Há
uma frase clássica que diz: “A beleza é apenas a promessa da felicidade”,
escreveu Stendhal em 1822. E, para o capitalismo, nenhum outro indicador é mais
revelador dessa importância do que as cifras que ela movimenta.
As atividades econômicas direta e
indiretamente ligadas a esse fenômeno estético respondem por algo em torno de
40% do Produto Interno Bruno (PIB) das economias modernas. O que leva a
afirmar, sem exageros, que a beleza é a moeda mais importante do século XXI.
Tá vendo. Assim, surgiu uma
verdadeira indústria disposta a atender aos mais diversos tipos de exigências e
gostos pessoais, tudo para que o consumidor fizesse parte de um mundo no qual
sentir-se belo é o novo elixir do sucesso e da aceitação social.
Às vezes, paro e penso: Afinal, a
beleza pode ser mensurável? Como saber se uma pessoa pertence ou não ao grupo
dos bonitos? No caso do Brasil - segundo país do mundo em número de cirurgias
plásticas -, uma indicação de que bom número das pessoas não está contente com
a própria aparência. Existe, pois, dados divulgados pela Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica (SBCP) que listam as principais cirurgias estéticas
realizadas em 2011. Foram 211 mil procedimentos de liposaspiração, seguida do implante
de silicone nas mamas.
Fiquei bestificado com o estudo
feito pela Universidade Federal de Pernambuco que mostra que 90% das meninas de
10 a 14 anos já fazem dieta. Não é à toa que haja uma epidemia de distúrbios
alimentares. A mídia, por sua vez, é responsável pela disseminação de um ideal
de modelo estético a ser seguido. Desperdiçando oportunidades de gastar o tempo
com sabedoria.
Enquanto estou traçando essas linhas
mal escritas sobre beleza, vem-me à memória um depoimento que li sobre uma pessoa
devastada pela cobrança estética – cheio de gracinhas e vazio de conteúdo. “Penalizei-me
muito para ficar ‘perfeita’ após um relacionamento no qual o meu parceiro me
julgava muito, dizia que eu era gorda, que não ficava bem com certos tipos de
blusas, tanto que emagreci 20 quilos em menos de seis meses”, conta a referida
pessoa, que também fez uma cirurgia para colocar prótese de silicone. Enfatizou:
“Hoje me livrei desse relacionamento, mas ainda não consegui me livrar da paranóia
de estar sempre impecável”.
É aquela coisa: quando a busca por
um corpo ideal se torna obsessiva e começa a afetar a saúde do indivíduo ela
deixa de ser considerada apenas uma característica da vaidade para se enquadrar
na classe psiquiátrica dos transtornos obsessivos compulsivos (TOC).
Como diria um baiano, com sua gíria
irresistível: “Te cuida, mermão!”.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e
Administrador de Empresas