domingo, 27 de novembro de 2022

Manipulação digital

 Já escrevi sobre o assunto, um ano e pouco atrás. Se volto ao tema é porque se liga a outro (do qual tratarei agora).

A manipulação digital é bem comum em diversos tipos de trabalho, desde o jornalismo, passando pelas artes, até a publicidade. É notório que a criação do Photoshop foi uma verdadeira evolução no mercado fotográfico. A facilidade com que o programa edita imagens é o motivo de toda a sua popularidade.

Por isso, a mim, que adoro esse tipo de leitura (marketing digital), causa espécie em ver essa prática ser difundida sem nenhum critério e, tampouco, sem medir às consequências dessa atitude.

Uma pergunta se impõe: até que ponto a manipulação é aceitável? Diante de diversos impactos que alterações em imagem podem causar, aonde é que a ética se encontra?

Apesar desse lado ferramental útil do Photoshop, o que não foi possível prever era um lado mais obscuro, em que a manipulação de imagens pudesse causar muitos impactos negativos no mercado e na sociedade.

O problema começa a acontecer quando notícias e fotos manipuladas começam a ser feitas com o intuito de manipular a opinião pública. Algo que deveria indignar, mas parece causar um secreto gozo.

É preciso ter em mente que as Fake News existem com o objetivo de manipular o público, distorcendo fatos e fotos para que pareçam verdade e, dessa forma, destroem reputações e criam força baseadas na mentira.

Ora, quando falamos em publicidade, a discussão se torna um pouco mais polêmica faz parte de uma intenção de vendas e promoção de um produto ou marca, cuja manipulação digital visa persuadir, enganar o consumidor.

Em razão dos impactos que o mau uso da manipulação digital oferece, há um Projeto de Lei em trâmite no Brasil, que obriga a identificação de retoques digitais de modelos em campanhas publicitárias.

Exagero? Acredito que não. Nada de ser panfletário. A ideia é que as campanhas tenham mais transparência e avisem as pessoas consumidoras sobre possíveis manipulações digitais nas fotos publicitárias.

Achei ótimo e tem lógica. Outros países já adotaram medidas como essa, como a França e a Noruega. Em ambos os países as campanhas são obrigadas a colocar um aviso nas fotos que sofreram alterações ou qualquer tipo de manipulação. Obrigando, por exemplo, apresentarem tarja com a frase “silhueta retocada”.

Para terminar, como um modesto “escritor de coisas miúdas”, sempre contestei essa prática (manipulação digital) enganosa e distorcida.

Ih! Isso tem nome, meu chapa. Sacanagem!

LINCOLN CARTAXO DE LIRA

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Xenofobia contra nordestinos

           Advogada que fez declaração de xenofobia contra nordestinos é exonerada da Comissão da Mulher Advogada – OAB de Uberlândia, como também, a Defensoria Pública de MG pede indenização de R$ 100 mil. 

            Eita gente esquisita! Não. Não tenho estômago para isso. É notório que a referida advogada teria explicitamente incitado a discriminação do povo nordestino, a que configura crime pela nossa legislação. 

            Eu, particularmente, repudio de forma veemente as expressões chulas utilizadas que materializam preconceito e discriminação contra o nosso povo nordestino. 

            Por vezes me surpreende que essas coisas estejam acontecendo no Brasil. Execrável por qualquer ângulo que se olhe. Declarações destemperadas, preconceituosas e agressivas. 

            A mesquinhez do seu gesto dá a medida exata de seu caráter. Comportamento reprovável que macula e desgasta nossa classe (advocacia). 

            Foi um espetáculo da vergonha sem vergonha. Contudo, rica em motivos. Perdão! Não posso aceitar isso calado. Não me canso de dizer que tem muita gente decente no Brasil com vontade genuína de contribuir para fazer um país melhor, ao contrário dessa pseudo-advogada.   

            O preconceito contra os nordestinos vem carregado não somente de ódio de classe, mas também do racismo estrutural que tem sua origem da sociedade brasileira. 

            Lamentavelmente, a cada resultado eleitoral, a ignorância e o derrotismo de muitos eleitores servem de combustível para as mais sorrateiras expressões de preconceito e racismo. 

            Já pensou em um Nordeste independente? Elba Ramalho retratou essa cena em uma música chamada “Nordeste Independente”, composta por Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, gravada em 1984. A letra traz o cenário do Nordeste auto suficiente e, muito além disso, mostrou que o Sul e Sudeste precisam dos nordestinos para produções econômicas e culturais. 

            Como diz o poeta Guibson Medeiros, sempre versátil e boa-praça: “Gosto quando alguém me fala oxente, que é coisa que no ouvido dá prazer. Mas eu tenho um recadinho para você que acha é doutor de formatura, eu sou mesmo comedor de rapadura, e até hoje não encontrei esse defeito. Porque todo portador de preconceito fica curado com uma dose de cultura”. 

            É verdade. Essa dose de cultura o nordestino tem: no Enem de 2021, dos dez estudantes que alcançaram nota máxima na prova de redação, sete são nordestinos. 

            No nosso linguajar bem nordestino, eu imploro: Senhor, afasta de nós os infeliz, das costas oca, os papangu, as misera e todos aqueles que nos desejam o mal. 

            De outra forma, sem freios na língua: vá se lascar! 

            Por isso, quanto mais sou nordestino, mais tenho orgulho de ser. 

 

 

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA  


Artífice da beleza

 

            Excelente!  Este é o adjetivo que sintetiza o livro “Não tenha vergonha de ser bonita” do cirurgião plástico, professor e escritor Rolando Zani. Mais do que simples profissão, sua especialização médica tornou-se, para ele, uma missão intrigante, apaixonante e reveladora.

            Diz este artífice da beleza com aguda sinceridade: Beleza é tudo? É lógico que não! Dinheiro é tudo? É lógico que não! Cultura é tudo? Claro que não!  Mas tanto a beleza quanto o dinheiro e a cultura são importantes para a realização pessoal.

            Tá certo! A primeira coisa que certamente algumas pessoas julgam em você é sua aparência, a beleza estética e os cuidados que dedica ao corpo: o modo de se vestir, o asseio, o comportamento, o jeito de se movimentar e de se portar e o perfume, por exemplo.

            Completa, tascando a seguinte frase: “Beleza talvez não seja tudo, mas ajuda bastante em tudo na vida”. Mais um detalhe: quando você cuida carinhosamente dos quatro aspectos da beleza - físico, emocional, intelectual e espiritual -, converte-se numa mulher inteiramente bela, como sempre quis.

            De maneira engenhosa, comenta que as pessoas costumam atribuir certa conotação pecaminosa à beleza e à sensualidade, associando-as à promiscuidade. Criam falsos moralismos e alardeiam aos quatro ventos idéias como “Mulher que cuida bem de si mesma só tem sexo na cabeça”, “A sensualidade e a perdição da mulher”, “A mulher se faz bonita para transar”, e outras coisas do gênero. Nesse clima de preconceito, muitas mulheres abrem mão até mesmo à beleza e a magia da sedução.

            As mulheres, de modo geral, gostam de se comparar a algumas celebridades. O sonho delas é ter o nariz de Nicole Kidman, os seios de Gisele Bündchen, a boca de Julia Roberts. Não são apenas os homens que ficam alucinados com essas obras-primas da natureza. As mulheres também sonham com elas. Mas os motivos são diferentes, é claro. A verdade é que toda comparação sempre resulta em sentimento de inferioridade porque raramente as pessoas se comparam a alguém menos bem-dotado que elas.

            Com sua verve de crítico e ferina pontaria, mostra que muitas pessoas procuram a cirurgia plástica, ou ainda outros recursos para melhorar a aparência, influenciadas pelos meios de comunicação, que enaltecem um modelo perfeito de beleza. Essa, porém, é a motivação errada para o desejo de se tornar mais bela e pode justamente surtir o efeito contrário, fazendo com que a pessoa deprecie o próprio corpo e negue sua beleza individual por se iludir com a fantasia da perfeição.

            Pinço ainda de sua narrativa uma revelação: a beleza física é, muitas vezes, agradável apenas para ser apreciada a certa distância. Algumas pessoas são interessantes para se admirar, mas difíceis para se conviver. São belíssimas, desde que não estejam muito próximas. Exibem uma beleza mais para ser vista do que para ser sentida.  Uma beleza puramente decorativa.

            E, finalmente, manda um recado às mulheres: assuma de vez que você é linda e mostre sua beleza ao mundo.

 

                                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                                                 

           

 

 

 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

A nova realidade do aposentado

Quando eu era criança lá em Cajazeiras, considerava-se velho um homem de 60 anos. Velho só, não. Velhíssimo. Hoje, surgiu uma geração de “novos velhos”. Não estou falando da baboseira de “melhor idade” e do lixo ideológico do politicamente correto, que tenta maquiar a realidade com palavras delicadas.

Acho que gozo de uma inteligência mediana, dói não entender porque ainda existe preconceito com os aposentados aptos a continuar trabalhando. E que se encontram incomodados com essa triste situação.

Como costumo dizer, se eles forem longevos, que sejam positivos, que nos tragam benefícios. Simples assim.

Para muitos, a aposentaria ainda é sinônimo de um momento idílico em que idosos invariavelmente ficam boa parte de seus dias sem trabalhar. No entanto, estudos demográficos comprovam que as pessoas que nasceram na década de 1960 estão ganhando pelo menos mais vinte anos de expectativa de vida.

Além disso, as pessoas que têm 40 ou 50 anos hoje em dia estão longe de estar no caminho para se tornar os “vovôs” e “vovós” de antigamente. Diante desses fatos, a visão que temos da terceira idade e da aposentaria precisa mudar.

Antigamente, a maior parte da humanidade se estuporava fisicamente no trabalho pesado nas fazendas, fábricas e minas. Agora a maior parte do trabalho pesado vai sendo executado por máquinas, com maior produtividade e sacrifício físico infinitamente menor para os seres humanos.

Observe que não são apenas celebridades e estrelas (a exemplo de Roberto Carlos com 81 anos) que se afastaram do estereótipo do envelhecimento. Toda uma geração que hoje tem entre 60 e 80 anos está escolhendo e construindo uma outra perspectiva de estilo de vida. É fato louvável, a ser celebrado.

O importante nesse segundo tempo da vida, que as pessoas estão descobrindo que pode ser o tempo depois dos 60, é procurar se dedicar mais àquilo que dá efetivamente prazer, conciliar isso com oportunidade de ter uma renda extra, de continuar tendo convívio social com colegas que também estão na ativa e de continuar atualizado como ser humano contemporâneo de um tempo em que as mudanças e as inovações são a regra.

Claro, óbvio ululante, que no futuro o trabalho físico será reduzido ao mínimo e que o mais importante será ter experiência, criatividade, ousadia e capacidade de reinventar a si mesmo.

Essa é a sacada, é você (acima de 60 anos) com você mesmo, a autossuperação e entusiasmo.

LINCOLN CARTAXO DE LIR 

Confraria dos boêmios

   Tem neguinho que diz que é o “tampa’ na arte de beber, porque ainda não conhece o Fernandão, eterno presidente da confraria dos boêmios vespertinos, chamada APA - Associação da Passarela do Álcool. Bom.  A sugestão de criar essa entidade deve-se a outro confrade de copo chamado Ricardão, cujo objetivo é estimular e promover a comunhão entre os seus membros que curtem e aprecia a boa bebida, uma boa música, um bom papo. 

            Páreo duro, o Fernandão. Pessoa bem afeiçoada, com característica que lembra o grande ator e diretor do cinema brasileiro Anselmo Duarte. Gosta de se envolver em pesadas carraspanas, apesar das recomendações médicas de que ele deveria passar o resto da vida afastado do álcool. Não faz por menos, uma vez que agora só possui um rim. 

            Seu parceiro e secretário da associação, Pedro 51, também jardineiro que nos dá assistência ao nosso condomínio, rola entre si uma eletricidade e um magnetismo etílico comovente. Tem uma particularidade: embarca o copo de uma vez, tragando o líquido em dois goles. Sob estrepitosa gargalhada, confessa: “Não sei o que será de nós sem um traguinho. Pra falar a verdade, dês que me entendo de gente que eu bebo”.  

            Na véspera de Natal, estávamos todos reunidos, quando dei fé, vinha chegando o nosso presidente arrastando os pés, no seu esforço plástico, elástico, acrobático... para nos dizer que estava apto a permanecer no cargo, pelo fato de que jamais se afastou de suas obrigações “estatutárias” da organização. Para justificar a sua aptidão, engoliu de uma só vez a dolorosa do Conhaque Domecq. 

            Com sutileza de elefantes, o filiado dotô Fofinho olhou em torno, visível ar de contrariedade estampada na face, e por ser médico, deu o conselho: “Meu caro, reconheço que a cachaça tem mais força do que Deus, porque Deus dá juízo e ela tira, porém você não está em boas condições de saúde, razão pela qual te peço, com as vênias de estilo, para que passe o bastão da presidência ao comandante Ruarez”. Com todas as suas pusilanimidades, medindo cada palavra, retruca: “Peraí. Pelo amor do Lá de Cima, não me peça isso!”. 

            Outro dia, num encontro com o companheiro Imperador, ícone glamourizado do fino Scott, foi um afrouxamento risadal (perdão pelo estranho neologismo) quando me perguntou como ia o nosso estonteante presidente. De pronto, respondi: “Zerando a sede com uma braminha”. 

            Permitam-me uma digressão: segundo o filósofo Ruarez “Beber é arte, comer é vício”. Exímio gozador. Um verdadeiro craque em matéria de fazer rir; foi através dessa linguagem leve e descontraída que ele vociferou: “Vinte e quatro horas num dia, 24 cervejas numa caixa. Coincidência?”. 

            O Patrulheiro é a novidade - o tempero, o equilíbrio, a prudência - que faltava ao grupo, quando anuncia: “Beba com moderação. Melhor beber todo dia, do que beber o dia todo”. 

 

PS: texto escrito em 30/5/2010 - Jornal Correio da Paraíba, homenageando os meus amigos de nossa saudosa confraria dos boêmios. 

 

 

                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA