quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A força da mudança

            Outro dia eu li por aí, não sei onde, que a vida é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Quem já participou de uma maratona sabe que é preciso preparo, força, determinação e conhecimentos para chegar bem ao final.

            Como não deixaria de ser, há barreiras e tropeços no meio do caminho, como na vida mais longa. Ocorrem, sim, perdas – de status, finanças, saúde, entes queridos.

            O referencial estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), como paradigma do Envelhecimento Ativo, mostra que são vários os determinantes para que se tenha melhor qualidade de vida, como o processo de otimizar as oportunidades para saúde, aprendizagem ao longo da vida, direito a participar integralmente da sociedade e segurança de uma velhice minimamente protegida.

            Uma pessoa nascida no Brasil em 2019 tem expectativa de viver, em média, até os 76,6 anos. Explicando. A vida dos homens passou para 73,1 anos e a das mulheres foi para 80,1 anos, segundo IBGE.

            A qualquer momento de nossa trajetória, há sempre oportunidade de corrigir o que precisa ser corrigido. Sempre admirei aqueles que conseguem mudar seus pensamentos, suas atitudes, seus hábitos e seu comportamento; aqueles que têm coragem de encarar que são seres humanos em formação, obras-primas inacabadas em constante mutação, e que estão abertos ao novo, ao inexplorado, ao futuro.

            Não importa a idade que você tem agora, a qualquer momento a força da mudança estará sempre presente.  O ganho consequentemente virá, quanto mais cedo começarmos, maior ele será. “A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Nós somos aqueles por quem estávamos esperando. Nós somos a mudança que procuramos”, diz Barack Obama, uma das cabeças mais lúcidas e brilhantes do nosso tempo.

            Quando sou questionado como é ser idoso em uma pandemia, rebato de bate-pronto com outra pergunta: é comigo mesmo? Eu não sou um idoso, tenho é juventude acumulada. Alguns dias acordo com 30 anos, em outros com 15. Nunca com a minha idade cronológica.

            Para iniciar um processo de mudança, com vista ao Envelhecimento Ativo, a motivação é importante para desenvolver novos hábitos de forma sustentável. Esse processo nem sempre é curto, tampouco fácil, porém é bastante simples e possível, dependendo única e exclusivamente da nossa disposição.

            Como mudar nossos hábitos se não temos humildade para reconhecer que precisamos fazê-lo? É a humildade que nos permite estar abertos ao novo e sair da zona de conforto.

            Nada de blá-blás de coach, essa é a matemática do idoso, o resto é conversa mole.

 

 

                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                             Advogado e mestre em Administração

 

                  

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O Arnaldo da farmácia

 

             Não é preciso ser nenhum cultor em Administração (pública ou privada) nem deitar num divã de psicanalista para entender o sucesso do farmacêutico Arnaldo, o Arnaldo da farmácia. 

            Ora, Arnaldo construiu seu tão conhecido estilo de farmacêutico, uma carreira de mais de 50 anos, pelo seu conhecimento profundo na área da saúde, pela humildade, pela simpatia, pela amabilidade... Em tempos de desalento, ele é uma fonte de referência inspiradora. 

            Nunca mercadejou sua popularidade para entrar no mundo da política, como muitos fazem por aí. Ele tem humor antenado, seu mister profissional de costume é pautado pela sensibilidade de quem está próximo ao cotidiano das pessoas, principalmente os humildes que não têm qualquer tipo de plano de saúde. 

            Não importa, até um hipocondríaco, chato de galochas, que aparece por lá, ele não perde a calma. Sempre mantendo uma postura de equilíbrio e de confiança. Sai de mansinho, contando lorotas que não ofendem nem agridem. 

            Normalmente fica quieto, concentrado, quando está ouvindo a amargura dos seus pacientes. Depois, como um jogador (centroavante) avançado, e, de repente, surge dando um chute estranho, certeiro (na cura). Pois ele sabe a hora exata do chute para não acertar na trave. 

            Não à toa, quando pego aquela gripe forte, já tenho a receita, descanso um pouco em casa, bebo muitos líquidos e tomo algum analgésico, se necessário. Se a coisa apertar, recorro aos serviços do meu amigo Arnaldo. 

            Recentemente peguei outra vez a danada da gripe, graças a Deus sem os sintomas da temível Covid-19. Apressei-me procurar o nosso Arnaldo para tomar aquela injeção à cura que só ele sabe, como ninguém. 

            Chegando ao seu posto de saúde, anexo a sua farmácia, fiz o sinal da cruz (tem horas que só assim mesmo), arriei as calças e expus as nádegas (derrubadas) para receber a temida injeção. É a idade, fazer o quê? 

