terça-feira, 25 de abril de 2017

Carreira de docente

            Recorro à citação recorrente de que a educação nunca foi prioridade no Brasil. E as consequências estão aí: personificação de um país feio, triste e desonesto. Onde você destampa, há coisas erradas. Pode crer, um quadro extremo de cegueira deliberada.
            O retrato que salta da pesquisa é contundente: revista “Nova Escola” já mostrou há tempos que apenas cerca de 2% dos alunos do ensino médio consideram a possibilidade de uma carreira docente. Apenas consideram, pois, mais tarde, cerca de 30% dos que pensam nisso desistem da ideia.
            Vamos ser justos. Poucas profissões que exigem qualificação são tão ingratas quanto à docência, principalmente na educação básica. Ora, enquanto um magistrado ganha 10 ou mais que um professor. Outro membro hierárquico da justiça, tantas vezes mais. Um político, que nada faz a não ser tratar de seus próprios interesses, às vezes, até escusos. E o professor, responsável por dar asas ao povo, ganha um salário humilhante.
            Só alguns idiotizados não vêem essa vergonhosa situação. Noutro artigo lembrei aqui que os fatores desestimulantes são vários e crônicos na educação brasileira. A começar pelo salário. O Estado de São Paulo, por exemplo, o mais rico da Federação, não pagou em 2016 sequer o piso nacional dos professores, que era de R$ 2.135,64.
            Some-se ao salário miserável as más condições de trabalho, escolas mal equipadas, falta de segurança e descaso em geral. Não é por acaso mais de 3 mil professores pedem exoneração da rede pública paulista todos os anos.
            Não podemos nos enganar: cerca de 99,5% da rede pública de educação básica é gerida por estados e municípios, ficando o governo federal com 0,5%. Diante da população tem-se a percepção é de que a responsabilidade é do Ministério da Educação. Consequentemente, governadores e prefeitos sofrem pouca pressão da opinião pública.
            Falar de educação no Brasil é ter que carregar nas tintas, e muito!

                    
                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                         Advogado e mestre em Administração


            

terça-feira, 18 de abril de 2017

Desperdício de recursos públicos

            Nunca fez tanto sentido dizer que o Brasil é o país da piada pronta. Notadamente quando se refere à falta de seriedade no trato com o dinheiro público.
            Esse proselitismo vergonhoso vem de longe, do tipo: construção da ponte por onde não passa água; da ponte que liga a nada a lugar nenhum; da obra para captar água de um rio seco... Exemplos nunca faltam! Esse é o velho Brasil!
            Agora, recentemente, ficou constatado mais um desperdício de recursos públicos, como foi o caso do programa Ciência sem Fronteiras, criado em 2011, cujo objetivo era copiar a experiência bem-sucedida áreas de pesquisa de outros países no envio de estudantes ao exterior, num esforço para que tivessem contato com novas áreas de pesquisa e pudessem trazer uma bagagem acadêmica mais rica.
            Em verdade, basta um olhar mais apurado para perceber que o referido programa custou muito aos cofres públicos, quase 9 bilhões de reais desde 2011, e o retorno para o Brasil ficou muito aquém do imaginado. Ora, menos de 4% dos bolsistas do Ciência sem Fronteiras conseguiram se formar em tempo regular. Na média, 15% dos alunos cumpriram o curso no período previsto. A principal razão foi exatamente o descasamento entre os currículos das universidades brasileiras e estrangeiras.
            Segundo o ministro da Educação, José Mendonça Filho, em relação ao programa, chamou a política de “Robin Hood às avessas: tira dos mais pobres para dar aos mais ricos”. Pois a maior parte dos bolsistas vinha de boas universidades públicas e cursos de difícil aprovação, territórios da classe média alta. Dados mostram que 64% dos estudantes do programa tinham uma renda familiar condizente com a classe B.   
            Há, decerto, meio mais inteligente de solucionar a contenda. Basta ter critério e seriedade. Espero que o fim desse capítulo, experiência fracassada do Ciência sem Fronteira, não significa que o país deixará de enviar seus talentos para fora.


                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                             Advogado e mestre em Administração


            

terça-feira, 11 de abril de 2017

Vergonha de ser honesto

            Poxa vida! Nunca tantos roubaram tanto em tão pouco tempo. A impressão que se tem é que o Brasil está podre. Até para quem deveria zelar pelo uso do dinheiro não consegue se dar ao respeito. Refiro-me à prisão dos cincos Conselheiros do TCE do Rio de Janeiro. Para os rotuladores de plantão, um bando de inconsequentes e de canalhas.
            Dá pra acreditar? Claro que não. A prisão dessa turma foi quase um deboche. Todos agindo ao arrepio da lei. O que leva a citação feita por Ruy Barbosa ser cada vez mais atual: “O homem chega a rir-se da honra, desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto”.
            Aqui, mesmo sem bola de cristal, eu arriscaria afirmar que mais prisão vem por aí. As relações perigosas desses Conselheiros com o ex-governador Sérgio Cabral - trambiqueiro contumaz - eram sabidas até pelos postes da rua da cidade carioca.
            Não é exagero retórico asseverar, diante do quadro tão degradante, que é um escárnio, um descrédito aos Tribunais de Conta e uma tapa na cara do brasileiro honesto. Cuja prática não difere dos políticos corruptos: “Um pra eu, um pra tu”, como invoca a música do mestre Luiz Gonzaga.
            Lendo o noticiário, constatei que essa roubalheira ocorrida nesse tribunal, tem origem à falta de critério (sério) na escolha de seus membros. Pois seu presidente, Aloysio Neves, quando era jornalista e figura conhecida na noite carioca, foi preso em flagrante por tráfico de drogas. A polícia encontrou maconha, cocaína e seringas em seu apartamento. Ele sustentou que o flagrante foi forjado e acabou absolvido pelo Tribunal de Justiça. Decisão que até hoje é questionada.
            A sociedade só vai dar conta da gravidade da cultura da ladroagem e destruição de valores éticos quando são denunciados. O cidadão comum, por outro lado, revoltado porque trabalha correndo o risco de demissão, sem privilégios e tendo de sustentar essa turma.

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                            lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                Advogado e mestre em Administração

terça-feira, 4 de abril de 2017

Terceirização do trabalho

            Há mais estridência que substância nas investidas feitas por aqueles que são contra a essa nova relação de trabalho. Como a economia brasileira precisa crescer - depois de sua estagnação nos últimos anos -, é necessário que haja uma flexibilização da nossa legislação trabalhista.
            Muitos, como eu, tentam explicar que a terceirização não significa o fim das leis trabalhistas. A empresa que fornece os terceirizados, por exemplo, é obrigada a seguir a regulamentação vigente. Mesmo assim, a oposição à tese da terceirização continua lutando contra, simplesmente por populismo, ignorância ou má-fé. Tal modalidade de trabalho é um fenômeno mundial, não uma invenção nacional.
            Dita de maneira mais coloquial, a terceirização é inevitável e será uma importante ferramenta de desoneração das empresas. Consequentemente, de geração de empregos. Ou seja: com menos encargos, elas podem contratar mais, sem tanto medo de pagar indenizações no futuro.
            Se há algo que me tira do prumo, me revolta, é a crítica sem qualquer fundamento, que foge da realidade - extemporânea. Digo isso porque: o Brasil é o país com o maior número de ações trabalhistas no mundo. A estimativa do Judiciário é que, a cada ano, 3 milhões de processos sejam ajuizados. Desse volume de novas ações trabalhistas, estima-se que de 30% a 40% estejam relacionadas de alguma maneira à terceirização. Em razão de não existir uma lei específica que trate do tema.
            Trapalhadas brasilienses à parte, agora, na última sexta-feira, o presidente Michel Temer sancionou o projeto de lei que regulamenta a terceirização no país. A medida faz sentido, foi na dose certa. Pois é grave miopia pensar diferente.  
            A lição a tirar é que o Brasil não pode esperar. Uma vez que a estrutura da CLT, da visão do pai protetor, está ultrapassada, não compete mais.

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                              Advogado e mestre em Administração