domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os velhos clássicos do cinema

       A solenidade de entrega do Oscar é sempre um evento grandioso transmitido no mundo e aguardado por vários fãs entusiastas da arte cinematográfica. No último domingo, mais uma vez, essa festa, ao estilo hollywoodiano, não foi diferente, sob o comando do apresentador Billy Cristal, considerado o melhor mestre de cerimônia dessa fase contemporânea, apesar do seu exibicionismo ululante.
            Não estou sendo original, não preciso ser um PhD no assunto para reconhecer que, nos últimos tempos, a qualidade do que se vê no cinema vem caindo consideravelmente, decorrente (acredito) do verniz civilizado. Confesso: que falta nos faz o estilo dos velhos grandes clássicos da cinefilia, cujo pano de fundo estava na genialidade, na beleza, na poesia e no lirismo.
            Lembro como se fosse hoje: eu, aos 14 anos de idade, com os olhos fixos na tela do modesto Cine Eden, em Cajazeiras, assistindo “Casablanca”, onde Humphrey Bogart, considerado o feioso irresistível, mas sobriamente elegante, exalava charme que selou o seu destino: virou um mitológico galã. Atualmente, ele ainda é reverenciado até por estudantes, através de uma tese apresentada por um aluno na Universidade de Buffalo (EUA) sobre “o estilo e a metafísica de Humphrey”.
Já naquela cena de “Na Solidão da Noite” em que Bogart, na pele de roteirista de Hollywood, desesperadamente solitário e explosivo, baixa a guarda e faz a Glória Grahame esta imbatível declaração de amor: “Eu nasci quando você me beijou; eu morri quando você me deixou; eu vivi nos poucos dias em que você me amou”.
Quem também não se recorda da antológica cena do beijo na praia do filme “A Um Passo da Eternidade”, em que Burt Lancaster e Deborah Kerr se beijam e seus corpos se tocam deitados na areia, lambidos pela onda, e sabe-se lá que perturbações aquele roçar de pernas provocaria neles – ou na imaginação da plateia.
Essa era a característica daquela paixão arrebatadora que num simples e inaugural cruzar de olhos, desencadeava todo o romantismo (pegada mesmo!). Ou seja: como estivesse olhando para si mesmo, aquele anjo-espelho-encantador que lhe traz a paz mais profunda, ao mesmo tempo em que te arrepia a espinha, como uma viagem na maior das montanhas-russas.
Pois me perdoem a insolência, mas prefiro os clássicos a os atuais filmes xavecos. Mesmo sabendo, como dizia o falecido roqueiro: “Pra sempre, sempre acaba”. Que pena!!


                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                    Advogado e Administrador de Empresas

               

Tel.: 9981.2966

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval dos confrades de copo

            O carnaval além de ser a nossa grande festa popular, é também a festa culminante para todos os bebuns, pinguços, paus-d’água, beberrões e cachaceiros. Oportunidade para quem o único exercício físico que faz é levantamento de copo.
            Lembrei-me de um folião amigo, já de pileque, que dizia: “Cara, carnaval é isso aí! Não precisa ir ao bloco, o bloco é que vem a mim”. E completava: “É só engolir a dolorosa, na companhia de uma bela mulher, e entrar na folia”.
Conheci outro confrade, depois de encher a caveira, afirmava que carnaval só presta se tiver de porre, com aquela braminha da antártica bem gelada. Ele era um tipo de bêbado amigão: cheio de amor pra dar; quanto mais bebe, mais simpático fica. Sensível, emotivo, todo mundo para ele é amigo; até a mais vil e desprezível das criaturas é alvo de abraços e tapinhas nas costas.
Foi num dia desses de carnaval, zerando a sede com a tal braminha da antártica, quando me deparei com um homem com andar meio cambaleante e lhe perguntei para onde estava indo.
-Estou a caminho para ouvir uma palestra sobre os efeitos do álcool e das drogas no corpo humano.
Curioso, volto a lhe perguntar:
-Sério? E quem vai dar uma palestra durante o dia de carnaval?
Com o olhar de peixe morto e a cara de bobo, me respondeu:
-Minha esposa...
            Ah, bem me recordo de um dono de bar lá em Cajazeiras que tinha remédio para todos os males: cachaça com boldo para fígado, cachaça com raiz amarga para o estômago, cachaça com limão para a gripe... Cerveja era diurético, vinho combatia insônia, uísque baixava a pressão, e muitas outras receitas que ele indicava para uma legião de fãs cachaceiros e entusiasmados. O problema era que os “remédios” desse venal acabavam matando todos os seus pacientes.
            Em pleno carnaval que a figura do bêbado é mais emblemática através de frases engraçadas/criativas inseridas nas camisas de bloco. Exemplo: “Não maltrate o bêbado, indique-o ao bar mais próximo!”; “É melhor ser um bêbado conhecido do que um alcoólatra anônimo”.
            Enfim, brincadeiras à parte, um verdadeiro folião carnavalesco não se faz necessário a esse porre de cultura etílica. Uma vez que a vida humana tem valor e a bebida tira esse valor.

                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                  Advogado e Administrador de Empresas
        

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Marcas de uma geração

            É “vero”. Sou de uma geração em que se vivia uma vidinha prosaica, sem celulares nem transmissões de TV a cabo. Bons tempos aqueles onde o disco vinil reinava de forma absoluta. Atualmente, ainda bem, qualquer banda da moda já lança seus novos álbuns em vinil, e as gravadoras cada vez mais investem em relançamentos dos catálogos de seus principais artistas. Com simples argumento: “O vinil tem mais emoção”.
            Não há dúvida, apesar dos recursos tecnológicos de MP3, Ipod, smartphonds, o culto ao vinil está se disseminando e se revigorando. Segundo os especialistas, o som é comprovadamente melhor, sem contar que apreciar o material gráfico (31/ 31 cm) é muito mais extasiante e palpável.
            Longe de bate-bocas, digo que a geração que tem hoje entre 35 e 45 anos não conhece o toque sublime da música em vinil e a beleza original do sucesso de Chico Buarque, Vinicius de Morais, João Gilberto, Caetano Veloso, Roberto Carlos... artistas que inventaram a MPB, a Bossa Nova, a Jovem Guarda e o Tropicalismo.
            Vasculhei minha memória e descobri que essa geração é formada pelas mesmas coisas: Trapalhões, TV Pirata, Sítio do Pica-pau Amarelo, Zico e não Pelé.  Poucos, muito poucos, deixaram marcas na música, nas artes, na cultura. Não deixaram herança ou contribuição relevante para a próxima geração. Não implantaram nenhum paradigma a ser superados por eles. Não fizeram nenhuma revolução, não deixaram uma voz nova ao microfone. Uma geração que não teve coragem de romper, enterrar o velho, atualizar os discursos, propor mudanças, correr riscos, como admite o articulista Adriano Silva, partícipe dessa linhagem.
            Hoje, em tempos de sacanagem de Big Brother, me arrisco ainda afirmar que não nos tornamos liberais nem melhores, mas descarados. Costumo dizer: fala-se de dietas, amantes, moda, estrelato e licenciosidade com tanta confiança, como tudo isso fosse normal. Pior: sem qualquer preocupação de ser estereotipado de experts em futilidade. Ao contrário, até se gaba.
            Tá ruço, não tá? Então, é preciso pensar de maneira mais crítica, sem espaço para tergiversação, e com um olhar mais acurado, menos superficial sobre a realidade. Quando Heróclito comentou, há alguns séculos, que a única coisa permanente é a mudança, porque isto é uma coisa de agora.
            Eis aí, justamente aí, o diagnóstico: A vida muda, quando “você muda”.

              
                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                      Advogado e Administrador de Empresas