segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Deus lhe pague

       O brasileiro está sempre surpreendendo com sua sabedoria, perspicácia e humor ao expressar, de forma concisa, verdades e conhecimentos gerados pela experiência popular. Detém ainda a grife natural de consciência que a vida não é tão arrumadinha como ele gostaria.
            A economia de palavras faz com que essa forma eficiente de comunicar ideias seja amplamente utilizada por escritores, dramaturgos, estadistas, jornalistas, enfim, por todos nós. É preciso reconhecer (e invejar!) essa característica estupenda de linguagem.
            Outro dia presenciei uma situação corriqueira que exemplificava essa maneira extraordinária da sabedoria das ruas. Ao receber umas moedinhas, um senhor pedinte retribuiu como gratidão a frase “Deus lhe pague”. Aí me veio à lembrança do velho amigo Cordeiro, um genial piadista, dono de fantástica presença de espírito, que explicou, com sua lapidar tirada espontânea, a origem dessa expressão. Vejam nessa conversa, num clima folhetinesco.
            Um cara passou mal no meio da rua, caiu, e foi levado para o setor de emergência de um hospital particular, administrado totalmente por freiras. Lá, verificou-se que teria que ser urgentemente operado do coração, o que foi feito com êxito. Quando acordou, a seu lado estava a freira responsável pela tesouraria do hospital e que lhe disse enfaticamente:
            - Caro senhor, sua operação foi bem sucedida. Entretanto, um assunto precisa de sua urgente atenção: como o senhor pretende pagar a conta do hospital? O senhor tem seguro-saúde?
            - Não, Irmã.
            - Tem cartão de crédito?
            - Não, Irmã.
            - Pode pagar em dinheiro, em cheque?
            - Também não, Irmã.
            - Bem, o senhor tem algum parente que possa pagar a conta?
            - Ah... Irmã, tenho somente uma irmã solteirona, que é freira, mas não tem um tostão.
            A freira, corrigindo-o:
            - Desculpe-me, mas as freiras não são solteironas. Elas são casadas com Deus!
            - Magnífico! Assim sendo, por favor, mande a conta para o meu cunhado!
            Assim nasceu a expressão: “Deus lhe pague”.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Plano Nacional da Educação

            Salta aos olhos, há anos, o mau desempenho de nossa educação. Fica evidente também que a desigualdade educacional é tão prevalente em nosso País quanto à desigualdade de renda.
            Recentemente foi concluída a votação do novo Plano Nacional de Educação, através da comissão especial da Câmara Federal, onde o governo se compromete a investir 7% do PIB na educação nos primeiros cinco anos de vigência do plano (até 2016) e 10% ao final de dez anos (até 2021). Meta: fim do analfabetismo, aumento do atendimento em creches, ensino em tempo integral (pelo menos 50% das escolas públicas) e crescimento das vagas no ensino superior.
            Não deixa de ser uma medida alvissareira. Porém, é preciso acompanhar de perto a real aplicação desses recursos. E há razão de sobra para tamanha preocupação, em particular o cuidado no mecanismo do mercado negro de consciência em troca do vil metal. Para não transformar essa notícia, como avisara Chico Buarque, “uma alegria fugaz”.
            Eu botei na cabeça que existe uma percepção de fadiga e “sabe-deus-o-quê-mais” em todo processo de educação. É fato notório de que o Brasil ainda não fez sua lição de casa. Quando falamos em qualidade social da educação, é fundamental considerar o custo-aluno-qualidade e aspectos com a redução do número de alunos em sala de aula, valorização, salários dignos e formação continuada dos docentes.
            É perfeitamente sabido, até nos berçários, nessa época (de eleições) o que não falta são candidatos completamente desenvoltos, despejando cheques e promessas na praça, notadamente àquela que, por milagre, pode vir beneficiar a educação. Detalhe: quando são sufragados deixa de lado esse tema numa inquietante letargia, e passa a sonhar com outros negócios da China, jogando a sofrida educação na sarjeta. É preciso, então, quebrar o silêncio e agitar para não tolerar mais essa vergonha escancarada.
            Ratifico um axioma peculiar que me acompanha e que jamais perdeu a faculdade de me maravilhar: A educação pode não resolver todos os problemas, mas nenhum deles se resolve sem educação. Com truques retóricos e o balaio de estatísticas, mesmo assim, o governo não consegue justificar o porquê, só em 2011, foram gastos R$ 230 bilhões em juros da dívida, mas diz não ter R$ 450 bilhões para gastar em dez anos para a educação.
            É fácil falar, julgar, criticar, apontar erros; difícil é encontrar alguém bem intencionado para mudar esse estado de coisas, que se traduz em mazelas da educação!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O julgamento do mensalão

