domingo, 25 de agosto de 2013

Habitação Social



       Quando se fala sobre a casa própria, se fala sobre a vida. Além de facilitar o acesso das famílias, é fator de dignidade e cidadania.  Quem sempre afirma isso, não sou eu, é minha consorte, Socorro Gadelha, que tem uma concepção apuradíssima nessa questão, e que se especializou com notável desenvoltura e eficiência. Parece papo de narcisismo, mas não é!
Baseado nesse convívio de informações, e longe da crítica chinfrim, entendo que a nossa habitação social ainda é desalentadora, especialmente em um cenário no qual a especulação imobiliária crescente segue expulsando os mais pobres das regiões centrais, fazendo com que as favelas não sejam mais exclusividade das grandes cidades, mas dos municípios médios brasileiros.
A iconografia da “favelização”, apesar da injeção de recursos, pode não está servindo para melhorar as cidades brasileiras, mas, pelo contrário, tem produzido um novo ciclo de crescimento desigual e insustentável, social e ambientalmente, como fizeram os militares na época do Banco Nacional de Habitação (BNH).
            A cidade de São Paulo exemplifica bem esse processo. Na época dos anos 70, a cidade não contava com mais de 5% da sua população moradora em favelas. Uma década depois, esse número havia soltado para 20%. De lá para cá, as favelas foram se adensando e se consolidando, muitas vezes de forma precária, agravando a situação.
De todo modo, precisamos reconhecer que há recurso abundante na área habitacional. Mas é preciso uma política urbana e fundiária ativa de democratização do acesso à moradia formal, na ampliação da infraestrutura e das qualidades urbanas, e no combate à retenção de terras e imóveis vazios, que no Brasil atingem muito acima do ideal.
Estima-se hoje que 40% do déficit habitacional poderia ser resolvido pela ocupação de imóveis vazios. No sul e sudeste, diferente de João Pessoa e Campina Grande, diversas cidades têm mais imóveis vazios do que falta de moradia. Isso significa que, mais do que apenas construir casas novas (o modelo produtivista vigente com o Minha Casa, Minha vida), é necessário uma política que garanta a função social da propriedade.
Sem titubear, é preciso atuar mais diretamente nas próprias favelas. Ou seja, avançar na qualificação desses espaços, envolvendo os moradores, investindo em infraestrutra, acessibilidade e equipamentos.

                                                         LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                Advogado e Mestre em Administração


                                                                      

domingo, 18 de agosto de 2013

O estresse nas cidades



       Nas ruas, os jovens, sem papas nas línguas e nos cartazes, denunciaram muito bem as mazelas e aberrações que vivemos. Deu no que deu.  Muita confusão e um pote até aqui de mágoa.
            Ora, vejam só. O debate sobre o preço de passagens e mobilidade urbana acabou gerando a discussão de algo maior, o mal-estar gerado pelas grandes cidades, com problemas em áreas como saúde, educação, segurança pública, entre outros temas. São vários estresses, desde esperar mais de 1h na fila de um banco para pagar uma conta ou ficar incomunicável por conta das constantes panes no sistema telefônico.
            Perplexidade justa. Uma coisa frenética e louca, que tem levado muita gente que se julga equilibrada perder os parafusos e fazer muita besteira.  A mim me parece que extrapolou o limite de tolerância. E não adianta fugir da cidade, mas preparar-se para viver nela, consciente dos valores essenciais como pessoa (ser humano) e cidadão (ser político).
            A bem da verdade, o que ocorre nas grandes cidades é que tudo está em volta do “negócio”. E que através dele impõe-se a negociação do ócio, a ocupação, atividade, trabalho, empreendimento etc. Ou seja, é o que predomina na vida moderna: Qual é o seu negócio? Como diz o filósofo Antonio Lemos da Silveira: “A cidade não privilegia a pessoa, o humano. O negócio é mais importante, daí os problemas do trânsito, da insegurança, do barulho, da destruição da saúde, da falta de alegria e da infelicidade”.
            É preciso atentar para o estresse em excesso na cidade em que vivemos, uma vez que pode ser um sinal de alerta para nossa saúde: sentimentos como ansiedade, angústia e sintomas físicos de adoecimento e insônia. Em decorrência disso pode levar a pessoa desenvolver os chamados “síndromes do pânico”.
            Costumo dizer que o Estado brasileiro tem relaxado com os problemas da cidade, perdeu a capacidade de investir até no essencial, e que continua no mesmo mal caminho em que patina há mais de dez anos. Na esteira da ação de pura marquetagem (produzida pela máquina oficial de propaganda) tem conseguido esconder, durante todo esse tempo, do público em geral, dos meios de comunicação e mesmo das cabeças pensantes do País.
            Enfim, o cenário não é de refresco. As manifestações populares que recentemente agitaram o País foram a primeira onda de um tsunami de protestos contra a incúria governamental. Uma coisa é certa: não se resolve o problema da cidade fugindo dela, mas buscando soluções.

                                                                           LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                            lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                             Advogado e Administrador de Empresas
           

domingo, 11 de agosto de 2013

Cultura do atraso



       Não é só um pensamento. É a realidade. O Brasil econômico está mudando, as classes sociais já não são mais as mesmas e os grandes eixos regionais de mercado são outros. Porém, os projetos malfeitos, licitações irreais, liminares, corrupções, burocracia e má gestão pública têm contribuído para o entrave do nosso desenvolvimento.
            Ouvi e li opiniões segundo as quais se trata de um fenômeno, ironicamente chamado jabuticaba, que só existe no Brasil. O rumo pode está certo, mas problemas persistem. A qualidade da nossa infraestrutura está em 107º lugar no ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) com 144 países. Quando se isola a infraestrutura de transporte, caímos para a 134º posição.
            Já nossas ferrovias: 100ª colocação no ranking do WEF. Enquanto os Estados Unidos transportam por ferrovia 43% da carga nacional, O Brasil opera na casa dos 26%, com um detalhe: dois terços do volume são de minério de ferro. Para o resto da economia, os trilhos representam apenas 10% do movimento.
            Quanto às rodovias (valha-me Deus!) situamos na 123º lugar na classificação do WEF. O estado de conservação da maior parte da malha rodoviária nacional produz um aumento médio de 28% do custo operacional dos caminhões, alta de até 5% no consumo de combustível e queda da velocidade operacional. Não é também diferente no nosso transporte aéreo onde ficamos na 134ª colocação, abaixo da Nigéria. E nossos portos, em 135º lugar.
            Dramático, não? Estamos em alerta vermelho. Só não vê quem não quer. Mas as autoridades do governo, como o ministro Aldo Rebelo, no seu tom fransciscano, diz que “o atraso é um de nossos problemas civilizatórios, faz parte de nossa cultura. Até reunião ministerial atrasa no Brasil”. Isto é: tipo de justificativa que é uma vergonha! Uma desfaçatez!
            Ademais, vive-se ainda no Brasil uma cultura do curto prazo. Obra boa é aquela que fica pronta a tempo de ser inaugurada em ano eleitoral. Essa pressa para começar a obra, paradoxalmente, é um grande fator de atraso. Sem estudos técnicos de qualidade, o construtor acaba encontrando imprevistos na execução. Quando isso acontece, é preciso revisar prazos e orçamentos. As obras, por sua vez, ficam mais caras e mais demoradas. É o caso escrachado da transposição do rio São Francisco – não transpôs água, mas apenas verba.
            Perda de tempo gastar toneladas de papel e litros de saliva para tentar explicar o atraso sistemático de obras no Brasil predominado pela “cultura do atraso”. Isso acarreta barulho, sinuca de bico e dor de cabeça. Com agravante: nossos gestores públicos têm exato conhecimento dessa mazela, mas não adianta ir à igreja e fazer tudo errado.
            É imperioso acabar com a “cultura do atraso”. É preciso ser hoje. Não dá para deixar para amanhã.

                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                    Advogado e Mestre em Administração

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Saudades da Varig



            Voei muito pela Varig. Voar por essa companhia era questão de orgulho e, até chic, cercada de glamour. Seu serviço de bordo era de qualidade, atendimento impecável, segurança nos voos; com destaque às suas aeromoças simpáticas, educadas e elegantes (top Models).
            Hoje é um verdadeiro martírio viajar pelas empresas de viação aérea brasileira.  Uma letargia beirando a irresponsabilidade. É de chorar. Além do atraso e cancelamento nos voos, uma vez no interior da aeronave, o passageiro se espanta ao ver o espaço físico a ele destinado. Trens de subúrbio ou ônibus urbanos são mais espaçosos que a maioria dos aviões. O passageiro obeso ou muito alto sente vontade de descer ali mesmo. Parece que as poltronas foram projetadas para crianças.
            Cabe ainda apontar o extravio constantes de bagagens. O passageiro se sente feliz ao avistar sua bagagem, aparentemente intacta, na esteira de bagagem. Já o cardápio de bordo (cardápio?) está restrito simplesmente a refrigerante, água, suco, barra de cereal e amendoim. Às vezes, somos constrangidos com o aviso de que esse consumo será irremediavelmente cobrado. Sem retoques, fica o estigma de um comportamento indigesto e sarcástico.
            Até há pouco, parecia piada. Mas agora é pra valer. Se brincar, de repente o papel higiênico o passageiro terá que pagar. Recentemente, viajando no trecho de Brasília a Cuiabá, solicitei à aeromoça uma água, e ela, de pronto, perguntou-me:
            -Qual é a forma de pagamento?
            Espantado com a prática mercantil, injuriado lhe respondi:
            -Nossa! A senhora está me cobrando... Não desejo mais. Passou a cede.
            Ela mal me olhou. Limitou-se a dizer:
            -É regra da companhia.
            Depois dessa, como quem diz “fazer o quê?”. Logo pensei: ah, se meu amigo Cordeiro estivesse aqui, retrucaria sem muito lero-lero:
            -Ô, mas que gente mala!
            Isso faz lembrar, com muita saudade, a Varig Linhas Aéreas que chegou a figurar entre as maiores empresas de aviação do mundo, com 127 aviões voando para 36 países, uma rede de hotéis, uma firma de logística, uma de manutenção de aeronaves, estações de rádio de controle aéreo e 20 mil empregados. Ressaltando que as Lojas da Varig no exterior eram consulados brasileiros, pontos de encontros e de atendimentos.
            A Varig é o caso mais rumoroso de falência da história do país. Mas essa uma história (cabeluda) e terá que ser contada noutra ocasião. Ficamos, pois, com a recordação de sua marca publicitária (jingle), exemplo de excelência organizacional: “Varig, Varig, Varig”.


                                                               LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                Advogado e Mestre em Administração