Já uma vez escrevi que só há duas
coisas infinitas no mundo. A primeira é o universo e a outra é a estupidez
humana. A frase não é minha, mas que caiu como uma luva para denunciar àquela
imagem televisiva de uma criança, Omram Dagneesh, com cinco anos, coberto de
poeira dos escombros da guerra na Síria.
Ele é mais uma criança vítima do
horror da guerra. Fotos e vídeos capturados correram o mundo. Um lado do seu
rosto estava encharcado de sangue e sua expressão era confusa e assustada. Cujo
olhar, perdido no horizonte, revelava o sentimento de medo, insegurança e
incerteza. Uma internauta assim se manifestou: “Meu coração está
quebrado”.
Triste, muito triste. Não dá para
ficar indiferente. Parece-me um sucateamento da esperança. Não há outras
palavras além de repulsa, vergonha e espanto para descrever essa situação. As
cenas dessa criança foram fortes demais mesmo para um mundo anestesiado por
desgraças que chegam sem parar pela internet. Uma situação, parafraseando Chico
Buarque, que não tem explicação nem nunca terá.
Na realidade, numa idade de brincar
e de ir pra escola, as crianças que vivem em zonas de conflitos armados vêem
sua infância interrompida para conviver com situações inomináveis. Consideradas
as maiores vítimas da guerra, seus corpos pequenos e frágeis, quando sobrevivem
a tais horrores, levam dentro de si marcas indeléveis, que se prolongam pela
vida adulta.
Tem mais. A perda e separação
prolongada de seus familiares podem ser um dos eventos mais traumático da
guerra, causando lesões psicossociais, além da perda da identidade para
crianças muito pequenas. A guerra da Síria, particularmente, já levou mais de
1,2 milhão de crianças aos campos de refugiados em países vizinhos. Mais de 10
mil morreram, de acordo com dados publicados pela Save the Children.
Por falar nisso, existe uma dor que
o tempo não cura nem apaga. A dor de perder um filho, de não voltar a vê-lo, de
não poder nunca mais tocá-lo, de não lhe dar um beijo antes de adormecer, de
não poder segurar sua mão, de não mais abraçá-lo e sentir o calor morno de um
corpo que nos parece para sempre de criança.
Nos projetos de vida de um pai e de
uma mãe cabe tudo menos a morte de um filho. Não é natural, não faz sentido e,
quando acontece, o mundo inteiro desaba. As saudades de um filho que morreu são
opressivas, avassaladoras, constantes... É o fim do mundo.
Só pondo em cada gesto e
acrescentando a cada palavra um profundo sentido humanitário, seremos capazes
de fazer uma revolução pela paz, a única revolução capaz de unir os povos pelo
bem comum.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração