domingo, 29 de maio de 2011

Exemplo de civilidade

       A sabedoria mostra que precisamos aprender a perder, cair, errar e morrer. Os tropeços e derrotas constroem os degraus que levam à sabedoria. Foi com essa percepção que os japoneses enfretaram com rijeza a catástrofe do último tsunami.
            Mais uma vez eles dão ao mundo um exemplo de educação, cooperação e civilidade. Vejam. As pessoas só compravam o que realmente necessitavam no momento. Assim todos puderam comprar alguma coisa. Nenhum saque a lojas. Os restaurantes cortaram pela metade seus preços. Quando faltava a energia num estabelecimento comercial, os clientes recolocavam as mercadorias nas prateleiras e saiam calmamente. Nada de boletins e reportagens com descrições sensacionalistas. Os fortes cuidavam dos fracos.
            Cá entre nós: imaginem se essa tragédia tivesse ocorrida aqui no Brasil. Ora, perdoem-me a obviedade confessional, seria um deus-nos-acuda, um desassossego e pura esculhambação. Até porque, admitamos, a sociedade brasileira está longe de exigir tal nível de civilidade. Principalmente, se formo-nos comparar com os asiáticos da Terra do Sol Nascente.
            A propósito, não faz muito tempo, retornando uma viagem de Recife a João Pessoa, dei de cara com populares realizando saque a uma carreta tombada.  Fiquei um momento ali, parado, estarrecido com a bagunça. Era de uma pobreza – diria até indigente – o comportamento dessas pessoas subtraindo o carregamento de refrigerantes.
            Aproximando do motorista, com certo embaraço, lhe falei: “não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; espere, meu amigo, que nada lhe vai acontecer, a não ser, a perda de sua carga. O importante é que o senhor está bem”.
            Muito nervoso. Apertou a cabeça entre as mãos, respondeu-me, assim, na lata: “Ok, ok, ok...  mas esses saqueadores vão me pagar!”. Absurdo total. Rarará, isso é coisa de Brasil! – como diria o estonteante articulista Zé Simão. Sem dó e sem piedade, onde educação é insuficiente, planta-se ignorância e colhe-se a miséria e a desordem. Por isso temos que sair desse “gerúndio”, estamos melhorando, chegando...
            Vê-se, claramente, que tá na hora de tirarmos nossos traseiros do assento e agirmos contra essa vergonha nacional que é a educação brasileira. Um verdadeiro escárnio ao bom senso. Agora, tão bem denunciada pela professora potiguar, Amanda Gurgel.
            Tenho certeza, não só os japoneses, como também, os gênios Picasso e Dali erraram em seu trabalho algum dia, mas foram capazes de aprender com esses erros. Corrigi-los e criaram (no caso os pintores) majestosas obras de arte. Aos nossos gestores educacionais, uma maneira e um bom exemplo a seguir.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Doações de Campanha


            Num olhar rápido, dei de cara com o relato das eleições de 2010, onde o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) confirmou, o que já era esperado, que empreiteiras e bancos continuam sendo os grandes financiadores de candidato.
            Como o dinheiro das empresas entra no caixa único do partido ou comitê, não é possível saber para qual campanha foi direcionado. E aí que viceja o vale-tudo. E quando isso ocorre, a “corruptocracia” fica em festa. Pois, a empresa que mais doou no último processo eleitoral foi a Comarca Corrêa (R$ 103 milhões), entrando ainda na lista o Banco Alvorada, Bradesco, o frigorífico JBS/Friboi, OAS, Andrade Gutierrez, Gerdau e outras organizações “generosas”.
            Tais doações são verdadeiras fontes de corrupção, uma vez que o político que recebe doações de empresa ao ser eleito fica obrigado a beneficiá-lo de alguma forma. Como já escrevi aqui, repito agora, se houvesse neste país respeito à milenar instituição “vergonha na cara”, os políticos teriam mais cautela e medo antes de se envolver nessas “conversas subterrâneas”.
            Entristece-nos, porém, constatar que a frequência desses episódios anestesia a capacidade de indignação de muitos. Por mais brincadeiras e malabarismos que se inventem, quase todos os partidos compactuem com o desvio antirrepublicano. Levando-se a confundirem na caldeira de promiscuidade público-privado em que é apurado o caldo da corrupção.
            No mínimo, no mínimo, a doutrina dessas doações é indecente, é impura, é desonesta. Uma autêntica fachada para legitimar práticas políticas paroquiais e viciadas. Praticantes da brasileiríssima “Lei do Gerson”.
            É preciso agir. Não dá mais para repaginar ou colocar curativos. Não à toa, diriam alguns (ou melhor: diriam todos) que doação pública é sinônima de corrupção e enriquecimento fácil. Por isso que o escritor Antônio Batista considera a corrupção, em tese, o “quinto poder”. O problema chega a ser social, por estar, segundo ele, institucionalizado em todos os países e povos. Só no Brasil, a corrupção custa US$ 3,5 bilhões por ano.
            Tratando-se de tipicidade (gênese) da política brasileira, o financiamento público, conforme prevê a reforma política (lenta, quase morrendo) ainda em discussão, não acaba com a pecha dessa modalidade de corrupção, simplesmente porque a prática do “caixa dois” e os financiamentos particulares (ilícito) continuarão existindo.
            Sem nenhuma pretensão e com muita convicção, esse estado de coisa só resolverá (quiçá atenuar) a partir do momento em que não deixarmos perder a capacidade de se indignar. E não existirá outro caminho possível ou atalho provável que não seja o da ÉTICA.


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Administrador de Empresas

domingo, 15 de maio de 2011

O filho de Osama Bin Ladem

            Ao tomar conhecimento da morte de Osama Bin Ladem, até então, o homem mais procurado do planeta, veio-me a lembrança da reportagem/entrevista capitaneada pelo argucioso jornalista Guy Lawson com o filho desse terrorista, Omar Bin Laden, publicada pela revista Rolling Stone, de 10/03/2010, edição nº.42.
            Quando pensamos em psicopata, Osama é um protótipo perfeito, sujeito com cara de mau, de aparência descuidada, pinta de assassino, fanático religioso, desprovido de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Exagero?  Em hipótese alguma. Basta ver o atentado horrendo contra as torres gêmeas de Nova York. Embasbacados, manifestaram os estadunidenses: - Oh, my God! Escancarando de vez a notória americanofobia por guerra!
            Já o seu filho, Omar, 28 anos, objeto de tal matéria jornalística, foi o único dos onze irmãos que condenou publicamente a violência de seu pai. É impressionantemente parecido com o genitor: tem um nariz longo e largo, sobrancelha grossa, olhos penetrantes. Mais baixo e musculoso que Osama, tem cabelos pretos, longos com os de um astro de rock. Confirma de maneira categórica que o pomo de discórdia de seu pai levara ao terrorismo islâmico – covarde, sanguinário e assassino.
            Com desenvoltura e sem dá bola para as consequências de suas declarações, diz que seu pai não é um jihadista que luta pela liberdade ou um homicida em massa – “ele é um homem perdido, um pai imperfeito e fanático que conteve seu amor, surrou e traiu os próprios filhos e destruiu sua família na busca da fantasia de se tornar um profeta dos últimos dias”.
            Demonizado (para usar uma palavra tão em moda) por todos, Osama gostaria que o filho favorito, Omar, fosse o seu sucessor e que deveria liderar a Al Quaeda e fazer a jihad (guerra santa) global. Assim, vai soltando homeopaticamente outras revelações: que seu pai testava armas químicas em cachorros e, acredite, tentou fazer dele um homem-bomba.
            Mas não se iluda! A morte de Osama Bin Ladem não põe fim essa onda de “predadores sociais”, pois temos uma ruma de outros disfarçados de religiosos, bons políticos, bons amantes, bons amigos...  os quais transitam tranquilamente pelas ruas, cruzam nossos caminhos, frequentam as nossas festas, dividem o mesmo teto e, pasmem, até dormem na mesma cama.
             Caso retornem essas ações terroristas, o que é provável, a melhor defesa contra eles é a camuflagem. Faça-se de morto ou invisível ou coloque outro – de preferência um transgressor de regras sociais – no caminho de suas presas. Nessa arenga parece até, intramuros, trololó ou tática antiterrorista.
            Portanto, fiquem de olhos e ouvidos bem abertos, despertos e prevenidos. Bem, falei por falar. Será mesmo?

                                 
                                                                LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                     Advogado e Adm.Empresas
                                                                lincoln.consultoria@hotmail.com 

sábado, 7 de maio de 2011

Assalariado!

            Sei que não adianta dizer o óbvio: não se trata mais de provar que a economia brasileira é sustentável e exequível. Isso já foi superado. O problema principal (ou o maior “nó”) é a distribuição de renda, pra valer, não por meio de paliativos como o Bolsa Família, que serve como analgésico para manter viva a esperança de dias melhores.
            Concordo “in totum” que o nosso país é paupérrimo de ideias criativas em políticas públicas, e a virada só ocorrerá se o governo estabelecer metas de geração de postos de trabalho formais. Ao mesmo tempo, para dar força ao mercado interno e garantir o consumo, o salário mínimo e os benefícios da Previdência Social devem aumentar, consequentemente, distribuindo renda.
            Outro dia vi uma roda de malandros, bajuladores e certos políticos no maior papo, cujo cerne da discussão era de que o nosso brioso país tinha avançado (extraordinariamente) no combate às desigualdades sociais. É irônico que tal discussão de desinteligência explícita ainda ocorra de maneira quixotesca, sobre um assunto já saturado de clichês.
            Até o cômico Mução, no seu programa de “fuleragem”, ridiculariza as pessoas que vivem de um salário mínimo, chamando-as em tom jocoso de “Assalariados!”. O resultado desse xingamento provoca uma série de impropérios por parte do troteado. Ou seja: pólvora suficiente para fazer explodir às suas vítimas. Emparedados, acabam sendo fuzilados em circunstâncias de folhetim afrontoso.
            Pelo que já li e me disseram, o crescente estado de miséria, as disparidades sociais e a extrema concentração de renda, decorrente dos salários baixos, o desemprego, a fome que ainda atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a marginalidade, a violência, etc, são expressões do grau a que chegaram as desigualdades sociais no Brasil. Aí está a razão para que alguém não goste de ser chamado de “Assalariado!”.
            Por outro lado, os gestores públicos, num blá-blá-blá interminável, irritante, enfadonho e inconsequente, não conseguem resolver ou atenuar com firmeza as desigualdades sociais, onde os custos que a maioria da população tem de pagar são muito altos. Com isso a concentração da renda tornou-se extremamente perceptível, bastando apenas conversar com as pessoas nas ruas para constatá-la.
            Apesar disso, renovo a minha crença na democracia, na liberdade, no exercício legítimo das forças do mercado, na atuação de um Estado ativo e cumpridor de suas ações sociais.
            Tenho, sim, um olhar de desprezo com a “elite intelectual de esquerda” sobre esse debate. Preocupada, como disse um arguto articulista, só em lavar roupa suja em casa, se é que tem roupa suja, pois já está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise.



                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e Administrador de Empresas

domingo, 1 de maio de 2011

A arte da soberba

            Semana passada, relatei aqui a querela judicial envolvendo um juiz e o empregado/condomínio pelo simples fato de não lhe ter sido dispensado o tratamento de   “doutor”. Como se viu uma novelinha rápida. Tão rápida quanto absurda. Espero, pelo menos,  num momento de fé, esse magistrado tenha resolvido dar uma limpada no seu orgulho.
            Sempre digo: que a leitura com livros é sempre prazerosa, com os computadores é um comprazer menos envolvente. Acessou, leu, gozou e desligou. Como afirma um amigo debochado: parece sexo sem amor. Por isso, estou sempre visitando livrarias, seja por aqui, ou quando estou viajando.
            E não é que, na última visita recente a um desses estabelecimentos, comprei o livro “Os novos pecados capitais”, de João Baptista Herkenhoff, coincidentemente, um juiz aposentado, cuja obra tem como destaque um texto cristalino, despojado, que produz, como que por acúmulo, um forte efeito de contemporaneidade. Que, por sua vez, caiu como uma luva, uma pintura, na discussão sobre a soberba que foi vítima o pobre coitado do empregado.
            A soberba, proclama o referido escritor, leva o ser humano a desprezar o próximo e a considerar-se superior aos demais. O soberbo atribui a si todos os méritos, e sua alma é alimentada por um contínuo sentimento de grandeza. A soberba tem relação direta com a ambição desmedida, seja pelo poder, seja pelo dinheiro.
            Para Santo Tomás de Aquino, mais do que apenas um pecado capital, a soberba é a raiz e a rainha de todos os pecados. Geralmente é considerada como mãe de todos os vícios e, em dependência dela, se situam os setes vícios capitais, dentre os quais a vaidade é o que lhe é mais próximo.
            É isto mesmo, para quem se envolve com esse tipo de coisa, não há como se safar!  Não é demais lembrar, entretanto, que o orgulho é sempre o complemento da ignorância. Outro dia ouvi uma frase que é verdade à beça: “O homem modesto tem tudo a ganhar, o orgulhoso, tudo a perder, porque a modéstia encontra sempre pela frente a generosidade, e o orgulho, a inveja”.
            Para que, então, o soberbo procura nas prateleiras da livraria os manuais de auto-ajuda, os quais vendem feito picolé na praia? Para ser mais feliz, para ter sucesso, para pensar positivo, para conquistar um amor, para ter mais qualidade de vida. Eu só me pergunto uma coisa: adianta?
            Ah, uma última pausa para reflexão: toda pessoa neste mundo é importante, e a consciência desta verdade ensina que a arrogância é a máscara mais banal da covardia e da presunção.


                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                            Lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                               Advogado e Administrador de Empresas