A
situação do transporte é uma coisa meio Bin Ladin, uma bomba. Onde o seu
usuário desce a lenha, com gosto. Só se fala nisso, com reportagens e mais
reportagens sobre o assunto. Mas, não há outro jeito, temos que falar e
questionar pra ver se um dia o governo desperta para esse abacaxi de
preocupação nacional.
Problemão
inserido no “retrato de problemas” que o governo se mostra acuado e enfraquecido
para enfrentá-lo, com sua base política em pé de guerra. E não adianta colocar
esse material explosivo no colo alheio (Congresso Nacional) que também não
resolve. Daí o medo de que, se o barco não mudar de rumo, todos possam a
naufragar juntos.
Por que isso acontece? Eu tenho uma
teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórico no tema. As raízes de tal
problema não são apenas urbanísticas. O Brasil reproduz há anos um modelo que
privilegia o transporte individual. O resultado foi o emplacamento de mais de 2
milhões de veículos apenas no primeiro semestre de 2012, segundo dados da
Fenabrave.
Está no DNA do Estado brasileiro
desde os anos 50 achar que o carro merece tudo. Ao justificar que milhares de
pessoas vivem da sua produção e tudo isso, somado, representa interesses
monumentais. Assim, o governo federal defende as isenções como medidas de
política econômica para criar empregos, manter o consumo e controlar a inflação
após a crise de 2008, que derrubou mercados mundo afora. Um velho dito calha à
espécie com perfeição: de boas intenções o inferno está cheio.
Nesse cenário cabuloso, o transporte
individual recebe isenção e subsídios de R$ 16 bilhões ao ano, enquanto os
ônibus recebem R$ 2 bilhões. A proporção das desonerações de carro e ônibus é de
oito para um. Enquanto o ônibus ganha R$ 1 de incentivo, o carro, a moto e o
táxi têm isenções de R$ 8. É inescapável, por isso, o bordão: ninguém, de fato,
está entendendo nada. Principalmente nossa presidente Dilma.
É inadmissível, entristecedor e assustador
viver em uma sociedade que não há uma política de transporte público eficiente
e organizada. Mesmo sabendo que o ônibus (que abocanha hoje 30% do salário das
famílias) é um dos vetores essencial da mobilidade urbana que garante o acesso
à cidade e aos serviços públicos para todos os cidadãos, cuja fluidez depende
urgentemente de corredores de ônibus, inclusive nas periferias.
Ah, e que fique claro: dos 11
direitos instituídos pela Constituição brasileira - entre elas educação, saúde,
trabalho e laser - nenhum é plenamente alcançado sem a presença do transporte,
notadamente para quem utiliza o ônibus.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado e Mestre em Administração