            Um parêntese particular. Injeção na minha época de garoto ninguém ficava doente, o medo, já curava. Eita lasqueira... Morria de medo. Achava uma tremenda covardia. 

            Caramba! Fechar os olhos (antes de tomar a injeção) era pior. Parecia que eu estava assistindo um filme de terror, um pesadelo macabro. 

            Voltemos ao posto de saúde. Outro paciente, presente ali, arredio e ressabiado a tal procedimento, olhou de soslaio e exclamou: 

            - Ué, vim tomar injeção, não desse jeito (na bunda). Tá louco, meu! 

            Esse é o ambiente de Arnaldo, cheio de histórias, onde ele dá exemplo da sua competência, força de vontade, coragem, preocupação com todos os que o procuram e pela incansável entrega ao próximo. 

 

 

                                                   LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

                                                   Advogado, Administrador e Escritor 

                                                    

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Boa gestão das cidades

 

            Concluído o processo eleitoral, chegou a hora dos prefeitos cumprirem as suas propostas/promessas de governo com vista à boa gestão das cidades.

            É momento de banir e esquecer os maus gestores públicos. Não adianta o contorcionismo retórico para fazer uma coisa parecer outra. Acho que esses gestores têm que sair daquele “gerúndio”: estamos melhorando, chegando...

            Sou adepto da frase do escritor e pensador Eduardo Galeano: ”Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. Por isso, acredito que podemos ter político (prefeito) com tal espírito de mudança, que seja sério, bem intencionado, que pode fazer uma gestão profícua, voltada para o povo e pelo povo.

            Mando um “recadito” para o prefeito, ora eleito, ter sucesso na sua gestão, é preciso sair da zona de conforto, desenvolver-se, adotar mudanças profundas na cultura do serviço público. Veja algumas delas:

               a) O que se viu na campanha eleitoral foram propostas inovadoras que chamaram a atenção dos eleitores. Na hora de governar, o mais eficiente não é inovar, e sim copiar. Inovar em qualquer atividade é um processo de tentativa e erro, com mais erros que sucessos. Em quatro anos de mandato, um prefeito pode perder muito tempo à procura de uma inovação. Copie e adapte às condições do seu município. Política pública não tem direito de patente.

              b) A função essencial de uma prefeitura é gerá ambiente urbano saudável e eficiente: calçadas sem buracos, prevenção a enchentes, iluminação pública, coleta e destinação do lixo, professores ensinando e alunos aprendendo em escolas limpas e organizadas, postos de saúde abertos e com profissionais e materiais disponíveis, transportes coletivos pontuais e com rotas racionais. Serviços básicos de qualidade aumentam a igualdade de oportunidades, evitam tragédias e atraem empresas e empregos.

             c) Cabe aos municípios registrar as famílias no Cadastro Único de políticas sociais, que é a base para o pagamento do Bolsa Família e de um dezena de outros programas sociais.

            d) Nas últimas décadas, prefeituras têm tentado atrair empresas e empregos por meio de benefícios tributários e subsídios, muitas vezes ilegais. Isso afeta segurança jurídica, cria distorções econômicas e desigualdade.

            e) Para não se afogar em burocracia, digitalize e integre as informações de arrecadação, orçamento, gastos e controle. Quem tem os números nas mãos administra melhor e evita punições.

            f) Municípios são provedores de serviços intensivos em mão de obra. Previdência municipal desequilibrada draga recursos das políticas e precisa ser reformada.

            g) Município quebrado no Brasil é resultado de má gestão, e não de falta de recursos. Gaste mais tempo trabalhando na sua cidade e menos tempo reclamando em Brasília.

            Aos prefeitos, lembrem-se, como fala o meu amigo Cordeiro, sempre com sua cultura filosófica exemplar: “Já conhecemos a problemática. Estamos atrás da ‘solucionática’”.

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                          Advogado, Administrador e Escritor
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

E a caravana passa

 

            Não é nenhum exagero dizer que o PT é um dos partidos que saem derrotados dessas eleições. Pela primeira vez em 35 anos, não comandará nenhuma capital do país.

            Não estou desdenhando, vou explicar. Conforme levantamento feito junto ao TSE, o PT viu o total de prefeituras conquistadas reduzir-se de 254 em 2016 para 183 agora, com o incômodo detalhe de que as eleições municipais anteriores já haviam sido catastróficas para a legenda, que despencara de seu recorde de 630 prefeituras em 2012.

            Tem mais: tanto em quantidade de municípios quanto em população governada, o PT ocupa agora o vexatório 11º lugar no ranking nacional. A referida sigla admite, coisa rara, que sofreu um dos maiores reveses da sua história. Como também, já se questiona a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            É como diria o grande filósofo Ibrahin Sued: “Os cães ladram e a caravana passa”. Ou seja: enquanto alguns esquerdopatas teimosos do PT continuam com a retórica rasteira e de coach pé de chinelo, a caravana das forças de novas agremiações de esquerda vai surgindo, a exemplo de nomes como Guilherme Boulos (Psol) e de Manuela D’Ávila (PCdoB).

            O PT precisa interpretar corretamente os recados dos eleitores. Tem que apresentar lideranças renovadas. Não dá para o partido continuar sendo o salvamento sistemático da biografia de Lula e a defesa de regimes como o venezuelano e o cubano.

            Santa idiotice foi colocar o nome de Lula como opção para atrair votos nessas eleições. Como se viu, o resultado foi um fiasco para o PT. O garoto propaganda não era dos melhores. O povo cansou dos desgovernos e preferiu qualquer outro.

 Ao seu líder resta o ostracismo. Digo isso com uma grande tristeza da alma, mas ele está colhendo o que plantou. Entre tantos percalços, Lula acabou de perder o título de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Alagoas. Conforme o Juiz responsável pela sentença, a honraria não cabe a alguém condenado pela Justiça. Óbvio, perfeita obviedade.

Com todo respeito devido aos seus fieis militantes, o Brasil não precisa mais de Lula. Se cair fora da vida política, não fará falta nenhuma. Ele não inventou a corrupção, mas aperfeiçoou a níveis inimagináveis, fazendo com que não tivesse adversário à altura em praticamente todas as áreas de poder do País.

Parece insano – e é. Persistir com a tese de que Lula ainda é a solução para enfrentar os graves problemas do Brasil.

 

                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                      Advogado, Administrador e Escritor

 

           

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Aprovação dos cassinos

 

       Volto ao referido tema, uma vez que já o tratei no meu artigo “A volta dos cassinos”, publicado em 16/12/2019, no nostálgico Jornal Correio da Paraíba, onde me posicionei a favor dessa atividade, rebatendo àqueles que têm como argumento de que a jogatina leva ao vício, e o vício destrói família, que leva a criminalidade.

            Por mais meritório que se mostre, é desarrazoada a crítica. Cheio de verborragia e de falácia lógica. Tem que se discutir esse tema de forma desapaixonada: sem a retórica desconexa e o raciocínio enviesado.

            Novamente, acho que vale um mergulhinho no assunto. Segundo o senador Irajá Abreu (PSD-TO), dono de um dos projetos que tramitam no Senado: “A expectativa é arrecadar 18 bilhões de reais em novos impostos, que seriam divididos entre estados e municípios, em recursos livres para investimentos”. E acrescenta: “Fora isso, temos a expectativa de arrecadação de 5 bilhões de reais com as concessões, que seriam investidos em habitação popular”.

                Felizmente, a proposta é endossada também pelo ministro da economia, Paulo Guedes, pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o que a torna uma das favoritas a entrar em votação até o fim do ano.

Como todos sabem (ou deveriam saber): dos 193 países-membros da ONU, a grande maioria (146 nações) tem bingos e cassinos legalizados, enquanto o Brasil integra a lista dos países em que há a proibição, sendo 75% deles países islâmicos, prejudicando a tributação e a geração de emprego e renda.

            Esses empreendimentos, como cassinos, não funcionam como atrativo apenas as mesas, baralhos e roletas, mas todo um complexo de entretenimento, como salões de bailes e shows de artistas internacionais, peças teatrais e restaurantes de alta gastronomia. Isso nos remete aos tradicionais e antigos hotéis do Brasil que exploravam os jogos como o Grande Hotel Lambari (MG), o Quitandinha em Petrópolis (RJ), o Ahú, em Curitiba (PR), entre outros.

            De acordo com Gilson Machado, presidente da Embratur, “com os cassinos, vamos triplicar o número de turistas estrangeiros”. Grupos americanos já disseram que, se o Brasil liberar os cassinos, terão mais de US$ 15 bilhões (R$ 63 bilhões) para investir aqui.

            Já o Ministério do Turismo defende a ocupação de cassinos (como âncora econômica) em cerca de 5% dos espaços desses complexos hoteleiros e de lazer. O restante (95%) para as atividades nos resorts, a exemplo do que acontece em outros países.

            Saindo de fininho, digo: vamos acabar com esse marketing calculado e ridículo achar que será o “fim do mundo” caso haja a volta dos cassinos.

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                             Advogado, Administrador e Escritor