O brasileiro mesmo sendo atropelado
pela jamanta da realidade. Ainda zonzo para ver o número da placa. Mesmo assim,
não perde a oportunidade de ser um gozador, um debochado. Não importa as
circunstâncias, o brasileiro está sempre pronto para sacar uma piada. Ele tem o
“timing” exato, aliás.
O título deste artigo traduz bem o
que estou falando - como no caso recente do Fla-Flu na votação do impeachment.
Apesar da população se encontrar atônita, perplexa e desesperançada num país à
deriva e à espera que algo aconteça, pouco importa.
Vi de tudo na sessão da Câmara que
autorizou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff. Não só o deboche criativo de “Tchau querida” disparado por vários
parlamentares, como também, mensagens despropositadas de gratidão por estarem
participando daquele momento grandioso, do tipo: Pela nação evangélica. Pelos
maçons do Brasil. Pelo meu neto Gabriel. Pela minha esposa Mariana. Em homenagem
ao meu pai... e por aí vai.
Esse comportamento passa ser corrente
para se conseguir transitar no cotidiano da vida de quase todo brasileiro. O
jeito gozador do brasileiro é a síntese do seu caráter e se tornou uma
estratégia que se espalhou pela sociedade. No deboche da crise atual, as redes
sociais e nos shows de humor têm sempre presença marcante, principalmente na
imitação burlesca dos protagonistas do país do pixuleco, fome, falta de
instrução, infra estrutura precária, impostos astronômicos e queda no
crescimento.
Seria difícil algum de nós ou mesmo
um estrangeiro que vive nesta terra não fazer parte do tal jeito debochado. E a
melhor maneira de estudá-lo é vivenciar o mundo da rua, das amizades, dos
negócios. Basta dialogar com o povo para se obter dados riquíssimos sobre esse
fenômeno jocoso.
Alguns sociólogos pátrios apontam a
gozação, o deboche e a malandragem como um modo profundamente original e
brasileiro de se viver. E mais: democratizou, abrasileirou, miscigenou como
ninguém esse poderoso meio de comunicação.
Interessante: e, quanto maior a
crise, mas as pessoas buscam o consolo (ou a desforra) no riso. Para os
criadores da sátira política é um prato cheio. Nada escapa ao humor, que vai da
crítica à polarização ideológica.
Como diz o humorista: O povo
brasileiro tem espírito de porco. Por pior que esteja a situação, ele faz
piada.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração