domingo, 30 de agosto de 2015

Eny e seu bordel

            Sempre reservo tempo para minha paixão pelos livros. Atualmente, acabei de ler a deliciosa obra literária chamada “Eny e o Grande Bordel Brasileiro” (Editora Planeta, 2015, 424 págs.), de Lucius de Mello, onde ele retrata a história real de uma das maiores cortesãs de nosso País, Eny Cezarino.
            Contrariando o desejo de seus pais, que a criaram para ser uma respeitada dama e se casar bem - como se dizia antigamente -, a paulistana Eny tornou-se a proprietária de um dos mais famosos bordéis do Brasil, que teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. Conhecida ainda como grande benfeitora dos pobres e das crianças abandonadas.
            Eny era bela, charmosa e elegante. Tendo no “Fleurs de Recaille” seu perfume predileto. No seu negócio, era uma gestora que sabia ver e vê bem, em todos os sentidos. Era caprichosa na decoração do seu estabelecimento. Do veludo do sofá estilo Luiz XV, que decorava o salão do seu luxuoso bordel, às cortinas compridas que zelavam pela discrição e pela intimidade do célebre tempo do prazer.
            Madame Eny, como também era chamada, tinha os homens todos a beijar-lhe as mãos. Taças de vinho, champanhe, copos de uísque e conhaque rodavam o salão equilibrados nas mãos firmes dos garçons. À meia-luz, os flertes se multiplicavam e as prostitutas, sob seu comando, faturavam alto ao incitar as fantasias sexuais masculinas.    
            Entre frequentadores do lugar figuraram artistas do porte de Vinicius de Morais, o notório poeta e diplomata da Bossa Nova, assim como, do cantor Sérgio Reis que se apresentou para uma plateia sem roupa à beira da piscina do “Eny’s Bar”, imortalizado no letreiro em neon que brilhava todas as noites para atrair a clientela à “Corte de amor”.
            Até o ex-presidente Jânio Quadros que se encantou a entrar no bordel de Eny: “Isso aqui é um palácio. Não sabia que em Bauru existiam áreas palacianas. O que meus inimigos vão dizer se me virem aqui, que me embriaguei? Que me apaixonei?”.
            Cada dia mais doente e endividada, como não bastasse, ela sabia que seria impossível vencer a guerra contra os motéis. Falava que a liberação dos costumes arrasou o seu negócio. Com olhos marejados, asseverava: “A minha casa está fechando, o tempo dos grandes bordéis, como o meu, terminou”.


                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                  Advogado e mestre em Administração

            

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O futuro da agremiação Petista

            Atual crise político-econômica é daquele cenário surreal, nesta vida surreal, neste País surreal. Tem mais: a mediocridade faz sua festa.
            Ora direis (bradando como o cantor Belchior), governos, todos eles, têm prazo de validade. A nação é perene. Por essa leitura, longe de mim a pecha de futurólogo, mostra que o prazo de validade do PT está correndo o sério risco de se exaurir, ou melhor, está atrelado ao bom desempenho da presidente Dilma no restante do seu mandato.
            Por outro lado, é bom registrar, que a culpa dessa dificuldade governamental não se deve apenas a Dilma, mas sim, a Lula que facilitou o acesso do povo a bens pessoais, e não a bens sociais – o contrário do que fez a Europa no começo do século 20, que primeiro deu acesso à educação, moradia, transporte e saúde, para então as pessoas chegarem aos bens pessoais.
            A que ponto chegamos: você vai a uma favela e as pessoas têm TV a cores, fogão, geladeira, microondas, celular, computador e até um carrinho todo aprumado, mas estão morando na favela, não têm saneamento, educação de qualidade. É um governo que fez a inclusão econômica na base do consumismo e não fez inclusão política. Nada mais equivocado. Deu errado, claro.
            É preciso curva-se às evidências de que o cenário é de pesadelo. Está aí o alto índice de inadimplência apontado pelo mercado. A promessa desenfreada de consumo - um “programa que engana mais que sutiã com enchimento” - tem gerado uma cultura egocêntrica. Vejam: as famílias começam a definir o seu perfil social pelos bens materiais que ela adquire. Logo aparece alguém disputando o tamanho da casa com o vizinho, um carro que ele comprou ou as luzes que ele coloca na frente da casa na época de natal etc e tal.
            Em meio à confusão, a militância Petista hoje se divide em duas: por um lado, temos aqueles que têm consciência crítica e sabem que o partido cometeu erros graves. Por outro lado, temos uma militância tosca, despossuída de consciência e de qualificação política, que justifica os erros e até mesmo a corrupção sem nenhum senso crítico.
            Para encurtar a conversa, concordo com o cientista político Aldo Fornazieri ao afirmar que o PT ou o “lulismo”, como queiram, está “caducado, mas não esgotado”.

                              
                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                    Advogado e mestre em Administração

domingo, 16 de agosto de 2015

Porta do céu e do inferno

            Existe uma história da tradição Zen que conta que um guerreiro samurai foi ver o mestre Hakuin e perguntou:
            -O inferno existe? E o céu? Onde estão as portas que levam a um e a outro?
            -Quem é você? - perguntou Hakuin.
             Sou um samurai - respondeu o guerreiro -, um chefe de samurais.
            Hakuin sorriu e respondeu:
            -Samurai? Você parece em mendigo.
Com orgulho ferido, o samurai desembainhou sua espada. Estava a ponto de matar Hakuin quando este lhe disse:
            -Esta é a porta do inferno.
            Imediatamente, o samurai entendeu. Ao guardar a espada na bainha, Hakuin disse:
            -E esta é a porta do céu.
            Num processo de livre pensar, atual crise econômica e política que passa o Brasil tem tudo haver com a presente história, uma vez que precisamos ter equilíbrio na tomada de decisões, recuperar o ânimo, encontrar o caminho certo para a felicidade do povo brasileiro.
            À luz disso, a porta do inferno, no Brasil de hoje, é sem dúvida o movimento de oportunistas com objetivo de incitar o ódio no coração dos brasileiros, com consequências imprevisíveis. Lembrando que Dilma Rousseff  foi eleita democraticamente pela maioria da população e não deveria ser apeada do cargo sem motivos claros e legais. Este é o espectro que mais assombra.
            Já a porta do céu, é a capacidade de desprendimento que deve reunir a todos – agentes públicos e privados, organizações da sociedade civil e o povo – com vista ao amor pelo o Brasil, onde estará presente o espírito de concórdia, a tendência para a negociação, a redutibilidade dos antagonismos e o nacionalismo.
            Esse é o caminho. Só assim será possível superar os nossos problemas, por mais desesperadora que pareça a situação – crise.


                                                      LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                          Advogado e mestre em Administração

            

domingo, 9 de agosto de 2015

Sem eira nem beira

            Com os últimos acontecimentos, a economia que vinha mal, piorou. Tempos difíceis, bem difíceis. Resultado: alto do dólar, juros mais alto, empresas fechando ou retraídas, aumento de desemprego, inadimplência elevada, conquistas sociais em risco. É, sim, um cenário de muitas perdas. O Brasil parou, literalmente.
            Tomada ao pé da letra, a dose da atual política econômica não seria de morfina, como a que está sendo dada agora. Com mais credibilidade do governo, com certeza se criaria um ciclo virtuoso de investimento e mobilização dos setores produtivos. O remédio seria menos amargo.
            O cenário é turvo. Tenho medo de enfrentar os fantasmas do aumento descontrolado da inflação, da insolvência fiscal e da instabilidade que julgamos parte do passado. Não faço coro com aqueles que apostam no malfadado “Quanto pior, melhor”, na esperança de que o agravamento da crise apresse o fim da administração petista. A quem interessa, contudo, uma nação quebrada? Só o cretinismo deseja isso.
            Porém, salta aos olhos o desajuste entre o discurso oficial e a realidade. Vejam só: com um País mergulhado em desconfiança e descrédito, desapareceram os investimentos e perdemos nossa dinâmica econômica, migrando para um quadro de profundo marasmo e letargia.
            Outro ponto: Se a economia não estivesse tão no chão por causa de um governo sem munição, a presidente Dilma estaria bem na foto e não teria virado presa fácil de infiéis aliados. Subserviente como está, fica complicado ela reunir condições de negociação com o Congresso as medidas necessárias e urgentes que o País precisa para superar uma crise política e econômica de profundidade ainda não de toda conhecida.
            Pelo andar da carruagem - com esse modelo econômico aproveitador, espoliador, desrespeitador, pouco condizente com nossas realidades e necessidades - dificilmente podemos celebrar algo de positivo, a não ser sentar no primeiro meio-fio e chorar. 
            Saindo de fininho, digo: o brasileiro está entregue à própria sorte: sem eira nem beira.


                                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                    lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                       Advogado e mestre em Administração  

                

domingo, 2 de agosto de 2015

Fascínio pela leitura

       Cada escritor tem a sua maneira de expressar o fascínio pela leitura. Alguns chegam a dizer de que ler é um instrumento básico para se ter uma boa vida. Ao ponto, também, de dizer que o maior dom é a paixão pela leitura. É barata, consola, distrais, emociona, dá-nos conhecimento sobre o mundo e uma enorme experiência.
            Na época de colegial, tinha uma professora chamada dona Marta que reverenciava demais o hábito pela leitura. Gostava de asseverar que um livro fechado é apenas um calhamaço de papel. Ainda sentenciava: “Olha, se quiser amigos, procure-os entre os bons livros: eles são verdadeiros e nunca irão bajulá-lo nem enganá-lo”.
            Não sou daqueles leitores neuróticos. Não tenho idolatria cega por livros. Tenho a leitura como uma coisa prazerosa. Nada de obrigação e estroinice. Por isso que meu amigo Cordeiro, guru da boemia e com sua fina ironia, costuma dizer: “Pô, há pessoas que lêem demais: são bibliobêbados. Conheço alguns que estão sempre embriagados por livros, como outros que se encharcam de uísque ou religião. Eles passam pelas diversões e estímulos do mundo em meio a uma névoa, sem ver nem ouvir nada”.
            Não levo jeito pra ler um livro disponibilizado pela internet – computador. Por uma razão simples: eu preciso pegar para gostar. Tocar. Sentir o cheiro. Sejam os livros reflexivos, livros leves, livros de bolso, uns apenas decorativos, outros essenciais. Afirma-se, não à toa, que a leitura pelo computador é como sexo sem amor. Acessou, leu, gozou e desligou.
            Pensando bem, nada mais falacioso do que o slogan “Pátria Educadora”, anunciado com jubilo pelas nossas autoridades. Pura enganação. O incentivo à leitura é uma causa de um país que tem pressa de se educar e se informar; é causa de todos os que acreditam que as ideias e as palavras podem mudar o mundo. Daí me veio à aula: a verdadeira pobreza é a ausência de livros.
            Sempre reservo tempo para minha paixão pelos livros. Os amantes de livro me compreenderão e saberão que parte do prazer de uma biblioteca é a sua existência. Livros não são peças de decoração, mas não há nada que decore melhor uma casa.
 Quando criança sonhava ter minha própria casa, com uma linda biblioteca. Sonho este conquistado com luta e muito suor. Vem assim a calhar este admirável tour de reflexão quando se diz ainda que o livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Tomem nota: não é por acaso que se assegura que um país se faz com homens e livros.


                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                         lincoln.consultoria@hotmail.com
                                            Advogado e mestre em Administração