segunda-feira, 30 de julho de 2012

A vitória régia

       Peço perdão ao notável jornalista Abelardo Jurema pela apropriação do título acima. Porém, não encontro algo mais adequado para expressar a homenagem irretocável que ele fez ao nosso querido amigo Célio Marinho, que lamentavelmente acabou de nos deixar...
            Existem pessoas tão especiais, que desejamos estar sempre ao nosso lado. Existem pessoas tão marcantes e tão amigas, que jamais pensamos na hipótese de um dia vê-las partir... Com os olhos marejados de saudade, foi esse o meu sentimento pela sua partida.
            Uma figura humana calorosa, carinhosa, espontânea e verdadeira. Cantador da vida e dos prazeres. Mostrava-se sempre livre, leve e solto... suave e tranquilo. Curtia a vida na dose certa. Igual ao nosso Braguinha: “Nunca vivi extremos. Sempre vivi um meio termo gostoso”.
            Após a notícia do seu passamento, procurei nos meus guardados e encontrei o disco vinil do conjunto “The Gentlemen”. Lá estava ele, na capa, e imaginei perguntando-me, em meio às risadas: “Marrapaz!!! Tu tens ainda esse disco?”.
            Jamais mercadejou suas ideias. Digo isso porque trabalhamos juntos na década de 70, na primeira instituição financeira do País chamada CICLO, no crediário direto ao consumidor.
            Como um pedaço gostoso de passado. Vem-me à memória quando leio algo sobre o projeto cultural “Caminhos do Frio”, envolvendo as cidades do brejo paraibano, e por esse mesmo périplo, à época, eu, Célio, Nezito, Fernando, Amaral e Marcos fizemos uma viagem bizarra, a bordo de um fusquinha, todo aprumado, cujo embarque se deu no Bar Pietros (na Lagoa), ao meio dia de um sábado, e só retornamos no outro dia, à noite, sem pregar os olhos.           
            Pense numa farra etílica e boêmica. Detalhe: em cada cidade que aportávamos precisava-se encontrar logo um bar (tipo pit stop) para bebericar cerveja e cantar. Tudo sob o comando musical de Celinho, através da sonoridade de seu violão. Ele vinha com tudo, ânimo e talento, somados. Há um fado antigo, com um refrão que diz: “Ó tempo, volta para trás”.
            Bem me lembro do nosso último bater papo, com o olhar perdido, medindo cada palavra, cheio de orgulho com a apresentação de sua banda “Vitória Régia”. A meus olhos, continuava fazendo o mesmo estilo “boa praça” ou “gente fina”. Como os italianos gostam de chamar “La bella figura!”.
            Se ele era um santo? Não. Mas, com certeza, era uma santa criatura no trato com o seu semelhante.
 

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nova versão de Gabriela

       A novela Gabriela exibida em 1975 permanece na minha memória angelical, não só pela personagem central, interpretada por Sônia Braga, mas por todo o seu elenco que, magistralmente, mostrou a hipocrisia da sociedade local de Ilhéus e a virulência dos coronéis.
            Nessa nova versão - aliás, estou assistindo a duras pena, em razão do horário (às 23:15h.)  - já desencadeou uma chuva de ironias e de críticas. Como diz Roberto Schwarz, prestigioso marxista: “Ideias fora do lugar”. Realmente, o remake, não tem o mérito da primeira versão, onde a coloquialidade e a simplicidade eram a pedra de toque para narrar uma trama à altura do romance “Gabriela Cravo e Canela”, do escritor Jorge Amado.
            Com fraseado mais afiado, dizem ainda que o elenco atual de artistas seja bem menos competente que o primeiro, e que foi dada apenas uma ênfase na questão visual em detrimento da dramaturgia e da boa literatura. Resultando, assim, em algo bonito, mas raso.
            Não dá. As melhorias foram cosméticas, providenciada pela tecnologia. Até o momento, nenhum ator em especial chamou a atenção. Juliana Paes sorriu em todas as suas cenas, inclusive nas mais tristes. Quanto à interpretação de Ivete Sangalo, sem comentários para não ser indelicado.
            Um segredinho, aqui entre nós: à época, estudante universitário, era um aperreação para que terminasse logo a última aula e saíssemos correndo feito louco para assistir a danada de tal telenovela. É bom esclarecer que não eram apenas os alunos, mas todos os docentes indistintamente. Isso tudo para ver a sedutora Gabriela e a trupe do cabaré chamado Bataclan.
            Dando vazão o seu humor irônico, um colega gozador não poupava tirar sarro dessa situação:
            -Professor, vamos, vamos...  porque preciso cravar os olhos na morena Gabriela. Pena que é muita areia pro meu caminhãozinho(ufa!).
            Note-se, de resto, que falta testosterona aos machos da nova versão de Gabriela, aquela malícia, aquele xaveco do velho e safado escriba baiano. Não se admire, está tudo lá no livro de 1958, mas que lamentavelmente não chegou à nova Ilhéus televisiva.
            Atrevo-me asseverar: acho que refazer o “Bem Amado” seria a melhor opção em vez de “Gabriela”, diante dos escândalos protagonizados por Cachoeiras, Demóstenes e outros ban ban bans da falcatrua , servindo-se como mote para mostrar a realidade brasileira no momento.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Consumo dos idosos

       Acompanho de perto, aliás, coladinho, este latejante tema. Os consumidores com mais de 60 anos devem movimentar neste ano R$ 400 bilhões. São 22,3 milhões de pessoas, dos quais 5,4 milhões ainda estão no mercado de trabalho. Apesar desse potencial de consumo, o varejo continua dá pouca atenção à chamada terceira idade.
            Logo vem uma pergunta: Como entender e atender esses consumidores? Para começo de conversa eles não se sentem velhos. A idade é um estado de espírito, e não um número - assim exaltam.
            Constata-se, através de pesquisa, que os mais velhos são conservadores com relação à marca e locais de compra. Conquistar esse público não é fácil, por outro lado é garantia de clientela fiel. Atingindo esse alvo, o caminho do encantamento e da fidelização é uma questão de tempo. Algo que transcende o simples desejo.
            Não é por acaso, em razão das cifras que esses consumidores movimentam, a rede Magazine Luiza faz promoções específicas pelo menos três vezes ao ano: o Dia do Aposentado. Quem não está preparado para atendê-los, caia fora, sai da reta, porque eles vão passar por cima.
            O momento pior dessa relação comercial, como de costume, é a indiferença. Ultrapassa às vezes a fronteira do tolerável. Objetivamente, não há nada de menor razoável ou verossímil que esse tipo de atitude. Se pudesse ser sinceros, eles diriam: “Que se dane!”.
            Axiomático que o cliente com esse perfil é que se deva dispensar um atendimento diferenciado e excepcional. Sempre que ele recorre às compras, lembra da qualidade desse atendimento, inclusive, está disposto a pagar um pouco mais para ter aquele serviço à altura que  merece. Nesse caso, o cliente vira um “garoto-propaganda” e, o que é melhor, de graça.
            À beira dos 70 anos, um fraterno amigo, se queixando do atendimento de uma loja, com sua sinceridade incomum, afirmou:
            -Não sou galã da vida real, não sou sarado nem bombado, mas tenho dinheiro o bastante para comprar... Tá ouvindo? E até nunca mais!
            Num chute sociológico de boteco (será?!), eu diria que isso é herança de nosso preconceito colonial e cultura miúda. Ou melhor: empresários ignoram os fatos, ofende a lógica do mercado e não profissionalizam os seus empregados.
            Mas por que fugir dessa realidade? Basta compreender. Ser sensível. Tirar proveito.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

terça-feira, 10 de julho de 2012

Pedagogia do drama

            O aprendizado de um idioma, através da pedagogia do drama, tem sido identificado como um positivo impacto na motivação dos estudantes de outra língua. Notadamente, quando se verifica que a maciça maioria de nossos alunos não gosta de estudar inglês. Como se não bastasse de termos ainda, no geral, um ensino “status quo” inoperante.
            As atividades dramáticas podem desenvolver o vocabulário, expressão, criatividade, interação e consequentemente a motivação dos alunos. Baseado nisso, um recente estudo realizado por uma pesquisadora da Universidade Griffith, na Austrália - cuja amostra escolhida foi uma das escolas municipais de ensino fundamental da cidade de Cabedelo - concluiu com grande êxito o rendimento escolar ao utilizar as técnicas mencionadas.
            Por exemplo, em uma das lições de tal processo, os estudantes tiveram que simular estarem no Mercado Público, onde teriam que introduzir o nome das frutas em inglês e fazer com que a professora as comprasse, praticando a linguagem ânglico.
            Já em outra situação, os alunos teriam que apresentar as partes do corpo humano em inglês para o E.T., como ele é um ser diferente ao nosso planeta, não poderia assim conhecê-las. Outra experiência excêntrica foi a que envolvia recrutar soldados para proteger o palácio da princesa Fiona do filme “Shrek”. Valendo-se, sempre, a estigma, a marca, do emprego da narrativa dramática.
            Depois de um mês de aplicação desses exercícios, os resultados da pesquisa mostraram significativo aumento do interesse e motivação dos alunos em estudar inglês. Proporcionando um aprendizado de forma atrativa, espontânea e instigante. Fazendo com que os alunos tivessem a chance de explorar e desenvolver seu imaginário, comunicação oral e habilidade de usar a língua em variados contextos.
            É isso. As atividades dramáticas podem ser consideradas como um eficiente recurso para melhorar a motivação dos alunos de escolas públicas brasileiras, em que o ensino de inglês é demasiado tradicional e ineficiente.
            “Satisfaction”, sim, lembrando mais uma vez Rolling Stones. Pois senti enorme satisfação ao saber da contribuição e do sucesso desse trabalho de pesquisa (tese de mestrado do ensino em inglês), personificada pela professora Larissa Gadelha Cartaxo, por dádiva divina, é a minha filha!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de empresas

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Estrangeirismo dos empreendimentos

       Já virou paisagem comum em João Pessoa observar edifícios com denominação em palavras estrangeiras, numa proliferação desmedida de “gardens”, “maisons”, “châteaux”, “parks”, “places”, e por aí vai.
            Nota-se que o fenômeno do estrangeirismo tem sido mais empregado nos últimos anos, não só aqui na terrinha como no resto do País. Dizem que é uma questão de moda, que tem a ver com hábitos culturais em um determinado momento.
            E como costumo me meter em coisas para os quais não fui chamado, vou dar minha opinião. Numa percepção mercadológica, não vejo como uma aura mágica em torno desse tipo de produto que estimula o lado emocional do público, no caso o cliente comprador.
            Em seus lançamentos, os nossos incorporadores pessoenses inauguram projetos com designações pomposas, a exemplo do “Busch Garden”, “Shekinah”, “Desiree”, “Rubayat”, “Saint Germain”, “Amarcod”, “Hannover”, “Athicus”, “Pegasus”...  Chega!  Acreditem, às vezes, fico naquela sensação mais jeca a cada lançamento. Para os incorporadores, puro estilo. Para os críticos, deslumbramento inócuo.
            Outro dia peguei um táxi no aeroporto de Brasília, onde fui me encontrar com a minha consorte, como de praxe, olhei para o motorista e lhe informei o local de destino:
            -Life Resort... Lago Norte!
        Silêncio. Antes de dar partida no veículo, o taxista olhou em volta e perguntou:
            -Doutor, desculpe-me, não entendi o nome do citado endereço.
            Pensei comigo mesmo: Ora bolas, como pode um empreendimento de porte considerável, inaugurado há mais de cinco anos, ainda ser desconhecido por um profissional do ramo? Mas a explicação está no danado do nome. Um retrato de um charme falacioso e inútil.
            Contudo, na Terra Brasilis, alguns construtores acham que vivem em Miami. Acham que talvez isso torne os seus prédios mais atraentes. Sinceramente, não dá! Prefiro homenagem das coisas e personagens vinculados ao Brasil. Ou seja: o problema é que em vez de voltarem para aquilo que é nosso, fazem justamente o contrário.
            Aos desavisados, é bom lembrar a manifestação do folclorista potiguar Câmara Cascudo: “O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”. Essa, sim, é a grande sacada.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas