sexta-feira, 25 de março de 2011

Jeitinho brasileiro

          
Talvez o tema não chame muita atenção, pelo fato de ser uma prática comum da paisagem de nossa vida cotidiana. Cuja regra: é a imposição do conveniente sobre o certo. É o tal pragmatismo tupiniquim: se dá certo é certo, sendo que, “dar certo”, equivale a resolver meu problema, ainda que provisoriamente.
Podemos até dizer que é quase impossível viver no Brasil sem ter que frequentemente dar um jeito em alguma coisa. Será que esta realidade realmente não pode ser mudada? Será que ainda é possível dar um jeito no jeitinho?
O jeitinho é sempre uma forma especial de resolver algum problema ou uma situação difícil ou proibida. A solução exija uma forma especial, eficiente e rápida de tratar o problema. Não serve qualquer estratégia. Ela tem de produzir os resultados desejados a curtíssimo prazo...  não importa se a solução encontrada é definitiva ou não, ideal ou provisória, legal ou ilegal.
O nosso divertido “jeitinho” está associado à malandragem, a favorecimento, a corrupção. Comumente o brasileiro reage bem à vida adaptando-se a situações difíceis, “somos o povo mais plástico do mundo...  damos um jeito em tudo”. Diz um adágio que, para o norte-americano, se alguma coisa não funcionar direito, consulta-se as normas. Para o brasileiro, se alguma coisa não funcionar, dá-se um jeito, afinal tem de dar certo de um jeito ou de outro.
O jeito, segundo o professor de teologia Lourenço Stelio Rego, é a síntese do caráter brasileiro e tornou-se uma estratégia que se espalhou pela sociedade e se fixou na vida do povo como alternativa ética diante do sistema de normas estabelecido.
Para alguns, ele é percebido e reconhecido longe de ser algo escuso, embaraçoso. O jeitinho é admitido, louvado e condenado, que gasta mais energia mental do que emocional na busca da solução ou da saída de uma situação opressiva ou indesejável.
No “bê-a-bá” da questão, ele já faz parte do brasileiro e contagiou a brasilidade. Diante do jeito não há sacrário que resista, nem placa “entrada proibida” que não provoque a política do “vai se quebrar o galho pra você”, “a gente se vira”, “vai se dar um jeito”, “não há problema”,  “isso é apenas formalidade”,  “por baixo dos panos”.
Apesar de tudo, o jeito não pode ser visto só pelo lado negativo. Ele pode ser ambivalente, isto é, servir tanto para o bem quanto para o mal. Serve para alguém se livrar da norma, “quebrar o galho”, mas serve também para trazer benefícios numa situação difícil ou inesperada, através da sua inventividade e criatividade.
Quando é para fugir das crises, lá vem o jeitinho – o brasileiro é um perito inventar profissões: guardador de carros, cambista de ingressos, vendedor de lugar na fila, carregador de bolsas na feira-livre, mula para atravessar fronteira.
Mas o lado triste do “jeito ou jeitinho” é quando àquele se acha que a lei não foi feita para ser obedecida.  Seja burlando alguma regra ou norma preestabelecida, seja sob forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Aí é quando ocorre o perigo da união incestuosa entre o jeito e a corrupção.
Logo, para que se dê um “jeito no jeitinho” o país tem que dá um exemplo de “decência”. CHEGA de autoridades (pop star) infratores da lei, de impostos em excesso, hospital gratuito mais parece açougue, aposentadoria até parece piada e escola oficial oferecendo ensino péssimo, quando não está em greve. E MAIS: a pessoa precisa sobreviver, não consegue emprego e não tem condições de legalizar uma firma.  Lamentavelmente, não há saída, a não ser passar por cima da lei e dar vazão ao espírito libertador para sobreviver.



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