segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A lista dos ricos

       A revista Fortune divulga anualmente a lista dos homens mais ricos do mundo. Pra mim, esse tipo de noticiários, beira a babaquice. É tipo de coisa que não deveria ser explorado, onde deveria existir o comedimento, a prudência, a discrição.
            Falo sério. Fico com náusea só de pensar no desespero (impostando arrogância) do empresário Eike Batista de querer chegar em 1º. lugar dessa lista. Verdadeiro escracho em estado puro, sensacionalismo, exposição desenfreada do canibalismo capitalista. Fica o estigma equivalente a de uma vendedora chata, um vizinho pentelho, um piadista “mala”, um taxista insuportável...
            Pensando bem, o jornalista mexicano Catón (Armando Fuentes Aguirre), ícone atemporal de elegância na arte de escrever, merece ganhar uma estátua. Tal honraria deve-se ao fato da sua intenção de processar a revista Fortune, porque foi vítima de uma omissão inexplicável. Na sua publicação periódica ele não aparece na lista dos mais ricos. Aparecem: Carlos Slim, Emílio Acarraga, o sultão de Brunei, rainha Elizabeth, Niarkos Stavros, Sam Walton e muitos outros.
            Ora, diz ele, eu sou um homem rico, imensamente rico. Como não, vou mostrar a vocês: Eu tenho vida, que eu recebi não sei porquê, e saúde, que conservo não sei como.
            Continua: Eu tenho uma família, esposa adorável, que ao me entregar sua vida me deu felicidades e me deu maravilhosos filhos. Eu tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos que são como meus irmãos.
            Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos. Tenho leitores a cada dia para agradecer-lhes por que eles lêem o que eu mal escrevo. Eu tenho olhos que vêem e ouvidos para ouvir, pés para andar e mãos que acariciam; cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, mas que para mim não haviam ocorrido nunca.
            E eu tenho fé em Deus que vale a um amor infinito.
            Por que, então, a revista Fortune não me colocou na lista dos homens mais rico do planeta?
            Com a paciência de um penitente beneditino e a bravura de Dom Quixote, ele, Catón, definitivamente, exorciza os fantasmas da ambição pelo dinheiro, com aspereza dessa realidade: “Há pessoas pobres, mas tão pobres, que é a única coisa que possuem é... Dinheiro”.

                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                           Advogado e Administrador de Empresas

domingo, 9 de dezembro de 2012

O racismo

       Para começo de conversa sou contra a política de cotas raciais no Ensino Superior, onde trás a tona o polêmico debate sobre a discriminação racial no País e a desigualdade social.
            Em 22/05/2007, neste mesmo espaço, através do meu escrito “Preconceito racial”, ali já manifestava minha posição contrária a esse método de regime, como forma de corrigir uma crise bombástica de injustiça social, como se branco lá não tivesse também a sua injustiça.
            O pano de fundo da contenda, eu dizia naquela oportunidade, está na escola elementar e na escola média, que continua na mais baixa escala de indigência. Fazendo com que os alunos (branco ou negro) sejam barrados no vestibular, não por suas raças, mas por não terem atingido o nível mínimo e básico de conhecimento para ingresso na Universidade.
            Às vezes me pergunto se vale a pena desperdiçar meu tempo lendo notícias sobre o racismo e, mais ainda, sobre a premissa equivocada do “mês da consciência negra”. No entanto, essa reflexão novamente me ocorreu - apesar de tantas alegações surrealistas desimportantes publicadas por aí afora - foi quando assisti à entrevista mordaz concedida pelo famoso ator Morgan Freeman ao apresentador televisivo Mike Wallace. Pinçando alguns trechos, vejam a sutileza impressionante de suas afirmações, que só a trágica ignorância não se deixa perceber.
            Mike: “Mês da consciência negra”, o que acha disso?
            Morgan: Ridículo.
            Morgan: Qual é o “mês da consciência branca”?
            Mike: Bem... Eu sou Judeu.
            Morgan: Ok! Qual é o “Mês da consciência judaica”?
            Mike: Não existe.
            Mike: E como vamos nos livrar do racismo?
            Morgan: Parando de falar sobre isso!
            Morgan: Eu vou parar de chamá-lo de branco... E o que lhe peço, é que pare de me chamar de negro!
            Morgan: Eu lhe conheço por Mike Wallace. Você me conhece por Morgan Freeman.
            Sob esse olhar, mesmo cercado de todos os “date vênia” de praxe, nada mais ilógico e descabido esse movimento de racismo, cujos argumentos são, no mínimo, tendenciosos e não refletem a realidade.

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                 Advogado e Administrador de Empresas


domingo, 2 de dezembro de 2012

Cantilena de vendedor

       Quem me conhece já está careca de saber (adoro essa expressão, embora não tenha nada a ver uma coisa com outra: queda de cabelo com a ratificação de uma informação) que detesto tipo de vendedor que pega no pé do cliente até vencê-lo pelo cansaço.
            Fujo mesmo. Ao entrar numa loja para comprar um produto exposto na vitrine, tento ter o cuidado de não ser assediado pela conversa do vendedor de que “já viu isso, já viu aquilo?”. E mesmo que eu diga que “estou só olhando” o cara não se toca. Às vezes tenho de me policiar para não ser indelicado. Por isso, fujo correndo de vendedores extremamente solícitos.
            E olha só: vejo-me nesse direito, porque não possuo aquela cara-de-pau de fazer o vendedor desmontar a loja toda e não levar nada. Ou de perguntar o preço de tudo e depois aplicar aquele velho eufemismo “obrigado, depois eu volto” e não volta nunca.
            Pior de tudo, é quando uma vendedora – sempre a empregada mais bonita, mais bem-vestida, mais perfumada e mais maquiada de todas – se aproxima e pergunta com voz doce: “Boa tarde, já possui o nosso cartão?”. Pense no lero-lero sobre todas as maravilhas e estupendas vantagens de possuir um cartão personalizado da loja.
            Quando você recusa o tal cartão, a vendedora, não satisfeita, encara o seguinte diálogo:
            - Vamos fazer, então, um crediário? É rapidinho. Só preciso do CPF.
            - Não, obrigado.
            - Podemos parcelar em até 24 meses, além da carência de 2 meses para começar a pagar.
            - Não, não Posso.
            - Mais é rapidinho, quase não tem fila no crediário!
            - Não quero. Chega!!!
            Como se não bastasse toda essa cantilena, tem ainda a quebra da confiança. Outro dia experimentei um paletó e o danado não fechava condizentemente. Estava mais que nítido esse desconforto. Solicitei o vendedor um número maior. Aí, de pronto, ele me respondeu:
            - Não temos. Mais esse ficou muito bem em você. Perfeito!
            Sem meias-palavras, olhei, olhei, avaliei e lhe respondi:
            - Em vez de se preocupar com suas “gentilezas”, gostaria que fosse apenas verdadeiro.
            Ah! Quando me fiz administrador de empresas, aprendi que o vendedor tem o poder de cativar ou expulsar o cliente definitivamente da empresa.


                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A idade do poder

            Dias atrás, li uma reportagem mostrando que uma nova geração descobre que a melhor fase da vida chega aos 50 anos. Ter autonomia e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é uma das questões mais valorizadas por esses cinquentões.
            O paroxismo do privilégio de chegar a essa fase, alguns estudiosos estão chamando de “A idade do poder”. Seja pelo potencial enorme de consumo, seja pela experiência profissional (valorizada e cobiçada), seja pela sensação da qualidade de vida (entretenimento, diversão, lazer... e uma cabeça bem resolvida).
            Como disse um famoso humorista, o homem não tem idade que está no registro civil, e sim, a idade que ele sente. Sentindo-se velho, é velho. Ademais, para viver, é preciso dar sentido à vida, sobretudo, dar sentido a cada instante vivido, a cada minuto da vida, é viver em estado de alerta.
            As pessoas de 50 anos de hoje em nada se lembram de um passado não tão distante. Muitas têm o corpo tanto ou mais em forma que seus filhos adultos. Outras estão no pique para ter filhos (biológicos ou adotivos), começar uma nova faculdade, um novo romance, uma nova empreitada ou qualquer outra aventura. É um fenômeno mundial.
            Graças o vezo filosofante dessa satisfação, o hábito de tentar disfarçar a idade parece estar ficando démodé – para usar uma expressão francesa que também saiu da moda. A maioria deles, mesmo os mais vaidosos, encara a idade de forma positiva. Não querem ter 10 ou 20 anos a menos. Não querem ser estereotipados como garotões. Querem estar bem aos 50.
            A verdade é que a vida só oferece duas opções: morrer novo ou ficar velho, dando razão ao provérbio chinês, aborda essa contradição: “O homem se engana: reza para ter vida longa e teme a velhice”. Reparando bem, talvez a engenharia genética deva acabar com a velhice, mas não será no nosso tempo. Que pena!
            Parece papo antigo, mas não é.  Durante a juventude, não deixamos de pensar em outra coisa senão em se tornar finalmente um adulto responsável e desfrutar a liberdade de fazer nossas próprias escolhas. Porém, chega o momento em que o mundo real bate à nossa porta, e nós não sabemos como se comportar ou qual caminho a seguir. É aí que o cinquentão leva vantagem, independente de manual de instruções, placas, mapas ou bússolas, ele passa a tocar à vida e seguir um jeito só seu de trilhar o próprio caminho. 
            Aliás... jamais esqueci a fraseologia do meu sábio professor de colegial: “Enquanto você conseguir admirar e amar, será jovem para sempre”.


                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@holtmail.com
                                                                Advogado e Administrador de Empresas
                            

domingo, 18 de novembro de 2012

Bond. James Bond

       Neste último fim de semana, fui conferir o mais novo filme de James Bond, “007 – Operação Skyfall”, o 23º. filme da série, que superou, somente em duas semanas, a marca de 1 milhão de espectadores no Brasil.
            Nota-se que o cinema evoluiu uma enormidade nestes anos todos, mas as salas de exibição tiveram pouco progresso. A única grande novidade não outra foi o drive-in, que no Brasil não pegou por inúmeras razões, uma delas, pela nossa queda à safadeza. Do tipo do casal que não tava nem aí para sétima arte, pintava o sete, praticando artes outras. Acredite: havia até carro de traseira virada para a tela. Essa é prá descontrair... ou dar risada mesmo!
            Mas sem querer estou pecando contra o meu assunto. Volto a ele. A meu ver, ninguém mais nostálgico, ninguém mais fremente, ninguém mais pungente do que a figura do “Agente 007”  interpretada pelo ator escocês Sean Connery, antídoto perfeito para os dias paranóicos da Guerra Fria. Saga essa iniciada no dia 6 de outubro de 1962 com uma obscura produção chamada “007 Contra o Satânico Dr. No”.
            Como sempre cínico, sexy e letal, ele chegava com timing impecável. Hoje, o personagem é encarnado por Daniel Craig - apesar de não ter a linhagem artística ou a química perfeita de Connery - vem defendendo da melhor maneira possível o mundo e o império britânico. Com o olhar, inquisidor ou fulminante, seguro de si, exprime desprezo ou ironia.
            Bem. No tempo em que eu era garoto lá em Cajazeiras, foi um privilégio, uma coisa deslumbrante, curtir no Cine Éden a primeira versão do filme do “Agente Secreto 007”, embasbacado quase desloquei o maxilar de tanto mascar chiclete. Pus-me a refletir: Caramba, esse cara tem o dom de herói. Não escondo, tinha uma baita inveja de seu talento.
            O fato é que, há 50 anos, não falta torcida efusiva para ver mais um lançamento do famoso Bond. Aquele que oferece, a multidões de fãs fiéis, um ideal masculino sob medida para cada geração. Baseado numa questão aparente ou sublimada de uma época. Acabo de cada trama, cumpre sua missão depois de conquistar tórrida paixão de belas mulheres, como da notável Ursula Andress. Ouso afirmar: jamais passava despercebida!...
            Fim de papo. Acho que já falei demais, até mais que devia. Até o próximo filme de “Bond. James Bond”, com muita adrenalina e perigosas disputas entre o bem e o mal.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                       Advogado e Administrador de Empresas

domingo, 11 de novembro de 2012

Violência: tolerância zero!

       Fiquei horrorizado com a onde de violência desencadeada contra os policiais em São Paulo. Retrato exímio de um país que vangloriar-se a todo instante que deixou o Terceiro Mundo, mas está mais próximo do Congo do que da Noruega. É exagero? Não. É asco? Sim.
            É preciso fugir dos simplismos. Num país múltiplo e plural como o Brasil, não há mais espaço para um olhar paroquial. Uma letargia total, beirando a preguiça, cuja realidade é examinada com uma lente torta. Sênico ensinava que “não existe vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir”. Assim, não basta “manter” a política de segurança que está aí, não vai resolver nadica de nada, absolutamente nada. Nem a pau, como diz a garotada.
            É mesmo que acreditar em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Bicho-Papão, Saci Pererê, que a Rogéria é mulher... E que Deus é brasileiro. Vejo que o principal problema do Brasil reside na abissal desigualdade social. Além do mais, não existe punição implacável para os seus infratores. As leis são todas lenientes e indulgentes com a criminalidade. Não adianta ações paliativas, como desarmamento da população e outras simplesmente inócuas e desimportantes.
            Isto mesmo! Não é preciso ser nenhum gênio nem ter acesso a informação de Inteligência para saber que algo está errado. Enquanto o nosso Código Penal não for revisado, ficaremos assistindo na TV a cenas fortes de matança todos os dias. Agora, a coisa ficou preta, uma vez que os criminosos inverteram a situação e começaram a caçar policiais.          Não. Não. Não. Já basta.
            Pelo visto, nossa vida não vale um vintém ou nem uma cibalena quando deparamos com o crime organizado, que impõe leis próprias destinadas a criar regras de conveniências, em defesa à estrutura do poder e imprimir que a barbárie autofágica desintegre suas fileiras.
            Um amável leitor honrou-me com uma observação sobre esse tema. Salta aos olhos, diz ele, que o Brasil está precisando de uma política de tolerância zero contra a violência em geral. Para crimes hediondos, todos os benefícios de progressão de pena e indultos deveriam ser abolidos e não deveria ser possível aguardar julgamento ou recorrer de condenação em liberdade. Na sua assertiva, acrescenta: a maioridade penal deveria ser reduzida para 16 anos. Dirigir embriagado ou em alta velocidade e causar acidentes com mortos ou feridos deveria ser tratado como crime hediondo.
            Por tudo isso e mais alguma coisa, que tais acontecimentos degradantes batem às portas de nossa consciência, dão um tampa na sociedade.


                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tempos Modernos

       O que é bom, dizem, não envelhece e jamais sai de moda: discos de vinil, vídeo-cassetadas, picolés no palito... e os filmes de Charles Chaplin. Por isso, em boa hora, a Folha lança “Festival Carlitos”, a obra (20 livros-DVDs) completa do artista que mudou a história das artes cênicas. Tido como “exceção à própria regra”, parafraseando o grande frasista Millôr.
            Quem ainda não fica inebriado com a beleza de seu talento?  Aquele que revolucionou e poetizou a realidade. Sem casa, família ou sustento, o vagabundo eternizado por Charles Chaplin busca a única felicidade que lhe é possível: o sorriso de quem dele se aproxima.
            Dos títulos agrupados nesse trabalho de resgate e de selo mágico cinematográfico, eu tenho um apreço todo especial pelo “Tempos Modernos”, cuja sátira desmantela a crença no progresso. Onde um operário (Chaplin) enlouquece de tanto apertar parafusos, ataca tudo e todos e vai parar na prisão. E ao lado de uma jovem órfão, tenta viver fora da ordem e fugir rumo a um sonho de liberdade.
            Com “Tempos Modernos” surge, como definiu em 1954 o crítico francês André Bazin, a única Fábula cinematográfica à altura do registro do homem do século 20 face à mecânica social e técnica. Nesse filme, decide manter os textos na forma de letreiros e reserva o som para a obtenção de alguns efeitos cômicos e para as falas que saem de máquinas.
            Muito divertido a cena em que Carlitos (Chaplin) vira, sem querer, líder de manifestação de operários ao carregar uma bandeira que cai de um caminhão. E quando usa sal para temperar a gororoba da cadeia, ficando ele alterado pela cocaína ali escondida, na sequência, torna-se um herói involuntário. Puxa, que barato!
            Dando uma lidinha, segundo Glauber Rocha, em “Tempos Modernos”, a máquina destruindo o homem é prova de fidelidade à imagem pura, à força expressional do cinema adulterada e também do horror ao capitalismo sem alma. Por falar nisso, até hoje, não há grife acadêmica lustrosa que deixe de reconhecer essa sua qualidade criativa e humanística.
Em grau superlativo, ele se envolve com as miudezas cotidianas, através da técnica apurada e virtuosismo. E digo mais: quando ele veio para este planeta, trouxe na bagagem um talento que é só seu. Um talento para realizar algo grandioso. E realizou, majestosamente!
É isso. Chaplin é a marca de um complexo artístico que transcende o cinema.


