Não
é à toa que bate em mim uma saudade danada e uma alegria saber que o disco
vinil, aos poucos, está retornando ao mercado. Para os seus aficionados, a
volta mais bacana do vinil é transformar a paixão pela música em algo mais
tátil.
Achava interessante aquela coisa de
lado A e lado B. O disco de vinil, ao contrário do CD, era tratado como rei.
Colocado dentro de um saco plástico e depois dentro da capa de papelão, formato
quadrado de 30 por 30 centímetros, com a ilustração e a foto majestosa do
artista.
Um detalhe que era (e ainda é)
inconcebível: não podia acomodá-lo de qualquer jeito. O certo era colocar o
disco na posição vertical, senão poderia empenar e, consequentemente, ficar
pulando, estragando a audição.
Curti muito o vinil na minha
juventude. Ele tinha o ritual inconfundível, a coisa física, a interação.
Exigia ação e não passividade. Para muitos, um sonho, um retorno a uma maneira
mais íntima e completa de se relacionar com a música. Por isso, conservo ainda
na minha estante, com muito carinho, uma boa quantidade dessas obras de arte.
Ah, claro. Para quem acompanhou a
época dos velhos discos de vinil, é impossível evitar um sentimento de saudade
e perda ao recordar os estabelecimentos localizados em nossa cidade,
notadamente nas Avs./Ruas General Osório, Miguel Couto e Duque de Caxias, que
acabaram sucumbidos ao avanço da pirataria e aos downloads disponibilizados
pela internet. Deixando um vazio da plasticidade e da sonoridade que
presenciávamos nas lojas.
A bem da verdade, com o fim do
vinil, as músicas ficaram descartáveis. A nova geração não tem a mesma cultura
de cultivar o trabalho dos artistas comprando seus discos, sem dar importância
aos encartes e a mídia física; e os DJs começam a utilizar notebooks pela
praticidade, abandonando de vez os discos. Triste desprezo, não é mesmo?
Nos Estados Unidos e na Inglaterra,
os números das vendas de LPS não param de crescer. No país norte-americano, em
2013, foram 6 milhões de “bolachas” vendidas, mais de 30% de crescimento em
relação ao ano anterior. No Reino Unido, o aumento do mercado foi também
considerável: 30% maior em 2013, com 780 mil discos adquiridos.
Por aqui, igualmente, essa
performance não foi diferente. No ano passado, a Polyson, única fábrica de
vinis em larga escala da Américas Latina, sediada no Rio de Janeiro, prensou
quase 59 mil LPS – 23.017 unidades a mais que em 2012, um impressionante
crescimento de 63%.
Como se vê, o vinil não é só um
artefato para ardorosos fãs de música, mas um objeto que tem atraído cada vez
mais consumidores.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e mestre em Administração