviço dos políticos e dos governantes, mas precisa contagiar os cidadãos, que são o fator que pode fazer a diferença. Será que assim tão difícil de entender?
            Infelizmente, o que se vê na TV são alguns candidatos dizendo palavras soltas, sem nenhum compromisso com a realidade cruel em que nos encontramos. Poucos se preocupam em explicar a origem dos recursos para suas mirabolantes promessas. Chega de viver no mundo da fantasia. A nação não aguenta mais essas piruetas demagógicas.
            Em tão pouco tempo da campanha, já dá para notar que o candidato expõe bravatas e inconsistências de sobra. Um monte de conversa absurda. Já tenho me perguntado como é possível uma criatura mudar de discurso tão radicalmente, sem nem perceber que se contradiz. Cinismo ou inconsciência? Maquiavelismo ou ignorância?
            Com agravante: os setores mais extremados acabam por não ver os adversários como pessoas de opiniões e interesses diferentes em seu direito de disputar o poder; oponentes se tornam inimigos a serem eliminados da vida pública e hostilizados nas ruas. No limite, embute ameaça velada de violência. Não fica só nisso. Uma vez que já houve até tentativa de homicídio de candidato.
            É por isso que, se alguém me pergunta: “Política?”, eu respondo: “Sou a favor”. Pois é através da política que podemos mudar o rumo do nosso País, com projetos de longo prazo consistentes, independente de cores partidárias ou inclinações ideológicas, estando à frente brasileiros que adoram essa terra e que por ela querem lutar.
Voto não é artigo de consumo, que você compra ou não. O voto constitui a sociedade política. Pense bem antes de votar. Informe-se e decida.

                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                Advogado e mestre em Administração

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Falência da Segurança Pública


            A fotografia na primeira página do Jornal Correio, após registrar a invasão da Penitenciária de Segurança Máxima Romeu Gonçalves Abrantes, conhecida por PB1, que culminou com a fuga de 92 presos, além de chocar, desnuda a situação do sistema de segurança paraibano/brasileiro. Isso não tem desculpa, não tem mea-culpa.
            Com a proximidade das eleições, tenho visto dos candidatos, com raras exceções, só palavrório, discursos vazios, promessas que não se cumprem, enganação e mais enganação. Ou seja, sem nenhuma proposta confiável que possa salvar este Brasil sombrio, dos assassinatos, dos latrocínios e das lesões corporais seguidas de morte, que expõe um quadro de falência civilizatória e institucional que se estende há décadas.
            Ora, francamente, se os nossos governantes são incompetentes para manter a ordem e a segurança dos que estão encarcerados, imagine dos que estão do lado de fora. Tem mais: as nossas masmorras (penitenciárias) estão em acelerado processo de explosão, pois não têm condições de segurar tamanha vergonha.
            Descaso, corte de verbas, déficit no quadro de agentes e policiais, ausência de políticas específicas e mimimi sobre direitos humanos têm sido a causa substancial para a balbúrdia do sistema de segurança pública. É obrigação reverter à sinistra estatística de um país responsável por cerca 11% dos homicídios contados no mundo, mas também por alimentá-la.
            É desarrazoado, diante de um quadro tão degradante. A sociedade é a maior vítima do jogo de empurra entre Estados e União quando se trata de traçar objetivos e prover recursos para aperfeiçoar as polícias; de reformar o sistema prisional; de agilizar a Justiça e reduzir a impunidade.
            Se medidas duras não forem tomadas, vamos perder para o crime. Seria irresponsável dizer que há uma solução fácil para o problema. Não há. Mas é necessário que se comece a agir imediatamente, com vigor. E que Deus nos proteja!

