sábado, 25 de junho de 2016

Lição de solidariedade

            Olha, se alguém opta por fazer escolhas com discernimento - escolhas alinhadas à sua missão, aos seus valores, à sua essência -, esse alguém estará sendo cada vez mais maduro em todas as suas atitudes.
            Minha crença é quem age assim está convicto de suas atitudes e não aceita nenhuma outra que o distancie de seu propósito de se sentir plenamente realizado. Esse jeito particular de enxergar o mundo, me fez lembrar o juiz mineiro Luiz Guilherme Marques que rejeitou receber o reajuste do Judiciário por impactar nos gastos públicos em bilhões.
            Quando foi perguntado a esse magistrado o motivo de não aceitar o reajuste, ele assim se manifestou:
            - Meu pai foi juiz e morreu aos 44 anos. Deixou minha mãe, sem pensão, com cinco filhos. Perdemos o conforto e corremos atrás para sobreviver. Isso me faz pensar no povo carente que pagará o preço do reajuste (nos aposentados, nos pensionistas e nos professores estaduais que vão receber o salário em parcelas, como já acontece). Quando vi a aprovação na Câmara de reajuste para funcionários públicos, pensei: “Estou fora”. Pedir para ganhar menos é um direito meu.
            Decepcionado, o referido juiz fez uma carta para o presidente do Tribunal de Justiça recusando o reajuste, porém o seu pedido foi indeferido. Como se não bastasse, seus pares reagiram o chamando de vaidoso e até de vigarista. Isso demonstra cabalmente a falta de conhecimento do que seja o sentimento de solidariedade – respeito pela dignidade humana.
            No mundo capitalista em que vivemos, onde o dinheiro é fonte de tudo, somos o tempo todo seduzido para nos aproximarmos do lado material que o dinheiro traz e nos distanciarmos do que é essencial. Mas basta que você pense um minuto para ver o absurdo dessa ideia. Pois, como disse certo monge, o sentido da vida é viver em harmonia com si mesmo e com o mundo à sua volta, conseguir ter isso como objetivo e estar bem consigo, independente de onde esteja e em que situação.
            E isso fica claro: o dinheiro muitas vezes é apenas um mecanismo que as pessoas encontram para mascarar suas fragilidades e seu distanciamento da própria essência. É evidente que se você acha que só o dinheiro vai lhe fazer feliz, mas nunca o consegue na quantidade que pretende, corre o risco de se sentir infeliz a vida inteira.
            Não acredito em um mundo perfeito, mas acredito em um mundo melhor. Um mundo em que as pessoas sejam solidárias como é o caso do juiz Luiz Guilherme.
           
                                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                                Advogado e mestre em Administração


                                               


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Tensão em Brasília

            Brasília, a cidade que não dorme mais. Como dormir? Se quase todos os dias são registrados relatos de falcatruas para tudo que é lado. Mais espantosa é a incomum vivacidade criminosa dos envolvidos nessas tramas escabrosas. E até invejo. Inveja da interpretação cirúrgica feita para essa situação lastimável: a única certeza é a incerteza.
            Os políticos, agora, passaram a fechar cortina dos gabinetes, a esconder celulares e tirar o paletó contra grampos. O medo de gravação e monitoramento de atividades também mudou o conteúdo das conversas dos políticos. E contar segredos, nem pensar.
            Como história é memória, aí então, vem àquela conversa de um eleitor de São João Del Rey que procurou Tancredo Neves aflito:
            - Tancredo, vou contar um segredo ao senhor. Mas é só para o senhor.
            - Não conte, não, meu filho. Se você, que é o dono do segredo, não é capaz de guardá-lo, imagine eu.
            Pois é. Na cidade de Brasília as autoridades de todas as esferas de poder, Executivo, Legislativo e Judiciário, estão em estado de permanente tensão. A julgar pelo padrão de delações junto à Lava Jato, a situação tende a piorar.
            A cada etapa da Lava Jato, estica o olhar não só para o mar de lama em que se transformou o cenário político brasileiro, mas também as explicações estapafúrdias apresentadas por quem é pego com a mão na massa, ou seja, com a voz na gravação. Como, por exemplo, bravatas, diálogo descontextualizado e até com justificativa de quem foi atingido por certa patologia, do tipo “miolo mole”. Haja cinismo. Haja descaramento.
            Analistas da praça, diante das deleções que estão vindos a público, já se discutem a possibilidade de fim de governo Temer, com apreensão. Isso em razão da falta de alternativas imediatas. Ora, as delações da Odebrecht e OAS, se homologadas, deixarão um cenário de terra arrasada comparável ao de uma bomba atômica. No caso particular de Marcelo Odebrecht, se ele contar tudo que sabe, os grampos de Sérgio Machado serão historinhas de ninar face às revelações bombásticas.
            Estamos carecas de saber que essas figuras carimbadas da política não são capazes de fazer uma autocrítica verdadeira, purificar-se da lama em que se meteu e voltar ao palco do debate de ideias. Confesso: eles perderem de vez o pudor de ser picaretas.
            Enfatizo: enquanto o povo brasileiro não aprender a votar e continuar elegendo figuras patéticas e desonestas como nossos representantes, só nos resta confiar na Justiça e que Brasília passe a dormir em paz.


                                                            LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                            lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                             Advogado e mestre em Administração

           
           
           

            

domingo, 12 de junho de 2016

Visita de Obama à Hiroshima

            Recentemente o presidente dos EUA, Barack Obama, visitou a cidade japonesa de Horoshima, onde o seu país lançou a primeira bomba nuclear do mundo. A importância desse acontecimento deve-se ao fato de ser a primeira de um presidente americano em exercício ao local.
            O argumento de sua visita não foi para pedir desculpas pelo ataque nuclear, mas para honrar todos os mortos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A bomba demolidora, que pôs fim a guerra, foi rápida e eficiente como um detergente, uma mata-baratas.
            Alguns historiadores afirmam que a destruição de Hiroshima foi “desnecessária” militarmente. O Japão estava de joelhos, querendo preservar apenas o imperador Hirohito e a monarquia. Uma das razões reais era que o presidente e os falcões da época queriam também testar o brinquedo novo. Truman fala dele como um garoto: “Uau! É o mais fantástico aparelho de destruição jamais inventado!... No teste, fez uma torre de aço de 60 metros virá um sorvete quente!...”. Só uma palavra descreve essa atitude: hipocrisia.
            Ademais, os americanos tinham de se vingar de Pearl Harbour, de surpresa, exatamente como o ataque japonês três anos antes.  Queriam também intimidar a União Soviética, pois começava a Guerra Fria, além, é claro, de exibir para o mundo um show “maravilhoso” de potência – a nova era do império. Lembrando: quem arriscou a própria vida, quem ficou ferido, não apenas fisicamente, mas também na mente e na alma, pelos horrores da guerra, não ficou nada satisfeito com os resultados.
            Tenho aprendido ao longo dos anos que existem muitos caminhos possíveis e muitos atalhos prováveis para mudar o mundo para melhor, mas não através da guerra. Notadamente, agora, que se fala como nunca da paz no mundo, do perdão e da concórdia entre religiões, vale a pena investir neste norte e perceber de que forma podemos contribuir para esta causa mundial da paz entre os homens.
            Só pondo em cada gesto e acrescentando a cada palavra um profundo sentimento de amor, seremos capazes de fazer uma revolução pela paz, a única revolução que faz sentido nos dias de hoje. Remoer coisas do passado, deixar-se prender por mágoas ou ressentimentos, definitivamente, não é a melhor maneira de viver, de existir.
            Já uma vez escrevi que a princípio a guerra pode trazer a sensação de que alguém se deu bem, e outro não, depois vem à surpresa de ver que todo mundo se ferrou.

                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                           lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                              Advogado e mestre em Administração


            

domingo, 5 de junho de 2016

A Lava Jato veio pra ficar

            Após ler tantas reportagens, não consegui me conter, e volto ao tema que está em voga em qualquer roda de conversa. Acho uma perda de tempo imaginar que alguém possa barrar as operações da Lava Jato. Quem pensa assim dará com os burros n’água. Simplesmente porque ela passou a representar o patrimônio jurídico e moral do povo brasileiro.
            A corrupção, razão da Lava Jato, é uma praga inútil que insiste em assolar o País, cujo ambiente de promiscuidade entre público e privado tornou-se terreno fértil para essa mazela que, a mim, me ofende como cidadão e me deixa cada vez mais estarrecido, como tenho dito.
            Digo mais: essa trupe (figuras carimbadas) é apontada como erva daninha que corrói valores, agride o bom-senso e nega a cidadania, que se autoproclamava o dono da ética, lambuzou-se de lama. Urge, portanto, a presença da Lava Jato para combater esse estado de coisa, que não fique pedra sobre pedra, doa a quem doer.
            Ufa, ainda há esperança. A lava Jato é a esperança. É o caminho a trilhar, com coerência, transparência e respeito às leis, sem desvios ou concessões. Veja o tamanho do seu desafio: livrar o Brasil de uma das maiores metástases dessa doença chamada corrupção. Que todos sejam severamente punidos, banidos da vida pública e confiscados os seus bens.
            Mais espantoso ainda, diante das investigações, segundo uma metáfora política, o presidente interino Michel Temer está numa situação, digamos, maligna por está preso sem remissão nas malhas de uma rede de malfeitores e chantagistas. Há, pois, razões de sobra para que o povo brasileiro apóie a Lava Jato, investigando e condenando os corruptos. Pensar diferente, é não gostar do Brasil. É o mesmo que acabar com o Bolsa Família, privatizar a Petrobras , e por aí vai.
            Afinal de contas, o fato de deputados irem a julgamento por seus malfeitos, empreiteiros corruptos irem para a cadeia e ex-presidentes serem investigados mostra que a democracia brasileira pode estar a caminho da maturidade.
            A operação da Lava Jato, sob o comando inarredável do juiz Sérgio Moro, tem servido de poderoso detergente, levantando o véu da promiscuidade entre o público e o privado. Asseverando que o dinheiro público não tem dono. O proprietário desse dinheiro é o contribuinte, que trabalha, paga seus impostos e espera o retorno em serviços de qualidade.
            A Lava Jato veio pra ficar. Só assim mudaremos o Brasil de hoje.

                                            
                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                   Advogado e mestre em Administração