                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                    Advogado e Administrador de Empresas
                                                             
               
           

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Transporte urbano

            Quando penso no trânsito caótico, um filme me vem à cabeça: Um Dia de Cão. Nele, Michael Douglas interpreta um americano comum que um belo dia, por causa do trânsito maluco, resolve agredir as pequenas e irritantes mazelas da sociedade.
            Diante de tantos desafios relacionados com a vida no meio urbano, os futuros gestores municipais (prefeitos), principalmente nas cidades de porte médio e grande, terão que encarar e resolver o abacaxi do transporte urbano, a partir daqueles (pouco e pseudo) que beiram às “mentiras sinceras me interessa”, já cantadas por Cazuza.
            É consensual que o espaço público urbano é o bem comum mais importante. O seu (e o meu) modo de sentir a vida. Só que a cidade cresceu e ficou confusa, tornando-se intransitável também. Dos quase 62 milhões de brasileiros que trabalham e voltam para casa no mesmo dia, 7 milhões perdem mais de uma hora em deslocamento, e podendo alcançar duas horas nas regiões metropolitanas das grandes capitais, segundo dados do Censo de 2010. Imagine agora?
            Pela lupa do meu amigo Cordeiro, como sempre inteligente, desbocado e divertido, disse-me: “Ô meu chapa! Transporte coletivo urbano é uma bagunça no Brasil, porque a sua gestão fica na mão das empresas que atuam na lógica da produtividade: mais passageiros pagantes por menos ônibus em circulação”.
            Aqui no meu canto, diria ainda que para tentar dar conta da imensa frota de veículos despejada nas ruas, a saída é não outra que o investimento maciço em transporte coletivo decente, expansão das vias de tráfego, pedágio urbano para carros, implantação do transporte cicloviário, rodízio de carros, adotar o transporte alternativo e por em prática uma central de inteligência para o trânsito. Reconhecendo, porém, que é difícil tirar a classe média do seu automóvel oferecendo um serviço opcional de baixa qualidade – um pote até aqui de mágoa, conforme queixa dos usuários de ônibus.
            Uma coisa, entretanto, parece óbvia: vivemos hoje uma política de espaço urbano que é antidemocrática. Ela privilegia escancaradamente o transporte individual frente ao coletivo, a bicicleta e aos pedestres. Taí a redução do IPI, promovida pelo governo federal, com a promessa de aquecer a economia, cujo resultado foi o emplacamento de mais de 2 milhões de veículos apenas no primeiro semestre de 2012, dados da Fenabrave. Onde já se viu isso?
            Afinal, as soluções existem, aos montes. Basta ter estudos, projetos, conhecimentos e especialistas nas inúmeras questões urbanas. Ou então: dançamos!


                                                     LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                     lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                     Advogado e Administrador de Empresas
               

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Benefícios da cerveja à saúde

       Não é despautério! Pois conheço um senhor que não confia em quem não bebe. Para ele, o abstêmio pode estar evitando a cervejinha pelo receio de se revelar, de dizer o que não pode ser dito, de mostrar o que precisa esconder. Sem falar de que a bebida dar vazão a emoção e a sentimentos reprimidos. E do enferrujado “efeito Orlof” (da vodca Orloff) – eu sou você amanhã.
            Deixando o alto grau de tiração de sarro da sociedade, ou descontando ainda o sentido piadista e folclórico da afirmação, agora, a ciência atesta: uma cerveja faz tão bem para seu bem-estar quanto o vinho que sempre levou a boa fama. Ah. Tenho certeza que, após essa revelação, vai começar os burburinhos nas rodas de conversa em torno do tema.
            Propor aos amigos um brinde com cerveja, além de ser prazeroso, reduz em 31% o risco de vocês terem um problema cardíaco. A prova: a gelada proporciona um aumento de HDL, o colesterol bom, e isso beneficia a saúde do coração, conforme estudo publicado no European Journal of  Epidemiology que analisou 16 outras teses com cerca de 200 mil pessoas.
            Afora isso, quem consome cerveja de forma regrada reduz pela metade o risco de sofrer um acidente vascular cerebral. Citação do Journal of the American Medical Association.
             Comparando os apreciadores de cerveja com as pessoas que não consomem a bebida, os primeiros têm 30% menos riscos de desenvolver diabetes tipo 2. Tal pesquisa foi publicada no periódico americano Diabetes Care e envolveu mais de 360 mil pessoas.
            Acrescenta, além disso, à lista de benefícios de sua deliciosa gelada: age contra a gripe. Uma pesquisa divulgada no American Jounal of Public Health prova que os consumidores da cerveja são mais resistentes a cinco subtipos do vírus comum da gripe, o H1N1.
            Acreditem: quem bebe cerveja também ganha longevidade. A afirmação é de uma pesquisa feita com cerca de 800 pessoas pela Universidade do Texas (EUA) e publicada no Journal of Studies on Alcohol and Drugs, periódico americano.
            Faz maravilhas para a memória quem toma cerveja. Segundo cientistas da França e da Universidade de Harvard, concluíram que os bebedores moderados apresentam 75% menos risco de desenvolver Alzheimer e 80% menos risco de apresentar outra demência senil.
            Pelo visto, a lógica se inverteu. Mesmo não sendo escolado no assunto, sou levado a concordar com os referidos estudos. A não ser, como diriam os italianos “Se non é vero, è bem trovato” – Se não é verdade, foi bem inventado.


                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                     Advogado e Administrador de Empresas

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Combate à corrupção

       É enfadonho voltar ao mesmo tema, mas se faz necessário em razão dos resultados da eleição, onde os futuros gestores municipais passarão a ter um papel importante no combate à corrupção – praga que contamina todo o tecido social e todas as instâncias da esfera governamental.
            Convenhamos, a corrupção só será vencida com o fortalecimento das instituições públicas. Mais do que reprimir, é imprescindível prevenir. Eu enxergo essa expectativa com otimismo. Exemplo disso são as decisões do nosso STF em relação aos envolvidos (réus) do “mensalão”, que desprezam a boa conduta, num verdadeiro clima de gangsterismo.
            Voltando os olhos para essa realidade, o ministro Celso de Melo classificou a corrupção como “perversão da ética do poder e da ordem jurídica”. O seu (e o meu) há um ponto em comum nesse esquema: o prejuízo ao cidadão, que paga seus impostos e recebe um serviço inadequado. Fato incontroverso, é claro!
            Temos que acabar com essa brincadeira de que vivemos no País da piada pronta, como diz o humorista José Simão. De boas intenções o inferno está cheio. A rigor, pode-se dizer (bem, eu vou dizer) que muito desse estado de coisa deve-se ao modelo eleitoral (e não a justiça) que está rigorosamente falido.
            Li recentemente relato de um prefeito da cidade do interior do Estado de São Paulo, ao ser entrevistado por um jornalista, que buscava saber como ele conseguiu recurso para construir um hospital de “primeiro mundo”, tão festejado e reconhecido por toda a região. Verba do Ministério da Saúde? Patrocínio de um fundo de pensão? Ajuda do Eike Batista?
            Ora, nada disso. O prefeito revelou que, desde que tomara posse, não roubara nem deixara ninguém roubar. Outros prefeitos pagavam de 20% a 30% de comissão aos intermediários. Dessa maneira, fez com que canalizasse esses recursos de volta ao orçamento de que dispunha. Dando, assim, para fazer o famoso hospital e outras coisas mais.
            Sou daqueles que comungam com a opinião do historiador Capistrano de Abreu, que a Constituição Federal deveria conter apenas um artigo: “Todo brasileiro deve ter vergonha na cara”. É um sentimento grotesco, mais valioso, para que possamos virar a mesa... Combatendo os “mequetrefes” (a palavra da moda) da política da máxima cínica do “toma lá dá cá”.
            Aos novos prefeitos, um lembrete audacioso, democracia rima com transparência. E que a Carta Magna é a bússola no caminho do sucesso.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas


 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Irrealismo dos preços de imóvel

