domingo, 28 de agosto de 2016

Vítimas inocentes da guerra

            Já uma vez escrevi que só há duas coisas infinitas no mundo. A primeira é o universo e a outra é a estupidez humana. A frase não é minha, mas que caiu como uma luva para denunciar àquela imagem televisiva de uma criança, Omram Dagneesh, com cinco anos, coberto de poeira dos escombros da guerra na Síria.
            Ele é mais uma criança vítima do horror da guerra. Fotos e vídeos capturados correram o mundo. Um lado do seu rosto estava encharcado de sangue e sua expressão era confusa e assustada. Cujo olhar, perdido no horizonte, revelava o sentimento de medo, insegurança e incerteza. Uma internauta assim se manifestou: “Meu coração está quebrado”. 
            Triste, muito triste. Não dá para ficar indiferente. Parece-me um sucateamento da esperança. Não há outras palavras além de repulsa, vergonha e espanto para descrever essa situação. As cenas dessa criança foram fortes demais mesmo para um mundo anestesiado por desgraças que chegam sem parar pela internet. Uma situação, parafraseando Chico Buarque, que não tem explicação nem nunca terá.
            Na realidade, numa idade de brincar e de ir pra escola, as crianças que vivem em zonas de conflitos armados vêem sua infância interrompida para conviver com situações inomináveis. Consideradas as maiores vítimas da guerra, seus corpos pequenos e frágeis, quando sobrevivem a tais horrores, levam dentro de si marcas indeléveis, que se prolongam pela vida adulta.
            Tem mais. A perda e separação prolongada de seus familiares podem ser um dos eventos mais traumático da guerra, causando lesões psicossociais, além da perda da identidade para crianças muito pequenas. A guerra da Síria, particularmente, já levou mais de 1,2 milhão de crianças aos campos de refugiados em países vizinhos. Mais de 10 mil morreram, de acordo com dados publicados pela Save the Children.
            Por falar nisso, existe uma dor que o tempo não cura nem apaga. A dor de perder um filho, de não voltar a vê-lo, de não poder nunca mais tocá-lo, de não lhe dar um beijo antes de adormecer, de não poder segurar sua mão, de não mais abraçá-lo e sentir o calor morno de um corpo que nos parece para sempre de criança.
            Nos projetos de vida de um pai e de uma mãe cabe tudo menos a morte de um filho. Não é natural, não faz sentido e, quando acontece, o mundo inteiro desaba. As saudades de um filho que morreu são opressivas, avassaladoras, constantes... É o fim do mundo.
            Só pondo em cada gesto e acrescentando a cada palavra um profundo sentido humanitário, seremos capazes de fazer uma revolução pela paz, a única revolução capaz de unir os povos pelo bem comum.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                        Advogado e mestre em Administração
           

                        

domingo, 21 de agosto de 2016

Teimosia e obstinação

A judoca Rafaela Silva, ao ganhar sua medalha de ouro, alisa-a, aperta, sente seu peso. Em seguida, levanta os braços para o público e os seus olhos enchem de lágrimas. Com certeza, mil lembranças devem ter passado por sua cabeça, em um ziguezague.
Sim, ela venceu. Depois de muitas dificuldades superadas, desde uma infância pobre na cidade de Deus até a sua eliminação injusta na Olimpíada de Londres (2012). O sucesso Olímpico só veio por causa da sua teimosia e obstinação. Como se fosse uma corrida de obstáculos, sendo superado um a um.
Todos nós ficamos sabendo que Rafaela teve muito quilometragem rodado de sacrifícios e de decepções. É como disse o arguto e sábio José Américo: “O que tem que ser tem muita força”. Por isso, a vida não recompensa aos amadores. No máximo, lhes dá uma vida tranquila, e isso nem sempre é uma graça divina.
Acho que vale um mergulhinho no assunto. Há na mente humana habilidades incríveis, verdadeiras pedras preciosas, que podem ser libertadas e lapidadas. Sempre admirei aqueles que conseguem mudar seus pensamentos, suas atitudes, seus hábitos e seu comportamento para atingir seus objetivos. Pessoas que conseguem mudar e realizar seus sonhos são colocadas em pedestal, como se fossem escolhidas. É o caso da judoca Rafaela.
Tem-se convencer do próprio valor, achar-se de mudar de vida e seguir uma carreira.  Está pronta para o que der e vier. Não economize lamúrias. Morre lentamente que não troca de ideias, não troca de discurso, evita as próprias contradições. Ou melhor, morre lentamente que passa os dias se queixando da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo.
Há tempos venho ruminando sobre isso. Mais uma coisa me chama a atenção nesse embate de conquistas, é o fator motivação. Não existem soluções mágicas para problemas complexos. A motivação é fundamental, mas não basta. É apenas um começo, a mudança de hábito em que permite seguir em frente.
Vejam. Pergunta um palestrante: “Quem aqui consegue correr uma prova de cem metros rasos?”. Quase todos levantaram a mão, não importa se o fariam em dez segundos ou em dez minutos. Entretanto, quando ele pergunta: “Quem aqui consegue correr uma maratona de 42 quilômetros?”, quase ninguém se manifestou. A motivação faz alguém correr uma prova de cem metros, mas só com hábito de correr completa uma maratona.
Uma nota final: nunca acreditei no sucesso fácil, na vitória sem luta.


                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                           Advogado e mestre em Administração


domingo, 14 de agosto de 2016

Legado Olímpico

            Fiquei emocionado com a cerimônia de abertura da Olimpíada. Foi de arrepiar, digna de medalha de ouro. Festa que encantou o mundo, com qualidade e extremo bom gosto.
            Independente do belo espetáculo, em oportunidades outras, já abordei aqui que o Brasil não estava preparado para sediar tal evento, assim como, a Copa do Mundo de 2014. Tenho dúvida das boas intenções de Lula quando propôs sediar as Olimpíadas no Brasil, que, por sua vez, nega todas as acusações ao seu modo peculiar de fazer hipérboles: “Não existe ninguém mais honesto do que eu”.
            Ora, quando estive em Barcelona, constatei de perto o legado deixado pelos Jogos Olímpicos de 1992. Instituíram uma marca urbana que até hoje atrai turistas e talentos. Acabaram em definido com a última favela localizada no morro da Carmel, antes tomado pelo tráfico de heroína.
            O evento das Olimpíadas para Barcelona foi uma história de sucesso, fez com que alavancasse o Plano Metropolitano de 1976, que ampliou consideravelmente os espaços públicos. Desenhando assim um novo marco geográfico e econômico para a cidade.
            Já para Rio de Janeiro, que esperamos de legado Olímpico? Bato na madeira três vezes para que eu esteja errado, mas a discussão foca apenas os legados pontuais, como arenas e transportes. São importantes, porém não iluminam o amanhã. Tirando as áreas mencionadas, a cidade continua configurada com uma população envelhecida e muito dependente de aposentadorias, com uma classe de favelados que luta para sobreviver num Estado em frangalhos. Todos expostos de bala perdida. Sem dó e sem piedade.
            Deixando o malabarismo retórico (espécie de “salto triplo de ego carpado”) de lado, não há como deixar de registrar ainda as mazelas expostas pela Cidade Maravilhosa, desde os enormes gastos com as Olimpíadas em uma época de penúria, da poluição da baía de Guanabara, da criminalidade, da violência, da miséria social, da zika, da dengue e da chinkungunya e de muitas outras vergonhas nacionais, que não são exclusivas do Rio.
            Estamos, até hoje, quebrando a cabeça para entender os valores orçados e alguns pagos para construir o complexo da estrutura Olímpica. Como não bastasse o País está em recessão, saúde falindo, insegurança, classe política em descrédito, desemprego elevado e rombo nas contas públicas. Logo não é “complexo de vira-lata” e nem asneira afirmar que o Brasil não estava preparado para organizar um evento de alta envergadura.
 E quando chegar a fatura da Olimpíada para pagar, possivelmente teremos o desplante de ouvir, como dizem os americanos: “Drop dead!” (virem-se).
           

                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                Advogado e mestre em Administração


            

domingo, 7 de agosto de 2016

Democracia carnavalesca

            O Brasil não consegue mais tolerar que seja eleito presidente, prefeitos, senadores, deputados e vereadores recheado de perfis venais e incompetentes. E se existe uma esperança de que o exercício da política tenha a ver com a defesa real do interesse público, as regras precisam mudar.
            Infelizmente, a turminha da democracia carnavalesca continua abusar dos sentimentos populares para ganhar e concentrar poder. Seja à direita, seja à esquerda. O democrata age livremente no domínio da verdade dos fatos, onde a verdade é um dos pilares da democracia e que tem o demagogo como cupim que age contra esse pilar.
            O mundo de sonho da vagabundagem do pseudo-político é chegar ao poder. O caminho mais curto para atingir esse objetivo é usar a boa-fé do eleitor. Torrando o dinheiro do contribuindo na montagem e manutenção de sua corte de propaganda progressista. Nessa esteira, pratica o populismo nacionalista, tendo como cacoete propostas inconsistentes e até estrambólicas. Óbvio, tudo obviedade, filme velho.
            A primeira pergunta do horizonte imediato salta à vista: como reagir? Ficar na mesmice de sempre explicar o inexplicável. Do tipo, o eleitor: “Você é um político safado”; o político: “Safado é você que votou em mim”.
            Para combater esse estado de coisa, precisamos mudar as regras, como falo no início do presente texto. Prova de um modelo que deu errado, que há um fosso entre a sociedade e a política. Situação que leva ao maniqueísmo rasteiro que avilta a discussão da boa política.
            No entanto, até onde vejo, não basta a ficha limpa para barrar os políticos desonestos. É preciso que haja um desestímulo para a carreira do “político profissional” - aquele que faz da política seu único meio de vida, que abandona sua profissão para ocupar cargos eletivos eternamente.
            Para provocar esse desestímulo, que tal adotar o exemplo dos políticos na Suécia em que os vereadores e deputados estaduais não recebem salários, não possuem carros com motoristas e devem usar os seus próprios celulares. E tampouco têm secretárias e uma “penca” de assessores parlamentares.
            Lá o prefeito da Capital anda de ônibus. Primeiro-ministro? Esse circula de metrô ou de bicicleta. Deputados Federais? Moram em apartamentos funcionais de 16 metros a 46 metros quadrados, lavam e passam as suas próprias roupas. O tratamento dispensado não é de “excelência”, mas simplesmente de “você”.
            Por isso temos que sair desse “gerúndio” da política, estamos melhorando, chegando... Acho que ironia e escárnio tem limites.

                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                  Advogado e mestre em Administração