Eu,
ainda muito pequeno, rememoro e quase ouço o murmurinho dos transeuntes em
conversas sobre a “Revolução de 1964”, que completou 50 anos, exatamente ontem.
Tempos depois, compreendi que o Brasil merecia coisa melhor. Basta tomar um dia
qualquer do nosso tempo, e sempre haverá, e ler algo a respeito.
Não é despropositado dizer que,
nessa época, o País estava mergulhado em uma crise econômica grave, com dívidas
a apagar imediatamente e sem recursos para investimentos. Além de outros
problemas, o mais grave talvez, a ameaça comunista que rondava a Nação.
Os militares chegaram ao poder sem
saber direito o que fazer. Alcançado o objetivo principal, que era afastar
Jango, a prioridade passou a ser expurgar das instituições comunistas e outros
adversários. E mais: implantar a “cultura do medo”.
A iconografia sobre Castelo Branco,
o oficial moderado que se juntara aos conspiradores semanas antes do golpe e
tinha grande prestígio dentro e fora dos quartéis, se impôs como favorito para
liderar o novo governo. Ele era visto como uma opção confiável, que garantia
uma rápida devolução do poder aos civis. Lamentavelmente, isso não ocorreu. E deu
no que deu.
É consabido que milhares de pessoas
foram torturadas e centenas foram mortas por se opor ao regime militar, que
fechou o Congresso Nacional três vezes e manteve a imprensa sob censura por uma
década. Mas os crimes desse período são tratados até hoje como tabu nas Forças
Armadas. O governo dos generais modernizou a economia e teve apoio popular nos
seus primeiros anos, mas muita gente aceita a contragosto a ideia de que isso
tenha ocorrido. Meio século depois, a memória desse tempo ainda incomoda o
País.
E façam o favor: mesmo com alguns
indicadores positivos do Regime Militar, mesmo assim, é ridicularizar a memória
de um País para exaltar um período em que prevaleceu a repressão sobre a
discussão (levante até a prisão e a morte), o controle total sobre a liberdade.
É curioso notar que, após a ditadura
militar, os políticos se diziam paladinos da ética e da honestidade e juravam
que se chegassem ao poder, nunca roubariam ou deixariam de roubar. Tudo
conversa fiada. Hoje, os políticos pintam e bordam. Até o nosso inesquecível
Chico Anízio, de forma sarcástica, criou a figura emblemática de Justo
Veríssimo, deputado estadual pernambucano no nono mandato. Homem de caráter
pífio e honra ausente, que aplicava sempre o bordão: “Eu quero que pobre se
exploda”.
Essa experiência traumática da
“direita militar” não foi em vão. Fez com que estimulasse o sentimento do brasileiro
de lutar ainda mais pela democracia, por um País mais justo, sem corrupção e
principalmente por uma educação e uma saúde de qualidade.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas