Para
começo de conversa, não penso em me aposentar. Ainda não. Mesmo entrando, no
próximo ano, para a turma dos sessentões. Pois estou cheio de energia e uma
agenda cheia de planos, não mirabolantes, para executar.
Mas reconheço que esse dia vai ter
que chegar (da aposentadoria). Quero estar preparado para uma bela oportunidade
de redefinir o sentido de minha vida – sem ter nenhum embaraço ou sofrimento.
Consciente que o sonho da aposentadoria simboliza uma transição para uma nova
fase da vida.
Pensar diferente é um desperdício de
tempo, de energia, de vida, que afinal de contas ninguém é imortal. É loucura
procurar a aposentadoria só quando a mobilidade se reduz, os sentidos se
enfraquecem e a memória falha, quando a morte leva aquele ou aquela com quem
havíamos jurado viver até o fim, quando ela leva também todos os amigos, irmãos
e às vezes até os filhos, ou quando se sente que “não sirvo mais para nada”.
Não hesitaria em dizer que sempre
busquei a simplicidade e a autenticidade sem me levar por padrões.
Sorrateiramente imagino que estou fora de padrão do tipo que se deve trabalhar
intensamente o resto da vida - tô fora! Sempre me escapa um sorriso amarelo
cada vez que ouço alguém dizer essa besteira.
Sempre é tempo de mudar. E
aposentadoria pode ser um ótimo momento para arrumar as malas e partir para novas
aventuras. Comer um peixe grelhado a beira de um açude, melhor ainda, quando é
resultado de sua própria pescaria? Curtir o sol da manhã numa praia paradisíaca
ou respirar o ar fresco da montanha? Somado a isso, como diria o meu velho
amigo Cordeiro, ao sabor da branquinha para abrir o apetite com vista a uma
caldeirada de siri-mole.
Quando eu era criança lá em
Cajazeiras, considerava-se velho um homem de 60 anos. Velho só, não.
Velhíssimo. Hoje, surgiu uma geração de “novos velhos”. Não estou falando da
baboseira de “melhor idade” e do lixo ideológico do politicamente correto, que
tenta maquiar a realidade com palavras delicadas.
Como já evidenciei, a aposentadoria
é uma transição, um momento em que novas escolhas são possíveis e no qual, ao
invés de ficar ocupado em “fazer”, pode-se se preocupar em “ser”, viver,
maravilhar-se com o que o universo nos oferece e desenvolver sua dimensão
espiritual. E no meio dessas circunstâncias é indispensável afirmar que, se por
acaso estamos aqui, é porque ainda temos de aprender a dar ou receber alguma
coisa.
Nada direi mais. A não ser que sou
um entusiasta da aposentadoria.
LINCOLN CARTAXO DE
LIRA
Advogado
e mestre em Administração