Acho
que pouca gente sabe, a história revela na noite que Evita Perón morreu
(27/07/1952), com 33 anos, não tardou nem 12 horas para que se tornasse
imortal. Seria velado pelos 13 dias seguintes por 2 milhões de argentinos.
Alguns desmaiaram quando a viram.
Outros, segundo se conta, tiveram de ser contidos para não se matar com
navalhas e vidrinhos de veneno. Do lado de fora, 18 mil coroas de flores
decoravam a fachada do prédio onde estava sendo velado o seu corpo. As filas
alcançavam trinta quadras de tanta gente enlutada.
Acreditem: um sindicato local se
apressou em enviar ao Vaticano o pedido de canonização de Santa Evita. Morta.
Evita tornou-se mais viva do que quando respirava. Não por acaso que ela era
chamada a “Mãe dos pobres”. Contrapondo àqueles que a considerem como um traço
ou um cacoete antológico de puro endeusamento.
Ao lado do seu esposo, o presidente
Juan Domingo Perón, ela construiu uma imagem pública fortemente associada à
população de baixa renda, os chamados “descamisados”. Em pouco mais de quatro
anos, através de sua fundação, criou 30 mil novos leitos hospitalares, botou 16
mil crianças nas escolas e ergueu dezenas de conjuntos habitacionais.
Fazia questão de receber
pessoalmente, todos os dias, cada cidadão que chegasse lhe solicitando ajuda,
fosse um pedido de emprego, moradia ou atendimento médico. “Vocês têm dever de
pedir”, dizia.
A primeira vez que estive por lá, em
Buenos Aires, no Cemitério da Recoleta, deparei-me com um cara de cabelos
revoltos na altura do ombro, de peito estufado e barbudo, estilo roqueiro, agitando
freneticamente a bandeira nacional da Argentina, como se estivesse fazendo
guarda em frente ao mausoléu de Evita e Juan Perón.
Em meio ao silêncio sepulcral que
não foi interrompido nem mesmo por tal personagem exótico. Fiquei sentado
próximo ao mausoléu por uns minutos e monologuei instintivamente: agora entendo
o quanto Evita ainda é um remédio.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em administração