Chega
ao mercado literário o livro “Cartas extraordinárias”, do inglês Shaun Usher,
Companhia das letras, 2014, versão em papel couchê, onde traz pérolas
emocionantes do universo das cartas. Do comovente bilhete suicida de Virginia
Woolf à receita de “scones” que a rainha Elizabeth II da Inglaterra enviou ao
presidente norte-americano Eisenhower. Como também a missiva em que Gandhi
suplica a Hitler desistir de dominar a Europa.
A pertinente obra é uma celebração
do poder da correspondência escrita, que captura o humor, a seriedade e o
brilhantismo que fazem parte da vida de todos nós. Digo até que alguns de seus
textos sirvam de referência aos leitores e àqueles que, por desinformação ou
desonestidade intelectual, falam e escrevem com parcialidade sobre os fatos que
fazem parte da nossa história.
É interessante se debruçar sobre o
registro do então jovem Fidel Castro, aos 14 anos, e não 12, como afirma,
pedindo, em inglês, uma nota de dez dólares ao recém-reeleito presidente dos
EUA Franklin Roosevelt.
Em novembro de 1942, durante a
batalha de Guadalcanal, que se estendeu por três dias nas ilhas Salomão, o USS
Juneau foi atingido por dois torpedos japoneses e afundou. Morreram 687 homens,
entre eles os cinco irmãos Sullivan. Depois de dois meses dessa tragédia, sua
mãe, Alleta Sullivan, enviou ao Departamento de Pessoal da Marinha uma carta
comovente, solicitando informações sobre o acontecido.
Aos 32 anos, Ludwig van Beethoven,
um dos compositores mais famosos de todos os tempos, escreveu uma carta
comovente que explica seu comportamento antissocial e sua aflição e só deveria
ser aberta pelos irmãos após sua morte. Apesar da surdez, ele continuou
compondo até o fim da vida.
Duas cartas são endereçadas a Marlon
Brando: numa delas, de 1957, o escritor Jack Kerouac suplica para que o ator
faça parte da adaptação de seu recém-lançado livro “Pé na Estrada”. Noutra, de
1970, Mario Puzo faz pedido semelhante para a versão cinematográfica de “O
Poderoso Chefão”. Por sua magnífica interpretação de Vito Corleone, Brando foi
agraciado com o Oscar de Melhor Ator.
Alguns outros são repugnantes, como
a carta em que Jack, o Estripador, se apresenta à polícia londrina enviando um
pedaço de uma de suas vítimas. Outros curiosos, como o de uma criança que
sugere ao presidente norte-americano Abraham Lincoln que deixe a barba crescer.
Deve-se destacar o fac-símile do
telegrama que avisa aos militares na base de Pearl Harbor que as sirenes que
estavam ouvindo não eram um teste – e sim o ataque que motivou a entrada dos
EUA na Segunda Guerra Mundial.
Para mim, como diz o autor, um
verdadeiro deleite literário a ser degustado aos poucos.
LINCOLN
CARTAXO DE LIRA
Advogado e
Administrador de Empresas