Quando recorro aos serviços
profissionais do habilidoso Wilson (Salão Wilson) para dar um trato na barba ou
na cabeleira, sempre saio cada vez mais convencido que não existe lugar mais
apropriado, como esse, para se atualizar com os bastidores da
política/economia, quiçá estendendo-se a um processo terapêutico, em que o
cliente desestressa e se diverte.
Por incrível que possa parecer,
segundo Wilson, nesse ramo, existe também o cliente “mala”, aquele que fala
pelos cotovelos, inventa que tem muito dinheiro e ainda pede desconto na hora
de pagar, a solução é alertar os outros colegas de profissão para não serem
fisgados - e manterem distância.
Vai parecer disparato, e talvez seja
em razão de não ser “expert” no assunto, mas acho que podemos ter sobrancelha
rala, orelhas de abano, o olhar levemente estrábico, o nariz adunco, mas com um
cabelo bem-tratado, o resto é coadjuvação.
Outro dia me encontrava em São Paulo,
entrei numa barbearia “à moda antiga” para fazer somente a barba. Caramba, além
da decoração dos móveis (clássico) e do tom de informalidade, o ambiente tinha
uma perfeita recepção protocolar de boas vindas. Resíduos de um cavalheirismo
que parece ter se perdido no tempo.
Sem querer querendo tinha entrado no meu
passado de garoto, onde os barbeiros desempenhavam o papel de psicólogos, coisa
rara na época, de navalha em punho, ajudavam o cliente a tomar decisões
importantes, fosse ele marido traído, executivo recém-demitido ou juiz indeciso
sobre sentença.
Pois bem. O cara que me atendeu se
apresentou com um aperto de mão firme, e olhei de soslaio para as mãos dele,
que eram vigorosas, com dedos largos, como as de um artesão. Eu estaria sendo
relapso se não acrescentasse que ele era simpático, bem-educado e impecável no
trato, pareceu estar beirando os 50 anos. Acredito nisso, sempre acreditei:
podemos ser gentis, mas não servis.
Como já era esperado, o referido
cabeleireiro foi logo abrindo o diálogo:
- E a Lava Jato? É ou não é, o
suprassumo da canalhice?
Ah, claro. Depois de muito papo e
relatos ruins à beça sobre o Brasil, e com a mesma gentileza com que havia me
recebido, despedimo-nos. Blim-blom. Abriu a porta, porém, alertando-me:
- Não esqueça doutor: dinheiro é uma
bênção. Quem tem, precisa usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando,
juntando. Bye-bye!
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração