Sempre reservo tempo para minha
paixão pelos livros. Atualmente, acabei de ler a deliciosa obra literária
chamada “Eny e o Grande Bordel Brasileiro” (Editora Planeta, 2015, 424 págs.),
de Lucius de Mello, onde ele retrata a história real de uma das maiores
cortesãs de nosso País, Eny Cezarino.
Contrariando o desejo de seus pais,
que a criaram para ser uma respeitada dama e se casar bem - como se dizia
antigamente -, a paulistana Eny tornou-se a proprietária de um dos mais famosos
bordéis do Brasil, que teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. Conhecida
ainda como grande benfeitora dos pobres e das crianças abandonadas.
Eny era bela, charmosa e elegante.
Tendo no “Fleurs de Recaille” seu perfume predileto. No seu negócio, era uma
gestora que sabia ver e vê bem, em todos os sentidos. Era caprichosa na
decoração do seu estabelecimento. Do veludo do sofá estilo Luiz XV, que
decorava o salão do seu luxuoso bordel, às cortinas compridas que zelavam pela
discrição e pela intimidade do célebre tempo do prazer.
Madame Eny, como também era chamada,
tinha os homens todos a beijar-lhe as mãos. Taças de vinho, champanhe, copos de
uísque e conhaque rodavam o salão equilibrados nas mãos firmes dos garçons. À
meia-luz, os flertes se multiplicavam e as prostitutas, sob seu comando,
faturavam alto ao incitar as fantasias sexuais masculinas.
Entre frequentadores do lugar
figuraram artistas do porte de Vinicius de Morais, o notório poeta e diplomata
da Bossa Nova, assim como, do cantor Sérgio Reis que se apresentou para uma
plateia sem roupa à beira da piscina do “Eny’s Bar”, imortalizado no letreiro
em neon que brilhava todas as noites para atrair a clientela à “Corte de amor”.
Até o ex-presidente Jânio Quadros
que se encantou a entrar no bordel de Eny: “Isso aqui é um palácio. Não sabia
que em Bauru existiam áreas palacianas. O que meus inimigos vão dizer se me
virem aqui, que me embriaguei? Que me apaixonei?”.
Cada dia mais doente e endividada, como
não bastasse, ela sabia que seria impossível vencer a guerra contra os motéis.
Falava que a liberação dos costumes arrasou o seu negócio. Com olhos marejados,
asseverava: “A minha casa está fechando, o tempo dos grandes bordéis, como o
meu, terminou”.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre em Administração