Foi vendida a ideia de que o caminho da felicidade passa pelo consumo,
pela aquisição da roupa de grife, do carro do ano, do último modelo de celular
ou do eletrodoméstico. É o consumo e o acúmulo de
bens sem limite e nunca saciados que impulsionam esse modelo suicida de
desenvolvimento.
Emblema disso é que, hoje, mais da metade da população (54%) tem algum carro. O
Brasil privilegiou a indústria automobilística, facilitou a compra de veículos,
e a classe média aumentou em tamanho e poder de consumo. Todos acreditaram que
chegariam ao paraíso, e terminaram presos no congestionamento.
Esse
ambiente torna-se o cidadão contaminado pela felicidade cosmética. No fundo
todos somos um pouco burros: no amor, nas mancadas com os amigos, nas compras
por impulso, nos filmes que escolhemos sem ler a crítica, quando nos sentimos
espertos e achamos que isso é nossa exclusividade, quando acreditamos em
soluções mágicas para emagrecer, combater a calvície, ficar rico etc. Mas pior
que burro consciente é um iludido. Chegou a hora de dizer (muito
apropriadamente) “vou deixar de ser burro”.
Meu saudoso
sogro, Dr.Aldemaro Campos, foi um homem que sempre enxergava mais além. Sobre
tal assunto, frequentemente, ele dizia: “Olha, a desgraça do mundo é a
vaidade”.
Essa espécie de cachaça da vaidade está intrinsecamente ligada ao consumo
extemporâneo, contaminado por uma fossa de mini shopping, distúrbios de
autoimagem e materialismos extravagantes.
Não é
surpresa, quem mais fica engarrafada nas ruas é a classe média, segundo o Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – face ao consumo desenfreado pela
compra de veículos, mais por desejo do que por necessidade. Pesquisa
revela que os muito
pobres e os muito ricos gastam menos tempo no
deslocamento casa-trabalho do que a classe média. Os ricos, porque podem morar
perto do trabalho – alguns usam até helicópteros. Os pobres sem dinheiro pagam a passagem, tendem a se restringir a trabalhar bem perto
de onde moram ou acordam às 4 horas da manhã para evitar congestionamento.
Vou um pouco
mais longe e digo que da porta para dentro de casa, a classe média melhorou
muito de vida. Mas o espaço público não acompanhou a melhoria. A prova disso é
o engarrafamento diário de nossas cidades. E para mudar esse cenário pavoroso,
só taxando a circulação de carros em áreas mais conflagradas. Não tem
escapatória, acreditem!
Eu poderia
me estender numa argumentação apocalíptica sobre esse desafio real. Então,
basicamente, é isso: ou o governo muda a sua estratégica da política de consumo
ou as grandes cidades brasileiras vão se transformar em bolsão de problemas
estruturais.
LINCOLN CARTAXO
DE LIRA
Advogado, administrador e escritor.