terça-feira, 28 de abril de 2020

O Brasil merece respeito


            Diante de uma grave emergência em saúde pública, somos surpreendidos com o pronunciamento de Sérgio Moro e de Bolsonaro. Ambos foram infelizes ao tomarem essa atitude confusa e onipotente. Eles não levaram em consideração o mais elementar dos direitos (parece relativizado): o direito à vida. Tempos estranhos.
            O todo poderoso dono da Bic, presidente Jair Bolsonaro, forçou a saída do ex-ministro Sérgio Moro, figura admirada (até internacionalmente) que tanto contribuiu no combate à corrupção no Brasil. Prendendo até o ex-presidente Lula e toda a sua trupe de bandidos que surrupiaram o dinheiro da nossa nação. Seu erro, grave erro: foi ter deixado a magistratura, após 22 anos, para enveredar no jogo da política, em meio à mediocridade, às vezes, à sujeira. Evidentemente, com interesse particular de chegar ao STF, como ministro.
            O que mais me chamou a atenção foi a fala de Bolsonaro. De má qualidade; sem valor; barato; reles; sem atrativo; sem graça; aborrecido; pobre; ruim. Um presidente se lamuriando em rede nacional, ocupando o tempo dos brasileiros para se fazer de vítima em meio a uma pandemia aniquiladora.
            Tudo isso para justificar o pedido de demissão de Sérgio Moro, agora desafeto. Evocando até a virilidade do zero quatro (filho) com as mulheres, a eletricidade desligada da piscina da residência no Alvorada, a ingenuidade da sogra, desfaçatez de se comparar a Marielle Franco e outras avalanches mixurucas. Mas nós não deveríamos estranhar com suas costumeiras bizarrices, Bolsonaro é assim mesmo, um tipo de cara sem etiqueta, daquele que encontramos coçando o saco no barzinho jogando bilhar, como bem retratou Arnaldo Jabor.
            Parece que o presidente, a quem sufraguei com meu voto, mesmo sendo uma pessoa honesta, é refém dos seus filhos e, pela segurança jurídica deles, é capaz de trocar os interesses do país inteiro. Incrível, né?
            Lamento a postura de Sérgio Moro e de Bolsonaro que resolvem num momento de catástrofe mundial (COVID-19) colocar os ressentimentos no ventilador. O Brasil merece respeito!

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                           Advogado e mestre em Administração

Craque da gastronomia


            Estou doido para sair correndo, virar a esquina e sumir. Mais do que nunca necessitamos das luzes trazidas pela razão. O negócio é sério. Escrevo esta crônica isolado no meu apartamento.
            O confinamento acentua um traço: cresce nos momentos de dificuldade. A vida costuma ser generosa comigo, apesar de vez em quando me prega alguma coisa desagradável. O segredo é não desanimar e seguir em frente. Ou melhor: caia fora do que não te leva pra frente. Vamos otimizar os nossos pensamentos.
            Em um dos tantos lamentos poéticos do mestre Cartola, imediatamente me veio à cabeça, diante dessa triste situação (pandemia), trecho da sua música Preciso Me Encontrar: “Deixe-me ir / Preciso andar / Vou por aí a procurar / Rir pra não chorar /  Quero assistir ao sol nascer / Ver as águas dos rios correr / Ouvir os pássaros cantar (...)”.
            Além do meu prazeroso exercício da leitura, gostaria muito ter o hábito de cozinhar, preparar as próprias refeições: cara a cara, o fogão e as panelas. Uma prática mais que agradável e oportuna para essa situação de quarentena que ora estamos sendo obrigados. Infelizmente, só entro na cozinha pra pegar água, e entro de costas que é pra sair mais rápido.
            Para quem é apaixonado pela arte de cozinhar, como é o caso do meu amigo Ricardo Barbosa (deputado estadual), passando os dedos pelos cabelos escovados, diz de cara que é através da boa cozinha que se conquista o amor verdadeiro e que provoca prazer, relaxamento, diversão, bem-estar, equilíbrio etc e tal. Dono de elegância e de generosidade imensa, ele faz também desse ofício desprovido de vaidade e soberba.
            A bem da verdade, nunca fui afeito à cozinha. Não sei estalar um ovo, como não grudá-lo na frigideira. Sequer habilidade no uso do fogão, da panela, do coador, do liquidificador. Sem falar da utilidade do mundo dos temperos. Enfim, não conheço nada da cultura culinária. Sou, sem sombra de dúvidas, um inculto na matéria.
            Percebo agora que o talento culinário está em alta, especialmente em situação de pandemia, que os indivíduos são encorajados a se isolar.  
           

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                               Advogado e mestre em Administração

terça-feira, 21 de abril de 2020

Numa ilha deserta

        Não devemos dar espaço aos apocalípticos nesses dias, nunca será pouco repetir essa máxima. Melhor sonhar partindo para uma ilha deserta, como aconselha o meu velho amigo Cordeiro, sempre irônico e firmeza de sábio. Um autêntico outsider.
            Lembro-me, no passado, os jornais adoravam perguntar aos artistas e intelectuais que livros, discos e filmes (vídeos) eles levariam para uma ilha deserta. E todos se derretiam em responder de maneira glamorosa.
            Em tempos de quarentena imposta pela Covid-19, é hora de sonhar com a nossa ilha deserta, com todos esses itens almejados. Bom. Já tenho a minha lista.
            De tudo o que eu li, e li bastante, eu levaria o livro “Maquiavel o Príncipe”, escrito originalmente em 1513, que voltei a ler recentemente. Uma obra-prima, que trata de política e ética capaz de perdurar através dos séculos.
            Ah, não poderia deixar de levar o LP Vinil “Chico Buarque – Voluma 3”, lançado em 1968, uma das pérolas da nossa MPB. Obra genial. Um bálsamo para os ouvidos e que agrada meu coração.  
            Levaria também a caixa de CDs “Três Tons de Emílio Santiago”, lançado após a sua morte (2013) desse excepcional intérprete da MPB, onde ele nos brinda com algumas melhores canções da nossa fase musical.
            Para refrescar a memória, levaria para assistir de novo (pelo vídeo) a peça “Fantasma da Ópera”, musical inesquecível. Desde sua estreia na Broadway, Nova York, nunca saiu de cartaz por 30 anos. Exceção, agora, por causa da Covid-19.
            Na seara futebolística, levaria o vídeo de todos os jogos da seleção brasileira na “Copa do Mundo – 1970”, do futebol arte, verdadeiros artistas da bola. Época que o futebol tornou-se definitivo uma paixão nacional. Oportunidade para alegrar os olhos e a alma.
            Enfim. Antes de abrir os olhos desse lugar imaginário, acordei, sendo sacolejado pela minha consorte Socorro: “Se aquiete, homem. Estou aqui do seu lado. Desperte!”.


                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                            lincoln.consultoria@hotmail.com
                                             Advogado e mestre em Administração

               


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Minha quarentena


            Minha vida foi sempre cheia de sobressalto. Por escolha. Agora, estou em autoexílio por causa do coronavírus, juntamente com a minha consorte Socorro. Tá chato pra caramba isso.
            Meus anos e cabelos brancos me aconselham a meditar para essa triste realidade monótona: não mais escutamos os insultos no trânsito, brigas entre taxistas e ciclistas, nem vendedores ambulantes chamando os transeuntes para vender produtos, nem pedestres que pedem respeito às faixas de trânsito para poder atravessar. Demais cenas que ocorrem todos os dias. Passou a ser um verdadeiro tédio. Dá vontade de mandar o mundo de vez para a cucuia.
            À boca pequena, as apostas sobre o futuro próximo são diversas: tem gente que afirma que neste mês (abril) tudo isso acaba, enquanto os mais pessimistas (inclusive analistas) crêem que estaremos até dois ou três meses encaixotados em casa. Tenha santa paciência!
            É cedo pra fazer qualquer previsão, as notícias mudam a cada hora e ninguém sabe o que nos aguarda, mas existe uma chance de ouro de que este “circuit breaker” global faça com que paremos de correr como ratinhos numa roda de egoísmo e imbecilidade e nos dediquemos a alguma reflexão. Do tipo, como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset: “Pior que ter uma doença é ser uma doença”.
            É o momento de comunhão da vizinhança, e um ritual para nos lembrar uns aos outros por que estamos aqui encaixotados. Como é o caso de uma velhinha num vídeo na internet, em que os vizinhos a surpreendem com um parabéns pra você da janela: “Nos vemos às oito no aplauso?”.
            Os gestores públicos, pressionados pelo pânico, necessitarão de muita calma e suporte científico para não errar na dose desse “tratamento”. Precisamos evitar mortes, mas é imprescindível avaliar riscos e benefícios das condutas tomadas agora, pensar um pouco à frente e buscar o maior número de evidências que possam nos guiar.
            E quer saber? Se nos deixarmos tomar pelo pânico, decorrente da Covid-19, este novo medo nos vai roubar também a alegria de viver e a nossa capacidade de amar.


                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                             lincoln.consultoria@hotmail.com
                                              Advogado e mestre em Administração
            


terça-feira, 7 de abril de 2020

Nicolau Maquiavel


            De tanto falar da crise do coronavírus, envolvendo até o presidente, alguém me cochichou: “Você não viu? O cara (Bolsonaro) é um maquiavélico”. Tal descrição me levou a reler o livro “O Príncipe de Maquiavel”, originalmente escrito em 1513.
            Momento mais do que oportuno (não só pelo aspecto político, como pela minha quarentena) para compulsar essa obra clássica, cujos ensinamentos são adaptados ao mundo real. Personagens como Napoleão Bonaparte, Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Henry Kissinger, entre centenas de outras figuras de nosso tempo, assumiram publicamente a importância dessa obra para se manter no jogo do poder.
            A conjuntura atual, através das lições de Maquiavel, vai permitir conhecer a filosofia e as estratégias reais que moldam o mundo moderno e agir de modo mais consciente, com vistas a evitar manipulações de outros e ir atrás dos próprios objetivos.
            Maquiavel é incisivo: há vícios que são virtudes, não devendo temer o príncipe que deseje se manter no poder, nem esconder seus defeitos, se isso for indispensável para salvar o Estado. Um príncipe não deve, portanto, importar-se por ser considerado cruel se isso for necessário para manter os seus súditos unidos e com fé.
            No solo arenoso que é a vida política, Maquiavel demonstra como um governante deve agir – seja com os seus ministros ou com o povo – para manter o poder e a ordem do Estado; mesmo que para isso se comporte de modo cruel ou imoral. Assim, essa interpretação maquiaveliana da esfera política foi que permitiu a ideia de que “os fins justificam os meios”.
            Daí surgir no imaginário e no senso comum de que Maquiavel seria alguém articulouso e sem escrúpulo, dando a origem à expressão “maquiavélica” para designar algo ou alguém dotado de certa maldade, frio e calculista.
            Pensando, comigo mesmo, o mundo não dá para escapar das lições de Maquiavel.

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                lincoln.consultopria@hotmail.com
                                                 Advogado e mestre em Administração