quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A força da mudança

            Outro dia eu li por aí, não sei onde, que a vida é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Quem já participou de uma maratona sabe que é preciso preparo, força, determinação e conhecimentos para chegar bem ao final.

            Como não deixaria de ser, há barreiras e tropeços no meio do caminho, como na vida mais longa. Ocorrem, sim, perdas – de status, finanças, saúde, entes queridos.

            O referencial estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), como paradigma do Envelhecimento Ativo, mostra que são vários os determinantes para que se tenha melhor qualidade de vida, como o processo de otimizar as oportunidades para saúde, aprendizagem ao longo da vida, direito a participar integralmente da sociedade e segurança de uma velhice minimamente protegida.

            Uma pessoa nascida no Brasil em 2019 tem expectativa de viver, em média, até os 76,6 anos. Explicando. A vida dos homens passou para 73,1 anos e a das mulheres foi para 80,1 anos, segundo IBGE.

            A qualquer momento de nossa trajetória, há sempre oportunidade de corrigir o que precisa ser corrigido. Sempre admirei aqueles que conseguem mudar seus pensamentos, suas atitudes, seus hábitos e seu comportamento; aqueles que têm coragem de encarar que são seres humanos em formação, obras-primas inacabadas em constante mutação, e que estão abertos ao novo, ao inexplorado, ao futuro.

            Não importa a idade que você tem agora, a qualquer momento a força da mudança estará sempre presente.  O ganho consequentemente virá, quanto mais cedo começarmos, maior ele será. “A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Nós somos aqueles por quem estávamos esperando. Nós somos a mudança que procuramos”, diz Barack Obama, uma das cabeças mais lúcidas e brilhantes do nosso tempo.

            Quando sou questionado como é ser idoso em uma pandemia, rebato de bate-pronto com outra pergunta: é comigo mesmo? Eu não sou um idoso, tenho é juventude acumulada. Alguns dias acordo com 30 anos, em outros com 15. Nunca com a minha idade cronológica.

            Para iniciar um processo de mudança, com vista ao Envelhecimento Ativo, a motivação é importante para desenvolver novos hábitos de forma sustentável. Esse processo nem sempre é curto, tampouco fácil, porém é bastante simples e possível, dependendo única e exclusivamente da nossa disposição.

            Como mudar nossos hábitos se não temos humildade para reconhecer que precisamos fazê-lo? É a humildade que nos permite estar abertos ao novo e sair da zona de conforto.

            Nada de blá-blás de coach, essa é a matemática do idoso, o resto é conversa mole.

 

 

                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                             Advogado e mestre em Administração

 

                  

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O Arnaldo da farmácia

 

             Não é preciso ser nenhum cultor em Administração (pública ou privada) nem deitar num divã de psicanalista para entender o sucesso do farmacêutico Arnaldo, o Arnaldo da farmácia. 

            Ora, Arnaldo construiu seu tão conhecido estilo de farmacêutico, uma carreira de mais de 50 anos, pelo seu conhecimento profundo na área da saúde, pela humildade, pela simpatia, pela amabilidade... Em tempos de desalento, ele é uma fonte de referência inspiradora. 

            Nunca mercadejou sua popularidade para entrar no mundo da política, como muitos fazem por aí. Ele tem humor antenado, seu mister profissional de costume é pautado pela sensibilidade de quem está próximo ao cotidiano das pessoas, principalmente os humildes que não têm qualquer tipo de plano de saúde. 

            Não importa, até um hipocondríaco, chato de galochas, que aparece por lá, ele não perde a calma. Sempre mantendo uma postura de equilíbrio e de confiança. Sai de mansinho, contando lorotas que não ofendem nem agridem. 

            Normalmente fica quieto, concentrado, quando está ouvindo a amargura dos seus pacientes. Depois, como um jogador (centroavante) avançado, e, de repente, surge dando um chute estranho, certeiro (na cura). Pois ele sabe a hora exata do chute para não acertar na trave. 

            Não à toa, quando pego aquela gripe forte, já tenho a receita, descanso um pouco em casa, bebo muitos líquidos e tomo algum analgésico, se necessário. Se a coisa apertar, recorro aos serviços do meu amigo Arnaldo. 

            Recentemente peguei outra vez a danada da gripe, graças a Deus sem os sintomas da temível Covid-19. Apressei-me procurar o nosso Arnaldo para tomar aquela injeção à cura que só ele sabe, como ninguém. 

            Chegando ao seu posto de saúde, anexo a sua farmácia, fiz o sinal da cruz (tem horas que só assim mesmo), arriei as calças e expus as nádegas (derrubadas) para receber a temida injeção. É a idade, fazer o quê? 

            Um parêntese particular. Injeção na minha época de garoto ninguém ficava doente, o medo, já curava. Eita lasqueira... Morria de medo. Achava uma tremenda covardia. 

            Caramba! Fechar os olhos (antes de tomar a injeção) era pior. Parecia que eu estava assistindo um filme de terror, um pesadelo macabro. 

            Voltemos ao posto de saúde. Outro paciente, presente ali, arredio e ressabiado a tal procedimento, olhou de soslaio e exclamou: 

            - Ué, vim tomar injeção, não desse jeito (na bunda). Tá louco, meu! 

            Esse é o ambiente de Arnaldo, cheio de histórias, onde ele dá exemplo da sua competência, força de vontade, coragem, preocupação com todos os que o procuram e pela incansável entrega ao próximo. 

 

 

                                                   LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

                                                   Advogado, Administrador e Escritor 

                                                    

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Boa gestão das cidades

 

            Concluído o processo eleitoral, chegou a hora dos prefeitos cumprirem as suas propostas/promessas de governo com vista à boa gestão das cidades.

            É momento de banir e esquecer os maus gestores públicos. Não adianta o contorcionismo retórico para fazer uma coisa parecer outra. Acho que esses gestores têm que sair daquele “gerúndio”: estamos melhorando, chegando...

            Sou adepto da frase do escritor e pensador Eduardo Galeano: ”Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. Por isso, acredito que podemos ter político (prefeito) com tal espírito de mudança, que seja sério, bem intencionado, que pode fazer uma gestão profícua, voltada para o povo e pelo povo.

            Mando um “recadito” para o prefeito, ora eleito, ter sucesso na sua gestão, é preciso sair da zona de conforto, desenvolver-se, adotar mudanças profundas na cultura do serviço público. Veja algumas delas:

               a) O que se viu na campanha eleitoral foram propostas inovadoras que chamaram a atenção dos eleitores. Na hora de governar, o mais eficiente não é inovar, e sim copiar. Inovar em qualquer atividade é um processo de tentativa e erro, com mais erros que sucessos. Em quatro anos de mandato, um prefeito pode perder muito tempo à procura de uma inovação. Copie e adapte às condições do seu município. Política pública não tem direito de patente.

              b) A função essencial de uma prefeitura é gerá ambiente urbano saudável e eficiente: calçadas sem buracos, prevenção a enchentes, iluminação pública, coleta e destinação do lixo, professores ensinando e alunos aprendendo em escolas limpas e organizadas, postos de saúde abertos e com profissionais e materiais disponíveis, transportes coletivos pontuais e com rotas racionais. Serviços básicos de qualidade aumentam a igualdade de oportunidades, evitam tragédias e atraem empresas e empregos.

             c) Cabe aos municípios registrar as famílias no Cadastro Único de políticas sociais, que é a base para o pagamento do Bolsa Família e de um dezena de outros programas sociais.

            d) Nas últimas décadas, prefeituras têm tentado atrair empresas e empregos por meio de benefícios tributários e subsídios, muitas vezes ilegais. Isso afeta segurança jurídica, cria distorções econômicas e desigualdade.

            e) Para não se afogar em burocracia, digitalize e integre as informações de arrecadação, orçamento, gastos e controle. Quem tem os números nas mãos administra melhor e evita punições.

            f) Municípios são provedores de serviços intensivos em mão de obra. Previdência municipal desequilibrada draga recursos das políticas e precisa ser reformada.

            g) Município quebrado no Brasil é resultado de má gestão, e não de falta de recursos. Gaste mais tempo trabalhando na sua cidade e menos tempo reclamando em Brasília.

            Aos prefeitos, lembrem-se, como fala o meu amigo Cordeiro, sempre com sua cultura filosófica exemplar: “Já conhecemos a problemática. Estamos atrás da ‘solucionática’”.

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                          Advogado, Administrador e Escritor
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

E a caravana passa

 

            Não é nenhum exagero dizer que o PT é um dos partidos que saem derrotados dessas eleições. Pela primeira vez em 35 anos, não comandará nenhuma capital do país.

            Não estou desdenhando, vou explicar. Conforme levantamento feito junto ao TSE, o PT viu o total de prefeituras conquistadas reduzir-se de 254 em 2016 para 183 agora, com o incômodo detalhe de que as eleições municipais anteriores já haviam sido catastróficas para a legenda, que despencara de seu recorde de 630 prefeituras em 2012.

            Tem mais: tanto em quantidade de municípios quanto em população governada, o PT ocupa agora o vexatório 11º lugar no ranking nacional. A referida sigla admite, coisa rara, que sofreu um dos maiores reveses da sua história. Como também, já se questiona a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            É como diria o grande filósofo Ibrahin Sued: “Os cães ladram e a caravana passa”. Ou seja: enquanto alguns esquerdopatas teimosos do PT continuam com a retórica rasteira e de coach pé de chinelo, a caravana das forças de novas agremiações de esquerda vai surgindo, a exemplo de nomes como Guilherme Boulos (Psol) e de Manuela D’Ávila (PCdoB).

            O PT precisa interpretar corretamente os recados dos eleitores. Tem que apresentar lideranças renovadas. Não dá para o partido continuar sendo o salvamento sistemático da biografia de Lula e a defesa de regimes como o venezuelano e o cubano.

            Santa idiotice foi colocar o nome de Lula como opção para atrair votos nessas eleições. Como se viu, o resultado foi um fiasco para o PT. O garoto propaganda não era dos melhores. O povo cansou dos desgovernos e preferiu qualquer outro.

 Ao seu líder resta o ostracismo. Digo isso com uma grande tristeza da alma, mas ele está colhendo o que plantou. Entre tantos percalços, Lula acabou de perder o título de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Alagoas. Conforme o Juiz responsável pela sentença, a honraria não cabe a alguém condenado pela Justiça. Óbvio, perfeita obviedade.

Com todo respeito devido aos seus fieis militantes, o Brasil não precisa mais de Lula. Se cair fora da vida política, não fará falta nenhuma. Ele não inventou a corrupção, mas aperfeiçoou a níveis inimagináveis, fazendo com que não tivesse adversário à altura em praticamente todas as áreas de poder do País.

Parece insano – e é. Persistir com a tese de que Lula ainda é a solução para enfrentar os graves problemas do Brasil.

 

                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                      Advogado, Administrador e Escritor

 

           

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Aprovação dos cassinos

 

       Volto ao referido tema, uma vez que já o tratei no meu artigo “A volta dos cassinos”, publicado em 16/12/2019, no nostálgico Jornal Correio da Paraíba, onde me posicionei a favor dessa atividade, rebatendo àqueles que têm como argumento de que a jogatina leva ao vício, e o vício destrói família, que leva a criminalidade.

            Por mais meritório que se mostre, é desarrazoada a crítica. Cheio de verborragia e de falácia lógica. Tem que se discutir esse tema de forma desapaixonada: sem a retórica desconexa e o raciocínio enviesado.

            Novamente, acho que vale um mergulhinho no assunto. Segundo o senador Irajá Abreu (PSD-TO), dono de um dos projetos que tramitam no Senado: “A expectativa é arrecadar 18 bilhões de reais em novos impostos, que seriam divididos entre estados e municípios, em recursos livres para investimentos”. E acrescenta: “Fora isso, temos a expectativa de arrecadação de 5 bilhões de reais com as concessões, que seriam investidos em habitação popular”.

                Felizmente, a proposta é endossada também pelo ministro da economia, Paulo Guedes, pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o que a torna uma das favoritas a entrar em votação até o fim do ano.

Como todos sabem (ou deveriam saber): dos 193 países-membros da ONU, a grande maioria (146 nações) tem bingos e cassinos legalizados, enquanto o Brasil integra a lista dos países em que há a proibição, sendo 75% deles países islâmicos, prejudicando a tributação e a geração de emprego e renda.

            Esses empreendimentos, como cassinos, não funcionam como atrativo apenas as mesas, baralhos e roletas, mas todo um complexo de entretenimento, como salões de bailes e shows de artistas internacionais, peças teatrais e restaurantes de alta gastronomia. Isso nos remete aos tradicionais e antigos hotéis do Brasil que exploravam os jogos como o Grande Hotel Lambari (MG), o Quitandinha em Petrópolis (RJ), o Ahú, em Curitiba (PR), entre outros.

            De acordo com Gilson Machado, presidente da Embratur, “com os cassinos, vamos triplicar o número de turistas estrangeiros”. Grupos americanos já disseram que, se o Brasil liberar os cassinos, terão mais de US$ 15 bilhões (R$ 63 bilhões) para investir aqui.

            Já o Ministério do Turismo defende a ocupação de cassinos (como âncora econômica) em cerca de 5% dos espaços desses complexos hoteleiros e de lazer. O restante (95%) para as atividades nos resorts, a exemplo do que acontece em outros países.

            Saindo de fininho, digo: vamos acabar com esse marketing calculado e ridículo achar que será o “fim do mundo” caso haja a volta dos cassinos.

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                             Advogado, Administrador e Escritor

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Dr.Enéas: gênio incompreendido

 

            Por mais que a gente não queira afirmar, mas, infelizmente, a desonestidade passou a ser endêmica entre os políticos brasileiros, sem distinção de credo, cor, raça, partido ou marca de cueca.

            Poucos políticos se tornaram tão emblemáticos de novos tempos como o Dr.Enéas Carneiro (1938-2007). Pois, para a imensa maioria dos brasileiros, a sua figura exótica do médico cardiologista – sempre de terno escuros, óculos de aros grossos e a vasta barba negra contrastando com a reluzente calvície – surgiu do nada no dia 15/09/1989, quando começou a campanha eleitoral para Presidente da República.

            A partir de então, sua história de vida começou a ser conhecida a conta-gotas e serviu à construção de um mito no imaginário popular. Nascido no Acre, Dr.Enéas teve infância bastante pobre. Encontrou redenção nos estudos (sempre foi o primeiro da turma, desde o ensino básico) e no Exército, onde se formou na Escola de Sargentos, no Rio de Janeiro, aos 21 anos.

            Com a ajuda de amigos médicos e conhecidos, ele fundou o Partido de Reedificação da Ordem Social – PRONA. Essa agremiação propunha salvar o País dos sufocamentos causados pela velha política.

Dr.Enéas tinha meros quinze segundos no horário eleitoral gratuito. Em sua primeira a aparição na tevê e no rádio, apresentou-se da seguinte forma: “Sou professor de cardiologista,... Nunca fui, não sou e nem serei político profissional. Meu Nome é Enééééas!”.

Um cara que jamais mercadejou suas ideias. E ninguém escapava da sua verve afiada e pontiaguda. O jeito esdrúxulo, o estilo rápido e assertivo de falar, associado ao slogan personalista logo chamaram atenção. Agora, quando recorro ao Google para encontrar algum estudo/comentário que me ajudasse a compreender como se deu essa transformação da imagem de Dr.Enéas, de personagem folclórica a “mito” de uma parcela mais conservadora da população brasileira.

Feito isso. Encontrei, com bastante frequência, declarações do tipo: “Ele foi o melhor presidente que o Brasil não teve”, “O mais sério e capacitado político brasileiro de todos os tempos”, “O incansável defensor da verdade”. Eu diria, então: um gênio incompreendido.

Resumiu certo admirador: “Dr.Enéas foi mais uma vítima do sistema político e da grande mídia que não deram espaço para que expusesse as suas ideias. Em 1989, se houvesse internet, redes sociais etc., com certeza ele seria eleito”.

            Pode notar aí: o lugar de Dr.Enéas já está escrito na nossa história. Seus ensinamentos continuam vivos – e inspiradíssimos.

 

 

                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                Advogado, Administrador e Escritor

           

           

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Nepotismo na política

 

             Estamos sendo conhecidos como o País da cueca, depois de mais um episódio envolvendo agora o senador Chico Rodrigues, pego com dinheiro escondido na cueca (entre as nádegas), provocando a indignação moral de todos.

            Com se não bastasse essa indignação, ele foi substituído automaticamente pelo seu filho Pedro Arthur Rodrigues, como primeiro suplente de senador, enquanto seu pai está preocupado em se defender junto ao Conselho de Ética do Senado. É ou não é um puro deboche?!

            Precisamos pôr o dedo nessa ferida: isso é absolutamente descabido e antidemocrático. O filho não seria eleito se o pai não tivesse sido. Voto não é herança. Isso é monarquia eleitoral.

            Não há escapatória, Brasil não se pode dar ao luxo dessa insensatez. É impossível evoluir numa Reforma Administrativa e Política sem banir a figura do nepotismo.

            Nepotismo é o termo utilizado para designar o favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detrimento de pessoas mais qualificadas especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos, ou indicações políticas com vista de preservar e continuar com interesses de ordem familiar, espécie de feudo político.

            Nestas eleições municipais - por aí, e por aqui -, vimos o patrimonialismo via nepotismo em pleno vapor. Esposas e filhos de candidatos ficha suja vão se autossubstituir. Pais, irmãos, filhos de senadores, deputados federais e estaduais em mandato lançando familiares a vereador. Início da carreira do profissional da política.  

            Já disse noutra oportunidade: a nossa prática tupiniquim tem o péssimo hábito de esbarrar nos ditames da realidade. É o caso da Constituição que faz apenas a ressalva da inelegibilidade reflexa, quando o cônjuge e os parentes dos governantes, para evitar o abuso de poder político, ficam temporariamente impedidos de se candidatarem. De resto, tudo é possível.

            O jeitinho está sempre presente no cotidiano brasileiro. Em matéria eleitoral, vamos encontrar também esse jeitinho na figura do nepotismo cruzado (“você cuida do meu, eu cuido do seu”), burlando assim o mecanismo de controle.

            É uma realidade: as redes sociais são um perigo quando se transforma em vício, quando viram plataforma de desinformação, valorizando o ódio, a luxúria, a discriminação. Contudo, se houver um uso sensato, como atalho para espalhar boas ideias e promoção de causas humanitárias, como também, denunciar a prática vergonhosa do nepotismo, que belo recurso temos em mãos.

            Portanto, sucinto, vou tentar dizer, a meu modo: a cultura do nepotismo se expande em silêncio. Ocupa vazios e sutilezas legais.

 

                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                  Advogado, Administrador e Escritor

               

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Gorda não é palavrão

            Outro dia, estava ouvindo uma conversa num restaurante, na mesa ao lado.

            - Não admito ser chamada de gordinha ou gorda. Tenho consciência dos meus quilinhos a mais. Mas, não aceito que ninguém me trate desse jeito.

            Não possuo aquela verve terapeuta que o caso requer, porém entendo que a “gordofobia” está impregnada em nossa cultura. Mostrando como o machismo e a mídia transformam o corpo feminino em objeto e impõe padrões estéticos artificiais.

            No livro “Gorda não é palavrão”, autoria de Fluvia Lacerda, que retrata a realidade das gordinhas, incentivando as mulheres a deixarem de lado as pressões externas para descobrirem efetivamente qual é o “corpo ideal”.

            Fluvia, em mais de 18 anos de carreira, como modelo plus size (tamanho maior) nos EUA, já foi fotografada em diversas situações e campanhas de moda, mas ainda tem que escutar muita pergunta chata e suportar a perplexidade alheia ao dizer que não pisa na balança e não tem o menor interesse em saber quanto pesa.

            No retorno de viagem ao Brasil pra visitar seus familiares, ela saiu para fazer compras, num dos shoppings em São Paulo. Enquanto estava ao celular, ficou mexendo nas peças dispostas na arara de certa loja. Assim que desligou, ela se dirigiu a uma das vendedoras:

            - Oi! Você tem outras estampas deste modelo aqui?

            A vendedora nem se deu ao trabalho de lhe cumprimentar e disse:

            - Não temos seu manequim nesta loja.

            Imediatamente, a Fluvia desbocada aparece. Respondendo na lata:

            - Acho que você não me ouviu bem. O que perguntei foi se tem outras estampas dessa aqui, não se tem meu tamanho.

            Antes que a vendedora se desse conta da besteira, Fluvia disparou:

            - Eu tenho dinheiro para gastar nesta loja. E não é pouco. Mas vocês perderam a oportunidade de vender porque são preconceituosas.

            Que coisa, hein? Exposição vexatória e deselegante. Não é preciso deitar em nenhum divã de psicanalista para entender a razão dessa cisma com as gordinhas. Não sei bem por quê? Só sei que o corpo perfeito é o corpo que você tem! Sem nenhuma comparação. Sem nenhum parâmetro. Sem nenhum certo ou errado.

            Sem meias palavras, não aceite piadas, não aceite olhares tortos, não aceite julgamentos, não aceite nada que lhe diminua. Se você quiser mudanças em seu corpo, você é livre pra isso, mas faça somente se realmente você deseja, e jamais, porque querem ou te obriguem a fazer essa mudança.

            As gordinhas, meu abraço e meu carinho.

 

 

                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                           Advogado, Administrador e Escritor

                          

 


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Cidade de Pompeia

 

            Minha listinha de destinos que quero conhecer aumenta a cada dia. Quanto mais eu pesquiso e leio sobre o mundo de viagens para mais destinos eu pretendo ir. Simples assim.

            E quando há uma referência de algum lugar que eu já estive, aí meu leitor (a) o contentamento é redobrado. Assim aconteceu quando a revista Veja publicou recentemente uma reportagem sobre a antiga cidade de Pompeia, situada a 22 km de Nápoles, na Itália, onde os cientistas encontraram um cérebro humano transformado em vidro pela erupção do vulcão Vesúvio, o que reforça a tese de destruição instantânea. Não é só: o órgão verificado preservou boa parte dos neurônios da vítima.

            Quando visitei esse lugar, tive a sensação de estar visitando uma cidade que ainda é habitada, já que se conservam a maioria dos edifícios e grande parte da decoração das antigas casas. Particularidade, chamativa e macabra da visita, foi a exposição de figuras (pessoas) que ficaram presas nas cinzas, em cujos rostos ainda podemos ver o pânico que viveram. São feridas profundas de uma triste história.

            Pompeia foi uma cidade do Império Romano, que foi destruída durante uma erupção do Vesúvio no ano 79, provocando uma intensa chuva de cinzas que sepultou completamente a cidade. Ela se manteve oculta por mais de 1600 anos, até ser reencontrada por acaso em 1748.

            Nas áreas arqueológicas de Pompeia, pude conferir que as cinzas e lama protegerem as construções e objetos dos efeitos do tempo, moldando também o corpo das vítimas, o que fez com que fossem encontrados do modo exato como foram atingidos pela erupção.

            Há indícios de que os seus habitantes podem ter sido os primeiros recicladores da história. Os arqueólogos descobriram que grande parte dos muros que protegiam a cidade era feita de pedaços de cerâmica quebrada, telhas descartadas, ossos, madeiras e outros objetos reutilizados.

            Olha, mais uma coisa. Impressionante é o zelo na preservação desse patrimônio histórico e cultural da humanidade. Pois um país sem memória é uma país que nega sua história, que nega a identidade do seu povo.

            No Brasil, infelizmente, nesse quesito, estamos à deriva.        

 

               

                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                              Advogado, Administrador e Escritor

 

 

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Inadimplente contumaz

            Presenciei muitas crises no decorrer da vida. A pandemia de Coronavírus, sem dúvida, foi a mais complicada e grave. Misto terrível de crise da saúde pública e crise econômica causada por um vírus invisível. Mas, com certeza, esta crise não difere das outras: vai ter início, meio e fim.

            No cenário ainda desta pandemia, a inadimplência da taxa condominial virou uma paisagem inconsequente, irrelevante. Como diria o vice-presidente Mourão, atravessou a linha da bola.

            Como é sabido, inadimplente é aquele que falta ao cumprimento de suas obrigações jurídicas no prazo estipulado e, contumaz, é aquele que insiste em não pagar, transformando num costumeiro hábito. Característica comum do condômino que decide em não honrar a sua obrigação da taxa de condomínio, apostando na morosidade do Judiciário, na compreensão de seus pares e na desviada percepção de que suas dificuldades são maiores do que as dos outros. Argumento dissimulado é o que não falta. Tem que evitar que essa gente tosca domine a cena.

            O pertinente tema é tratado por este articulista, através da publicação do seu livro “Boas Práticas de Cobrança”, lançado em 2016, onde aborda técnicas de cobrança contra o inadimplente contumaz, que escolhe não pagar o condomínio, mas que não abre mão do conforto/regalias.

            É o tipo de devedor que vive de aparência, que não tem a humildade e a consciência para morar em comunidade; traz consigo o mal que assola quase todos os condôminos, gerando revolta e indignação nos demais proprietários. Digo mais: o inadimplente contumaz costuma ser figurinha carimbada, conhecido pelo seu egoísmo e cara de pau.

            A verdade é que os síndicos, nos quais eu me incluo, têm levado pito de alguns condôminos, dificultando assim o cumprimento das obrigações orçamentárias.  Deixar de pagar o boleto todo mês é um verdadeiro desrespeito com o próximo, já que mais de 95% da verba arrecadada vai para pagar despesas básicas, tais como salário dos empregados, contas de consumo, manutenção das áreas comuns.

            Ressaltando que o síndico tem que ser aquele administrador que, ao sabor das intempéries, sabe exercer seu múnus com parcimônia, não se colocando na posição de refém, mas sim na de líder.

            Infelizmente, enquanto esse senso de responsabilidade (obrigação de pagar) não acontece, a roda segue a girar e os problemas seguem intensificando-se.

 

 

                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                                     Advogado, Administrador e Escritor


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Ambiente digital

 

Realisticamente, o brasileiro é viciado em internet e um verdadeiro apaixonado por redes sociais. Quer ver uma coisa: somos 150 milhões de internautas, dos quais 140 milhões estão presentes em ao menos uma rede social. Isso equivale a nada mais, nada menos do que dois terços da população total do país (exatos 66%) conectados ao ambiente de rede.

Tem mais: no mundo, essa taxa é de 49%. Nos Estados Unidos, chega a 70%. Cada brasileiro passa em média 9 horas e 17 minutos por dia conectado. Pouco mais de um terço desse tempo (3h31min) é dedicado às redes sociais.

Como já venho escrevendo aqui, home Office, semana de quatro dias, locais de trabalho sem aperto: a pandemia provoca uma revolução na vida profissional e abre novos caminhos para empresas e funcionários.

Nesse cenário pós-pandemia, quem sabe faz a hora, e a hora é agora. Os negócios precisam se reposicionar e requalificar seus valores e propósitos. E os executivos indicam que isso não poderá ser feito sem ampliação dos investimentos no ambiente digital. Quem não fizer esse movimento vai ficar para trás. E rápido.

Todos nós temos consciência que a danada da Covid-19 irá mudar para sempre nossa maneira de viver, trabalhar e consumir. Pesquisam demonstram que o tal vírus quebrou a resistência ou acelerou algumas tendências que já estavam em ascensão, como a transformação digital, o consumo consciente e o home Office e nos traz alguns insights sobre o futuro.

Sem dúvida, saltam aos olhos que essa pandemia levou o maior percentual de trabalhadores da história para o home Office. Enquanto pais trabalham, filhos estudam pela internet, elevando o padrão de tráfego digital a patamares jamais vistos.

Ao que tudo indica, com razões bem calcadas na realidade: muitas instalações e negócios deverão rapidamente remodelar seus leiautes para se adequar à nova proposição de valor e modelos de negócios do novo normal.

As pequenas empresas que historicamente contam com o tráfico de pedestres como sua principal fonte de renda deverá desenvolver fluxos de receita alternativos, como é o caso do ambiente digital, se quiserem manter os consumidos na pós-pandemia.

Eu não trivializo o vírus nem o dramatizo, mas reconheço que depois que essa pandemia passar, enxergaremos o outro com um olhar diferente.

 

                             LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                               Advogado, Administrador e Escritor

 

 

               

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O valor da educação familiar

 

            Este texto é feito para você que concorda com a frase do título. Para quem é um observador cartesiano vai reconhecer que durante o processo de desenvolvimento da criança, é fundamental ainda mais a participação dos pais, em conjunto com a escola, para propiciar aos filhos maior segurança para enfrentar os imprevistos da vida social.

            Não há dúvida que os pais têm muita importância na educação dos filhos, pois são responsáveis por legitimar ou rechaçar conhecimentos e valores adquiridos pelas crianças no processo civilizatório.

            Enquanto puder falar, falarei. Antes de ser inserida no ambiente escolar, a família é o principal canal de socialização e aquisição de conhecimentos para a criança.

            Outro dia viralizou pelas redes sociais e pelos noticiários a foto de um bilhete escrito por Benício Esmanhoto Hoffmann, 7 anos, que bateu com o guidão da bicicleta no carro do psicólogo Marcelo Castilhos Martins, 29 anos, causando um arranhão. Nas palavras simples, com alguns erros de ortografia - comuns à fase de alfabetização -, ele pediu desculpas e deixou o número de telefone do pai para contato.

            Seu pai, o veterinário Marcel Hoffmann, 38 anos, só se deu conta da repercussão do caso quando um vizinho avisou que a postagem havia tomado conta das redes sociais. “Fico contente, mas a gente espera que as coisas boas não precisem viralizar, que sejam cotidianas. Na ‘bolha’ em que eu vivo e convívio, isso é habitual e não contrário”, pontificou, orgulhosamente.

            O psicólogo Marcelo, que teve o carro arranhado, não cobrou pelo reparo, justamente pelo o fato do garoto Benício ter revelado o estrago que nem o dono havia percebido. Assim se manifestou: “Nunca passou pela minha cabeça cobrar, a atitude dele já pagou. Estamos tão acostumados com coisa ruim que, quando vem uma boa, toca mais”.

            Benício, o autor do bilhete, permanece eufórico com a fama instantânea. Para o menino, a lição aprendida em casa se concretizou: o bem que praticou retornou para si.

            Sob a lente de meus óculos, os filhos veem os pais como modelo e tendem a imitar seus comportamentos. Muitas atitudes que eles têm fora de casa – sejam consideradas positivas ou negativas – são reflexos da educação passada pelos pais dentro de casa.

            Uma palavra final para não perder o hábito: é no ambiente familiar que são transmitidos e construídos normas, princípios e valores para a criança.  

 

                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                 Advogado, Administrador e Escritor

           

           

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Pandemia: volta às aulas

 

Eu não sei, você não sabe, ninguém sabe o que nos reserva pós-pandemia. É fato que agora temos menos mortes, menos casos, as curvas exibem a nova realidade da taxa de contágios. Em razão disso, ensaia-se o retorno às aulas presenciais, apesar do receio de pais e profissionais.

Apesar dessa preocupação, mesmo assim, a Prefeitura Municipal de João Pessoa tomou a decisão de divulgar o calendário de flexibilização das aulas presenciais a partir do dia cinco do corrente mês. Faltando apenas três meses para o término do ano letivo.                                                         

 Faço uma postinha com quem quiser: na verdade, as escolas estão ansiosas por garantir rematrículas, e os prefeitos estão de olho nas eleições. Um e outro, com pretensas razões pedagógicas e emocionais, procuram escamotear a questão mais importante - a única questão, em se tratando dessa pandemia de um vírus letal e contra o qual ainda não há vacina -, que é a saúde, a preservação da vida.

Cada vez que escuto ou leio alguma matéria sobre o assunto, fico convencido que não serão políticos, burocratas ou empresários que poderão decidir ou decretar o retorno às escolas em segurança, mas cientistas, especialistas em saúde pública. Até agora não há sequer um epidemiologista respeitável que garante com confiável margem de certeza que o convívio de crianças, jovens e adultos no ambiente escolar não causará uma nova onda de contaminação.

            Nesse embate, lamentavelmente, reside o risco de os apressados utilizarem discurso horroroso, falacioso e fantasioso, sem coesão ou fluidez para dizer que já há condições para retomada das aulas presenciais. Assemelhando-se a um carro aos solavancos, dirigido por um motorista sem habilitação. Um fato é incontestável: ainda não estamos fora de perigo da pandemia. Pois é grave miopia pensar diferente.

            Isento e direto, digo: não bastam termômetros digitais, tapetes sanitários nas portas das escolas, totens de álcool em gel, máscaras trocadas a cada duas horas ou rodízio de alunos. O risco maior reside no contato pessoal entre os colegas e nas aglomerações nos pátios. Tem mais: querem comparar países do Primeiro Mundo com o Brasil? Aqui muitas escolas não têm água nem para lavar as mãos.

            Ainda, se passa ao largo de enfrentar a verdade dos fatos. Isso tem um nome: hipocrisia. Quiçá, um pote até aqui de mágoa. Com responsabilidade, com base em protocolos e medidas de segurança, dá-se um passo atrás para que se deem dezenas de outros à frente.

            Como sou um otimista incorrigível - embora os fatos, muita vez, me desmintam -, creio que todos querem a volta à escola, mas sem açodamento e sem que fatores exógenos induzam a decisão das autoridades governamentais.

            Juízo, nada mais resta a dizer.

 

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                                      Advogado, Administrador e Escritor

               

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A maravilha do riso

 

            Quem não já leu ou escutou essa frase: ri é o melhor remédio para a saúde. Receita perfeita para atenuar o estrago da pandemia do Coronavírus, cujo registro de estabilidade nos números dos casos de infectados e de menos mortes já estão sendo contabilizados. 

            Aos meus olhos, o riso é o um poderoso antídoto para o estresse, a dor e o conflito. Nada funciona de modo mais rápido ou confiável para trazer o corpo e a mente de volta ao equilíbrio do que uma boa risada.  

            Que coisa mágica é essa que pode alegrar seu dia e o dia das pessoas à sua volta sem lhe custa nada? Um sorriso. No trânsito, nas lojas, nas filas, nas salas de espera, por onde você andar, semeie sorriso. E mesmo que não haja retribuição, não se importe: o seu sorriso faz bem a você.