                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                   lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                       Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O desastre museológico


            Lembro-me como se fosse hoje quando estive pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, no final da década de 70, em visita ao Museu Nacional; cujo acervo histórico foi formado ao longo de mais de dois séculos. Foi, sim, uma experiência indescritível.
            Agora, infelizmente, só cinza! Basta um olhar mais aguçado para perceber o que aconteceu com esse patrimônio cultural é de uma “desgraça anunciada”. Iria acontecer mais cedo ou mais tarde. É inadmissível e entristecedor o descaso das autoridades.
            Isso é um carma, um absurdo. Eu me senti péssimo. O Brasil decente que almejamos não pode aceitar uma situação como essa. À luz da grandeza do Museu Nacional, parecem apequenar-se os manifestantes (de última hora) que se postaram em protesto. Por que não fizeram isso antes?
            O incêndio do Museu Nacional consumiu milhões de peças; destruídas para sempre em apenas algumas décadas de cinismo, incompetência e corrupção estatal. Mais alguns meses e o assunto estará esquecido até a próxima tragédia. Simples assim, nesta nação sem noção. Óbvio, tudo obviedade, filme velho.
            Sem truque semântico, o que sinto nesta hora é um misto de tristeza e decepção. Sou brasileiro, mais zero nacionalista barato para esse tipo de coisa. O Museu Nacional havia sido inspecionado pelo Corpo de Bombeiro há dez anos. Diante do fogo, dos hidrantes não saia água.
            Quanto aos gestores responsáveis pela administração do Museu Nacional - todos agarrados ao poder e suas benesses -, deveriam ter tomado uma atitude: pedir demissão denunciando a falta de verbas para gerir a instituição. Foi isso que ocorreu com Adib Jatine quando lhe negaram recursos para o Ministério da Saúde.
            Chega às raízes do deboche, quando vejo que nos últimos anos o Rio de Janeiro inauguraram dois novos museus, o da Amanhã e o de Arte, enquanto que o Museu Nacional estava em completo abandono. Dá para entender isso?

                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                         Advogado e mestre em Administração

               
               

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Legado da cultura jornalística


            Quando tomei conhecimento da morte do jornalista Otávio Frias Filho (21/8), coincidentemente eu estava concluindo a leitura do “Manual da Redação Folha de S.Paulo”, edição 2018. Uma obra que exprime e demarca uma verdadeira escola de imprensa.
            O referido manual é um legado deixado por Otávio Frias, onde convoca a atividade jornalística como se ela fosse, mais que um ofício ou uma profissão, um estágio avançado de militância. Sob o pressuposto de que a difusão de informações confiáveis e opiniões qualificadas estimulam o exercício da cidadania e contribui para o desenvolvimento das ideias e da sociedade.  
            Sou assinante da Folha há mais de 25 anos e presenciei as mudanças do jornal, em que Otávio atuava como seu diretor de redação. Sábio e visionário, ele fez muito pelo jornalismo apartidário e modernizador. Um brasileiro empreendedor, lúcido e democrático. Um intelectual tão humano e com um olhar atento às diversidades e à inclusão. Destacou-se ainda pela inteligência e capacidade de levar a notícia de forma plural e democrática. Segundo os seus amigos mais próximos, ele era de uma cortesia infinita, fosse com quem fosse. Não se preocupava a dar exemplo. Preferia escutar argumentos a dar ordens.
            A sua morte deixa a imprensa nacional de luto. Sempre respeitou o contraditório e ouvindo a versão dos mencionados em suas reportagens. Quebrou o monopólio do “pensamento único” da imprensa brasileira. A sua morte é uma perda para o jornalismo opinativo, sobretudo em um momento em que veículos sucumbem por não conseguirem se adaptar ao binômio qualidade-rapidez da notícia.
            Otávio se foi, mas nos deixa o exemplo de um grande jornalista, que ajudou a construir o maior jornal do Brasil, que em tempos difíceis combateu a ditadura e que participou dos movimentos pela redemocratização do país.
            Enfim, o Brasil perde uma referência, uma voz nobre e respeitada.

                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                               Advogado e mestre em Administração