Olha, se alguém opta por fazer
escolhas com discernimento - escolhas alinhadas à sua missão, aos seus valores,
à sua essência -, esse alguém estará sendo cada vez mais maduro em todas as
suas atitudes.
Minha crença é quem age assim está
convicto de suas atitudes e não aceita nenhuma outra que o distancie de seu
propósito de se sentir plenamente realizado. Esse jeito particular de enxergar
o mundo, me fez lembrar o juiz mineiro Luiz Guilherme Marques que rejeitou
receber o reajuste do Judiciário por impactar nos gastos públicos em bilhões.
Quando foi perguntado a esse
magistrado o motivo de não aceitar o reajuste, ele assim se manifestou:
- Meu pai foi juiz e morreu aos 44
anos. Deixou minha mãe, sem pensão, com cinco filhos. Perdemos o conforto e
corremos atrás para sobreviver. Isso me faz pensar no povo carente que pagará o
preço do reajuste (nos aposentados, nos pensionistas e nos professores
estaduais que vão receber o salário em parcelas, como já acontece). Quando vi a
aprovação na Câmara de reajuste para funcionários públicos, pensei: “Estou
fora”. Pedir para ganhar menos é um direito meu.
Decepcionado, o referido juiz fez
uma carta para o presidente do Tribunal de Justiça recusando o reajuste, porém
o seu pedido foi indeferido. Como se não bastasse, seus pares reagiram o
chamando de vaidoso e até de vigarista. Isso demonstra cabalmente a falta de conhecimento
do que seja o sentimento de solidariedade – respeito pela dignidade humana.
No mundo capitalista em que vivemos,
onde o dinheiro é fonte de tudo, somos o tempo todo seduzido para nos aproximarmos
do lado material que o dinheiro traz e nos distanciarmos do que é essencial.
Mas basta que você pense um minuto para ver o absurdo dessa ideia. Pois, como
disse certo monge, o sentido da vida é viver em harmonia com si mesmo e com o
mundo à sua volta, conseguir ter isso como objetivo e estar bem consigo,
independente de onde esteja e em que situação.
E isso fica claro: o dinheiro muitas
vezes é apenas um mecanismo que as pessoas encontram para mascarar suas
fragilidades e seu distanciamento da própria essência. É evidente que se você acha
que só o dinheiro vai lhe fazer feliz, mas nunca o consegue na quantidade que
pretende, corre o risco de se sentir infeliz a vida inteira.
Não acredito em um mundo perfeito,
mas acredito em um mundo melhor. Um mundo em que as pessoas sejam solidárias como
é o caso do juiz Luiz Guilherme.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração