Como qualquer boa propaganda de máquina fotográfica: recordar é viver!
Por isso, mais uma vez, volto à minha infância, tempos em que empinar pipa era
um verdadeiro barato.
Essa reminiscência foi novamente
marcante quando li o livro “Caçador de Pipas”, best seller do escritor Khaled
Rosseini, cujo personagem central, Amir, é um garoto problemático que cresceu
no Afeganistão, onde venceu o famoso campeonato de pipas.
Se bem me lembro, nessa época de
moleque, lá em Cajazeiras, traquinar com pipa era um lampejo de felicidade. O
êxtase dessa brincadeira era fazê-la subir vertiginosamente, parar no ar com
aquela peculiar exuberância, ao sabor do vento, para só aí dar linha, fazendo
com que ela descesse num perfeito voo rasante, quase batendo no chão, e
voltasse a subir. Nossa! Mais divertido, impossível.
Melhor ainda: no meio do bate-papo
inocente, passávamos horas a fio aparando palha de coco na produção da haste
central e as outras duas que se cruzavam na armação da cobiçada pipa – estilo
peixinho. Em seguida, revestíamos com papel de seda ou celofane colado por uma
gororoba feita de goma com água, presa a um rabo de retalho de tecidos, difícil
e chato de fazer.
Ah, quanto à linha, não tínhamos
problema. Usava-se linha de pesca, de pedreiro ou de costura que
sorrateiramente roubávamos da máquina de costura de nossas mães.
Todo “pipeiro” que se preza tem que ter
noção do local ideal para a prática desse entretenimento. O vento forte e
constante são os ingredientes indispensáveis para que se torne como um pássaro
de papel batendo as asas, como disse certo aficionado. Tinha mais: chamava-se
de “mané” quem não agisse assim.
Depois de certa idade acho que todos
podem tirar suas fantasias do armário, e quiçá voltar a ser de novo criança. E
eu assim me decidi, quando comprei direto ao camelô, num desses cruzamentos de
rua da cidade, uma pipa moderna, bem colorida, toda feita de plástico, nylon ou
outro material sintético. Desmontável, linha tipo cordonê e, por cima, com
direito a uma embalagem especial para acomodá-la.
Desencadeou em mim um turbilhão de
emoções quando botei a sofisticada pipa para fazer subir aos ares na praia de
Lucena. Mostrando-se livre, leve e solta... cintilante e tranquila. Fiquei ali
boquiaberto, arrepiado e comovido. Sai correndo, com o vento batendo no rosto e
um sorriso tão grande quanto de uma criança. Era como se todas as rajadas de
vento soprassem a meu favor. Prova viva que a nostalgia estava no ar. Um
autêntico “elevador emocional” que ultrapassava o mais alto dos andares.
Sim. Foram momentos de saudades: parafraseando Calderón de La Barca, a
dizer que “A vida é
sonho”. Eu complementaria: é saudade
também. E com os olhos fixos no
céu, agradeci a Deus por esse instante mágico.