É
complicado você acordar cheio de autoestima, sentindo-se encorajado e de bem
com a vida, e de repente dar de cara com a notícia de que a Câmara Federal está
preste a construir o seu Shopping Center, ao custo estimado de R$ 1 bilhão.
Nesse empreendimento serão
construídos cafés, lojas, agências bancárias, praça de alimentação,
estacionamento subterrâneo com mais de 4000 vagas. É bom que se diga que essa
ideia ridícula e bizarra, pra não dizer outras coisas piores, foi promessa de
campanha do presidente Eduardo Cunha. É como se ele vestisse o terno do
apresentador Silvio Santos e saísse atirando aviõezinhos de dinheiro para o ar.
Ah, sim: a justificativa oficial é de que os
deputados, que têm dois meses de férias e passam a maior parte da semana longe
da capital, andam sem espaço para trabalhar. Por isso, todos terão direito a
trocar os gabinetes atuais, com área média de 40 m², por salas mais
confortáveis, com 60 m². Sem embromação,
é o tipo de derrapagem e deslize a que estamos sujeitos. Ou melhor, triste
retrato da visão e prática tupiniquim de nossa classe política.
Com
todo o respeito devido ao universo das boas intenções: perdoem-me. É preciso
ser um cego, um idiota ou completo alienado da realidade para pôr em prática
essa vergonheira. Tudo isso é lamentável, mas não é trágico: é grotesco!
Tem
mais: Eduardo Cunha também parece insatisfeito com o plenário da Câmara, onde
os presidentes da República tomam posse e em que Ulisses Guimarães promulgou a
nossa Constituição. Seu projeto inclui a construção de um “plenário
alternativo” com 700 lugares. Como a casa só dispõe de 513 deputados, quem sabe
se já não estão arquitetando alguma emenda com vista a ampliar o número de
parlamentares na próxima eleição.
Como
não bastasse, o presidente da Câmara já declarou que “ninguém vai fazer
shopping com dinheiro público”. O jornal oficial da Casa, entretanto,
reconheceu que o modelo de parceria público-privada só deve cobrir “parte do
custo do investimento”.
Há
algo de desdém nessa visão. É preciso agir. Não dá mais para repaginar ou
colocar curativos nesse tipo de atitude desafortunada. Levando-nos,
irremediavelmente, asseverar que um dos bons fundamentos do cristianismo é amar
o pecador, não o pecado. Fiel à tradição, os nossos políticos amam é o pecado
mesmo.
Infelizmente,
ainda não vislumbro um cenário auspicioso para o nosso País, mas a continuidade
da mediocridade aviltante dos nossos líderes políticos.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração