sexta-feira, 25 de março de 2011

A violência no Rio de Janeiro

            No último meio século, as estatísticas têm demonstrado, nos países prósperos que todos queremos imitar, a ansiedade de comprar e ser comprado, a angústia de perder e ser descartado, passa a ser a grande sacada. E mais: no centro dessa odisséia, as pessoas duram mais, ganham mais e têm mais, mas se deprimem mais, enlouquecem mais, embriagam-se mais, drogam-se mais, suicidam-se mais e matam mais. Um script perfeito de paranóia modernista.
            É a maneira que vejo para entender um pouco o estado de violência que ora reina na cidade do Rio de Janeiro. Pois, os fatos não podem fugir e nem teimar em conspirar a verdade.
            Li recentemente um artigo interessante de um especialista em pedagogia militar no qual sustenta que o homem não está naturalmente inclinado à violência. Ao contrário do que se supõe, não é nada fácil ensinar a matar o próximo. A educação para a violência exige um intenso e prolongado adestramento, destinado a brutalizar os soldados e a desmantelar sistematicamente sua sensibilidade humana. Esse ensino começa, nos quartéis, logo aos dezoitos anos de idade, mas fora dos quartéis começa aos 18 meses, através da televisão (curso a domicílio).
            Recentemente, disse um menino de seis anos – “foi como na tevê” – quando assassinou um companheirinho de sua idade.
            Eis um retrato em branco e preto dessa Cidade Maravilhosa (será que ainda é?): a crítica ao populismo ingênuo com suas sínteses apressadas e artificiais não vão contribuir em nada, se não houver uma conscientização das Autoridades Constituídas de que o tecido social está doente, o remédio eficaz é a educação, é o crescimento econômico sustentável, com geração de emprego e justiça social. Ser justo é não oprimir nem privilegiar. É estabelecer regras sem dar vantagens para um e desvantagens para outros.
            A despeito dos vieses caricatos, a mídia, por sua vez, faz o seu papel que é discutir essas questões, de expor esta violência, mas com certeza, ao expor essa violência e colocar isto nas primeiras páginas de jornal, cria um processo de retroalimentação dessa violência.
            De atropelo a atropelo, idas e vindas, mais do que expor essa violência, é promover o debate sem enaltecer o policial que matou ou o bandido que morreu (ou vice-verso), numa lição de moral, mas provando pedagogicamente que o trabalho sem violência é mais efetivo.
            Assim, com recrudescimento da injustiça e da violência, urge superar esta situação caótica e demonstrar que um outro mundo é possível. Nada de vingança. Como vingança justa (como se existisse) viesse resolver o problema.
            A quantidade de desgraças, ilegalidades, cinismo e malfeitorias dos últimos tempos são atordoantes. É desnecessário gastar tempo para mostrar o caráter ridículo de algumas declarações de certas autoridades responsáveis pela segurança. Mas seria o caso de pedir a eles que, se não têm nenhuma contribuição a dar para a solução desse problema, que ao menos se abstenham de expor essas “teorias geniais” sobre o tema.
            Chega!!!  A população do Rio não quer insônia diurna e a angústia noturna. É preciso trabalhar os fatos e não as versões. As versões, geralmente, encerram vontades pessoais incontidas, oportunismo barato ou uma busca inconseqüente de atalhos.
            Não sei se foi Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino que disse ser o Bem uma via única e o Mal uma encruzilhada de caminhos. Enfim, não vejo à hora dessa cidade encontrar a sua via do Bem. Cujo fascínio maior: renovar-se, crescer turisticamente, divertir-se e eternizar-se como a única Cidade Maravilhosa do mundo.




                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
           

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