segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Funeral arbóreo

       Outro dia cruzava o retão de manaíra (Av.Flávio Ribeiro Coutinho), enquanto aguardava o sinal verde, fiquei olhando o desbragado cortejo fúnebre de uma frondosa palmeira imperial afastando-se e sumindo. Igual a um pobre-diabo, sem direito ao enterro digno, missa de sétimo dia, visitas de pêsames e outros rituais que fazem parte de nossa tradição.
            É. Foi um sentimento de choque, raiva, perplexidade e aturdido vê essa árvore sendo conduzida, numa carroça, por quatro empregados fardados. Em razão da distância, não deu para identificar a organização para qual serviam.
            Puxa, que tristeza, que infortúnio crasso! Reconheço que o luto é uma manifestação humana de pesar pela morte de outro ser humano. Mas essa cena melancólica não poderia ser tão diferente diante daquilo que acabara de presenciar. As demais palmeiras, ali plantadas, eram como parente e amigos chorando a perda do ente querido. Clamando: “Eles querem me matar!”. Ou, então, no ato de desespero: “Não quero morrer!”.
            Não pretendo acreditar (já acreditando) que um provável mané graduado, com PhD em tudo que envolve paisagismo e meio ambiente, tenha planejado o “estreito canteiro central” dessa importante artéria pública. Ora, o manejo impróprio, a falta de um distanciamento adequado que permita o livre crescimento dessas palmeiras, tiram-nos não só a plasticidade de sua beleza, como a sombra e o conforte térmico.
            Sem soberba, sem arroubo de imaginação, mas muito menos com exagerada humildade de conhecimento, necessário dizer e entender que árvore tem sua arquitetura própria antes de escolher. Plantando aleatoriamente sem se preocupar com o crescimento saudável das espécies, a saúde das árvores é prejudicada, ficando, por sua vez, susceptíveis a quedas.
            Lastimável que as pessoas parecem ignorar o fato de que as árvores crescem e que têm raiz, pois árvores mutiladas perdem tanto a função de sombrear, quanto a de liberar oxigênio. Além de ficarem expostas a bactérias, fungos e vírus, provocando os mais variados tipos de doença.
            Intui-se que o idílio bucólico vivido em plena área urbana é fruto da falta da consciência ambiental, da consciência verde dos moradores. Mesmo sabendo que o fator essencial de melhoria da vida urbana é uma necessidade ambiental.
            Claro que vou ficar frustrado com os meus apelos se não forem atendidos, mas me sentirei orgulho de ter feito a minha parte. Agora, as autoridades devem decidir como agir para que o resto de tais palmeiras não seja dizimado, esmigalhado, machucado. Detalhe: sem desculpas nem trocadilhos baratos.


                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                        (lincolnconsultoria@hotmail.com)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