            Conversa puxa conversa, outro dia, deparei-me com a declaração do palhaço e palestrante Marcio Ballas, ao dizer que o riso e a brincadeira são mecanismos que ajudam a ter algum alívio em meio à dureza da vida. A questão é aprender a dar risada de si, em primeiro lugar. Dentro de casa, se você colocou a máscara e percebeu que ela está ao contrário, tenha a liberdade para se divertir com isso.

            Nunca é demais lembrar que na política, o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill (1874-1965) ficou conhecido pela sagaz ironia e os trejeitos típicos do humor inglês. Em reuniões do governo, não raro Churchill ria de si próprio, ou lançava mão de tiradas que desmontavam até os espíritos mais severos.

            Ah... Chorando de rir com as histórias contadas pelo paraibano, político e escritor, Zé Cavalcanti, no seu livro “Casca e nó”, que atualmente estou lendo. Uma série de fatos, fofocas e futricas pra você rachar de rir. Constatando, com isso, que o bom humor leva você para um lugar mais alto, de onde pode ver o mundo de uma perspectiva mais relaxada, positiva, criativa, alegre e equilibrada.

            Um sorriso tem tanto poder. Um sorriso pode mudar um dia, pode aproximar aquela pessoa que está distante e pode abrir portas que antes pareciam fechadas. Um sorriso é a tradução do sentimento de felicidade.

            Fala sério, meu! Ri, são outros quinhentos. Qualquer que seja o riso, sempre será resultado de um momento de alegria!

            Então: simplesmente, entregue-se e ria.

 

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                                Advogado, Administrador e Escritor  

               

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A doce Baby

 

             Ainda estamos comemorando o aniversário da nossa Baby. Exatamente no dia 18/9, sexta-feira, quando completou 12 anos de vida. Através do renomado Jornal Correio da Paraíba, em 5/11/2009, publiquei uma crônica onde lhe faço uma justa homenagem.

             Peço licença aos leitores para republicá-la.

             Depois de um dia estafante de trabalho, chego à casa estressado, exaurido, amarrotado, moído, descabelado e monossilábico, sem outro desejo senão ligar a TV e assistir os noticiários jornalísticos, como forma de esvaziar a cabeça. Isso antes. Agora, depois que ganhei de presente dum fraterno amigo a minha carinhosa Baby (poodle, hoje com dois anos), tornou-se diferente às minhas queixas da vida moderna. Traduzindo, assim, tão bem a máxima “Viver é arte do encontro”, sentenciada por Vinicius de Morais.  

           Tenho certeza que Baby é um cão com alma humana. Tem sentidos apuradíssimos. Juntos, desenvolvemos uma profunda afeição um pelo outro, como também um sentimento de extrema confiança, conhecido exemplarmente como fidelidade canina. Nossa! Ainda teimam, segundo a teoria, que o parente mais próximo do homem é o chimpanzé. Não, mil vezes não! Na verdade o mais próximo é o cachorro. 

            Lembro-me, como se fosse hoje, o dia em que adentrei com Baby no apartamento de um hotel, numa dessas minhas viagens a turismo, como bebê ela se fosse, sem que ninguém aperceber-se. Toda enrolada num lençol, com aquele cuidado especial tão bem ordenado pela minha consorte (Socorro). Foi um deus-nos-acuda quando dirigimos à recepção para fazer o intolerável check-in. De repente ela mexeu uma das patas e seus olhos discretamente fitaram os meus, e eu pressenti que estava me chamando. Aproximando-a, no mais perfeito estilo “hollywoodiano”, coloquei a minha mão sutilmente sobre a sua cabeça, e silenciosa ali permaneceu, como entendesse o instante crucial que ora aprontávamos – misto de ousadia e esperteza. 

           Contei essa historinha, caro leitor, apenas para dizer que sou um chato patológico quando alguém usa de grosseria e falta de carinho para com os animais. Especialmente os cães, que não distinguem se seu dono é um mendigo ou um grande estadista. Eles são programados para servir e distribuir afeto. Pesquisas de comportamento mostram que, mais até do que amigos, esses bichos de estimação são atualmente vistos como filhos ou irmãos em boa parte dos lares que os acolhem. Além disso, são antídoto para o ser urbano que enfrenta crise de referências, notadamente os que são escravo da vaidade e da futilidade.  

           Não sabia?! Já estão treinando e educando os cachorros para o futuro. Ou seja: estão ensinando cachorro a ir à restaurante, à supermercado, à cinema. Logo, logo, cachorro estará viajando de avião. Preferência na primeira classe. Pensando bem, até que não é uma má ideia. Eles merecem! 

            Tem mais: reconheço em Baby, com perdão da transgressão, uma alma compreensiva, sempre disposta a oferecer o ombro amigo e ajudar alguém nos momentos difíceis.   

            Pela sua meiguice e inteligência sinto que há no seu íntimo um grande desejo: nascer humano em sua próxima encarnação. 

                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA 

                                                Advogado e Administrador de Empresas