domingo, 28 de dezembro de 2014

Sonho da aposentaria

       Para começo de conversa, não penso em me aposentar. Ainda não. Mesmo entrando, no próximo ano, para a turma dos sessentões. Pois estou cheio de energia e uma agenda cheia de planos, não mirabolantes, para executar.
            Mas reconheço que esse dia vai ter que chegar (da aposentadoria). Quero estar preparado para uma bela oportunidade de redefinir o sentido de minha vida – sem ter nenhum embaraço ou sofrimento. Consciente que o sonho da aposentadoria simboliza uma transição para uma nova fase da vida.
            Pensar diferente é um desperdício de tempo, de energia, de vida, que afinal de contas ninguém é imortal. É loucura procurar a aposentadoria só quando a mobilidade se reduz, os sentidos se enfraquecem e a memória falha, quando a morte leva aquele ou aquela com quem havíamos jurado viver até o fim, quando ela leva também todos os amigos, irmãos e às vezes até os filhos, ou quando se sente que “não sirvo mais para nada”.
                Não hesitaria em dizer que sempre busquei a simplicidade e a autenticidade sem me levar por padrões. Sorrateiramente imagino que estou fora de padrão do tipo que se deve trabalhar intensamente o resto da vida - tô fora! Sempre me escapa um sorriso amarelo cada vez que ouço alguém dizer essa besteira.
            Sempre é tempo de mudar. E aposentadoria pode ser um ótimo momento para arrumar as malas e partir para novas aventuras. Comer um peixe grelhado a beira de um açude, melhor ainda, quando é resultado de sua própria pescaria? Curtir o sol da manhã numa praia paradisíaca ou respirar o ar fresco da montanha? Somado a isso, como diria o meu velho amigo Cordeiro, ao sabor da branquinha para abrir o apetite com vista a uma caldeirada de siri-mole.
            Quando eu era criança lá em Cajazeiras, considerava-se velho um homem de 60 anos. Velho só, não. Velhíssimo. Hoje, surgiu uma geração de “novos velhos”. Não estou falando da baboseira de “melhor idade” e do lixo ideológico do politicamente correto, que tenta maquiar a realidade com palavras delicadas.
            Como já evidenciei, a aposentadoria é uma transição, um momento em que novas escolhas são possíveis e no qual, ao invés de ficar ocupado em “fazer”, pode-se se preocupar em “ser”, viver, maravilhar-se com o que o universo nos oferece e desenvolver sua dimensão espiritual. E no meio dessas circunstâncias é indispensável afirmar que, se por acaso estamos aqui, é porque ainda temos de aprender a dar ou receber alguma coisa.
            Nada direi mais. A não ser que sou um entusiasta da aposentadoria.

                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                   Advogado e mestre em Administração
                              
           
           
                       


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Presente de Natal

       Senti uma lufada de ar fresco ao ler, de cabo a rabo e rapidinho, o livrinho “A vida por linhas curtas”, de Legrand, onde apresenta histórias e parábolas com profundo sentido filosófico que otimizam a motivação para a prática da simplicidade na conduta de uma vida mais reflexiva e melhor.
            E o momento não poderia ser mais propício para contar aqui uma dessas histórias emocionantes, como aquela que é chamada de “Presente de Natal”. Confiram.
            Alfredo acordou em uma véspera de Natal, muito contente, pois uma data estava para chegar. Com seus cinco aninhos, esperava ansiosamente o cair da noite para voltar a dormir e olhar o seu pé de meia que estava em frente da porta, pois não tinha Árvore de Natal.
            Dormiu muito tarde para ver se conseguia pegar aquele velhinho no “flagra”, mas, como o sono era maior do que seu desejo, dormiu profundamente.
            Na manhã de Natal, verificou que não havia presente algum em toda a sua casa. Seu pai desempregado, com os olhos cheios d’água, observava atentamente o seu filho, e esperava tomar coragem para falar que o seu sonho não existia, e, com muita dor no coração, o chama:
            -Alfredo, meu filho, venha cá!
            Mas antes mesmo do Pai poder falar...
            -O Papai Noel se esqueceu de mim.
            Falando isso, Alfredo abraça seu pai e os dois se põem a chorar, quando Alfredo pára:
             -Ele também se esqueceu do senhor, papai?
            -Não meu filho. O melhor presente que eu poderia ter ganhado na vida está em meus braços, e fique tranquilo, pois eu sei que o Papai Noel não se esqueceu de você.
            -Mas todas as outras vizinhas estão brincando com seus presentes. Ele pulou a nossa casa.
            Não pulou não. O seu presente está abraçado você agora, e vai levá-lo para um dos melhores passeios de sua vida! Alfredo brincou com seu pai durante o resto do dia. Chegando em casa muito sonolento, foi para o seu quarto, e escreveu ao Papai Noel:
            “Querido Papai Noel, eu sei que é cedo demais para escrever e pedir alguma coisa, mas quero agradecer o presente que o senhor me deu. Desejo que todos os natais sejam como esse, faça com que meu pai esqueça seus problemas, e que ele possa se distrair comigo, passando uma tarde maravilhosa como a de hoje”. De quem lhe agradece por tudo, Alfredo”.
            Entrando no quarto para dar boa noite ao seu filho, o pai de Alfredo viu a cartinha, e, a partir desse dia, não deixou que os seus problemas afetassem a felicidade dele, e começou a fazer com que todo dia fosse um Natal para ambos.
            Aos nossos leitores, Boas Festas!

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                            Advogado e mestre em Administração

domingo, 14 de dezembro de 2014

Tempestade em copo d'água

       A vida é feita de altos e baixos, momentos tristes e felizes. Muitas vezes nos desgastamos por coisas que, examinadas em detalhe, não merecem tanta atenção. Nós nos detemos em pequenos problemas e questões e os superdimensionamos.
            Na verdade, sem nenhum ismo, quando “não se faz tempestade em copo d’água”, a vida pode não se tornar perfeita, mas aprendemos a aceitar o que ela tem a nos oferecer, com mais complacência. Conforme ensina a filosofia Zen, quando superamos os problemas, em vez de resistirmos a eles, com todas nossas forças, a vida começa a fluir.
            Se atirarmos uma pedra para o lago, as pequenas ondas concêntricas movem-se e criam ondas maiores que, por sua vez, criam outras ainda maiores. Com as pessoas acontece exatamente o mesmo. O mundo individual de cada um mexe com a ordem do mundo e das coisas e basta termos a noção de que a vida é feita de pequenos, médios e grandes desafios.
            -Cara, você é o máximo! Foi assim que me expressei ao ouvir do meu velho amigo Cordeiro, como sempre preciso e inteligente, a seguinte reflexão: “Meu chapa, sabemos que não é obrigação da vida fazer tudo perfeito, esta é a nossa tarefa”.
            Faz sentido? Sim. Ao nos rendermos a esse fato, perfeitamente correto, paramos de sentir pena dos outros, igualmente, porque nos lembramos que cada pessoa recebe seu quinhão e tem suas próprias forças e desafios. Este insight tem me ajudado bastante ao enfrentar as decisões difíceis que tive de tomar sobre a quem ajudar e a quem não.
            Já uma vez escrevi que só temos a ganhar ao aprender a não nos deixarmos levar por pequenos aborrecimentos. Muitas pessoas perdem tanta energia de suas vidas “fazendo tempestade em copos d’água”, consequentemente, perdem contato com o lado mágico e belo da existência. Quando você se compromete a trabalhar com esse objetivo em mente, percebe que sobra uma reserva muito maior de energia para ser dedicada à simpatia e à gentileza.
Reparando direitinho, muitos de nós aprendemos a arte neurótica de perder nossas vidas nos preocupando com variedades de coisa sem muita importância. Estigmatizando, assim, as dificuldades da vida para se viver, mesmo sabendo que há inúmeros obstáculos a vencer, e que, por aí, pode ser um caminho seguro para o sucesso e a realização pessoal.                          
            É a vida. Todas as vezes que ficamos cozinhando nosso rancor, decorrente das dificuldades, transformamos copos d’água em tempestades mentais. Fuja disso!

                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                            Advogado e mestre em Administração

                                                          

            

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Artigo: A famosa carteirada

       Acredito firmemente que o exercício do poder exige extrema prudência, espírito público e humanista, equilíbrio, serenidade, ética, mas, acima de tudo, simplicidade e humanidade.
            Lamentável que essa lição não tenha sido digerida por um magistrado no Rio de Janeiro, quando foi abordado pela agente do Detran, Luciana Silva, no momento em que ele dirigia uma Lond Rover sem placa e sem documento. Em continência, o juiz sacou a sua carteira funcional para intimidá-la. Sem titubear, ela disse que “juiz não é Deus”. Revoltado, utilizando de sua posição que exerce no judiciário, deu voz de prisão à agente por desacato.
            Idiotice à parte, uma jabuticaba explícita em seus desígnios, brasileiríssima, digamos assim. Um método muito utilizado para demonstrar hierarquia e superioridade. A famosa “carteirada” é um ato que humilha, gera constrangimentos e vergonha quem é vítima, e causa indignação para os que presenciam tal fato.
            Na Suécia, por exemplo, perguntar “você sabe com quem está falando?”, caracteriza crime. Por isso, em boa hora, o deputado Romário (PSB-RJ), agora senador eleito, indignado com essa situação, apresentou o projeto de Lei 8152/2014, que acrescenta artigo ao Código Penal e tipifica como crime a famosa “carteirada”. A pena será aumentada de um terço se o crime for cometido por membros do Poder Judiciário, Ministério Público, do Congresso Nacional, por ministros, secretários, governador e até presidente da República.
            O que é isso? Em que País vivemos? Algumas autoridades perderam a noção das coisas. Outro exemplo emblemático, em 2002, a guarda de trânsito Rosimeri Dionísio acabou em uma delegacia e autuada depois de multar o carro do filho de um desembargador estacionado em local proibido no bairro de Copacabana. Para mim, uma aberração que agride a nossa inteligência e cidadania.
            Olha, a humildade é um antídoto contra o orgulho! Ela tem o efeito de uma agulha com linha, alinhavando vidas, aproximando as pessoas, unindo mesmo os que são diferentes, enquanto o orgulho é como uma tesoura cega, que corta tudo o que encontra pela frente, machucando e danificando por onde passa.
            Na escola da vida, não precisamos ser melhor que ninguém; basta ter humildade e respeitar o próximo. A sociedade está mais atenta, vigilante e serenamente imune à atitude e ao discurso raivoso dessas figuras, que se arvora de ser autoridade. Uma soberba que os deixam tão ignorantes quanto os fanáticos religiosos.
Para encurtar o assunto, concluo dizendo que ninguém tem o direito de achar acima da lei, e tampouco achar que são deuses.


                                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                                   Advogado e mestre em Administração

domingo, 30 de novembro de 2014

Reclamação desrespeitosa do consumidor

       O presente texto trata-se de um tema muito comum no mundo dos negócios. Acho não, tenho certeza, que todas as empresas já pronunciaram em algum momento a frase “o cliente tem sempre razão”. Parece papo antigo, mas não é.
            Contudo, atualmente, as organizações começam a se questionar se essa estratégia é sustentável. A máxima, que atravessou décadas e é repetida como uma espécie de mantra do mundo do consumo, está baseada num princípio vital para os negócios: que as empresas precisam dos clientes para prosperar e, por isso mesmo, eles não podem ser contrariados. Os direitos do consumidor são inquestionáveis, mas afirmar que ele tem 100% de razão em todas as situações é um exagero.
            É preciso respeitar os direitos do cliente, mas também os princípios que regem a organização. Se isto não ocorrer a empresa quebra. Atender os anseios do cliente a qualquer custo nunca será um bom negócio. A melhor tática comercial é aquela em que todos ganham.
            É notório que a maior parte das empresas faz o possível para que as reclamações, ainda consideradas injustas, tenham um final satisfatório para os dois lados e não chegue aos tribunais.
            Dias atrás, numa loja de departamento aqui em nossa cidade, presenciei uma conversa do gerente com um de seus colegas de trabalho, onde afirmava: “Tá vendo aquela senhora? Pois bem. Ela levou (comprou) um livro, mesmo tendo já lido da primeira à última linha, pretendia trocar por outra obra, sob o argumento de ter o levado equivocadamente”. Cá com meus botões, situação é tão esdrúxula, até custa a acreditar que seja verdade!
            Interessante é que, com um jeito franco e bem-humorado, ele falou disso como se fosse algo prosaico, sem dar um ar de confidência e importância para uma situação de tamanha gravidade. Apesar de saber que a sua empresa não se pode tornar cúmplice das tramóias aplicadas por clientes mal intencionados.
            Este outro caso eu não presenciei, não. Eu sei de ouvir contar. É como daquela cliente que compra uma roupa, põe a etiqueta para dentro, vai para festa, depois volta para trocar a peça. E quando esse tipo de consumidor (pontuada por arroubos de vaidade) não atinge o seu objetivo, as manifestações de revolta e intolerância encontram, como se sabe, campo livre nas redes sociais para registrar suas “queixas”.
            Por favor, vamos parar com a bobeira de dizer que o cliente sempre tem razão, enfim.


                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                            Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Artigo: Governabilidade

       Já escrevi sobre isso aqui, você que acompanha esta coluna deve ter visto minha indignação ao “toma lá, dá cá” entre o governo e os partidos na questão do leilão por cargos. Mal terminou o processo eleitoral, não se fala outra coisa.
            De qualquer modo, essa é a tradição da política brasileira. Símbolo jocoso. Cujo princípio: se o governo não construir uma base de apoio no Congresso Nacional, dificilmente terá condições para governabilidade. Para enfrentar isso, o presidente da República tem 25 mil cargos para negociar.
            Deve reconhecer que esse modelo, ora adotado, é um vício congênito do nosso País. O resultado de tal “loteamento” é a ocupação de cargos estratégicos por políticos sem nenhuma experiência na área e, geralmente, com ambiciosos projetos de poder.
            Na verdade o governo sabe, mas não pratica, que para escolher um ministro, por exemplo, tem que ter um perfil equilibrado entre o técnico e o político, com qualidade intelectual e prestígio profissional suficiente para evitar a impressão de que atuará como mero executor das vontades da autoridade governante. Têm outros funcionários que são contratados e sequer trabalham. Como diria a grande estadista Margaret Thatcher: “Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber”.
            Às vezes digo, meio brincando, meio a sério, se uma empresa funcionasse como o Estado, ela estaria falida. O ideal é que o presidente governe com uma coalizão menor de partidos e convoque os melhores de cada agremiação. Basta dar uma olhada e puxar na memória para ver que o presidente Itamar Franco fez isso e governou sem moedas de troca.
            O Brasil não pode mais avançar desse jeito. Outra medida corajosa seria acabar com os ministérios entregues com “porteiras fechadas” – quando o partido beneficiado recebe a prerrogativa de indicar 100% dos funcionários da pasta, do ministro ao porteiro. Hoje, a rigor, o partido que indica, não usa critérios de competência e de reputação ilibada. As consequências desastrosas estão aí, espalhadas pelas esferas do governo.
            Infelizmente essa praga ainda insiste em assolar o País. Ao contrário dos comissionados, os funcionários de carreira são aqueles que entram no serviço público por meio de concurso e sem apadrinhamento. Ocorre que alguns deles estão sendo “cooptado” por caciques partidários e passem a agir de acordo com os interesses do partido, na maioria das vezes, em coisas desavergonhadas.
            Para esses agentes políticos descarados, pouco importa, o fim justifica os meios.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                         Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Publicidade infantil

       Não é do meu feitio voltar a expor texto já publicado neste periódico. Porém, a pedido de uma adolescente muito querida da minha família, peço permissão aos nossos leitores para novamente tornar público o presente artigo (datado: 22/07/14), coincidentemente foi o mesmo tema da redação do Enem 2014. Revejam...
       Pode parecer uma miudeza ou uma questão banal a estratégia das agências de publicidade utilizar crianças para vender de brinquedos a poupanças bancárias - incentivando o consumismo infantil - mas, infelizmente, não é!
            Dito isso, direi mais. O que se verifica é um completo desrespeito à norma. Pois, recentemente, foi publicada a resolução nº. 163 do Comanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que passou a considerar abusiva toda e qualquer publicidade ou comunicação mercadológica dirigidas ao público infantil com menos de 12 anos.
            Não é novidade que a publicidade e a comunicação mercadológica que se dirigem diretamente às crianças, além de ilegais, são antiéticas e imorais. Aproveitam-se da peculiar fase de desenvolvimento dos pequenos, justamente quando não conseguem entender o caráter persuasivo das mensagens ou mesmo diferenciar o conteúdo de entretenimento do comercial.
            Há poucos dias li sobre o documentário “Criança, a alma do negócio”, dirigido por Estela Renner, onde uma mulher, à frente de um grupo de crianças, fala em voz alta: “Aqui tem dois papéis, em um está escrito brincar, e em outro comprar”. Mal ela termina de falar, coloca os papéis no chão, e as crianças se debruçam para escolher qual dos dois elas mais gostam: 3 colocam a mão sobre o papel escrito comprar, 2 sobre o brincar.
            O filme mostra uma realidade chocante em que muitos não estão atentos: a sociedade em que vivemos, por meio principalmente da publicidade, criou uma geração de crianças fanáticas por consumo, que estão deixando para trás aspectos importantes da infância para se dedicar a um hábito que antes era próprio dos adultos.
            Para o mercado publicitário, é muito mais fácil fixar uma marca na cabeça de uma criança do que na de um adulto, então vale tudo para chamar a atenção dos pequenos: animações, atores mirins, jogadores de futebol, apresentadoras etc. De bonecas a plano de celular, tudo deve focar a criança.
            É sério. Estudiosos ligam a prática de assistir muita televisão durante a infância ao grande número de casos de obesidade infantil, ao estímulo à violência, consumismo e perda do potencial criativo das crianças. Tudo isso está ligado a um mercado milionário e perverso: o da publicidade infantil.  Cheio de gracinhas e vazio de conteúdo. Tudo esperteza, claro.
           


                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                      Advogado e mestre em Administração


                                 
           

            

domingo, 9 de novembro de 2014

Papel da imprensa

            Não quero me tornar um articulista ranzinza, mas não posso ficar calado diante dos atos de vandalismo praticados por tresloucados contra a sede da Editora Abril, em São Paulo, inconformados com a publicação de uma reportagem de capa da revista Veja. Sem cair na baixaria e sem perder o bom humor, se eu encontrasse com algum deles, diria: “Tenha juízo, abandone esse sonho e arrume outro”.
            Ora bolas, numa democracia plural, a referida revista tem o direito de publicar o que quiser. O prejudicado, entretanto, também tem todo direito de protestar, se assim entender que a reportagem publicada teve conteúdo de inverdades. Sem falar que a mesma, por essa prática ilícita, caso tenha ocorrido, está sujeita às penalidades legais por crime de calúnia, infâmia e injúria.
            Independente de qualquer matiz ideológica que fosse, o único objetivo era intimidar a imprensa. Pronto. Isso para não ficar gastando latim depois da missa.
            Quando vejo tal aberração, lembro-me do pronunciamento feito pelo ex-presidente americano Thomas Jefferson, que tive a grata oportunidade de conhecer o seu memorial (EUA): “Como a base do nosso governo é a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser conservar esse direito, e se coubesse a mim decidir entre um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, não titubearia um minuto em preferir este último”.
            Aconteça o que acontecer, não há democracia sem uma imprensa livre e independente. Sem a imprensa, o povo seria apenas um joguete do poder público, pois não há condições de agir quando não há conhecimento das decisões e atos dos governos. A imprensa leva os acontecimentos do centro do poder para as ruas.
            Sim, é verdade. Enquanto a escola ensina conteúdos científicos, a televisão, as rádios, as revistas e os jornais “ensinam” sobre todos os temas da vida. A presença da opinião da imprensa no cotidiano das pessoas é intensiva, enquanto a via inversa (a colocação do ponto de vista do público para a imprensa) é praticamente inexistente, longe de ser uma comunicação de via dupla.
            É imoral um jornal defender um partido ou projeto político? Respondo na lata: Claro que não! Porque o partido pode representar a ideologia do veículo de comunicação. Imoral é deturpar informações, usar a imprensa com meio de calúnia e perseguição, mentir ou omitir em nome de um interesse particular ou de um grupo.
            De resto é inegável que a torpeza de situação, como essa aqui descrita, não deixa ser um “ponto fora da curva” da democracia.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                          Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Falha no controle financeiro dos jovens

       Segundo pesquisa divulgada pela Serasa Experian, jovens entre 16 a 24 anos são os que têm menos controle da vida financeira. O levantamento mostra que 40% desses jovens admitem não manter a vida financeira sob controle.
            Quanto maior é a idade, mais aumenta o percentual de pessoas que diz manter controle dos gastos. Os jovens precisam evitar agir por impulso e adquirir o hábito de controlar melhor a vida financeira para que eles não sofram as consequências do superendividamente. 
            Fato é que a escola não prepara as crianças para a vida real. Boa formação e notas altas não bastam para garantir o sucesso de alguém. O mundo mudou; a maioria dos jovens tem cartão de crédito, antes mesmo de concluir os estudos, e nunca tiveram aula sobre dinheiro, investimento, juros etc. Ou seja, vão para a escola, mas continuam analfabetos financeiros, despreparados para enfrentar um mundo que dá mais ênfase à despesa do que à poupança.
            Não existe bola de cristal, mas algo é certo: o conselho mais perigoso que se pode dar a um jovem nos dias de hoje é, “vá para a escola, tire notas altas e depois procure um emprego seguro”. Seria ingênuo e tolo não acreditar que as regras mudaram. Não existe mais emprego certo para ninguém. O problema não está entre ser empregado ou empregador, mas entre ter o controle de seu próprio destino ou entregar esse controle a alguém.
            Tem sido tema recorrente nas conversas que tenho comigo mesmo e com os mais próximos, quando falo que o dinheiro não é ensinado nas escolas. Elas se concentram nas habilidades acadêmicas e profissionais, mas não nas habilidades financeiras. Isso explica por que tantos profissionais têm problemas financeiros no decorrer da vida.
            Seja no Brasil, na Itália, seja alhures, sabemos que o dinheiro é uma forma de poder. Mais poderosa ainda, entretanto, é a instrução financeira. O dinheiro vem e vai, mas se você tiver sido educado quanto ao funcionamento do dinheiro, você adquire poder sobre ele e pode começar a construir riqueza.
            A maioria das pessoas não percebe que na vida o que importa não é quanto dinheiro você ganha, mas quanto dinheiro você conserva. Já ouvimos histórias de ganhadores de prêmios na loteria que eram pobres, enriqueceram subitamente e voltaram a ser pobres.
            Fica a dica: é uma besteira imaginar que a formação oferecida pelo sistema de ensino prepara seus filhos para o mundo que eles encontrarão depois de formados. Precisam conhecer as regras básicas do nosso cotidiano financeiro. Não basta só estudar e procurar um emprego.


                                                                             LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                                         Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Maioridade penal

       Durante o processo eleitoral, não vi nem escutei de nenhum candidato à Presidência da República uma proposta concreta para resolver a vergonhosa situação das nossas penitenciárias. E mais: sendo saber que não existe inábil, ingênuo ou neófito quando se trata dessa questão.
            Porém, como tantas outras jabuticabas com as quais aqui cultivamos o hábito de trocar as bolas entre o que é causa e o que é efeito, um bom exemplo disso é a redução da maioridade penal almejada por tantas pessoas, mas que depende, em larga medida, antes de tudo, desativar a bomba-relógio que se instalou nos presídios brasileiros. Lugar onde o princípio é o mesmo das senzalas e dos campos de concentração.
            É louvável tal clamor social. No entanto, a origem dessa mancha degradante está na falta de atenção na formação de nossas crianças. Como diz o grande Ziraldo, “quem tem uma infância feliz se torna um adulto bacana”. Por efeito, urge se discutir o problema da superlotação dos nossos presídios, antes de falar da maioridade penal.
            Por sinal, o Brasil é o quarto em população carcerária, atrás de EUA, China e Rússia. São 550 mil pessoas, mais do que o triplo do que havia duas décadas atrás. Quase 200 mil são presos provisórios, não deveriam estar na cadeia. Pergunto: Alguém aí está se sentindo mais seguro com tanto encarceramento?
            Enganam-se redondamente quem acha que reduzindo a maioridade penal vai resolver o problema da violência. O desafio para se fixar uma idade mínima para a imputação penal é tão complexa que em todos os países do mundo é motivo de muita polêmica e acalorada discussões.
            Não sou de fazer média, não tergiverso. No filme “Sem Pena”, em cartaz, mostram-se presidiários andando em círculos num pátio. Porque não há projetos para socializá-los. E aí, quase que inevitavelmente, parte a se vincular a alguma facção criminosa. Quando saem, pagam em crimes suas dívidas. Ora, o PCC e o Comando Vermelho nasceram dentro das prisões, não fora. Resultado: 70% desses delinquentes voltam para a cadeia.
            Não podemos esquecer que estamos na era da picaretagem transparente. Assim, não me venham com a conversa de que botando simplesmente os adolescentes na cadeia (imprópria!) vamos aniquilar com a insegurança pública, ao invés de medidas socioeducativas, recebendo tratamento diferenciado do adulto transgressor.
            A presidente Dilma, agora, reeleita, basta um comprimido de vontade e outro de trabalho, uma vez ao dia, para resolver esse grave problema social e de segurança pública.

                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                    Advogado e mestre em Administração
           
           
           

             

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Reuniões de condomínio

       Atrevo-me a afirmar que tenho aversão a reuniões de condomínio. Muitas pessoas (como eu) deixam de participar das assembleias porque elas são realmente bastante enfadonhas e desgastantes, e quase sempre terminam com brigas.
            Seja lá como for, uma coisa é certa: não participar é a pior solução. Há condôminos que se consideram “donos da verdade”; outros que só querem tratar de assuntos pessoais, pouco se lixando para outras questões; há também os que são agressivos e não sabem manter o debate em bom nível de urbanidade, e tantos outros perfis que acabam tumultuando essas reuniões e desestimulando a participação dos demais. É por isso que a média de presença nesses encontros fica entre 10% e 20% dos condôminos.
            Recentemente participei de uma assembleia e fiquei estarrecido com a cantilena crítica (injusta!) de um condômino sobre a administração do síndico. Verdadeiro strip-tease verborrágico. Resumindo: um chato! Parecia que ele tinha incorporado José Luiz Datena e Marcelo Rezende, locutores dos programas policialescos.
            O mal de alguns condôminos é subestimar a inteligência alheia, e nisso eles são craques. Obviamente isso me traz indignação frente às regras sociais, à intolerância ao próximo e à falta de educação. Têm aqueles que fazem o estilo “boa praça” ou “gente fina”. Porém, disfarce puro! Outros são absolutamente debochados e petulantes. São incapazes de colaborar com a administração. Eles sempre demonstram um misto de insatisfação e indiferença. Puro exercício do quanto pior melhor.
            O danado, por incrível que possa parecer, os brasileiros ainda não aprenderam a viver em comunidade. Podemos afirmar que somos um povo individualista, mas quando vamos morar num condomínio, precisamos enfrentar barreiras, como a divisão de espaço, seguir regras, saber que, se faço barulho no apartamento/casa, estou incomodando o vizinho, que não posso fazer festas até as duas horas da madrugada etc .
            Apesar do quiproquó, não podemos ter medo de assembleias. Pois cada condômino que não vai a uma reunião está dando direito algum chato de ficar com o poder na mão e de fazer as mais diversas barbaridades.
            Ah, claro. O gostoso é que nessas reuniões, no fundo, lá no fundo, vou continuar ouvindo aquela vozinha (contra o cara chato): “Tá bom, tá bom... Senta!”.
           

                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                              Advogado e mestre em Administração 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Made in China

       Muito já se falou e escreveu sobre a pujança da economia chinesa. Pois Napoleão Bonaparte já havia alertado através de sua profecia, que está começando a realizar-se atualmente, ao dizer: “Deixem a China dormir porque, quando ela acordar, o mundo vai estremecer”.
            Na China, tudo tem a medida de seu 1,7 bilhão de habitantes, a maior população do mundo (equivalente a um quinto das pessoas). Quando essa massa humana se move, os tremores que provoca se propagam a milhares de quilômetros de distância. Nos últimos 27 anos, período em que esse país liderou o ranking do crescimento global, multiplicou por quatro o tamanho da sua economia, tirou milhões de pessoas da pobreza e promoveu o mais intenso processo de urbanização já visto na História.
            Tem mais: a posição fiscal da China está entre as melhores do mundo. A razão entre endividamento do governo e PIB é de cerca de 20%, contra mais de 80% nos EUA, 160% no Japão e entre 60% e 90% na Europa. Ela é, como se costuma dizer, a bola da vez.
            No início deste ano, visitando Nova York, a cidade mais rica e influente do planeta, entrei numa loja a fim de comprar um par de tênis (do tipo bem sofisticado) para dar de presente ao meu filho Lincoln Jr, quando verifiquei a origem dele e lá estava o “made in China”. Fiquei abismado, levando-me as duas mãos ao rosto como Macaulay Culkin em “Esqueceram de mim”.
            É isso mesmo. Os chineses estão tirando proveito da atitude dos “marqueteiros” ocidentais, que preferem terceirizar a produção ficando apenas com o que ela “agrega valor”: a marca. Dificilmente, hoje, você adquire nas grandes redes comerciais dos EUA um produto “made in USA”. É tudo “made in China”, com rótulo estadunidense. O clichê da burrice capitalista está aí, diante de todos, para quem quiser ver. No futuro bem próximo, ao bel-prazer, os chineses vão impor o preço de seus produtos, gerando um “choque de manufatura”.
            Eles não são de ficarem horas e horas no muro de lamentações. São otimistas e rebeldes obstinados. Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas. Os preços são uma fração dos praticado aqui, em razão do baixo salário pago aos seus operários. Horas extras na China? Esqueça! O pessoal por lá é tão agradecido por ter um emprego que não dá importância ao benefício das horas extraordinárias.
            Enquanto a China está enriquecendo de maneira vertiginosa, o Brasil não consegue poupar nem investir o suficiente para acelerar o crescimento da economia, sem o que não superará suas mazelas sociais.

                                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                    Advogado e mestre em Administração


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Doadores de campanha eleitoral

       Como dizia o economista liberal Milton Friedman, “não existe almoço grátis”. É fato. Principalmente quando se trata de campanhas eleitorais financiadas pelas empresas.  Considerando-se os valores declarados para a eleição de 2010, 75% de todos os recursos destinados aos candidatos, partidos e comitês foram provenientes de pessoa jurídica.
            Pelo andar da carruagem, o resultado das doações, nas eleições de 2014, não vai ser diferente. Todos os grandes financiadores de 2010 aparecem no alto da lista deste ano. Como empresas não costumam brincar com o retorno do capital, a repetição da estratégia de financiamento é a melhor demonstração de que tem produzido resultados esperados.
            Podem me atirar pedras. Até parece que o Brasil adora esse modelo sujo. O bordão capitalista informa que o dinheiro não tem ideologia, e não há nada de errado nisso. O dinheiro não tem pátria, vai aonde tem mais chance de se multiplicar. Ou seja: coisa normal a empresa financiar uma campanha eleitoral como se fosse mais um negócio, um investimento.
Um amigo meu parece ter entendido ao pé da letra que nas espetaculares denúncias de corrupção temos por trás o doador de campanhas eleitorais. A Polícia Federal afirma que mais de 50% dos escândalos do País têm como origem nesses “benfeitores”. Não é preciso esforço para notar que essa prática de doação chega “quase extorsão”. Funciona assim: “olha, ou você contribui para minha campanha ou eu posso não ser seu amigo se ganhar” ou “se eu ganhar, e você contribuir, eu vou ser seu amigo”.
Torço o nariz quando o assunto é financiamento de campanhas eleitorais. Ainda bem que já existe o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) proibindo doações de empresas a campanhas eleitorais e partidos políticos. Esse julgamento foi suspenso porque o ministro Gilmar Mendes pediu vistas do processo. O placar já é de 6 a 1. Faltam os votos de quatro magistrados.
            Nessa linha, o ministro Levandowski nos brindou com imperdível comentário: “O financiamento fere profundamente o equilíbrio dos pleitos, que nas democracias deve se reger pelo princípio ‘um homem, um voto’. As doações milionárias feitas por empresas a políticos claramente desfiguram esse princípio multissecular, pois as pessoas comuns não têm como contrapor-se ao poder econômico”.
            O Brasil não tem mais estômago para ficar acompanhando investigação de atos sórdidos decorrente das estripulias dos doadores de campanha eleitoral. Chega!!!

                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                              lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e mestre em Administração


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A vez das ciclovias

       O curioso ver o disparate dos políticos que criticam a questão da mobilidade, mas não trás alternativas para as cidades, como é o caso das ciclovias.
            Já disse noutra ocasião. A política pública de mobilidade, que inclui a construção de ciclovias, é a garantia do direito de ir e vir com mais segurança.
            Muito apropriado o editorial do jornal Folha de S.Paulo (com o título supracitado) que, através da pesquisa Datafolha publicada na semana passada, deixa claro que a maioria expressiva dos paulistanos defende a expansão de vias exclusivas para ciclistas. Entre os entrevistados, 22% declaram intenção de, nos próximos seis meses, comprar uma bicicleta (32% já têm uma), e 41% indicam ser grande a chance de usar as ciclovias.
            Passa da hora de as autoridades brasileiras enfrentarem a questão com a urgência e a seriedade que ela exige. É preciso qualificar o debate sobre esse tema. Sinto-me, contudo, obrigado a dizer que a bicicleta é um meio de transporte limpo, que ocupa muito menos espaço do que um carro (embora não seja a única solução para os problemas de mobilidade urbana) e oferece a seus usuários a possibilidade de não ficar refém das condições do trânsito.
            Percebe-se que todo ciclista que coloca sua bicicleta na rua, apesar de ser criticado, apesar de ouvir frases desmotivadas como “é perigoso”, “vá pedalar no parque” ou “bicicletas não cabem nessa cidade”, é na prática um cicloativista, pois está fazendo sua parte, ainda que não se dê conta da conquista desse direito para as gerações futuras.
            Falta um estudo de fôlego, como é o caso de estreitar um pouco as calçadas para dar vez as ciclovias. Olhando para a nossa cidade, onde já se verifica grandes avanços à mobilidade urbana, é notório em alguns lugares, a exemplo da Epitácio Pessoa, da Beira Rio, da Ruy Carneiro e tantas outras, que têm 3 a 5 metros de calçadas, espaço que dá para um automóvel, é possível sim utilizar o passeio para fazer ciclovias. No exterior, tive a oportunidade de conferir que isso já não é mais novidade.
            Hoje, com tal iniciativa, Barcelona ampliou suas ciclovias para 230 quilômetros. Sydney representa uma espécie de selo de qualidade para quem é ciclista. Convenhamos: são medidas simples e inteligentes, com baixo custo e eficiência. Como diz o meu velho amigo Cordeiro: proposta simplória e que pode ser resolvida de imediato, tipo, com uma canetada.
            É pena que esse tema, as vésperas da eleição, os políticos jogam para a platéia. Mas, após a disputa eleitoral, como Pôncio Pilatos, eles lavam as mãos.

                                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                            lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                              Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O craque da publicidade

            Quem gosta de publicidade, um bom livro está chegando à praça. É “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”, Editora Nova Fronteira, 2014 - uma obra do escritor e jornalista João Wady Cury que conta tintim por tintim os acertos e erros do empresário Nizan Guanaes, que fez de seu grupo um dos maiores da propaganda mundial.
            Quem viu não esquece. Um pequeno ponto preto aparecia na tela da TV, em alguns segundos, centenas de outros pontos formavam um retrato em branco e preto. Era Hitler, o ditador nazista alemão. A voz falava de suas proezas: “Este homem pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho a seu povo...”. Essa obra-prima é de criação do famoso publicitário Nizan Guanaes, identificado com o de uma marca, coisa única, produto – sim, ele mesmo, um produto. Tendo a sua agência Africa (do Grupo ABC) eleita pelo Advertising Age, a bíblia da propaganda mundial, como a melhor agência internacional do mundo.
            Perguntado, certa vez, se de fato defendia os interesses do cliente diante de sua própria equipe, deixando-a em segundo plano, arregalou os olhos, içou a cabeça para frente três vezes enquanto dizia de maneira intensa: “Sim, sim, sim. Eu sou o cliente dentro da agência. Sou os olhos dele e vou sempre defender os seus interesses até o fim. Isso para mim é sagrado”.
            Com seu Grupo conseguiu tornar-se a primeira multinacional de comunicação do Brasil levando para outros países o jeitinho brasileiro de se fazer propaganda, com pitadas de criatividade carioca e baiana – o que os gringos mais conhecem do nosso País e possivelmente desejam. Como ele próprio diz: “Para ser internacional não preciso deixar de ser brasileiro”.
            Nizan Guanaes tem uma capacidade impressionante de aglutinar pessoas talentosas ao seu redor e, possivelmente, é esse seu maior atributo. Sua vida profissional é construída com base no apoio dos conhecidos que foi amealhando ao longo dos anos, desde os tempos de adolescência em Salvador, passando pelas agências em que trabalho, criou ou comprou.
            Frasista primoroso. Não é à toa que esse publicitário baiano é um dos mais citados na internet. Destacamos: “Tem gente que fala que é bom aprender com os próprios erros. Isso é idiotice. Bom é aprender com os erros dos outros. É muito mais barato”; “Tenha foco. Você não pode ser ginecologista e tarado ao mesmo tempo”; “O que é sonho? É uma pista de avião. Você olha para ela e pensa que aquilo liga nada a lugar nenhum. Não, aquele é o lugar que faz você decolar”.
            Por fim, uma de minhas favoritas, e que mais se assemelha com o seu talento aguçado e o de audacioso empreendedor: “No mundo existem aqueles que choram. Eu vendo lenços”.

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                      Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Pandemônio da burocracia

       Até agora, no blablablá dos debates políticos, não vi de nenhum presidenciável qualquer menção sobre o pandemônio da burocracia, que tanto trava o nosso desenvolvimento e que deixa o brasileiro cada vez mais acabrunhado – com sentimento de angústia e decepção.
            É um desalento viver no inferno burocrático que emperra a vida de todos nós, notadamente, a vida dos nossos empresários. Não é novidade a péssima colocação brasileira em todos os rankings internacionais de melhores países para fazer negócios. Paradoxalmente, o brasileiro é tido como um dos povos mais criativos e empreendedores do mundo.
            Falando em português claro: para atingirmos o nível de crescimento econômico que almejamos, é preciso libertar quanto antes nossos empreendedores das amarras burocráticas e das leis anacrônicas que tolhem o investimento e a criatividade. Pois, nas memoráveis palavras de John Maynard Keynes (1883-1946), os empreendedores são adotados de “espíritos animais”. Mas nem por isso precisam ficar presos numa jaula.
            Os empreendedores proliferam quando a burocracia é contida, quando os investimentos são incentivados, quando os fracassos são encarados como aprendizado, não como malfeitos. É comum o empresário brasileiro dizer: “Oh, essa burocracia me tira do sério”. Sendo condenado, assim, a mediocridade, num País que não é para amador. E não é mesmo.
            Não é por acaso que a nossa burocracia é chamada de jabuticaba (fruta nativa da Mata Atlântica), símbolo da singularidade brasileira - boa ou má. Lamentavelmente, já se tornou vício burocrático na vida dos brasileiros, com gastos abissais de energia e paciência.
            Veja um bom exemplo dessa jabuticaba brasileira: A pátria do carimbo. Apesar da importância essencial que a burocracia brasileira lhes dá, os carimbos podem ser comprados até em chaveiro. Simples, de madeira, eles custam até 12 reais e não levam mais de meia hora para ser feitos. O receituário de um médico pode ser personalizado, com todos os dados e em papel timbrado, mas, se não tiver carimbo, não valerá.
            Absurdo, não? Vamos a outro. Carteira de identidade, que só serve para controlar o cidadão, é coisa de sociedades totalitárias. O Brasil esculhambou até o totalitarismo: como o sistema não é nacional nem interligado, um falsário pode tirar até 27 carteiras de identidade, uma em cada estado e no Distrito Federal.
            Noves fora, estamos todos aí, firmes e dispostos, matando um leão por dia para enfrentar esse pesadelo chamado burocracia.

                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                              lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e mestre em Administração