História do Fusca

Você sabe quem é o legítimo inventor do Fusca? Não? Então basta ler o livro “A verdadeira história do Fusca”, do jornalista holandês Paul Schilperood,, recentemente publicado aqui no mercado editorial brasileiro.
            Revela este autor que a concepção do Fusca, seu designer e o próprio conceito de “Volkswagen” (ou, traduzindo, carro do povo) foram criados por um engenheiro judeu Josef Ganz e, abruptamente, apropriados por Adolf Hitler.
            Após essa manobra ignóbil o projeto do Fusca foi adaptado para a produção em série por Ferdinand Porsche, tornando-se um dos maiores orgulhos do regime nazista (1933-45).
            Segundo o genial Ganz, em 1931, demonstrou ser possível construir um carro leve, pequeno, com estabilidade e dirigibilidade excelentes. Contrariando, deste modo, a maior parte dos engenheiros alemães que achava que um carro precisaria ser grande e pesado para apresentar boa estabilidade.
            Apesar de levar fama de não deixar ninguém na mão, mesmo assim, deu seus últimos suspiros no Brasil, em 1996, estereotipado como carro de pobre, suburbano, feinho, desconfortável e barulhento.
            Tais registros me fizeram viajar no tempo e lembrar um fusquinha pertencente ao meu cunhado, Fernando (conhecido por “ventania”, de tão magro), à época, estudante de engenharia civil, que o pilotava como se fosse um milionário excêntrico e “bon vivant”.  De bom (acho) só tinha mesmo o motor, que ele tanto se orgulhava; o resto era uma extenuante comparável carroça que sacolejava, de um lado para o outro, para cima e para baixo. O danado se exibia de cor verde-abacate, porém desbotada pela química do tempo. O tanque de combustível era furado, e não passava da metade de sua capacidade. Não possuía limpador de pára-brisa, só um farol funcionando (e zarolho!). Os pneus eram carecas, igual à careca de “Ronaldinho”.
            É exagero? Não. Tem mais: para pegar era um “deus-nos-acuda”, um fuzuê dos diabos, mesmo porque a bateria tava mais arriada do que calcinha em filme de pornochanchada. O freio, por sua vez, era como cachorro vira-lata: só ameaçava pegar, o jeito era recorrer ao freio-motor. Para encabular, soltava aos olhos de todos, um decalque em letras garrafais fixado no vidro traseiro: "É véio, mas tá pago".
            Uma coisa é certa: essa história e tantas outras fazem parte da doce nostalgia e da revolução industrial automobilística, onde o Fusca deu início a um novo modo de pensar em carro. E que Josef Ganz seja, agora, imortalizado como o seu real inventor.


                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                (lincolncartaxo.blogspot.com)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

LIDERANÇA DA MULHER


            Foi-se o tempo, há anos-luz, em que a mulher (principalmente a mulher tradicional brasileira), pelos seus 6-7-8 anos começava a ser treinada para o casamento e inibida para determinado tipo de liberdade, que hoje, é tão comum e natural.

            De outrora: o enclausuramento da mulher e o impedimento de relações desafiadoras, só resta, tão somente, lembranças e fragmentos históricos.

            Apesar de alguns (poucos) viés caricatos sobre a mulher atual, moderna, é indiscutível o reconhecimento do seu estilo peculiar de Liderança Administrativa - nas organizações privadas ou públicas.

            Os homens já não mais ignoram o seu potencial profissional.  Seja no uso do poder, seja no trabalho de equipe, seja na eficiência interpessoal, seja na administração de conflitos, seja na intuição e solução de problemas, etc.

            Essas habilidades aqui apontadas são na verdade funções simples e diretas como ouvir cuidadosamente e dar um posicionamento claro e direto.  Tal singularidade repousa na atenção que as Líderes Femininas dão às sutilezas das interações humanas, a competência com que usa essas  destrezas e os resultados que suas abordagens produzem dentro das organizações.

            Não é à toa que, geralmente, as mulheres entendem a dinâmica dos relacionamentos humanos e estão mais interessadas nisso do que  a maioria dos homens.  Elas têm melhores habilidades de percepção, são capazes de prestar mais atenção ao seu ambiente, de colher mais dicas e questionamentos, e ter empatia pelos sentimentos e reação dos outros.

            A mulher percebe claramente quando a outra pessoa está aborrecida ou magoada. O homem só desconfia que há algo errado depois de lágrimas, acesso de fúria ou tapas na cara.  Como perpetuadora da espécie e guardiã da cria, a mulher precisava ser capaz de captar mudanças sutis nas atitudes e no humor dos outros.  Daí a razão dessa qualidade  quase que exclusiva.

            Assim, para o bem de nosso futuro, sem prejuízo inarredável da sua áurea feminina, esperamos que essa “liderança” seja cada vez mais acentuada e encorajada.


                                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA  



REDUÇÃO DA IDADE PENAL


             Atualmente, com recrudescimento da violência nos grandes centros urbanos, urge superar esta situação caótica e demonstrar que um outro mundo é possível.   Não com o simples truque da REDUÇÃO DA IDADE PENAL, como sugere os nossos parlamentares já tão desgastados moralmente, que procuram desesperadamente recuperar às suas imagens diante da opinião pública, aproveitando a ocorrência dos últimos assassinatos praticados por adolescentes e jovens.

             Chega de verborragia.  Aumentar a população prisional, num sistema reconhecidamente falido, é tornar essa gente piores e gerar ainda mais criminalidade no país.

             É necessário, sim, acabar com precariedade dos serviços públicos, através de ações preventivas, reformulação das polícias e do sistema penitenciário, como também, melhoria das casas de internação de adolescentes infratores, da reforma do Código Penal e do Código de Processo Penal.

             Eis que é inequívoco e verossímil o fato de que a enorme desigualdade social brasileira, com amplos contingentes de miseráveis sem perspectivas de melhorias é que leva essas crianças já nascerem condenadas à prostituição e ao narcotráfico.

              Pobreza e marginalidade costumam estar freqüentemente ligadas.  Tirando-se algumas exceções, os marginalizados são pobres;  porém nem todos os pobres incluem-se na condição de marginalidade.  Daí, um perfeito ambiente social para a criminalidade.

              É preciso garantir oportunidades, perspectivas e um futuro digno para as nossas crianças, e não, simplesmente cárceres, sem qualquer chance de recuperação e reinserção na sociedade.

              O resto, é desperdício de energia, tentando entender o que não pode ser compreendido.

              Enfim, adverte o provérbio:  “Eduque a criança e não será necessário castigar o adulto”.


                                                                   LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                           

BENITO DI PAULA


      Ora, vejam só.  Depois de tantos anos sem vê esse cantor, compositor e pianista , não é que, neste último domingo, eu sou agraciado com a sua presença no Programa RAUL GIL – Homenagem ao Artista.

       Lembro-me bem, e parece ter sido ontem, nos anos 70 e 80, consagrou-se como um dos maiores nomes de um estilo conhecido “samba jóia” ou “samba canção”.

      Com interpretação chorosa ou exaltada e trajando fraque, dava início assim, a época, o modelito “brega chique”.  Com aparência sempre marcante (bigodão, barbicha e costeletas).

      Destituído da aura e do brilho de suas atuações do passado, agora, com sorriso meio torta e dissimulado, cerrava os dentes.  Engolia as lágrimas que lhe ameaçava, à medida que era historiado àsua obra.

      Pouco a pouco, com as homenagens que iam lhe prestando, através dos Pequenos Talentos (cantores mirins), de seus colegas de profissão e de alguns familiares, ele foi dando conta do que havia à sua volta.

      Era de apercebermos, nitidamente, o sinal de fraqueza desse grande artista.

      Aquela pessoa que se movia no palco, com desenvoltura e talento, com sorriso fácil e afável, agora era só tristeza em seu olhar.

      Simples como somente os sábios consegue ser, poeta romântico como o é, conhecedor da alma humana, sabedor de suas fraquezas, que ora tanto lhe afligem, mas também da grandeza que no momento tanto busca.

      O seu corpo de compleição franzina e de baixa estatura, sem mais aquela sua irreverência e malandragem carioca, pensativo, com ar de densa alegria e saudade ao mesmo tempo, no final, deu um breve show de musicalidade, afogando todos num tsunami de emoções.

      Aclamado entusiasticamente, agradeceu versejando-nos:  “Você é culpado do meu samba entristecer, ah eu vou-me embora”.


                                                                   LINCOLN CARTAXO DE LIRA      

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A mentira

            Tenho um amigo que gosta de contar vantagem.  Um autêntico contador de lorotas de fazer inveja aos novelistas e romancistas de plantão. Tomado pelo “delicioso”  anestésico da mentira, ele está sempre se preparando e ensinando para sacar mais uma; se lançando totalmente à cena do escopo da mentira de ocasião – espécie de pecado capital.
            O ato mórbido da mentira, a chamada mitomania, é mais comum do que se pensa. Pelo menos, a margem que separa a mentirinha de todo dia do mentiroso convicto parece estar cada vez mais estreito. Muitas vezes, o vício é justificado por nenhum motivo, ao menos aparente. É cada vez mais comum indivíduos que mentem pelo simples prazer de fantasiar.
            Na história e na literatura, há muitos famosos com distúrbio de mitomania. Quem não se lembra da dupla João Grilo e Chicó, de o Auto da Compadecida, e do Barão de Münchhausen que se vangloriava de ter atravessado uma linha de inimigos montado em uma bala de canhão.
            Pensando bem, nem toda mentira tem perna curta (como se assevera). Em alguns casos, pode prevalecer o provérbio chinês “Um homem inventa uma mentira e dezenas de outros a propaga como verdade, às vezes, durante século”. Ressalta-se, ainda, a sua prática no desenvolvimento da criatividade: “Qualquer um sabe dizer a verdade, mas é preciso inteligência para mentir”.
            Vejam, só. Raramente as pessoas admitem ser mentirosos. O indefectível Tim Maia foi uma exceção, quando afirmou, fanfarronando: “Não fumo, não bebo, não jogo, não cheiro; só minto um pouquinho”.
            Alguém declarou que “Deus não é contra a mentira se a causa é nobre”. Graças a isso, foram perdoados: Advogado – Esse processo é rápido; Ambulante – Qualquer coisa volte aqui que eu troco; Anfitrião – Já vai? Ainda é cedo!;  Aniversariante – Presente? Sua presença é mais importante; Bêbado – Sei perfeitamente o que estou dizendo; Delegado – Tomaremos providências; Desiludida – Não quero mais saber de homem; Devedor – Amanhã, sem falta!; Encanador – É muita pressão que vem da rua; Ladrão – Isso aqui foi o homem que me deu; Mecânico – É o carburador; Muambeiro – Tem garantia de fábrica; Namorada – Pra dizer a verdade, nem beijar eu sei...; Namorado – Você realmente é a única mulher que eu amei; Orador – Apenas duas palavras; Sapateiro – Depois alarga no pé; Vagabundo – Há três anos que procuro trabalho e não encontro.
            Afinal de contas, tudo isso somado e misturado, o que é a mentira? Como diria Mário Quintana: “É só uma verdade que esqueceu de acontecer”.

                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                   (lincolnconsultoria@hotmail.com)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Dor de Cotovelo

            Já revelei aqui neste espaço que uma das músicas mais bonita da MPB é aquela composta por Nelson Motta e cantada pelo Lulu Santos, que diz que na vida tudo passa, tudo sempre passará, como uma onda no mar. No entanto, para o grande compositor gaúcho e boêmio Lupicínio Rodrigues, isso não é verdade, é uma deslavada mentira.
            Valendo-se de sua “dor de cotovelo” que tanto lhe torturava e que não se libertava (de vítima) dos amores e desamores, de paixões e desilusões avassaladoras, fez transportar para as canções essa melancolia como bem é retratada em “Nervos de aço”: “Você sabe o que ter um amor, meu senhor/Ter loucura por uma mulher/E depois encontrar esse amor, meu senhor/Nos braços de um tipo qualquer”. Como se vê, um caldeirão pulsante de amargura.
            O cenário é o mesmo: o cara entra no bar sozinho e magoado, ferido, pisado, contundido amorosamente. Na cabeça, a amada, “aquela ingrata”, que o abandonou por outro (Ricardão!). Como não poderia deixar de ser, pede um chope, um uísque ou uma aguardente, ficando por ali durante horas, remoendo a tristeza pela separação. Sem tergiversação, um autêntico folhetim de libelo “cornista”.
            Ninguém soube expressar como Lupi (carinhosamente como era chamado) a mais acachapante e abjeta “cornitude”. Diferentemente do Noel Rosas, Oreste Barbosa e Chico Buarque que escreveram brilhantes canções sobre o “descorno”. Ele era de enfiar o pé na lama e se expor sem restrições suas bizarras mágoas.
            O barato de suas canções é o texto musical. Verdadeiro oceano de trivialidades amorosas, puxada pela filosofia “botequinesco” e da dramaturgia diária da boemia. Um complexo emocional em que se mistura “dor de corno”, saudade, algum desejo de vingança, muito amor mal cicatrizado.
            Por isso, que se tornou um dos ícones da fossa e da desilusão. Cujo tema de suas canções, invariavelmente baseado em fatos reais, era centrado na danada da traição. Veja a sua manifestação de revolta nos versos de “Nunca”: “Nunca/Nem que o mundo caia sobre mim/Nem se Deus mandar/Nem mesmo assim/As pazes contigo eu farei”.
            Tinha orgulho de ser boêmio. Costumava dizer “É melhor brigar junto do que chorar separado”. Nas suas desventuras com as mulheres que desfilaram pela sua vida, levou-o a compor e a gravar umas 150 canções (marchinhas de carnaval e sambas-canção), músicas que expressavam sentimentos de um amor perdido.
            Outro catedrático da boemia, Vinicius de Morais, confessava que “Todo poeta só é grande se sofrer”. Assim, em 1974, aos 59 anos, conhecido pelo estilo bordão “dor de cotovelo”, morreu como viveu: do coração.


                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         (lincolnconsultoria@hotmail.com)

sábado, 1 de janeiro de 2011

Amor de mãe

            Enquanto batuco o teclado na elaboração desse artigo, ouço na TV os repórteres comentando de forma exaustiva e quase abutre no julgar e condenar o casal (Alexandre e Anna Carolina) pelo assassinato bárbaro da garotinha Isabella.
            No entanto, não quero tirar a responsabilidade da mídia, da polícia e do Ministério Público na condução do caso. Mas nada de prejulgamentos. No Brasil, o princípio da presunção de inocência é preceito constitucional: ninguém será considerado culpado até que transite em julgado a sentença que o tenha condenado.
            Longe desses imbróglios jurídicos, está a dor da mãe – Ana Carolina Oliveira. Saber que sua Isabella já não está mais aqui para lhe ajudar a viver, a continuar a dar-lhe lições de sabedoria infantil, a afugentar essa tristeza sem remédio, essa mágoa que sufoca.
            Transpirando verdade, sentimentos à flor da pele, poucas vezes se viu uma jovem-mãe de 24 anos demonstrar publicamente tamanha naturalidade, propriedade e comedimento depois de passar pelo que ela passou.
            Sempre atenciosa, disse que estava cansada do assédio e com dificuldade de “seguir a vida”.  “Estou tentando ser forte, mas ver a minha filha a cada reportagem, ver toda essa situação não está sendo fácil”.
            E, é claro, esse estado de coisa combina bem com a teatralidade da mídia na busca exacerbada de valores atuais (para explicação do crime) que permanecem cada vez mais vivos: problemas de injustiças e desigualdades sociais.
            O filho é a identidade da família, é o que dá continuidade a uma linha de sangue, de nome. Pior, ainda pior, perdê-lo prematuro (da maneira como foi) onde as conseqüências são desastrosas para toda uma família.
            Mas, mesmo diante da ausência (morte) de um filho, o amor de mãe é muito mais forte: a curar a doença, a sarar a alma, a voltar vestir a vida de arco-íris nas turbulentas noites eternas, de assombrosos pesadelos.
             A melhor decisão que alguém deve tomar em meio às circunstâncias traumáticas, é a de continuar vivendo. A vida somente acaba para os fracos e os pessimistas. Jamais para as mães!!
            “As pessoas querem que eu faça escândalo. Não vai acontecer. Nada vai trazer minha filha de volta e eu quero seguir”, disse Ana Carolina. Demonstrando, assim, para todos que ela não deixou de ser mãe-mulher. Coisa alguma vai lhe compelir a crescer, abrindo portas, independente de obstáculos. Uma vez que não há problemas que não resolva, não há mal que a assombre, não há noite sem luz, não há medo sem acolhimento.
            Mesmo triste, chateada, deprimida, ela pôs sua mão sobre a imagem da filha estampada na camiseta, esboçou-lhe um beijo imaginário e recordava o amor que tanto os uniam.
            Ela!  A Ana Carolina, com seus olhos vivos e brilhantes, hoje, é a imagem-símbolo de todas as mães do Brasil.


                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA        

Ação contra o Papa

       Sou obrigado a concordar com o arcebispo Dom Aldo Pagotto, quando disse que ação por Dano Moral, interposta recentemente em nosso Tribunal de Justiça Federal, contra o Papa Bento XVI, foi intempestiva, vergonhosa e descabida.
            Mas quem demandou, coitado! Esse perdeu o seu latim, como se diz. Depois de ler decepcionante petição, enviado por um fraterno amigo (via e-mail), quedei-me acabrunhado com tamanha insensatez abissal. Doeu-me o cérebro de ler tremenda besteira de peça litigiosa.
            Jurar, não juro. Questão de princípio. Jamais vi coisa igual de derrapagens e deslizes. Fiquei paralisado olhando para o que estava ali escrito. Com as vênias de estilo, uma verdadeira “petitione” mixuruca, desprovida de qualquer base jurídica, restrita praticamente a uma única lauda. Sem sombra de dúvida, puro exercício de manifestação grotesca.  Francamente, uma confusão dos diabos.
            Procurei nos meus guardados e encontrei uma interpretação que acentua bem a questão: para que nasça o direito a reparação por Dano Moral, necessário que haja demonstração do ato ilícito e, consequentemente, o responsável por essa prática. Não há de que se falar em Dano Moral quando não demonstra a violação à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem praticada pelo autor (agente do delito).
            Ora, ora, ora... O nosso Papa não tem nada que se responsabilizar pelos atos praticados pelos “padres pedófilos”, e sim, eles próprios. Tergiversando, o promovente da ação ingênua, apressada e preconceituosa pede uma indenização no valor (pasmem!) de “hum bilhão de dólar”, só que na grafia transcreveu em real, R$ 1.000.000.000,00. Cuja parte desse dinheiro será doada a algumas instituições carentes no mundo, e a outra... só Deus sabe!
            Desde muito jovem aprendi que errar é humano, mas quando a borracha se gasta mais do que o lápis, você está positivamente exagerando. É o caso aqui do autor dessa pertinente ação, como também de outras hilárias que tem movido contra o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o apresentador televisivo Silvio Santos.
            Que acontece: muita gente parte para o tudo ou nada “chuta o pau da barraca” quase como um desabafo, um “basta”, sem, no entanto, ter nenhuma ideia do que vai fazer nem preparo para o que vai enfrentar. Por isso, “dá com os burros n’água”.
            Às vezes você tem de ser capaz, principalmente, para refletir aquela voz interior crítica que diz: “Não vai dar certo!”. Ou então, quando a ficha cai: “Puxa! Peguei a estrada errada!”.
            Concluo: essa “ação judicial” não dá. Tudo tem o seu limite.


                                                   LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                          (lincolnconsultoria@hotmail.com)  

A pegadinha

            Sou da época em que não existia ainda a televisão e nem esses outros trecos tecnológicos pós-moderno. Eis a razão pela qual assistir uma malandragem de “pegadinha” então, nem pensar.
            No insólito consultório odontológico, estava eu lá, aguardando a minha vez para dá início àquele insuportável tratamento cirúrgico. Aguardando também por aquela pergunta já manjada: “Ei, você tá bem?” E pela ainda mais hipócrita saudação “tudo bom?”. Ora, é claro que não – senão, eu não estaria aqui.
            Enquanto assistia na recepção, juntamente com outros clientes, um desses programas de “pegadinha” - pode parecer oportunista ou de piadas, mas é exatamente o contrário – não é que eu me lembrei de um episódio ocorrido na minha infância, quando morava na cidade do Padre Rolim – Cajazeiras, precisamente na rua Bonifácio Moura. 
            Passava gente pra lá e passava gente pra cá como, de resto, acontece em qualquer calçada. Principalmente, numa cidade do interior em pleno dia de feira-livre. Sem mudanças visíveis, sem nuances.
            E eu... confesso agora... descobrira (há tempo) que tinha um plano na cabeça. E esse plano se baseava numa picante “pegadinha”, a exemplo do que aparece hoje. Onde a ideia consistia colocar no meio da calçada um pacote bem arrumado, em papel de presente, contendo em seu interior um frasco de Perfume de Alfazema cheio de urina.
            A bem da verdade, a invenção e a organização dessa tremenda presepada tiveram também a participação da minha turminha (criançada). Com frio na barriga, mal me aguentava nas pernas, não só pela curiosidade como pelo medo do desdobramento que estava para acontecer.
            Não demorou muito para um matuto, vindo de algum sítio da redondeza, mesmo com a pulga atrás da orelha – olhava para trás, olhava para os lados – apanhou a pequena caixa. Mal sabia ele que naquele embrulho se encontrava.
            Abro um parêntese, para dizer que o tal matuto era um tipo original: baixinho, bigodinho quase imperceptível, pele tostada pelo sol, chapéu de palha enterrado até as sobrancelhas, usando uma calça frouxa de brim e um casaco feito de retalhos coloridos.
            Ih... não é que o sujeito caiu direitinho na armadilha.
            Pense numa popa! Que vexame!
            Com uma baita cara de mau, puto da vida, espumando pela boca, totalmente fora de si, saca uma peixeira, e aos berros:
            -Peraí! O que é isso?!
            - Vê, eu sou macho. Cadê o f.p. que fez isso? Eu mato e ainda bebo o sangue.
            Da varanda da minha casa (escondidinho) a tudo observávamos, pra ver o bicho que ia dar – e que deu!!!

                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                    

A verdadeira felicidade


                                        
Qualquer pessoa que tem um mínimo de inteligência, um pouquinho de percepção, um pontinho de experiência sabe que todos nós temos direito a felicidade, não sofrimento. Não nascemos para o fracasso. Somos candidatos naturais a uma vida feliz, plena de sonhos e realizações.
Num mix de pensamentos, reflexões pessoais e verdades científicas ao longo de uma série de conversas, o Dalai-Lama disse, com seu jeito simples de explicar coisas complicadas, que a felicidade não é um luxo, mas o propósito de nossa existência.
Tá certo! Como corolário, é essencial não confundir felicidade com prazer. O prazer é a festa dos sentidos e pode se parecer com a felicidade, mas carece de significado. A felicidade, em contraste, repousa sobre o significado. Ela é estável e persistente, enquanto o prazer é simplesmente um bônus da vida.
Ao ensejo, nesta época de Boas Festas, conforta-me a lembrança da história, enviada (via e-mail) por um velho amigo, sobre “o pescador e o banqueiro”. Pois bem.  Após conhecer as habilidades do pescador, o banqueiro de investimento americano perguntou-lhe: “Por que não gasta mais tempo e tira mais pescado?”
O pescador disse que tinha o suficiente para satisfazer as necessidades imediatas da sua família.
Volveu o americano: “Mas que faz você com o resto do seu tempo?”
O pescador afirma: “Depois de pescar, descanso um pouco, brinco com os meus filhos na companhia da minha mulher, vou ao povoado à noite, onde tomo vinho e toco guitarra com meus amigos”.
O americano replicou: “Sou um especialista em gestão e poderia ajudá-lo. Você deveria investir mais do seu tempo na pesca e adquirir um barco maior. Em seguida sairia deste pequeno povoado rumo à capital, donde geriria a sua empresa em expansão”.
O pescador perguntou-lhe: “Mas quanto tempo demoraria isso? “
O americano respondeu: “Entre 15 a 20 anos”. “E depois?”, indagou o pescador.
Diz o americano: “Você ficará rico, terá milhões!”
“Milhões... e depois?” tornou o pescador.
Aí o americano assevera: “Poderá então retirar-se. Vai para um povoado da costa, onde pode dormir até tarde, pescar um pouco, brincar com os seus filhos na companhia da mulher, ir todas às noites ao povoado tomar vinho e tocar guitarra com os seus amigos”.
Sem tergiversar, responde o pescador: “Por acaso isso não é o que já tenho?”
Conclusão: Quantas vidas se desperdiçam buscando alcançar felicidade que já se tem, mas que muitas vezes não vemos.
Feliz Natal!


                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

O microcrédito




                   
       Aqui e alhures, o crédito produtivo popular, conhecido como microcrédito, libera os espíritos empreendedores da baixa renda. É estrela guia na geração de emprego e renda, tanto no setor formal como informal.
            Nossos governantes precisam sair dessa letargia e se preparar para essa realidade. Não há escapatória: essa é a forma moderna de desenvolvimento social e crescimento econômico em termos de empregabilidade e inclusão social. Hoje, é quase uma heresia questionar o seu valor, seu papel...
            Muhammad Yunus, laureado Prêmio Nobel da Paz de 2006, fundador do Grameen Bank, famoso ainda como o “banqueiro dos pobres”, fala sempre com intensidade e paixão dos resultados alcançados pelo microcrédito, repetidamente esfaqueando o ar com o dedo de quem  alcançou o sucesso através da procura incessante de um ideal pelo qual vale a pena lutar.
            Parece gozação, e beira a imbecilidade, como brada Muhammad, “dizer que os pobres não podem tomar empréstimos porque não têm garantia é o mesmo que dizer que o homem não pode voar porque não tem asas”. Essa visão inovadora faz a análise de quem enxerga mais longe e melhor do que aqueles que se deixam dominar pela postura rasa do imediatismo e do oportunismo.
            Precisamos reciclar e ter ousadia para mudar o que precisa ser mudado, e aqui, o governador Ricardo Coutinho terá de pegar o pião na unha e enfrentar com sensatez essa política de desenvolvimento sócio-econômico, sem barafunda de leis, normas e fiscalização despropositada que inferniza (problematizando!) a vida dos que recorrem a esse tipo de operação de crédito.
            Cancha ele tem para isso, e manja muito bem a importância do programa, em razão da sua experiência extraordinária com o Empreender-JP (Programa Municipal de Apoio com Pequenos Negócios). O grande risco é a complacência. Achar que já chegou a algum lugar. Não reconhecer que há um horizonte pela frente em meio a uma maior transformação no mundo dos negócios/mercados.
            Ademais, às vezes até me emociona e me comove como a filosofia do microcrédito, me fazendo acreditar na política da gestão pública. A política limpa, como corretamente deve ser. Não é exagero retórico, nessa matéria ainda temos um “status quo” inoperante e controverso.
            Longe de bate-bocas, deixo meu apelo aos governantes eleitos: vamos acabar com essa ladainha e discurso fajuto de que a situação está difícil, complicada. Comparo a “chororô de time derrotado”. Urge atacarem as causas, não apenas os sintomas, e tenha sempre como pedra de toque a “bússola moral”.


                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         (lincolnconsultoria@hotmail.com)