Por
mais que a gente não queira afirmar, mas, infelizmente, a desonestidade passou
a ser endêmica entre os políticos brasileiros, sem distinção de credo, cor,
raça, partido ou marca de cueca.
Poucos políticos se tornaram tão
emblemáticos de novos tempos como o Dr.Enéas Carneiro (1938-2007). Pois, para a
imensa maioria dos brasileiros, a sua figura exótica do médico cardiologista –
sempre de terno escuros, óculos de aros grossos e a vasta barba negra
contrastando com a reluzente calvície – surgiu do nada no dia 15/09/1989,
quando começou a campanha eleitoral para Presidente da República.
A partir de então, sua história de
vida começou a ser conhecida a conta-gotas e serviu à construção de um mito no
imaginário popular. Nascido no Acre, Dr.Enéas teve infância bastante pobre.
Encontrou redenção nos estudos (sempre foi o primeiro da turma, desde o ensino
básico) e no Exército, onde se formou na Escola de Sargentos, no Rio de
Janeiro, aos 21 anos.
Com a ajuda de amigos médicos e
conhecidos, ele fundou o Partido de Reedificação da Ordem Social – PRONA. Essa
agremiação propunha salvar o País dos sufocamentos causados pela velha
política.
Dr.Enéas tinha meros quinze segundos no
horário eleitoral gratuito. Em sua primeira a aparição na tevê e no rádio,
apresentou-se da seguinte forma: “Sou professor de cardiologista,... Nunca fui,
não sou e nem serei político profissional. Meu Nome é Enééééas!”.
Um cara que jamais mercadejou suas
ideias. E ninguém escapava da sua verve afiada e pontiaguda. O jeito esdrúxulo,
o estilo rápido e assertivo de falar, associado ao slogan personalista logo
chamaram atenção. Agora, quando recorro ao Google para encontrar algum
estudo/comentário que me ajudasse a compreender como se deu essa transformação
da imagem de Dr.Enéas, de personagem folclórica a “mito” de uma parcela mais
conservadora da população brasileira.
Feito isso. Encontrei, com bastante
frequência, declarações do tipo: “Ele foi o melhor presidente que o Brasil não teve”,
“O mais sério e capacitado político brasileiro de todos os tempos”, “O
incansável defensor da verdade”. Eu diria, então: um gênio incompreendido.
Resumiu certo admirador: “Dr.Enéas foi
mais uma vítima do sistema político e da grande mídia que não deram espaço para
que expusesse as suas ideias. Em 1989, se houvesse internet, redes sociais
etc., com certeza ele seria eleito”.
Pode notar aí: o lugar de Dr.Enéas
já está escrito na nossa história. Seus ensinamentos continuam vivos – e
inspiradíssimos.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado, Administrador e Escritor