Pandemias,
assim como guerras, geram horror, medo e incerteza. É com esse sentimento que o
pequeno lojista de shopping está vivendo seu momento mais agudo, uma verdadeira
bomba-relógio prestes a estourar a qualquer instante.
Curioso observar que a debilidade
financeira dessas empresas é progressiva à medida que aumenta o tempo de
duração da pandemia.
Vejam que situação. Um empreendedor
alugou uma loja num determinado shopping center, fez reforma no início de 2020,
adquiriu estoque, abriu as portas em fevereiro seguinte, com expectativa de
sucesso, e em março foi obrigado a paralisar tudo.
Esse drama tem sido vivenciado não
só com as pequenas empresas de shopping, como também, outras da nossa atividade
econômica. O saldo foi penoso (duro prejuízo) em decorrência do fechamento por
conta da pandemia. Haja sofrência para tamanho prejuízo. Só há uma meta para o
ano que se inicia: sobreviver ao vírus e à crise econômica.
A crise sanitária está longe do fim, e a economia ainda se mostra
frágil. Pela pesquisa do Datafolha, 69% dos que receberam o auxílio não
encontraram fonte de renda capaz de substituí-lo.
Lamentavelmente, durante a pandemia,
nada menos que 1,3 milhão de empresas fecharam as portas no Brasil, sendo que
46% delas encerraram suas operações de vez – as demais ainda têm esperança de
reabrir à frente, em algum momento. Das que pararam de funcionar em razão do
coronavírus, 99% são de pequeno porte, segundo o IBGE.
O fechamento de tais empresas, além
de gerar desemprego, tem efeito direto na arrecadação dos impostos, é o caso,
por exemplo, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) que sofreu uma queda
de 9,7%, que cobre 39% das receitas de cidades com até 20.000 habitantes.
Voltando aos lojistas de shopping
center, a coisa é vexatória, gerando uma tensão extra pelo fato de as
administradoras estarem irredutíveis em flexibilizar os custos no delicado
início de ano. O pessoal pouco está se lixando, faz cara de paisagem ou até de
festinha.
As administradoras estão querendo
cobrar 23,14%, como base no IGPM, a correção do contrato de locação, muito
acima da inflação oficial e das vendas. Sem falar que já foi pago o 13º aluguel
das lojas em dezembro. Algo insuportável em um período de queda de faturamento,
restrições de horários e de público, bem como da imposição de um novo normal que
ninguém sabe direito como será.
É bom lembrar que são as pequenas
lojas (82%), em sua maioria, e não as âncoras (grandes magazines e megalojas),
que estão sofrendo mais os efeitos da lenta retomada das vendas. Isso porque as
âncoras sempre tiveram condições contratuais favoráveis. Restam-lhes a
indignação e o grito de protesto.
Dito isso, acendo um alerta: é
melhor negociar com esses lojistas, ou preferir vislumbrar futuros tapumes em
vez de belas vitrines.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, administrador e escritor