quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O racismo enfrentado pelos empregados

 Lamentavelmente volto ao tema, tratado por este articulista noutros artigos aqui publicados.

Em razão da alta dosagem de desigualdade social, o racismo tornou-se um campo fértil para exposição vexatória e degradante. É o caso do racismo enfrentado por empregados que já levaram pelo menos 22.511 ações à Justiça do Trabalho em todo o Brasil, desde 2014.

A fonte desse levantamento é da empresa de jurimetria Datalawyer, onde aponta para um crescimento, ano a ano, no volume de processos trabalhistas que citam, em suas petições iniciais, termos com racismo, injúria racial, discriminação racial ou preconceito racial.

Na Justiça do Trabalho, o pedido feito por quem foi alvo de racismo é a indenização por dano moral. Ao todo, essas indenizações já movimentaram R$ 4,34 bilhões.

Para Justiça do Trabalho, além de ataques diretos à honra do trabalhador, como em xingamentos e constrangimentos, o racismo pode aparecer na falta de diversidade. Em 2020, uma rede de laboratórios foi condenada a indenizar em R$ 10 mil uma funcionária por deixar de contemplar, em seu guia de treinamento, pessoas negras.

O citado manual definia padrões para roupas, maquiagens e cabelos. Não consideravam, porém, pele preta e cabelo crespo. A trabalhadora contou que pediu para manter seu black power solto, como faziam colegas que tinham cabelos curtos, mas teve o pedido negado.

Como se vê, infelizmente, existe esse preconceito arraigado em nossa sociedade, apesar de todo rigor da legislação contra manifestação vergonhosa de racismos.

Certa feita, minha empregada me confessou que estava com uma dor, seu pai e seu irmão a levaram para o hospital público, foi examinada pela enfermaria de triagem que nem lhe examinou e disse que era cólica e deu a classificação como baixo risco.

Ao ser levada para outro hospital, onde foi atendida por uma médica negra que, por sua vez, lhe deu toda atenção. A situação era tão grave (infecção na vesícula) que passou por cirurgia no mesmo dia.

A conclusão que ela chegou, confirmando o que disse a sua mãe, que os hospitais públicos não atendem bem as pessoas da comunidade, mesmo se estiver morrendo, têm que estar arrumada minimamente.

Confesso que tenho dificuldades para compreender tamanho absurdo.

É o que falo: é preciso reagir. Isso colide o que vai ao âmago de ser humano: a humilhação.

domingo, 27 de novembro de 2022

Manipulação digital

 Já escrevi sobre o assunto, um ano e pouco atrás. Se volto ao tema é porque se liga a outro (do qual tratarei agora).

A manipulação digital é bem comum em diversos tipos de trabalho, desde o jornalismo, passando pelas artes, até a publicidade. É notório que a criação do Photoshop foi uma verdadeira evolução no mercado fotográfico. A facilidade com que o programa edita imagens é o motivo de toda a sua popularidade.

Por isso, a mim, que adoro esse tipo de leitura (marketing digital), causa espécie em ver essa prática ser difundida sem nenhum critério e, tampouco, sem medir às consequências dessa atitude.

Uma pergunta se impõe: até que ponto a manipulação é aceitável? Diante de diversos impactos que alterações em imagem podem causar, aonde é que a ética se encontra?

Apesar desse lado ferramental útil do Photoshop, o que não foi possível prever era um lado mais obscuro, em que a manipulação de imagens pudesse causar muitos impactos negativos no mercado e na sociedade.

O problema começa a acontecer quando notícias e fotos manipuladas começam a ser feitas com o intuito de manipular a opinião pública. Algo que deveria indignar, mas parece causar um secreto gozo.

É preciso ter em mente que as Fake News existem com o objetivo de manipular o público, distorcendo fatos e fotos para que pareçam verdade e, dessa forma, destroem reputações e criam força baseadas na mentira.

Ora, quando falamos em publicidade, a discussão se torna um pouco mais polêmica faz parte de uma intenção de vendas e promoção de um produto ou marca, cuja manipulação digital visa persuadir, enganar o consumidor.

Em razão dos impactos que o mau uso da manipulação digital oferece, há um Projeto de Lei em trâmite no Brasil, que obriga a identificação de retoques digitais de modelos em campanhas publicitárias.

Exagero? Acredito que não. Nada de ser panfletário. A ideia é que as campanhas tenham mais transparência e avisem as pessoas consumidoras sobre possíveis manipulações digitais nas fotos publicitárias.

Achei ótimo e tem lógica. Outros países já adotaram medidas como essa, como a França e a Noruega. Em ambos os países as campanhas são obrigadas a colocar um aviso nas fotos que sofreram alterações ou qualquer tipo de manipulação. Obrigando, por exemplo, apresentarem tarja com a frase “silhueta retocada”.

Para terminar, como um modesto “escritor de coisas miúdas”, sempre contestei essa prática (manipulação digital) enganosa e distorcida.

Ih! Isso tem nome, meu chapa. Sacanagem!

LINCOLN CARTAXO DE LIRA

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Xenofobia contra nordestinos

           Advogada que fez declaração de xenofobia contra nordestinos é exonerada da Comissão da Mulher Advogada – OAB de Uberlândia, como também, a Defensoria Pública de MG pede indenização de R$ 100 mil. 

            Eita gente esquisita! Não. Não tenho estômago para isso. É notório que a referida advogada teria explicitamente incitado a discriminação do povo nordestino, a que configura crime pela nossa legislação. 

            Eu, particularmente, repudio de forma veemente as expressões chulas utilizadas que materializam preconceito e discriminação contra o nosso povo nordestino. 

            Por vezes me surpreende que essas coisas estejam acontecendo no Brasil. Execrável por qualquer ângulo que se olhe. Declarações destemperadas, preconceituosas e agressivas. 

            A mesquinhez do seu gesto dá a medida exata de seu caráter. Comportamento reprovável que macula e desgasta nossa classe (advocacia). 

            Foi um espetáculo da vergonha sem vergonha. Contudo, rica em motivos. Perdão! Não posso aceitar isso calado. Não me canso de dizer que tem muita gente decente no Brasil com vontade genuína de contribuir para fazer um país melhor, ao contrário dessa pseudo-advogada.   

            O preconceito contra os nordestinos vem carregado não somente de ódio de classe, mas também do racismo estrutural que tem sua origem da sociedade brasileira. 

            Lamentavelmente, a cada resultado eleitoral, a ignorância e o derrotismo de muitos eleitores servem de combustível para as mais sorrateiras expressões de preconceito e racismo. 

            Já pensou em um Nordeste independente? Elba Ramalho retratou essa cena em uma música chamada “Nordeste Independente”, composta por Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, gravada em 1984. A letra traz o cenário do Nordeste auto suficiente e, muito além disso, mostrou que o Sul e Sudeste precisam dos nordestinos para produções econômicas e culturais. 

            Como diz o poeta Guibson Medeiros, sempre versátil e boa-praça: “Gosto quando alguém me fala oxente, que é coisa que no ouvido dá prazer. Mas eu tenho um recadinho para você que acha é doutor de formatura, eu sou mesmo comedor de rapadura, e até hoje não encontrei esse defeito. Porque todo portador de preconceito fica curado com uma dose de cultura”. 

            É verdade. Essa dose de cultura o nordestino tem: no Enem de 2021, dos dez estudantes que alcançaram nota máxima na prova de redação, sete são nordestinos. 

            No nosso linguajar bem nordestino, eu imploro: Senhor, afasta de nós os infeliz, das costas oca, os papangu, as misera e todos aqueles que nos desejam o mal. 

            De outra forma, sem freios na língua: vá se lascar! 

            Por isso, quanto mais sou nordestino, mais tenho orgulho de ser. 

 

 

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA  


Artífice da beleza

 

            Excelente!  Este é o adjetivo que sintetiza o livro “Não tenha vergonha de ser bonita” do cirurgião plástico, professor e escritor Rolando Zani. Mais do que simples profissão, sua especialização médica tornou-se, para ele, uma missão intrigante, apaixonante e reveladora.

            Diz este artífice da beleza com aguda sinceridade: Beleza é tudo? É lógico que não! Dinheiro é tudo? É lógico que não! Cultura é tudo? Claro que não!  Mas tanto a beleza quanto o dinheiro e a cultura são importantes para a realização pessoal.

            Tá certo! A primeira coisa que certamente algumas pessoas julgam em você é sua aparência, a beleza estética e os cuidados que dedica ao corpo: o modo de se vestir, o asseio, o comportamento, o jeito de se movimentar e de se portar e o perfume, por exemplo.

            Completa, tascando a seguinte frase: “Beleza talvez não seja tudo, mas ajuda bastante em tudo na vida”. Mais um detalhe: quando você cuida carinhosamente dos quatro aspectos da beleza - físico, emocional, intelectual e espiritual -, converte-se numa mulher inteiramente bela, como sempre quis.

            De maneira engenhosa, comenta que as pessoas costumam atribuir certa conotação pecaminosa à beleza e à sensualidade, associando-as à promiscuidade. Criam falsos moralismos e alardeiam aos quatro ventos idéias como “Mulher que cuida bem de si mesma só tem sexo na cabeça”, “A sensualidade e a perdição da mulher”, “A mulher se faz bonita para transar”, e outras coisas do gênero. Nesse clima de preconceito, muitas mulheres abrem mão até mesmo à beleza e a magia da sedução.

            As mulheres, de modo geral, gostam de se comparar a algumas celebridades. O sonho delas é ter o nariz de Nicole Kidman, os seios de Gisele Bündchen, a boca de Julia Roberts. Não são apenas os homens que ficam alucinados com essas obras-primas da natureza. As mulheres também sonham com elas. Mas os motivos são diferentes, é claro. A verdade é que toda comparação sempre resulta em sentimento de inferioridade porque raramente as pessoas se comparam a alguém menos bem-dotado que elas.

            Com sua verve de crítico e ferina pontaria, mostra que muitas pessoas procuram a cirurgia plástica, ou ainda outros recursos para melhorar a aparência, influenciadas pelos meios de comunicação, que enaltecem um modelo perfeito de beleza. Essa, porém, é a motivação errada para o desejo de se tornar mais bela e pode justamente surtir o efeito contrário, fazendo com que a pessoa deprecie o próprio corpo e negue sua beleza individual por se iludir com a fantasia da perfeição.

            Pinço ainda de sua narrativa uma revelação: a beleza física é, muitas vezes, agradável apenas para ser apreciada a certa distância. Algumas pessoas são interessantes para se admirar, mas difíceis para se conviver. São belíssimas, desde que não estejam muito próximas. Exibem uma beleza mais para ser vista do que para ser sentida.  Uma beleza puramente decorativa.

            E, finalmente, manda um recado às mulheres: assuma de vez que você é linda e mostre sua beleza ao mundo.

 

                                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                                                 

           

 

 

 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

A nova realidade do aposentado

Quando eu era criança lá em Cajazeiras, considerava-se velho um homem de 60 anos. Velho só, não. Velhíssimo. Hoje, surgiu uma geração de “novos velhos”. Não estou falando da baboseira de “melhor idade” e do lixo ideológico do politicamente correto, que tenta maquiar a realidade com palavras delicadas.

Acho que gozo de uma inteligência mediana, dói não entender porque ainda existe preconceito com os aposentados aptos a continuar trabalhando. E que se encontram incomodados com essa triste situação.

Como costumo dizer, se eles forem longevos, que sejam positivos, que nos tragam benefícios. Simples assim.

Para muitos, a aposentaria ainda é sinônimo de um momento idílico em que idosos invariavelmente ficam boa parte de seus dias sem trabalhar. No entanto, estudos demográficos comprovam que as pessoas que nasceram na década de 1960 estão ganhando pelo menos mais vinte anos de expectativa de vida.

Além disso, as pessoas que têm 40 ou 50 anos hoje em dia estão longe de estar no caminho para se tornar os “vovôs” e “vovós” de antigamente. Diante desses fatos, a visão que temos da terceira idade e da aposentaria precisa mudar.

Antigamente, a maior parte da humanidade se estuporava fisicamente no trabalho pesado nas fazendas, fábricas e minas. Agora a maior parte do trabalho pesado vai sendo executado por máquinas, com maior produtividade e sacrifício físico infinitamente menor para os seres humanos.

Observe que não são apenas celebridades e estrelas (a exemplo de Roberto Carlos com 81 anos) que se afastaram do estereótipo do envelhecimento. Toda uma geração que hoje tem entre 60 e 80 anos está escolhendo e construindo uma outra perspectiva de estilo de vida. É fato louvável, a ser celebrado.

O importante nesse segundo tempo da vida, que as pessoas estão descobrindo que pode ser o tempo depois dos 60, é procurar se dedicar mais àquilo que dá efetivamente prazer, conciliar isso com oportunidade de ter uma renda extra, de continuar tendo convívio social com colegas que também estão na ativa e de continuar atualizado como ser humano contemporâneo de um tempo em que as mudanças e as inovações são a regra.

Claro, óbvio ululante, que no futuro o trabalho físico será reduzido ao mínimo e que o mais importante será ter experiência, criatividade, ousadia e capacidade de reinventar a si mesmo.

Essa é a sacada, é você (acima de 60 anos) com você mesmo, a autossuperação e entusiasmo.

LINCOLN CARTAXO DE LIR 

Confraria dos boêmios

   Tem neguinho que diz que é o “tampa’ na arte de beber, porque ainda não conhece o Fernandão, eterno presidente da confraria dos boêmios vespertinos, chamada APA - Associação da Passarela do Álcool. Bom.  A sugestão de criar essa entidade deve-se a outro confrade de copo chamado Ricardão, cujo objetivo é estimular e promover a comunhão entre os seus membros que curtem e aprecia a boa bebida, uma boa música, um bom papo. 

            Páreo duro, o Fernandão. Pessoa bem afeiçoada, com característica que lembra o grande ator e diretor do cinema brasileiro Anselmo Duarte. Gosta de se envolver em pesadas carraspanas, apesar das recomendações médicas de que ele deveria passar o resto da vida afastado do álcool. Não faz por menos, uma vez que agora só possui um rim. 

            Seu parceiro e secretário da associação, Pedro 51, também jardineiro que nos dá assistência ao nosso condomínio, rola entre si uma eletricidade e um magnetismo etílico comovente. Tem uma particularidade: embarca o copo de uma vez, tragando o líquido em dois goles. Sob estrepitosa gargalhada, confessa: “Não sei o que será de nós sem um traguinho. Pra falar a verdade, dês que me entendo de gente que eu bebo”.  

            Na véspera de Natal, estávamos todos reunidos, quando dei fé, vinha chegando o nosso presidente arrastando os pés, no seu esforço plástico, elástico, acrobático... para nos dizer que estava apto a permanecer no cargo, pelo fato de que jamais se afastou de suas obrigações “estatutárias” da organização. Para justificar a sua aptidão, engoliu de uma só vez a dolorosa do Conhaque Domecq. 

            Com sutileza de elefantes, o filiado dotô Fofinho olhou em torno, visível ar de contrariedade estampada na face, e por ser médico, deu o conselho: “Meu caro, reconheço que a cachaça tem mais força do que Deus, porque Deus dá juízo e ela tira, porém você não está em boas condições de saúde, razão pela qual te peço, com as vênias de estilo, para que passe o bastão da presidência ao comandante Ruarez”. Com todas as suas pusilanimidades, medindo cada palavra, retruca: “Peraí. Pelo amor do Lá de Cima, não me peça isso!”. 

            Outro dia, num encontro com o companheiro Imperador, ícone glamourizado do fino Scott, foi um afrouxamento risadal (perdão pelo estranho neologismo) quando me perguntou como ia o nosso estonteante presidente. De pronto, respondi: “Zerando a sede com uma braminha”. 

            Permitam-me uma digressão: segundo o filósofo Ruarez “Beber é arte, comer é vício”. Exímio gozador. Um verdadeiro craque em matéria de fazer rir; foi através dessa linguagem leve e descontraída que ele vociferou: “Vinte e quatro horas num dia, 24 cervejas numa caixa. Coincidência?”. 

            O Patrulheiro é a novidade - o tempero, o equilíbrio, a prudência - que faltava ao grupo, quando anuncia: “Beba com moderação. Melhor beber todo dia, do que beber o dia todo”. 

 

PS: texto escrito em 30/5/2010 - Jornal Correio da Paraíba, homenageando os meus amigos de nossa saudosa confraria dos boêmios. 

 

 

                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Fascínio pela leitura

 Cada escritor tem a sua maneira de expressar o fascínio pela leitura. Alguns chegam a dizer de que ler é um instrumento básico para se ter uma boa vida. Ao ponto, também, de dizer que o maior dom é a paixão pela leitura. É barata, consola, distrai, emociona, dá-nos conhecimento sobre o mundo e enorme experiência. 
            A livraria é a casa dos livros, é o lugar do encontro. Infelizmente, as livrarias que sempre foram a maior fonte da procura de seus ávidos leitores estão, agora, passando por uma crise financeira sem precedentes. Mas isso é um tema a digerir futuramente.
            Na época de colegial, havia uma professora chamada Dona Marta que reverenciava demais o hábito pela leitura. Gostava de asseverar que um livro fechado é apenas um calhamaço de papel. Ainda sentenciava: “Olha, se quiser amigos, procure-os entre os bons livros: eles são verdadeiros e nunca irão bajulá-lo nem enganá-lo”. 
            Não sou daqueles leitores neuróticos. Não tenho idolatria cega por livros. Tenho a leitura como uma coisa prazerosa. Nada de obrigação e estroinice. Por isso, meu amigo Cordeiro, guru da boemia, com sua fina ironia, costuma dizer: “Pô, há pessoas que leem demais: são bibliobêbados”. Particularmente, conheço alguns que estão sempre embriagados por livros, como outros que se encharcam de uísque ou religião. Eles passam pelas diversões e estímulos do mundo em meio a uma névoa, sem ver nem ouvir nada. 
           Quer saber? Não levo jeito pra ler um livro disponibilizado pela internet – computador. Por uma razão simples: eu preciso pegar para gostar. Tocar. Sentir o cheiro. Sejam os livros reflexivos, livros leves, livros de bolso, uns apenas decorativos, outros essenciais. Afirma-se, não à toa, que a leitura pelo computador é como sexo sem amor. Acessou, leu, gozou e desligou. 
            Pensando bem, nada mais falacioso do que o slogan “Pátria Educadora”, no passado anunciado com júbilo pelas nossas autoridades. Pura enganação. O incentivo à leitura é uma causa de um país que tem pressa de se educar e se informar; é causa de todos os que acreditam que as ideias e as palavras podem mudar o mundo. Daí me veio à aula: a verdadeira pobreza é a ausência de livros. 

            Sempre reservo tempo para minha paixão pelos livros. Os amantes de livro me compreenderão e saberão que parte do prazer de uma biblioteca é a sua existência. Livros não são peças de decoração, mas não há nada que decore melhor uma casa. 

 Quando criança sonhava ter a minha própria casa, com uma linda biblioteca. Sonho este conquistado com luta e muito suor. Vem, assim, a calhar este admirável tour de reflexão, quando se diz ainda que o livro traz a vantagem de a gente poder estar só, e ao mesmo tempo, acompanhado.
Tomem nota: não é por acaso que se assegura que um país se faz com homens e livros.  

                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Mentes perigosas

           Uma tremenda covardia os estupros cometidos pelo anestesista Giovanni Quintella, em São João de Miriri (RJ). Sedando completamente suas vítimas (pacientes), deixando-as inconscientes, para a prática desse ato criminoso. 

            Num espaço que deveria dar todos os cuidados, o que se vê é uma quebra de confiança, transformando num espaço de violência. Confesso minha fraqueza: não tenho estômago para isso. É o próprio retrato de Sodoma e Gomorra, chegamos ao fim dos tempos.  

            O fim do silêncio de vítimas de estupro representa um avanço no combate à violência contra a mulher, mas é preciso ir além, sobretudo ter punições mais severas contra esse tipo de delito. 

            O silêncio é a maior arma dos agressores para perpetuar essa prática. Quando o silêncio prevalece, protege o estuprador. 

            Ademais, a casa de saúde tem que ter ouvidorias, protocolos de atendimento com profissionais com formação nas questões de violência contra as mulheres. Observando os itens de privacidade e intimidade. 

            Essa história escabrosa do referido médico, me remete ao livro “Mentes Perigosas – O psicopata mora ao lado”, da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, dona de um estilo próprio - domadora de palavras - de uma verve apurada e de um extremo preciosismo na exposição dos temas que envolve o estudo da psicanálise. 

            Com uma linguagem ferina, de efeito pedagógico, ela revela que os psicopatas são pessoas frias, insensíveis, manipuladoras, perversas, transgressoras de regras sociais impiedosas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Ressalta, ainda, que esses “predadores sociais” com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. 

Para os desavisados, reconhecê-los não é uma tarefa tão fácil quanto se imagina. Os psicopatas enganam e representam muitíssimo bem! Seus talentos teatrais e seu poder de convencimento são tão impressionantes que chegam a usar as pessoas com a única intenção de atingir seus sórdidos objetivos.  

Tudo isso sem qualquer aviso prévio, em grande estilo, doa a quem doer. Suas vítimas prediletas são as pessoas mais sensíveis, mais puras de alma e de coração. Parece lorota, mas não é. Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam.  

No “tira-teima”, mister se faz registrar e gizar, segundo a autora, que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e severo. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não “sujarão as mãos de sangue” ou matarão suas vítimas. Já os últimos, botam verdadeiramente a “mão na massa”, com métodos cruéis sofisticados, e sentem um enorme prazer com seus atos brutais. Mas não se iluda! Qualquer que seja o grau de gravidade, todos, invariavelmente, deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade. 

Finalizo essa digressão com sentimento que a trupe de psicopatas está aí, vizinha, rondando cada um de nós (a gente nem se dá conta!), e é uma praga que corrói as instituições e devora a esperança dos cidadãos. 

Uma coisa é certa: quando há impunidade, o homem não tem limites. 

 

 

                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

Batendo o Ponto

 

            Peço licença aos nossos leitores para registrar o lançamento do meu mais novo livro “Batendo o Ponto”, impresso pela Editora Ideia, e já pode ser encontrado na Livraria do Luiz.

            A referida obra trata-se de textos compilados e adaptados a partir dos meus comentários apresentados diariamente nas redes sociais.

            O título “Batendo o Ponto” é mais sugestivo pelo fato de os tais textos terem sido publicados no primeiro raio de Sol da manhã, atestando, assim, que o prazer à leitura é sempre uma boa companhia para começar o dia com energia e disposição.

            As reflexões não seguem, necessariamente, a ordem em que elas foram publicadas, conectando sempre o texto à imagem, através das charges do talentoso Regis Soares.

            É valido ressaltar que tive como matéria-prima, para produzir tal livro, textos consubstanciados na memória, nos sonhos e, principalmente, na observação direta do cotidiano, no qual brotam os pequenos prazeres e preocupações, onde se revela a experiência humana.

            Quando me perguntaram por que decidi escrever para o público em geral, através de livros, artigos e crônicas, normalmente respondo: foi para desopilar o fígado e a cabeça! Pois não sobrevivo (rendimentos) desse honroso mister.

            Sempre estou atento para enaltecer a importância do livro, que tem uma missão relevante neste mundo disperso. Uma batalha desigual, porém, apaixonante. Livros são um abrigo para atual crise espiritual e intelectual. Um raro espaço de absoluta privacidade, sem algoritmo, sem duvidosos termos de acesso.

            A causa para quem escreve é sempre nobre. Tenho a escrita como uma coisa prazerosa. Nada de obrigação e estroinice. Como diz o verso de Castro Alves, bendito o que semeia livros à mão-cheia.

            Vosmecê, leitor, confesso que não faço deste livro um sumário descritivo do que penso a respeito da nossa vida, política e social. Muito ao contrário, procuro nele sumarizar a liberdade da consciência e do pensamento evolutivo que tenho sobre o que acontece por este mundo afora.

            Gosto de sair, sim, dessa barafunda do mundo real – complicada. Afastar de tudo um pouco, notadamente dessa vida meio batidinha. Cheia de mimimi. Há, nisso, uma razão cultural: temos pouca coisa a ver com os outros, não nos lemos, não nos conhecemos, não nos olhamos.

            Decerto, meto o bedelho e comento: todos somos criminosos da omissão, minha sentença, a sua sentença, é de que somos cúmplices. A partir do momento que nós (eleitores) não sabemos dar o voto a quem devidamente merece.

            Se depender deste escriba, vou continuar escrevendo e trabalhando. Como diria o humorista Ary Toledo: afinal de contas, eu tenho o governo para sustentar.

            Hoje, já cheguei àquela máxima: a vida não é sobre o que a gente junta, mas o que espalhamos. E o livro não deixa de ser um bom exemplo.

            Espero que gostem de ler o livro tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA

           

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Empinar pipa

Como qualquer boa propaganda de máquina fotográfica: recordar é viver! Por isso, mais uma vez, volto à minha infância, tempos em que empinar pipa era um verdadeiro barato.

            Essa reminiscência foi novamente marcante quando li o livro “Caçador de Pipas”, best seller do escritor Khaled Rosseini, cujo personagem central, Amir, é um garoto problemático que cresceu no Afeganistão, onde venceu o famoso campeonato de pipas.

            Se bem me lembro, nessa época de moleque, lá em Cajazeiras, traquinar com pipa era um lampejo de felicidade. O êxtase dessa brincadeira era fazê-la subir vertiginosamente, parar no ar com aquela peculiar exuberância, ao sabor do vento, para só aí dar linha, fazendo com que ela descesse num perfeito voo rasante, quase batendo no chão, e voltasse a subir. Nossa! Mais divertido, impossível.

            Melhor ainda: no meio do bate-papo inocente, passávamos horas a fio aparando palha de coco na produção da haste central e as outras duas que se cruzavam na armação da cobiçada pipa – estilo peixinho. Em seguida, revestíamos com papel de seda ou celofane colado por uma gororoba feita de goma com água, presa a um rabo de retalho de tecidos, difícil e chato de fazer.

            Ah, quanto à linha, não tínhamos problema. Usava-se linha de pesca, de pedreiro ou de costura que sorrateiramente roubávamos da máquina de costura de nossas mães.

            Todo “pipeiro” que se preza tem que ter noção do local ideal para a prática desse entretenimento. O vento forte e constante são os ingredientes indispensáveis para que se torne como um pássaro de papel batendo as asas, como disse certo aficionado. Tinha mais: chamava-se de “mané” quem não agisse assim.

            Depois de certa idade acho que todos podem tirar suas fantasias do armário, e quiçá voltar a ser de novo criança. E eu assim me decidi, quando comprei direto ao camelô, num desses cruzamentos de rua da cidade, uma pipa moderna, bem colorida, toda feita de plástico, nylon ou outro material sintético. Desmontável, linha tipo cordonê e, por cima, com direito a uma embalagem especial para acomodá-la.

            Desencadeou em mim um turbilhão de emoções quando botei a sofisticada pipa para fazer subir aos ares na praia de Lucena. Mostrando-se livre, leve e solta... cintilante e tranquila. Fiquei ali boquiaberto, arrepiado e comovido. Sai correndo, com o vento batendo no rosto e um sorriso tão grande quanto de uma criança. Era como se todas as rajadas de vento soprassem a meu favor. Prova viva que a nostalgia estava no ar. Um autêntico “elevador emocional” que ultrapassava o mais alto dos andares.

Sim. Foram momentos de saudades: parafraseando Calderón de La Barca, a dizer que “A vida é sonho”.  Eu complementaria: é saudade também. E com os olhos fixos no céu, agradeci a Deus por esse instante mágico.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Brincar é o melhor remédio

Brincar é o melhor remédio

         Quando criança, “a gente era obrigado a ser feliz” – usando a fraseologia musical do sábio Chico Buarque. Verdade à beça: pois o mundo ao nosso redor nos proporcionava essa necessidade, baseada na magia da inocência e da felicidade.

            Sobre isso, vi nas redes sociais uma foto emblemática de duas crianças tirando uma selfie com uma sandália como se fosse um celular. Destacando-se que a inocência, a pobreza e o sofrimento fazem com que a referida foto seja a melhor selfie do mundo. Simples assim.

            Tive uma infância típica de cidade do interior (Cajazeiras). Jogava bola quase todos os dias, empinava pipa, de virar-se contra a parede no esconde-esconde, de pular corda, de jogar peteca, de iô iô, de bola de gude e entre outras. Diferente dos dias atuais em que as crianças já nascem conectadas, sabem mexer em computador, tablets e smartphones, sem acesso as brincadeiras do passado que proporcionavam, além da alegria e entretenimento, a atividade física para o desenvolvimento motor, equilíbrio, destreza e agilidade da criança.

            Agora vejo a importância dessas brincadeiras na minha infância, quando leio o relatório conclusivo da Academia Americana de Pediatria, referência internacional na sua área, em que orienta formalmente seus profissionais a receitar brincadeiras diárias a todos as crianças. Moral da história: brincar é o melhor remédio.

            As práticas indicadas no citado relatório, ressalvem-se, passam longe dos dispositivos eletrônicos. São as chamadas “brincadeiras livres”, nas quais meninas e meninos se envolvem espontânea e ativamente. Uma vez que o propósito é estimular o desenvolvimento mental e social das crianças.

O grande problema é que as crianças estão brincando cada vez menos. Os aparelhos on-line não estão proibidos, o problema é o exagero. A escassez de brincadeira é ancorada em estatísticas. Pesquisas realizadas nas últimas décadas revelam que o tempo livre das crianças diminuiu 25%. Apenas 50% delas saem para brincar ou passear.

Não é por acaso se diz que nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar.

 

 

                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                    Advogado, administrador e escritor