segunda-feira, 31 de julho de 2017

Mudança de atitudes

            Há pouco li uma entrevista com o novelista Silvio de Abreu. O craque dos folhetins da Globo. Agora como diretor-geral da emissora, ele conseguiu atingir o ápice de audiência em muito tempo – 66 milhões de pessoas sintonizadas.
            Com maestria e inteligência, com muitas ideias, sonhos e histórias para contar, esse criador de sucessos diz que a novela é mesmo um espelho da sociedade, mas a verdade é que ela não muda a cabeça do público.
            Revela que as pessoas não se tornaram tolerantes com os malfeitos em decorrência do que a novela mostrava, e sim por influência dos exemplos vindos de nossa realidade. As pessoas estão cansadas do mar de lama. Ou seja: o humor do público mudou. Varrer os escândalos para debaixo do tapete é coisa do passado.
            Acrescenta, ainda, que ninguém tem mais interesse de ver tramas pesadas e com muitos personagens negativos, como em “Babilônia” e “A Regra do Jogo”. Todo mundo ficou com ojeriza ao noticiário e, sobretudo, à vilania nas novelas: “Não quero ver na novela uma continuação do telejornal”. Entendeu que o vale-tudo não é o caminho.
            Porém, indo direto ao ponto, acrescento eu: o lado bom nessa história (da entrevista) é que o telespectador aprendeu a descrer de heróis e passou a ter uma visão mais realista da natureza humana. A frustração vem pela constatação da queda do padrão ético de nossos políticos e de nossos líderes empresariais.
            Simples assim. O mais importante no ser humano não é o seu nome ou seu status, mas a sua dignidade e o seu respeito para com o seu país. Logo o telespectador rechaça qualquer personagem (que leva vantagem) associada à organização criminosa.
            Nessa visão, o telespectador está enviando uma mensagem de que temos que modificar nossas atitudes. O Brasil está precisando rever seus conceitos. Vamos começar por nós. Mudança de atitudes já!


                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                              Advogado e mestre em Administração
           

            

domingo, 23 de julho de 2017

A febre do WhatsApp

Continuo, aliás, atrasado em muitos terrenos. Nada posso fazer. Parece que há em mim um lado retrógrado que não me quer abandonar. É o caso, por exemplo, do WhatsApp que vem sendo utilizado de forma inconveniente, inadequada... que ainda não me habituei.
Reconheço que tal aplicativo é uma realidade - uma febre e um símbolo da neurose urbana - que não tem volta e virou uma ferramenta de comunicação até mesmo nas empresas. O problema é que ele requer cuidado, pois há várias situações em que tem prejudicado a imagem de profissionais.
Jurar, não juro. Questão de princípio. Mas quero crer que no futuro bem próximo as pessoas não vão mais dialogar cara a cara, mas sim, vão preferir conversar via o WhatsApp. Por achar mais sociável, moderno, prático e de uma visão oba-oba da vida.
Um dia desses me encontrava no restaurante com minha consorte Socorro, quando o jovem casal sentou-se numa mesa ao lado e, logo em seguida, eles sacaram os seus celulares e começaram a digitar. Não se olhavam. Apenas batiam os cílios como asas de um beija-flor passeando pelo jardim florido.
Foi triste testemunhar essa situação. Onde demonstra a que ponto o vazio existencial consegue entortar a cabeça das pessoas, aniquilando com qualquer resquício de bom senso. Já nas empresas, como ferramenta de trabalho, o erro mais comum é um mau entendimento sobre a finalidade desse aplicativo como canal de telemarketing. Ou seja: estão fazendo uso de disparo de mensagens em massa pelo WhatsApp, o que é um erro grosseiro.
No mundo cada vez mais robotizado, apático, sufocado pelo ambiente das pessoas expressarem sua própria identidade, não podemos ser subjugado a todos apelativos do WhatsApp, prejudicando o diálogo presencial que é o alicerce da vida.

                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                lincoln.consultoria@hotmail.com
                                   Advogado e mestre em Administração



terça-feira, 18 de julho de 2017

Casa da Mãe Joana

            Essa expressão de nossa língua portuguesa significa o lugar ou situação vale tudo, sem ordem, onde predomina a confusão, a balbúrdia e a desorganização. Infelizmente, foi o que se transformou o plenário do nosso Senado Federal, na sessão da semana passada (11/7), depois de mais de sete horas de suspensão, com vista à votação da reforma trabalhista.
            Observei tudo aquilo, sumariamente, com um híbrido de espanto e vergonha, como se fosse sim uma “Casa da Mãe Joana”. O espetáculo deprimente foi protagonizado por cinco senadoras da oposição que ocuparam a Mesa Diretora, impedindo que o presidente Eunice Oliveira comandasse a sessão. Tolhido de sua autoridade, ele mandou cortar os microfones, a transmissão de TV e até a luz do plenário. Mesmo assim, elas continuaram com os seus desaforos e devorando até um almoço trazido em quentinhas sob a luz de celulares. Uma cena deplorável!
            Como, reza o chavão, um erro não justifica o outro. Se a reforma é ruim, o dever da oposição é votar contra – e só. Tal atitude não é contra um cidadão comum. É contra a instituição Senado Federal e contra o Brasil.
            Pensando bem, as senadoras, causadoras do frenesi, tentam nos convencer de que estão sendo vítimas de uma manipulação ardilosa. Temos que relembrar o epíteto que diz que “à mulher de Cesar não basta ser honesta, há que parecer honesta”.
            Esse papo de que basta dar mortadela que o povo vota, está mudando. É conversa mole para boi dormir. As causas que nos movem têm, para as senadoras agitadoras, importância secundária. É o jogo da sobrevivência, ainda que às nossas custas e nos enganando periodicamente com malabarismos retóricos indigestos.
            A reação desmesurada é sinal que chegou o fim: de morte morrida, por não ter mais votos para se reelegerem, ou de morte matada, por impedimento legal.


                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                               lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 10 de julho de 2017

A deterioração da política

            O prefeito de Bayeux, Berg Lima, escancara sua pequenez moral ao ser flagrado recebendo propina de determinado fornecedor. Comportamento asqueroso. Uma nódoa desmoralizante que vai levar consigo por resto da vida. Nenhuma inteligência, nenhuma virtude, nenhum senso de honra sobrevive a tal situação.
            Tudo isso parece loucura, mas é loucura premeditada. A prática do crime de corrupção tornou-se tão normal e corriqueira - mesmo com a Operação Lava Jato em curso - que ela própria determina os critérios em que será julgada, nivelando tudo por baixo. Transformando-se numa modalidade mais requintada e sutil da canalhice.
            Qualquer observador atento pode notar que a deterioração da política e a petulância dos corruptos provocam merecidas ondas de indignação, cujo risco pode nos levar o desmanche do Estado Democrático de Direito inaugurado pela Constituição de 1988. A afirmação é forte, mas nem por isso menos verdadeiro.
            Tenho sido conhecido exatamente pelo meu otimismo. A meu ver, nem tanto pelas circunstâncias mais pela minha personalidade. Porém, devo reconhecer que certas forças políticas estão nos ludibriando, numa agressão mortal à democracia e à liberdade. Acreditar nessa gente, mesmo por breves instantes, é desmantelar o próprio cérebro.
            Não é à toa, Nelson Rodrigues já alertava: “O mundo só se tornou viável porque antigamente as nossas leis, a nossa moral, a nossa conduta eram regidas pelos melhores. Agora a gente tem a impressão de que são os canalhas que estão fazendo a nossa vida, os nossos costumes, as nossas ideias”.
            Feitas essas indispensáveis observações, parece natural que o eleitor baienense esteja a perguntar-se: onde estávamos com a cabeça quando negligenciamos em eleger o prefeito Berg?
            Enquanto esse tipo de político perder o respeito por nós, nada de sério se poderá discutir no Brasil.

                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                    Advogado e mestre em Administração

            

terça-feira, 4 de julho de 2017

Somente a saudade

            A Bíblia registra com muita sabedoria que a terra é apenas uma residência temporária. Que aqui só estamos de passagem. Por isso que o livro sagrado invoca essa situação como de um “forasteiro”, “peregrino”, “estrangeiro”, “estranho” e “viajante”.
            Mesmo sabendo dessa realidade, foi difícil aceitá-la, depois do falecimento da minha amada mãe, Dona Aila Cartaxo de Lira, ocorrido na última sexta-feira (30/06). Já perdi muitos entes queridos, mas a perda dela foi de luto dolorido e desnorteamento da vida. Uma vez que era a nossa segurança, aconchego, orientação e refúgio.
            Ao longo dos seus 86 anos de vida sua residência foi um porto seguro, não só para os seus familiares, como também, para aqueles que ali chegavam de Cajazeiras (sua terra natal) em busca de apoio, seja para estudar, seja para moradia, seja para conseguir alguma ajuda financeira. Com olhos marejados de lágrimas, tive oportunidade no velório de conferir vários testemunhos de sua ação humanitária.
            Pode-se dizer que para lidar com essa perda tão marcante é preciso respeito, respeito de si mesmo com a sua dor, para que não pareça uma atitude egoísta. Sei que o tempo aprofundará a saudade, mas lembrarei que a nossa mãe Dona Aila não morreu. Apenas mora noutro lugar. Estará sempre ao nosso lado, porém invisível até o dia do nosso reencontro. E que o Deus brindará com evolução espiritual plena.
            Neste momento, já sinto a dor da distância criada por sua morte e, como diz na canção interpretada por Caetano Veloso e com outra adaptação para a ocasião: “Agora que faço da vida sem você? Você que só me ensinou a te querer e agora eu estou sentindo a dor de te perder!”. Tenho consciência que o tempo de alívio ou de passar a dor vai demorar. Porém me dei conta que é o ciclo da vida. A chegada recente do meu neto Adam é a prova dessa realidade.
            Sua lembrança, minha mãezinha, continua viva dentro de mim, eternizada no meu coração.

                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                          Advogado e mestre em Administração