       Não há como ficar indiferente ao julgamento do mensalão. A não ser que você (leitor) estivesse em total isolamento, num mosteiro tibetano (talvez nem lá), ou em coma (talvez nem assim).          Nos momentos que assisti a tal julgamento, referindo-me aqui a denúncia do Ministério Público, as engrenagens do sistema de falcatruas foram expostas, a sua lógica real se revelou, a tampa do bueiro se abriu e deixou escapar os gases fétidos do esgoto.
            A imprensa, por sua vez, deve continuar vigilante e representando muito bem o seu papel de informar, fiscalizar e denunciar falcatruas. Por seu lampejo, engoli cada letra da reportagem sobre o escândalo do mensalão, evidentemente o que foi publicado e que eu li, com uma fome voraz e segui as curvas dessa história com a mesma intensidade de uma corrida de F1.
            Em bom português, é lamentável que depois de cinco anos de investigações, não há uma prova contundente de que incrimine os 38 réus nesse processo penal. Psiu! Como Pode? Confessadamente, o próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, reconhece de que não existem perícias, documentos, registros telefônicos ou eletrônicos que prove a participação dos agentes delituosos, e sim, a prova testemunhal – totalmente risíveis, segundo a defesa.
            Porventura não seja exagerado dizer: vai ser preciso um baita esforço dos ministros do STF para fundamentar o voto certeiro da condenação, caso haja. Como diz um velho amigo e advogado: “Tá ruço, mano!”. Concordo que a prova testemunhal é a mais frágil das provas. Isso porque ela pode facilmente se mostrar desconexa e vulnerável. Não vou usar eufemismo, só com esse tipo de prova, dificilmente alguém é condenado por corrupção. Pelo artigo 317 (corrupção) do Código Penal, exige-se prova da solicitação ou do recebimento do valor de origem ilícita, pelo menos.
            Não sei, não, caro leitor, mas meu medo é que no final essa gente livre-se das acusações.  Como no plano subjacente daquela música “Dois pra lá, dois pra cá”. Pois, ao contrário sabor dos arroubos de bom-mocismo, essa trupe (figuras carimbadas) é apontada como erva daninha que corrói valores, agride o bom-senso, nega a democracia, desestimula o mérito e ignora a ética. Pior é que esse escândalo nada tem de novo: é apenas um desdobramento tardio do outro. Seria cômodo e desonesto ignorar essa situação.
            E, mais uma vez, recorro poetíssimo Carlos Drummond: E agora, José!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
lincoln.consultoria@hotmail.com
Advogado e Administrador de Empresas

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Consumo e consumidores

       Na verdade escrevo para desopilar um pouco, já confidenciei isso aqui. Mas, com o tempo, descobri que a interatividade com o leitor passou fazer a real diferença. Deixando, assim, para trás aquele pensamento inicial, quiçá, de primarismo e de amadorismo.
            Nessa relação compartilhada, nosso pesquisador-economista Antonio Cavalcante, mestre lá no meu curso universitário, um “generoso cúmplice” na leitura dos meus artigos, e que de forma graciosa presenteou-me com seu livro, chamado por ele de plaqueta, versando sobre “o consumo e o comportamento do consumidor como estimulante da atividade econômica”.
            Inédito? Não. Mas nunca li algo alusivo ao assunto com ideias condensadas num texto enxuto e descomplicado. É, pode crer! Se há uma pessoa fascinada pelo universo do estudo do “consumo” e ao mesmo tempo grilada com este, sou eu.
            Infelizmente, o espaço é exíguo para fazer um comentário de tamanha importância. Porém, na obra do professou Cavalcante, destaco a soberania do consumidor em relação à compra e venda de bens e serviços, cujo poder é exercido à medida que existe concorrência entre os produtores. O receio é que essa soberania tende a ser neutralizada pelos mecanismos impositivos da concorrência monopolista e pela influência da publicidade (armadilhas!).
            O referido professor, com muita propriedade, mostra que o consumo é o início e o fim de todas as atividades econômicas. Se não houvesse necessidades, não haveria consumo; sem consumo, não se justificaria as atividades econômicas. Ou seja, o consumo é o dínamo que impulsiona a economia e a razão de ser das atividades econômicas.
            E eu diria: Na ponta do lápis, em todo o mundo, sabe-se que a economia é essencial para o indivíduo, a fim de que não só viva, mas viva bem, e cada vez melhor, como meio de realizar o conteúdo humano de sua existência.
            Tenho a exata noção de que o Brasil se tornou uma vedete no mundo emergente, atraindo admiração e investimentos, mas que ainda não descobriu o princípio de soberania do consumidor, peça-chave do mercado.
            Os bens de produção existem em função do consumo. Aumentando a produção é contribuir para o desenvolvimento da nação. Então vamos apelar para que os nossos agentes da atividade econômica cumpram com tais regras. Se não professo Cavalcante, como diz Chico: vamos cobrar com juros. Juro!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas