quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Carnaval da Bahia



       Certa feita disse um folião que “em nosso sangue corre carnaval”. É verdade, sim. Desde garoto, lá em Cajazeiras, que sou um entusiasta da festa momesca. Até hoje, com estilo e bom humor, gosto de me fantasiar para preservar a tradição e a irreverência desse nosso patrimônio artístico e cultural.
            É, de fato, uma festa estupenda e inigualável. Confesso que o carnaval de outrora era bem mais deslumbrante, bebia-se com destemor, é claro, mas naquele tempo tínhamos mais segurança e os nossos fígados jovens ainda podiam transformar o líquido etílico em arroubos de amor e poesia.
            Vocês sabiam que o autêntico carnaval da Bahia teve sua origem no frevo pernambucano? Pois bem: em 1950, o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife foi convidado a se apresentar pela primeira vez fora de seu estado. Destino: Rio de Janeiro. Uma das paradas da longa viagem de navio era Salvador. Na época, a capital baiana até então comemorava o carnaval de forma tranquila, quase bucólica. Sabendo sobre os visitantes ilustres, alguém teve a ideia de convidar o grupo para uma apresentação pelas ruas da cidade.
            Meio inusitadamente ao entrar na Avenida Sete de Setembro ao som da “Marcha Número Um”, o mais conhecido frevo da história, a cidade se transformou. Um grupo começou a seguir a banda e, em poucos minutos, uma pequena multidão atropelou tudo o que via pela frente, com trombadas, empurrões, safanões.
            Por mais escalafobética que fosse essa manifestação, os integrantes do Clube Vassourinhas não faziam ideia de que aquela apresentação confusa e improvisada seria a inspiração do carnaval baiano como se conhece atualmente. Entre os foliões que acompanhavam o frevo rasgado do clube estavam Dodô e Osmar, dois amigos que há tempos planejavam sair pelas ruas da cidade durante o carnaval a bordo de um Ford 29 apelidado de Fobica.
            Foi uma tremenda loucura, o povo pulando. Foi aí que Osmar falou: “Dodô, vamos sair tocando essa música”. No carnaval do mesmo ano, a dupla passou a tocar os frevos do Vassourinhas. Estava criado o Trio Elétrico de Dodô e Osmar. E o carnaval de Salvador nunca mais foi o mesmo.
            Não é por acaso que o acontecimento histórico inspirou Moraes Moreira a compor “Vassourinha Elétrica”, de 1980: “Varre, varre, varre, Vassourinhas/Varreu um dia as ruas da Bahia(...) Abriu alas e caminhos pra depois passar/  O trio de Armandinho, Dodô e Osmar”.

                 
                                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                        Advogado e Administrador de Empresas

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Caminhos pela vida



       Há um verbo em desuso que merece ser revitalizado: aprender. E foi através do livro “Meus Caminhos pela Vida”, recentemente publicado pela Editora Meta, do professor Antônio Cavalcante, que pude refletir o quanto esse verbo é importante na postura competitiva: não é daquele cara que almeja atingir o topo de qualquer maneira, e sim daquele que extrai de algo superior o estímulo para encontrar o próprio caminho para vencer a si mesmo.
            A referida obra é uma autobiografia desse apaixonado pelo ofício de ser professor. Redigido de modo claro e objetivo, sem decair no falso moralismo ou na verborragia hipócrita de certos escritos. Um autêntico flashback cinematográfico, onde ele rebobina todo o filme sobre a sua vida, sem dar espaço para embromation.
            Bacana mesmo foi ele confessar - com muito orgulho - que é filho de família muito humilde, nascido na raiz mais profunda do cariri paraibano (cidade de Boa Vista), que começou a trabalhar antes de completar dez anos de idade como botador de água nas casas de família, vendedor ambulante de produtos caseiros, lavador de queijos de coalho, auxiliar de venda de algumas bodegas, auxiliar de padaria, cortador de palmas forrageiras, tratador de animais para alguns criadores no lugarejo e outras tarefas de menor importância para um jovem sonhador.
            Transpirando verdade, sentimentos à flor da pele, o professor Cavalcante, conhecido pela sua simpatia, bem-educado e impecável no trato, mostra que venceu na vida profissional sem precisar de pedigree, nem de pistolão. Prevalecendo-se em todo o tempo a “aristocracia do mérito”. Que emana do concurso público.
            Mesmo quando foi preso inocentemente pelo Regime Militar (1965), ele não se abalou. Tinha consciência que precisava continuar lutando, sonhando e olhando sempre para frente, sabendo que a vida somente acaba para os fracos e os pessimistas.
            Fiquei surpreso quando esse ilustre professor de economia citou uma frase extraída num dos meus artigos publicados aqui neste periódico: “Nós nascemos sem pedir e morremos sem querer – Lincoln Cartaxo  (ex-aluno)”. Claro que isso me comoveu, notadamente porque é uma frase que gosto de fazer referência para provar àqueles desavisados que nessa vida somos todos parecidos e ninguém vale mais, nem menos, um tostão.
            O resto da história do livro vocês já podem imaginar. E como toda história que se preza, o professor Cavalcante e toda sua família viveram (continuam vivendo) felizes para sempre.

                                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                       Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Gestão moderna



            Aprendemos com os gurus do mundo dos negócios que o sucesso não é questão de sorte, como muitos pensam. O sucesso é preparação, atitude mental, perseverança e disciplina.
            Não é à toa que poucos conseguem conquistar essas qualidades e chegar ao topo. Além disso, para se obter resultados surpreendentes, é necessária aquela essência de sonhe alto, pense grande, tenha coragem e ouse inovar.
            Quando vejo a derrocada do Grupo Eike Batista (empresas do “x”) e a difícil situação financeira da Petrobras acho que chegou a hora dos nossos gestores executivos saírem da zona de conforto e serem mais profissionais. É aquela coisa: ou você evolui ou não sobrevive.
            Isso fica cada vez mais evidente com a desilusão, ganância, cinismo e autointeresse dos atuais gestores, tidos como “modernos”. Em termos morais e sociais, isso é imperdoável. Estamos já pagando um alto preço por tais equívocos.
            Ora, quem já leu alguns dos princípios de Peter Druker sabe que essa trupe está na contramão do mundo corporativo. Ele ainda é considerado uma excentricidade da gestão moderna. Em um campo notoriamente propenso a novidade e modismo, os conceitos de Druker continuam a ser reverenciados.
            Na verdade, Druker enxergava a gestão não como uma ciência, mas como uma arte generosa. Criticava, já naquela época (1950 a 1970), arduamente os altos salários de executivo. À medida que a remuneração dos executivos aumentava e a ideia de que a empresa deveria ter outro propósito além de produzir lucros diminuía. A diretoria de Eike Batista é um bom exemplo: pelo menos dez executivos saíram com mais de R$ 100 milhões no bolso.
            A falta de gestão administrativa tornou-se sinônimo de dores de cabeça e confusão para muita gente. Outra boa lição, dessa deficiência, vê-se na esfera do governo Federal: com um PIB mixuruca, superávit fiscal frouxo, inflação no teto, balança desbalanceada, e sem o ingrediente novidadeiro da Bolsa Família. Não só entendo como não vejo ironia em dizer que gestão não é a “praia” de muito deles e por isso fazem besteira.
            Sem truque semântico, o grande legado de uma administração pública é o modelo de gestão qualificada: o reconhecimento da meritocracia, a adoção de uma política de resultados, o incentivo aos bons servidores e às boas práticas. Qualquer dedinho de prosa sobre o assunto vai ver que não há mais espaço para a estratégia de empurrar com a barriga os problemas de gestão.
            Portanto, vale à pena perder (ou ganhar) um tempinho e ler alguma coisa sobre os fundamentos da boa gestão. Antes tarde do que nunca.


                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                   lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                   Advogado e Administrador de Empresas
                       

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Herança dos generais



            O regime militar foi um período desafortunado para uma geração em que se ouviu (e sentiu) os primeiros estalos da rachadura da liberdade democrática. Por outro lado, acho difícil alguém subestimar a honestidade pessoal de cada um que presidiu o País naqueles tempos bicudos. Vejamos.
            Para vocês terem uma ideia, quando Castelo Branco morreu num desastre de avião, verificaram os herdeiros que seu patrimônio limitava-se a um apartamento em Ipanema e umas poucas ações de empresas públicas e privadas.
            Já Costa e Silva, acometido por um derrame cerebral, recebeu de favor o privilégio de permanecer até o desenlace no palácio das Laranjeiras, deixando para a viúva a pensão de marechal e um apartamento em construção, em Copacabana.
            O gaúcho Garrastazu Médici dispunha, como herança de família, de uma fazenda de Gado em Bagé, mas quando adoeceu precisou ser tratado no Hospital  da Aeronáutica, no Galeão.
            Nessa linha, o Ernesto Geisel, antes de assumir a presidência da República, comprou o Sítio dos Cinamonos, em Teresópolis, que a filha vendeu para poder manter-se no apartamento de três quartos e sala, no Rio.
            Por último, João Figueiredo, depois de deixar o poder, não aguentou as despesas do Sítio do Dragão, em Petrópolis, vendendo primeiro os cavalos e depois a propriedade. Sua viúva, recentemente falecida, deixou um apartamento em São Conrado que os filhos agora colocaram à venda, ao que parece em estado de lamentável conservação.
            Goste-se ou não, é uma realidade. Essa reflexão deve ser avaliada de forma atenta e desapaixonada sobre os governantes que assumiram a presidência após o regime militar. Cheio de curvas sinuosas, entra governo, sai governo, a maldição continua. A cada dia, um escândalo diferente solta dos jornais. Em maior ou menor medida, as mazelas não são diferentes: corrupção, incapacidade administrativa, irresponsabilidade, carência de ética e moralidade, ignorância, ausência de transparência e falta de respeito ao cidadão.
            O articulista Carlos Chagas, figura de proa do nosso jornalismo político, sobre esse tema, afirma que os cinco generais-presidentes até podem ter cometidos erros, mas não se meteram em negócios escusos, não enriqueceram nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos.
            Por isso, me atrevo a concluir este texto com uma polêmica, bem a calhar, esse “padrão de governar” já passou a ser um cacoete profissional da política brasileira.


                                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                              Advogado e Administrador de Empresas