       É um sentimento estranho. Contraditório. Confuso. Assim como vejo os anúncios imobiliários nos jornais. Do tipo: Compre imóvel, o melhor negócio. Dinheiro garantido, e outros blábláblás. Nesse ambiente fértil, todo cuidado é pouco antes de optar por essa modalidade de investimento. Estudo conduzido por pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta possibilidade concreta de existência de uma bolha no mercado de imóveis no Brasil, que pode estourar com a possível elevação dos juros.
            É miopia, e dar um tiro no pé quem pensa fora desse contexto. Por outro lado, não falta quem jure de pés juntos que isso é conversa pra boi dormir. Sem se valer de eufemismo e outros contorcionismo verbais do economês, bolhas de preço, tradicionalmente, são infladas pelo crescimento acelerado da oferta do crédito. Atualmente, esse crescimento é registrado no setor habitacional brasileiro, impulsionados pelos programas, incentivos e obras do governo federal.
            Apesar da euforia e do estímulo promovidos pelo governo através do programa “Minha casa, minha vida” e os empreendimentos vinculados à Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e do crédito fácil, os preços dos imóveis têm subido em ritmo muito superior ao da inflação e da renda das famílias. Ou melhor: estão sobejamente irrealista e insustentável.
            Pensando sobre isso, lembrei-me de uma conversa que tive com o meu amigo Cordeiro, sujeito expansivo e gozador, que me falou da sua vasta experiência com corretores. Na hora de comprar o seu último apartamento, todos os argumentos foram a favor.
            -Aproveite. Oportunidade maior não existe.
            -Decida logo, porque existe outro interessado.
            Ocorre que na hora que ele foi vender o mesmo imóvel, o papo foi outro:
            -O mercado caiu muito...
            -Seu imóvel está acima do valor.
            Se não houver um reverteres no futuro, ótimo! Mas é importante que se diga que essa demanda artificial será fatalmente interrompida com a escassez do crédito. Com a economia crescendo tudo é muito bonito e muito fácil. Há que ser mais cartesiano ao sopesar prós e contras da questão. Porém, para exorcizar tal realidade, somente fazendo uso do bom senso e honestidade por aqueles que mercantilizam esses produtos numa sociedade de mercado.
            Exatamente por tudo isso - na compra do imóvel -, não custa nada alertar e evitar para duas situações detestáveis: a ambição e a vaidade.
           

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                     lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                      Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Desatenção à saúde do idoso


            Não é exagero dizer que a saúde dos idosos no Brasil é de doer. E até de morrer. Como não bastasse dizer que cidadãos em geral estão sujeitos a perder a vida em corredores de hospital, inclusive nas da rede privada, imagine pessoas já em idade avançada.
            A sociedade brasileira está assistindo todos os dias na televisão mais uma novela burlesca, do gênero “a saúde vai de mau a pior”. Recentemente um jornal de nossa cidade registrou que para marcar uma consulta médica faz lembrar os “áureos” tempos do antigo INPS. Mesmo quem tem um bom convênio médico pode levar no mínimo dois meses para ser atendido, ao contrário da consulta particular, comumente marcado no horário escolhido por aquele que pode pagar pelo menos R$ 200,00 pelo privilégio.
            Ora, ignorar isso é ridículo, errado, feio, ilógico etc. À vontade, confesso, é bradar com alguns bons palavrões. Todavia, o sofrimento e os riscos são maiores quando se trata de idoso de baixo poder aquisitivo, sem plano de saúde para consultas, exames e eventuais internação. Se o caso for de emergência, é melhor contar com a sorte para não se viver um drama.
            Tal situação (de genética trivial) gera sentimento de enclausuramento, dor, dúvida, angústia e representa o fracasso do bicho humano moderno. Ou melhor: tudo isso nos parece ser uma grande e redundante sacanagem no trato com o ser humano. Nada ver com bondade barata.
Quer sinceridade? Nada disso é novidade. Virou lugar-comum afirmar que a saúde pública “só funciona para quem tem dinheiro”. E pior: até hoje não se viu nenhuma crítica arrebatadora contra essas mazelas, a não ser muita firula e pouca ação.
À questão vem à mente como algo que enoja e que, infelizmente, parece que não mudará tão cedo enquanto aceitarmos jogar tudo para debaixo do tapete. Ah, se eu pudesse, fazia um samba de protesto buarquiano, cujo mote seria o “desleixo da saúde pública no Brasil”.
É verdade. O desafio de superar as deficiências na atenção à saúde do idoso começa pela observância do que já está na lei, coisa que não acontece. É preciso conhecer e fazer cumprir a legislação, que inclui do atendimento preferencial imediato e individualizado até acompanhante nos período de internação e de observação, por tempo integral.
Ademais, para sair dessa sinuca, a melhoria na saúde (como todo) não se restringe apenas alocar mais recursos financeiros, mas também melhorar na eficiência da gestão, da diminuição da corrupção e do cumprimento do modelo SUS.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA
lincoln.consultoria@hotmail.com
Advogado e Administrador de Empresas