sábado, 20 de maio de 2023

Xenofobia contra nordestinos

 

            Advogada que fez declaração de xenofobia contra nordestinos é exonerada da Comissão da Mulher Advogada – OAB de Uberlândia, como também, a Defensoria Pública de MG pede indenização de R$ 100 mil.

            Eita gente esquisita! Não. Não tenho estômago para isso. É notório que a referida advogada teria explicitamente incitado a discriminação do povo nordestino, a que configura crime pela nossa legislação.

            Eu, particularmente, repudio de forma veemente as expressões chulas utilizadas que materializam preconceito e discriminação contra o nosso povo nordestino.

            Por vezes me surpreende que essas coisas estejam acontecendo no Brasil. Execrável por qualquer ângulo que se olhe. Declaração destemperadas, preconceituosas e agressivas.

            A mesquinhez do seu gesto dá a medida exata de seu caráter. Comportamento reprovável que macula e desgasta nossa classe (advocacia).

            Foi um espetáculo da vergonha sem vergonha. Contudo, rica em motivos. Perdão! Não posso aceitar isso calado. Não me canso de dizer que tem muita gente decente no Brasil com vontade genuína de contribuir para fazer um país melhor, ao contrário dessa pseudo-advogada.  

            O preconceito contra os nordestinos vem carregado não somente de ódio de classe, mas também do racismo estrutural que tem sua origem da sociedade brasileira.

            Lamentavelmente, a cada resultado eleitoral, a ignorância e o derrotismo de muitos eleitores servem de combustível para as mais sorrateiras expressões de preconceito e racismo.

            Já pensou em um Nordeste independente? Elba Ramalho retratou essa cena em uma música chamada “Nordeste Independente”, composta por Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, gravada em 1984. A letra traz o cenário do Nordeste auto suficiente e, muito além disso, mostrou que o Sul e Sudeste precisam dos nordestinos para produções econômicas e culturais.

            Como diz o poeta Guibson Medeiros, sempre versátil e boa-praça: “Gosto quando alguém me fala oxente, que é coisa que no ouvido dá prazer. Mas eu tenho um recadinho para você que acha é doutor de formatura, eu sou mesmo comedor de rapadura, e até hoje não encontrei esse defeito. Porque todo portador de preconceito fica curado com uma dose de cultura”.

            É verdade. Essa dose de cultura o nordestino tem: no Enem de 2021, dos dez estudantes que alcançaram nota máxima na prova de redação, sete são nordestinos.

            No nosso linguajar bem nordestino, eu imploro: Senhor, afasta de nós os infeliz, das costas oca, os papangu, as misera e todos aqueles que nos desejam o mal.

            De outra forma, sem freios na língua: vá se lascar!

            Por isso, quanto mais sou nordestino, mais tenho orgulho de ser.

 

 

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA

Manipulação digital

 

             Já escrevi sobre o assunto, um ano e pouco atrás. Se volto ao tema é porque se liga a outro (do qual tratarei agora).

            A manipulação digital é bem comum em diversos tipos de trabalho, desde o jornalismo, passando pelas artes, até a publicidade. É notório que a criação do Photoshop foi uma verdadeira evolução no mercado fotográfico. A facilidade com que o programa edita imagens é o motivo de toda a sua popularidade.

            Por isso, a mim, que adoro esse tipo de leitura (marketing digital), causa espécie ver essa prática ser difundida sem nenhum critério e, tampouco, as consequências dessa atitude.

            Uma pergunta se impõe: até que ponto a manipulação é aceitável? Diante de diversos impactos que alterações em imagem podem causar, aonde é que a ética se encontra?

            Apesar desse lado ferramental útil do Photoshop, o que não foi possível prever era um lado mais obscuro, em que a manipulação de imagens pudesse causar muitos impactos negativos no mercado e na sociedade.

            O problema começa a acontecer quando notícias e fotos manipuladas começam a ser feitos com o intuito de manipular a opinião pública. Algo que deveria indignar, mas parece causar um secreto gozo.

            É preciso ter em mente que as Fake News existem com o objetivo de manipular o público, distorcendo fatos e fotos para que pareçam verdade e, dessa forma, destroem reputações e criam força baseadas na mentira.

            Ora, quando falamos em publicidade, a discussão se torna um pouco mais polêmica faz parte de uma intenção de vendas e promoção de um produto ou marca, cuja manipulação digital visa persuadir, enganar o consumidor.

            Em razão dos impactos que o mau uso da manipulação digital oferece, há um Projeto de Lei em trâmite no Brasil, que obriga a identificação de retoques digitais de modelos em campanhas publicitárias.

            Exagero? Acredito que não. Nada de ser panfletário. A ideia é que as campanhas tenham mais transparências e avisem as pessoas consumidoras sobre possíveis manipulações digitais nas fotos publicitárias.

            Achei ótimo e tem lógica. Outros países já adotaram medidas como essa, como a França e a Noruega. Em ambos países as campanhas são obrigadas a colocar um aviso nas fotos que sofreram alterações ou qualquer tipo de manipulação. Obrigando, por exemplo, apresentarem tarja com a frase “silhueta retocada”.

            Para terminar, como um modesto “escritor de coisas miúdas”, sempre contestei essa prática (manipulação digital) enganosa e distorcida.

            Ih! Isso tem nome, meu chapa. Sacanagem!

 

 

                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA

           

O racismo enfrentado pelos empregados

 

            Lamentavelmente volto ao tema, tratado por este articulista noutros artigos aqui publicados.

            Em razão da alta dosagem de desigualdade social, o racismo tornou-se um campo fértil para exposição vexatória e degradante. É o caso do racismo enfrentado por empregados que já levou pelo menos 22.511 ações à Justiça do Trabalho em todo o Brasil, desde 2014.

            A fonte desse levantamento é da empresa de jurimetria Datalawyer, onde aponta para um crescimento, ano a ano, no volume de processos trabalhistas que citam, em suas petições iniciais, termos com racismo, injúria racial, discriminação racial ou preconceito racial.

            Na Justiça do Trabalho, o pedido feito por quem foi alvo de racismo é a indenização por dano moral. Ao todo, essas indenizações já movimentaram R$ 4,34 bilhões.

            Para Justiça do Trabalho, além de ataques diretos à honra do trabalhador, como em xingamentos e constrangimentos, o racismo pode aparecer na falta de diversidade. Em 2020, uma rede de laboratórios foi condenada a indenizar em R$ 10 mil uma funcionária por deixar de contemplar, em seu guia de treinamento, pessoas negras.

            O citado manual definia padrões para roupas, maquiagens e cabelos. Não consideravam, porém, pele preta e cabelo crespo. A trabalhadora contou que pediu para manter seu black power solto, como faziam colegas que tinham cabelos curtos, mas teve o pedido negado.

            Como se vê, infelizmente, existe esse preconceito arraigado em nossa sociedade, apesar de todo rigor da legislação contra manifestação vergonhosa de racismos.

            Certa feita, minha empregada me confessou que estava com uma dor, seu pai e seu irmão a levaram para o hospital público, foi examinada pela enfermaria da triagem que nem lhe examinou e disse que era cólica e deu a classificação como baixo risco.

            Ao ser levada para outro hospital, onde foi atendida por uma médica negra que, por sua vez, lhe deu toda atenção. A situação era tão grave (infecção na vesícula) que passou por cirurgia no mesmo dia.

            A conclusão que ela chegou, confirmando o que disse a sua mãe, que os hospitais públicos não atendem bem as pessoas da comunidade, mesmo que estiver morrendo, têm que estar arrumada minimamente.

            Confesso que tenho dificuldades para compreender tamanho absurdo.

            É o que falo: é preciso reagir. Isso colide o que vai ao âmago de ser humano: a humilhação.

 

                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA

           

           

Lojas Americanas

 

            Escrever este texto, neste momento específico, mobiliza um repertório de sensações e percepções de impunidade sobre o caso das Lojas Americanas.

            Quando se diz que “o Brasil não é um país sério”, frase atribuída a Charles de Gaulle, tem lá suas razões.

            Não é complexo de “vira-lata”, descrito por Nelson Rodrigues. Pois, até agora, os sócios majoritários (Jorge P.Lemann, Carlos Sucupira e Marcell Telles) dessa varejista continuam impunes, com uma defesa esdrúxula. Nada mais irreal e falacioso. Chega a ser hilário. Constrangimento? Nenhum.

Como alguém me surrasse-se: “É conversa para embalar idiotas”.

            Pelo que sei, tais sócios ainda não estão respondendo por nenhum processo cível e/ou criminal decorrente dessa inusitada fraude contábil. Péssimo exemplo!

            Não, mil vezes não, podemos continuar dando as costas para esse estado de coisas. Ou nos colocando naquela situação deplorável, eu lavo as mãos tal-qualmente Pilates.

            O que se viu foi um desastre (rombo de 40 bilhões) que colocou em xeque a credibilidade de todo um espectro de empresas e investimentos, lançando desconfiança sobre as demais companhias dos citados sócios.

            A origem dos problemas (financeiros) das Lojas Americanas é antigo, mas estava mascarado por meio de auxílios pontuais, como as linhas de créditos especiais disponibilizadas durante a pandemia.

            É preciso dizer que o rombo de 40 bilhões de reais é muito para uma empresa com patrimônio líquido de 14,7 bilhões de reais, que tinha um valor de mercado de 10,8 bilhões de reais um resultado líquido anual de 3 bilhões de reais, valor insuficiente até para pagar os juros do valor devido.

            Não podia ser diferente, acesso o estopim, a bomba explodiu. As ações da empresa despencaram 80%, pulverizando 9,6 bilhões de reais de seu valor, em uma semana.

            Não estou dizendo nada de novo. Uma vez que o Carlos Sicupira (um dos sócios) numa palestra energizadora para papeleiros, disse: “O Brasil não será Estados Unidos. Porque o Brasil é o país do coitadinho, do direito sem obrigação e é o país da impunidade. Isso é cultura. Não vai mudar”.

            Já falei noutra oportunidade, nesta coluna, que o Brasil está doente, muito doente. É uma doença degenerativa de natureza moral que afeta a inteligência, mas sua metástase se espalha até o mais longínquo órgão saudável e o contamina.

            Pra fechar, o grito de justiça, nesse caso como em outros, é quase inaudível; confunde-se com a paisagem sonora da vergonha institucional.

 

                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA

 

           

Programas assistencialistas

 

            Roberto Campos, escritor e ensaísta, escreveu, durante anos, artigos sobre economia. Destacando-se como grande polemista, através de sua língua ferina.

            Considero-o como intelectual do pensamento econômico. Deixando-nos vários livros publicados sobre política econômica. Sendo ainda ocupante da Academia Brasileira de letras, em 1999.

            Dizia sempre que o mercado é a grande solução para a pobreza, Em vez do governo procura adotar medidas assistencialistas, deveria sim focar no mercado.

            Discordo de quem acha a opinião de Roberto “imoral” e o condena à fogueira da inquisição.

            Aprendi, desde muito cedo, ainda nos bancos da universidade, que o funcionamento do mercado tem como objetivo a maximização da livre iniciativa econômica e o atendimento das necessidades da população, sobretudo na geração de emprego e renda.

            Explico-me: o Programa Bolsa Família, apesar de beneficiar famílias em condições sub-humanas, tem como desvantagens o fato de que, ao longo do tempo, criar uma dependência da população carente aos repasses governamentais, não procurando preparar adequadamente os beneficiários ao mercado de trabalho.

            Há críticas, com razão, em relação a eficiência da gestão desse benefício e a sua estigmatização, devido à falta de treinamento e de capacidade administrativa do governo e dos seus funcionários.

            Gilberto Dimenstein, em seu livro “O Cidadão de Papel”, diz que o cidadão brasileiro desfruta de uma cidadania aparente que ele denomina de cidadão de papel. A verdadeira democracia implica na conquista e na efetividade dos direitos sociais, políticos e civis. Se assim não se constituir, a cidadania permanece imóvel no papel.

            Não podemos ser míopes nem tapar o sol com a peneira em não reconhecer a necessidade de implementação de ações concretas de gestão de trabalho e renda, em vez de só projetos assistencialistas. Pode? Claro que sim e a gente sabe o porquê.

            É plausível acreditar e reafirmar a necessidade de viver do trabalho, exercendo através dele, o exercício da cidadania, interferindo na sociedade de maneira produtiva.

            Entendo ainda que o grande risco dos programas assistencialistas do governo é não promover a inserção do indivíduo na sociedade, criando cada vez mais a subserviência. Prometendo mundos e fundos. Confesso: fico ruborizado só em falar nisso.

            Ou seja: quando a pessoa não cresce, não se promove, ela vai ficando mais pobre.

 

                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA

           

A volta do crediário

 

            O número de consumidores que utilizam o crediário no Brasil tem crescido consideravelmente, na comparação com os anos anteriores. O valor médio da compra utilizando essa forma de pagamento também tem aumentado.

            O tradicional carnê de pagamento tem sido a forma preferida de pagamento por quem não pode comprar à vista e prefere não usar cartão de crédito ou cheque para parcelar.  A verdade é que essa modalidade ganhou força recentemente por causa da recessão. Driblando, com isso, o aperto existente no orçamento do consumidor.

            O carnê do crediário, quem diria, voltou ao mercado. Só que agora com nova roupagem e totalmente digital, oferecendo mais uma oportunidade de meio de pagamento para os consumidores e uma forma de o varejo incrementar suas vendas.

            O nome dessa modalidade é chamado de “Buy Now Pay Later” ou BNLP, o que, numa tradução livre para o português, significa “Compre Agora e Pague Depois”. Se o Bank of America estiver certo, o mercado de soluções “Buy Now Pay Later” pode crescer de 10 a 15 vezes até 2025, processando entre U$ 650 bilhões a U$ 1 trilhão em transações.

            Todavia, alguns varejistas ainda receiam em adotar o crediário tradicional próprio por medo de não receber e acabar ficando no prejuízo. Ora, se bem gerenciado pode funcionar como uma excelente estratégia para o controle da inadimplência. Além de uma boa ferramenta de análise de crédito, deve-se consultar aos órgãos de proteção ao crédito antes da abertura do crediário. Detalhe: o cliente e o crédito são seus e não do banco ou da administradora de cartões. E que o cliente estará sempre visitando suas lojas para futuras compras.

            Tenho um amigo, Cordeiro, que me falou que não usa mais o cartão de crédito e tampouco o cheque, pois tem a vaidade de dizer que é PhD na modalidade de pagamento pelo crediário. “Pô, só de bater o olho numa placa avisando que tem crediário, eu já entro na loja. Sempre fui fiel ao fiado”. Comenta-o, com seu bigodinho hitlerista, eriçando ainda mais as sobrancelhas.

            Lembro-me bem de uma regra que era repetida à exaustão, quando trabalhava como Autorizador de Crédito na CICLO-Cia.Brasileira de Serviços Fiduciários, no início da década de 70: “Vender mais para quem pode pagar mais e vender menos para quem pode pagar menos”. Isso ficou cravado até no meu inconsciente, de tão realista que é.

            Trocando em miúdos, se você é lojista, pode aproveitar esta tendência para investir no crediário como uma alternativa para atrair novos compradores, fidelizar clientes e aumentar a lucratividade com as vendas a prazo.

 

 

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                         

                                            

Foro privilegiado

 

A partir de agora, presos provisórios com curso superior serão encaminhados para celas comuns e não mais para locais distintos dos demais, foi o que decidiu o STF, recentemente.

Mas não basta! Espera-se, também, que o STF acabe com o instituto do foro privilegiado, que tem dado guarida a figurões de nossa República, em crimes com tanta impressão digital.

Nesse tocante, o novo entendimento do STF é que o foro por prerrogativa de função se aplica apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhos.

  Ora, ora... Se todos nós temos que ser julgados com igualdade perante a lei, porquê, temos esse foro privilegiado?

De fato. O Brasil é considerado por especialistas como o país com mais autoridades resguardadas pelo foro especial no mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, nem o presidente tem direito a esse benefício, a essa regalia esdrúxula.

É espantoso. Boa parte das pessoas que conheço, incluindo a mim mesmo, acha uma aberração tal prerrogativa que fere frontalmente o princípio republicano da igualdade, segundo o qual a lei deve ser aplicada da mesma maneira a todas as pessoas, independentemente da posição social.

            Ouvi essa discussão não uma, nem duas, mais várias vezes. Ninguém pode pretender estar acima da lei na democracia. Ninguém pode querer ser intocável. É antiético, imoral, injusto. Na Espanha, na Suíça, na Holanda e nos Estados Unidos, para ficarmos em alguns poucos exemplos, não existe foro privilegiado.

            Então que me pergunto: como é que pessoas inteligentes e bem informadas têm o arrojo de ignorar essa realidade? É bom lembrar que o foro privilegiado subverte princípios processuais fundamentais e a própria organização do sistema de Justiça. Tribunais são estruturas concebidas para reapreciar causas, e não para colher provas e instruir processos. Isso leva, certamente, à morosidade, com consequências descabidas da prescrição, coroando o amargo sabor da impunidade.

 É uma lástima! Ah, faça-me um favor! Não dá para engolir essa presepada. E que tem produzido a consequência nefasta no Brasil de gerar impunida. Falo sério!

            Não se admite, eticamente, que os ministros do STF e o procurador Geral da República, indicados pelo presidente da República e aprovado pelo Senado, venham no futuro se deparar na situação de julgadores de quem foi responsável pelas suas nomeações. Por mais que o acusador e os julgadores contem com garantias constitucionais para sua independência. Mesmo assim, há um grande risco de vinculação política, ideológica e sentimento de gratidão para com aqueles que contribuíram nas suas nomeações.

            É isso. Que mais posso concluir daí senão dizer que o foro privilegiado é um menosprezo ao cidadão, e tampouco pode ser abrigo para indigência moral, indigência ética.

            Voltarei em breve para confabular sobre esse assunto.

 

 

                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                    

                                                    

 

 

 

Programa de Admissão

 

                        

       Ainda tenho guardado, e muito bem guardado, na minha estante o livro “Programa de Admissão”, que era a fonte para o exame que o aluno se submetia para passar do ensino primário ao ginásio acadêmico.

            É verdade. Praticamente era um pequeno vestibular.

            Tal exame foi instituído por decreto em 1931, que perdurou oficialmente até 1971. Era bastante temido e provocava muita instabilidade e nervosismo, tanto para nós (alunos), como também para os nossos pais.

            Acho que eu tinha entre 12 a 13 anos quando estudei para esse exame, durante um ano, no Colégio Monsenhor Constantino Vieira, sob a direção de Padre Vicente (conhecido apenas assim, sem sobrenome), reverendo sisudo, totalmente careca, abria a boca sem mostrar os dentes. Com sua batina preta surrada, quase arrastando pelo chão, baforando, de vez em quando, seu charuto cubano (legítimo) ao velho estilo do cineasta Alfredo Hitchcock.

 Era absurdamente brabo. Um tsunami de ignorância. Pense no medo que todos nós tínhamos de sua presença. Como não bastasse toda obrigação de praxe dos estudos, tínhamos ainda que ir para missa, fazer penitência, confessionário, hóstia e mais: buscava ele, incansavelmente, nos transformar em verdadeiros santos do que um profissional bem-sucedido de amanhã.

            Voltando ao assunto. O livro abrangia às disciplinas de português, matemática, geografia e história do Brasil. Ministrada por professores especializados nas referidas matérias.

            Como já disse, o exame de admissão constituiu por décadas a linha divisória entre o ensino primário e a escola secundária, um novo espaço de luta para o estudante. Quando passei neste exame e ingressei no tão sonhado ensino ginasial, comecei a captar três regras da vida: sonhar, acreditar e realizar. Como alguém me sussurrasse: aqui está a base para arrumar e cimentar o seu futuro, como cidadão e como profissional. Não foi fácil, contudo.

            E nada de esperar que o sonho se realize por mágica. Pois mágica é ilusão. E ilusão não tira ninguém do lugar onde está. Ilusão é combustível de perdedores. Como bem ressalva o escritor e palestrante Roberto Shinyashiki.

            É preciso dizer: claro, àqueles que se destacavam como bons alunos durante o primário, como costumamos dizer no linguajar popular, tiravam de letra no exame de admissão.

            Pra fechar, essas lembranças cintilam, hoje, num momento de carência de nossa educação (ensino).

 

 

                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA

Trabalho após aposentaria

 

                          

                Fico feliz em saber que o governo britânico quer que aposentados acima de 50 anos voltem a trabalhar. É isso mesmo. A medida inclui incentivos fiscais e programas de treinamento e foi destaque no plano orçamentário divulgado recentemente. Não é caridade, é matemática.

            Acreditam, as autoridades britânicas, que esses profissionais produtivos e talentosos fazem falta no mercado de trabalho e vão ajudar a reerguer a economia do Reino Unido.

            Ademais, o isolamento social e a falta de planejamento financeiro são alguns dos principais fatores de risco para a depressão após a aposentadoria. O problema é cada vez mais comum e só tende a aumentar.

Um estudo, feito pelo Institute of Economis Affairs (IEA), comprova os riscos de deixar de trabalhar para a saúde mental. Constatando-se que a aposentadoria pode levar em 40% as chances de desenvolver a depressão, caso não haja uma preparação para esta etapa da vida: mudando alguns hábitos e atitudes.

Pessoas acima de 50 anos podem ser bem avaliadas por recrutadores, principalmente, por ter maturidade, responsabilidade, experiência e estabilidade.  

Lembrando, sem tirar nem pôr, que a vida só é dura para quem é mole. Digo mais: a vida é um eterno aprendizado e você não pode se fechar para isso. E a continuação do trabalho é uma boa alternativa.

Como sempre digo e repetido: hoje em dia, não só quem tem mais de cinquenta, mas profissionais de todas as idades, devem mudar a cabeça para um olhar não só de procurar emprego, mas de criar suas próprias oportunidades, como autônomo.

O Brasil está em fase de transição demográfica com a população envelhecendo. Esse cenário, aliado à crise econômica, faz com que a faixa dos 50 anos queira retornar ao mercado de trabalho como forma de complementar a renda da família.

Outro aspecto relevante foi o aumento da expectativa de vida, de forma que hoje a grande maioria da população chega na idade da aposentadoria com saúde e disposição, e ainda consegue usufruir dessa etapa da vida.

Dito de outra forma: a antiga imagem do aposentado como um sujeito velho, acabado e doente, perto da morte, não se sustenta mais. Isso é coisa do passado.

A aposentadoria via Seguridade Social não mais representa necessariamente o desligamento da esfera do trabalho, pois como as pessoas estão vivendo mais tempo e com saúde há maiores chances de que não queiram sair do mundo produtivo por não conseguirem se desvincular do trabalho.

Por isso, faço figa e oração, se preciso, para continuar trabalhando. Para mim, é muito mais que uma fonte de renda, é uma realização pessoal. Independentemente da idade.

 

 

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA