terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O botequim


       É fato. Quando viajamos ao Rio de Janeiro, a turismo, pensamos logo o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o Maracanã, o povo carioca e o seu jeito divertido e hospitaleiro. Além disso, é impossível estar nessa Cidade Maravilhosa e não conhecer o botequim e toda a cultura do boteco.
            Nossa! Imagine numa manhã clara de um azul, ensolarado e carioca, sentindo aquele cheiro longínquo de praia nas narinas. E, como não poderia deixar de ser, sentado ou não no botequim de sua preferência, tomando uma cerveja estupidamente gelada ou um chope bem tirado e na temperatura perfeita.
            Há uma observação de fundo: o boteco é também um lugar lúdico e sociável. Com destaque, como acessório, está “a mesa” onde jorra lições de boemia, e que a volúpia da conversa (entorno) é a pedra filosofal!
            Entre muitos boêmios cariocas têm uma regra matemática que afirma que fome + madrugada = sanduíche do Cervantes. Funcionando desde 1955, em Copacabana, transformou o sanduíche em produto de alta gastronomia. No boteco Bracarense, instalado em Leblon, o chope é tirado de uma chopeira tradicional, como sempre, bem gelado e é tido com um dos melhores da cidade. O segredo, dizem, está no copo (reto, mais longe e mais fino que o dos concorrentes) que é marca da casa.
            Fiquei bestificado quando visitei, pela última vez, à Academia da Cachaça, no Leblon, chamando atenção para as prateleiras que funciona como um santuário forrado com pingas de todas as procedências. A cozinha garante os petiscos que ajudaram a construir a fama do bar. Foi neste ambiente, acomodado no canto da varanda, que ouvi de um cara, de bigode grisalho, sobrancelhas descabeladas e igualmente grisalhos – tipo de rebelde nato, revoltado com a derrota de seu time:
            -Escute: futebol é bola na rede. Entendeu meu filho? Vale gol de bico, de canela, peito, pescoço, cotovelo, até gol de bunda vale.
            Aprumado, ainda, apesar de vários goles de cerveja, arrematou:
            -Esse nosso centroavante, do jeito que tá, vai terminar a vida sem um puto no bolso, amante de mulher de zona, talvez massagista ou roupeiro de time de futebol.
            Não é à toa que essa toada de conversa gera um efeito cascata entre os seus frequentadores. Dribla a obviedade. Leva até os enrustidos a saírem do armário e se revelarem em corpo, alma e espírito.
            A vida em botequim é assim... Tem sempre algo em comum: a boa bebida, a culinária singular e o que existe de melhor na verdadeira arte do encontro: alegria e informalidade.


                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                            (lincolnconsultoria@hotmail.com)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A viagem

       O Costa Fortuna pode ser considerado com rigor um dos navios de passageiro mais bonito jamais construído na Itália quanto a luxo, elegância e grande conforto. O tema central em que se inspiram os ambientes desse navio é o mais místico entre os transatlânticos italianos do passado: Rex, Vulcania, Conte di Savoia, Raffaello.
            Ao lê uma matéria sobre essa magnífica embarcação, veio-me à mente a viagem que fiz (2007), justamente nele, num deslumbrante cruzeiro de sete dias. Roteiro: zarpamos de Salvador, depois navegamos para Ilhéus, Ilhabela, Santos, Rio de Janeiro, retornando a Salvador. Nessa viagem, como diria Pablo Neruda: “Confesso que vivi!”.
            Fraseando o nosso escritor paraibano Ariano Suassuna: “Todo penso é torto”. Realmente estava equivocado ao pensar que o navio balançava quando estivesse navegando. Ledo engano, mesmo depois ter tomado algumas doses de fino sotch, nada senti, a não ser o tilintar do gelo no copo.
            Pouco a pouco, fui me dando conta do que havia à minha volta neste mundo de sonho. Além da pompa e da arquitetura funcional, os seus interiores estavam devidamente decorados com uma série de obras de arte, inspirado pelo que há de mais bonito na cultura da Itália.
            Durante o dia, brincávamos de “fast-food”, tremenda festança de comida. Às noites, na horinha, exatamente às 19:45 hs., era nos oferecido um jantar no luxuoso Ristorante Michelangelo (à la carte) para degustar a famosa comida italiana. Ah, sim: era como se tivesse ali reunido todo “hith society” do Brasil. E meu paletó? Menino, você precisava ver. Coisa fina... Tá pensando o quê?
            E o melhor: após o jantar, seguíamos em direção ao Gran Bar Conte Di Savoia para assistir e dançar ao som de dois conjuntos musicais maravilhosos. Destaque para talentosa cantora (uma galega) que aguçava sensibilidade a flor da pele e transitava com maestria o seu canto ao destilar sua voz em belíssimos momentos da “emepebê”. Ao ouvir a balada romântica “Besame, Besame Mucho!”, comecei a dançar com minha querida consorte (grande dançarina), dois prá lá, dois pra cá e, a partir dos passos e do tempo, tudo era só encanto e fantasia.
            Ai, ai. A bem da verdade, nunca entrei num Cassino para jogar. Fiquei boquiaberto com a empolgação dos jogadores e o clima de glamour que os cercavam. Mesmo assim, não me intimidei e fiz a minha fezinha na roleta e, como era de se esperar, perdi!
            Prestes a desembarcar em Salvador, pela manhã, ponto final de nossa viagem marítima, desencadeou em mim um turbilhão de emoções ao ver o Sol pela última vez, cintilando na água azul do mar salpicada ainda pelos seus raios.  Meu Deus! Uma visão de infinita beleza.
            E foi-se o que era doce. Fim de festa, fim de viagem!


                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    (lincolncartaxo.blogspot.com)