segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A vez dos bichinhos de estimação



       Já revelei aqui que eu tenho uma cadelinha poodle chamada Baby, meu xodó. Melhor: nosso xodó. Porque lá em casa todos nós a consideramos, com todas as regalias, como membro da família. Tipo de relacionamento simples e puro. Livre de conflitos, dramas, crueldades e desapontamentos, tão frequentes em nossa conexão com outros seres humanos.
            Sei lá! No fundo, ninguém consegue ficar indiferente à diferença nessa relação. A verdade é que rola uma eletricidade e um magnetismo entre nós. Goste-se ou não, a elevação do status dos animais a integrante da família está aí. Basta passar os olhos pelos perfis de amigos e parentes nas redes sociais para constatar essa situação, porque não dizer: sociável.
            E isso fica claro: como escreveu Antoine de Saint-Exupéry, o essencial é invisível aos olhos. Aquilo que é realmente fundamental sente-se, não precisa ser dito. Por meio de um olhar, de um sorriso ou pela partilha cúmplice de um silêncio purificador é possível estabelecer laços e criar amizades sólidas. É exagero? Não, quando o assunto é bichinhos de estimação.
Agora, no carnaval, fiquei impressionado com a quantidade de cachorrinhos, devidamente fantasiados, desfilando com os seus donos pela praia de Tambaú; poderia ser confundida com uma espécie de parada do orgulho gay canino.
Como sempre faço, quase todos os sábados, bem cedinho, acompanhado da minha Baby, dirigimos à feira do Mercado do Bairro dos Estados para realizar algumas compras, principalmente de pescado e quiçá de um bom galo (capoeira). De repente, não mais do que de repente, um cara sentado no balcão do boteco, abre um sorriso maior do que o rombo da previdência e grita; “A cachorrinha é pra vender, meu compadre?”.  Estupefato, respondi-lhe em tom sério: “Lealdade e afeto não têm preço!!!”. Em seguida, resmunguei: “Haja estômago a desarrazoada máxima cínica”.
No ano passado, um psicólogo americano publicou um estudo onde diz que os donos de animais domésticos geralmente estão em boa forma, têm mais autoestima, são mais extrovertidos e menos estressados. Ué! Alguém tem dúvida? Para os amantes dos bichos, é apenas a constatação do óbvio.
Tomem nota: atrevo-me a dizer que logo, logo os bichinhos de estimação estarão tendo os seus registros em cartório com direito a casa, a comida e um bom plano de saúde. Baby, desde já, agradece!


                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                           Advogado e Mestre em Administração


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Reforma trabalhista



       Calma. Não se pretende, aqui, afirmar que o anacronismo da legislação trabalhista seja fator crucial para o engessamento de nossa economia. Pois o gargalo que trava o nosso crescimento não se atribui apenas a essa questão, mas, sim, a legislação tributária injusta e ao resultado final de um governo perdulário, que arrecada muito, gasta mal e investe pouco.
            Infelizmente, passados 70 anos de nossa CLT (Consolidação das Leis Trabalhista), constata-se que as únicas mudanças até agora feitas a empurraram mais ao passado: contribuições sociais sobre verbas indenizatórias, incertezas dos nexos causais nas doenças profissionais, licenças ampliadas, novo aviso prévio e inseguranças jurídicas quanto ao trabalho à distância e/ou terceirizado.
            Não dá. Conclusão apressada e superficial, influenciada por certo fundamentalismo conservador que pensa: “É reforma trabalhista? Sou contra!”. Outra prova de ignorância é fazer oposição (falsa) ao tema. Decerto a reforma trabalhista terá efeito positivo.
            Cumpre lembrar, a esse respeito, que além de extemporâneas, alterações a varejo não atendem à necessidade de atualizadas leis. Precisamos de ampla e lúcida reforma trabalhista, de modo que empresas e trabalhadores tenham força para promover o crescimento sustentado e solucionar problemas que conspiram contra a competitividade.
            Verborragia à parte, a reforma trabalhista deve valorizar a liberdade de negociar, consagrada, por sua vez, na Constituição. Em vez de impositiva, é mais pertinente uma lei moderna, que preserve os direitos, mas incentive o diálogo democrático.
            O argumento fácil das “conquistas trabalhistas” sempre pode ser esgrima para justificar o espetáculo populista. É bom registrar que o investimento que uma empresa faz numa contratação está longe de ser apenas o salário bruto. Somados a benefícios como plano de saúde e vale-refeição, os encargos sociais e trabalhistas geram gastos de cerca de 70% sobre o valor do contracheque.
            Qual o espanto? Esperar grandeza de nossos Congressistas e iniciativa da nossa presidenta, seria o mesmo que plantar mamona e querer colher uva. Bate-boca não leva a nada. O fato mesmo é o seguinte: a taxa oficial de desemprego está em torno de 5%, e três em cada dez trabalhadores seguem na informalidade. Como não bastasse a desigualdade de renda, temos no Brasil cerca de dois milhões de ações trabalhistas ao ano e o país ocupa o 121º lugar no ranking do Fórum Econômico Mundial quanto à flexibilidade da lei trabalhista.
            Caso você não concorde comigo, leitor, não fique zangado nem ofendido. Como cristão, aprendi a conviver com quem tem ideias diferentes das minhas.


                                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                          Advogado e Administrador de Empresas
         
               
               

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O filme "Lincoln"



       Dizem que o cinema é uma porta aberta para o mundo, um grande professor – para o bem e para o mal. No caso específico do filme “Lincoln” as lições estão carregadas de sabedorias.
            Vamos por pedaços. Nesse brilhante épico sobre os últimos quatro meses da vida do 16º presidente dos Estados Unidos, vislumbramos o poder da palavra, em todas as suas formas. Abraham Lincoln nasceu paupérrimo e mal foi à escola, porém conseguiu se formar advogado. Por natureza, era talentoso contador de “causos”; por treino, sabia falar a gente de todo tipo de extração, do mais humilde à mais elitista, e a fita de Spielberg revela tal linguajar com aquele toque todo peculiar e arrepiante que só ele sabe fazer.
            Esse estadista tomou a mais controvertida e crucial das decisões: impedir a secessão pela força, o que precipitou a Guerra Civil (1861-65) e acarretaria a abolição no país inteiro. Anulando, assim, o status dos negros como propriedade.
            O fenomenal Day-Lewis que interpreta Lincoln com imenso poder - o ator veste uma segunda pele -, através da palavra, usa cada argumento e truque de bastidores para tentar curar uma nação em tormenta. De um lado, uma sangrenta guerra civil, e de outro a fervente luta com o Congresso para que seja abolida a escravidão.
            Quase toda a cena acontece em sombrios ambientes domésticos com os personagens envoltos por cobertores e fumaça na umidade gélida de Washington, a câmara tirando um elegante efeito claro-escuro do contraste com a luz das vidraças.
            Pulando para os nossos dias, fico triste com a última declaração do atual presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, quando argumenta “realmente, ética não é um fim”. Respondo: É sim, parlamentar. Ética, no popular, é vergonha na cara. Cujo papel, outorgado pelo povo, tem como objetivo defender a democracia, que se constrói com instituições fortes, arejadas e atentas à realidade nacional. Isso é uma tapa (estalado) na cara da sociedade.
            Então, ao assistir o referido filme, fui tomado pela emoção, porque pude perceber um sentimento genuíno de civilidade e patriotismo dos americanos. Inveja, porque gostaria de ter vivenciado o mesmo sentimento em nosso País.
            Espero que a história do meu ilustre xará seja exemplo de renovação e inspiração na prática de nossos políticos que, na imensa maioria das vezes, vilipendiam a democracia brasileira.

                                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                 Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Tragédia de Santa Maria



       Lamentavelmente este filme eu já vi: quando ocorre uma tragédia - como da cidade de Santa Maria - fala-se logo em mudar a legislação, criar novas leis. Tudo besteira. O que falta é obedecer às normas e uma fiscalização séria, sem tolerância, sem o famoso jeitinho brasileiro.
            Não tenho nenhuma afinidade com futurologia e sofro de aversão a previsão, sobretudo quando anunciam que, daqui pra frente, a vigilância vai ser mais rigorosa. E aí, com o tempo, o ímpeto vigilante arrefece e as coisas voltam mais ou menos ao que era antes.
            Como sempre, sempre, sempre ocorre, de quem é a culpa pelo infausto? Culpa da banda que usou fogos artifícios no palco. Culpa dos donos da boate Kisse que construíram o espaço de lazer com material combustível e permitiram o uso de tais artefatos. Culpa das autoridades fiscalizadoras que se apequenaram em não cumpriu fielmente o seu mister.
            Estou sendo até muito reservado em avaliar a justa dimensão desse episódio. Sei que algum leitor vai tirar onda e dizer que estou sempre dando notícias velhas, que estou mais enferrujado do que minha última Remington. E o que é pior, ele está certo. Uma vez que a cultura da transgressão é uma prática ordinária e desonesta em nosso dia a dia.
            No atacado, deplora-se a constatação da prevalência do lucro a qualquer custo sobre o direito de viver. É um tipo cinismo autorizado, um maquiavelismo abominável, em função de objetivos considerados maiores, com a idéia de que os fins justificam os meios. No caso da tragédia de Santa Maria os “seguranças”, supostamente orientados pelos donos, não teriam permitidos que ninguém saísse sem apresentar a quitação de suas comandas.
            A história do marechal Charles de Gaulle tornou-se clássica. Num dado momento, lançou a dúvida: “O Brasil é um país sério?”. Muito de nós ficamos chocados. Mas, volta e meia, essa frase torpe nos abate, quando se olha para trás com olhos decepcionados de quem, no final das contas, vê-se obrigado a dizer que nada acontece, e que nós não levamos as coisas tão à sério.
            Diante dessa vergonha, me vi tentado ainda a desabafar. Assim: essa tragédia é fruto da nossa profunda corrupção pessoal e política, da gaiatice a qualquer tema ligado à segurança, da nossa incapacidade de levar qualquer coisa a sério que não envolva lucro imediato.
            De modo breve, pouco se pode acrescentar ao essencial da dor humana, além de palavras de compaixão e consolo a que somente o tempo será capaz de conferir aos familiares das vítimas dessa história escabrosa.


                                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                      Advogado e Administrador de Empresas