domingo, 28 de dezembro de 2014

Sonho da aposentaria

       Para começo de conversa, não penso em me aposentar. Ainda não. Mesmo entrando, no próximo ano, para a turma dos sessentões. Pois estou cheio de energia e uma agenda cheia de planos, não mirabolantes, para executar.
            Mas reconheço que esse dia vai ter que chegar (da aposentadoria). Quero estar preparado para uma bela oportunidade de redefinir o sentido de minha vida – sem ter nenhum embaraço ou sofrimento. Consciente que o sonho da aposentadoria simboliza uma transição para uma nova fase da vida.
            Pensar diferente é um desperdício de tempo, de energia, de vida, que afinal de contas ninguém é imortal. É loucura procurar a aposentadoria só quando a mobilidade se reduz, os sentidos se enfraquecem e a memória falha, quando a morte leva aquele ou aquela com quem havíamos jurado viver até o fim, quando ela leva também todos os amigos, irmãos e às vezes até os filhos, ou quando se sente que “não sirvo mais para nada”.
                Não hesitaria em dizer que sempre busquei a simplicidade e a autenticidade sem me levar por padrões. Sorrateiramente imagino que estou fora de padrão do tipo que se deve trabalhar intensamente o resto da vida - tô fora! Sempre me escapa um sorriso amarelo cada vez que ouço alguém dizer essa besteira.
            Sempre é tempo de mudar. E aposentadoria pode ser um ótimo momento para arrumar as malas e partir para novas aventuras. Comer um peixe grelhado a beira de um açude, melhor ainda, quando é resultado de sua própria pescaria? Curtir o sol da manhã numa praia paradisíaca ou respirar o ar fresco da montanha? Somado a isso, como diria o meu velho amigo Cordeiro, ao sabor da branquinha para abrir o apetite com vista a uma caldeirada de siri-mole.
            Quando eu era criança lá em Cajazeiras, considerava-se velho um homem de 60 anos. Velho só, não. Velhíssimo. Hoje, surgiu uma geração de “novos velhos”. Não estou falando da baboseira de “melhor idade” e do lixo ideológico do politicamente correto, que tenta maquiar a realidade com palavras delicadas.
            Como já evidenciei, a aposentadoria é uma transição, um momento em que novas escolhas são possíveis e no qual, ao invés de ficar ocupado em “fazer”, pode-se se preocupar em “ser”, viver, maravilhar-se com o que o universo nos oferece e desenvolver sua dimensão espiritual. E no meio dessas circunstâncias é indispensável afirmar que, se por acaso estamos aqui, é porque ainda temos de aprender a dar ou receber alguma coisa.
            Nada direi mais. A não ser que sou um entusiasta da aposentadoria.

                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                 lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                   Advogado e mestre em Administração
                              
           
           
                       


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Presente de Natal

       Senti uma lufada de ar fresco ao ler, de cabo a rabo e rapidinho, o livrinho “A vida por linhas curtas”, de Legrand, onde apresenta histórias e parábolas com profundo sentido filosófico que otimizam a motivação para a prática da simplicidade na conduta de uma vida mais reflexiva e melhor.
            E o momento não poderia ser mais propício para contar aqui uma dessas histórias emocionantes, como aquela que é chamada de “Presente de Natal”. Confiram.
            Alfredo acordou em uma véspera de Natal, muito contente, pois uma data estava para chegar. Com seus cinco aninhos, esperava ansiosamente o cair da noite para voltar a dormir e olhar o seu pé de meia que estava em frente da porta, pois não tinha Árvore de Natal.
            Dormiu muito tarde para ver se conseguia pegar aquele velhinho no “flagra”, mas, como o sono era maior do que seu desejo, dormiu profundamente.
            Na manhã de Natal, verificou que não havia presente algum em toda a sua casa. Seu pai desempregado, com os olhos cheios d’água, observava atentamente o seu filho, e esperava tomar coragem para falar que o seu sonho não existia, e, com muita dor no coração, o chama:
            -Alfredo, meu filho, venha cá!
            Mas antes mesmo do Pai poder falar...
            -O Papai Noel se esqueceu de mim.
            Falando isso, Alfredo abraça seu pai e os dois se põem a chorar, quando Alfredo pára:
             -Ele também se esqueceu do senhor, papai?
            -Não meu filho. O melhor presente que eu poderia ter ganhado na vida está em meus braços, e fique tranquilo, pois eu sei que o Papai Noel não se esqueceu de você.
            -Mas todas as outras vizinhas estão brincando com seus presentes. Ele pulou a nossa casa.
            Não pulou não. O seu presente está abraçado você agora, e vai levá-lo para um dos melhores passeios de sua vida! Alfredo brincou com seu pai durante o resto do dia. Chegando em casa muito sonolento, foi para o seu quarto, e escreveu ao Papai Noel:
            “Querido Papai Noel, eu sei que é cedo demais para escrever e pedir alguma coisa, mas quero agradecer o presente que o senhor me deu. Desejo que todos os natais sejam como esse, faça com que meu pai esqueça seus problemas, e que ele possa se distrair comigo, passando uma tarde maravilhosa como a de hoje”. De quem lhe agradece por tudo, Alfredo”.
            Entrando no quarto para dar boa noite ao seu filho, o pai de Alfredo viu a cartinha, e, a partir desse dia, não deixou que os seus problemas afetassem a felicidade dele, e começou a fazer com que todo dia fosse um Natal para ambos.
            Aos nossos leitores, Boas Festas!

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                         lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                            Advogado e mestre em Administração

domingo, 14 de dezembro de 2014

Tempestade em copo d'água

       A vida é feita de altos e baixos, momentos tristes e felizes. Muitas vezes nos desgastamos por coisas que, examinadas em detalhe, não merecem tanta atenção. Nós nos detemos em pequenos problemas e questões e os superdimensionamos.
            Na verdade, sem nenhum ismo, quando “não se faz tempestade em copo d’água”, a vida pode não se tornar perfeita, mas aprendemos a aceitar o que ela tem a nos oferecer, com mais complacência. Conforme ensina a filosofia Zen, quando superamos os problemas, em vez de resistirmos a eles, com todas nossas forças, a vida começa a fluir.
            Se atirarmos uma pedra para o lago, as pequenas ondas concêntricas movem-se e criam ondas maiores que, por sua vez, criam outras ainda maiores. Com as pessoas acontece exatamente o mesmo. O mundo individual de cada um mexe com a ordem do mundo e das coisas e basta termos a noção de que a vida é feita de pequenos, médios e grandes desafios.
            -Cara, você é o máximo! Foi assim que me expressei ao ouvir do meu velho amigo Cordeiro, como sempre preciso e inteligente, a seguinte reflexão: “Meu chapa, sabemos que não é obrigação da vida fazer tudo perfeito, esta é a nossa tarefa”.
            Faz sentido? Sim. Ao nos rendermos a esse fato, perfeitamente correto, paramos de sentir pena dos outros, igualmente, porque nos lembramos que cada pessoa recebe seu quinhão e tem suas próprias forças e desafios. Este insight tem me ajudado bastante ao enfrentar as decisões difíceis que tive de tomar sobre a quem ajudar e a quem não.
            Já uma vez escrevi que só temos a ganhar ao aprender a não nos deixarmos levar por pequenos aborrecimentos. Muitas pessoas perdem tanta energia de suas vidas “fazendo tempestade em copos d’água”, consequentemente, perdem contato com o lado mágico e belo da existência. Quando você se compromete a trabalhar com esse objetivo em mente, percebe que sobra uma reserva muito maior de energia para ser dedicada à simpatia e à gentileza.
Reparando direitinho, muitos de nós aprendemos a arte neurótica de perder nossas vidas nos preocupando com variedades de coisa sem muita importância. Estigmatizando, assim, as dificuldades da vida para se viver, mesmo sabendo que há inúmeros obstáculos a vencer, e que, por aí, pode ser um caminho seguro para o sucesso e a realização pessoal.                          
            É a vida. Todas as vezes que ficamos cozinhando nosso rancor, decorrente das dificuldades, transformamos copos d’água em tempestades mentais. Fuja disso!

                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                          lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                            Advogado e mestre em Administração

                                                          

            

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Artigo: A famosa carteirada

       Acredito firmemente que o exercício do poder exige extrema prudência, espírito público e humanista, equilíbrio, serenidade, ética, mas, acima de tudo, simplicidade e humanidade.
            Lamentável que essa lição não tenha sido digerida por um magistrado no Rio de Janeiro, quando foi abordado pela agente do Detran, Luciana Silva, no momento em que ele dirigia uma Lond Rover sem placa e sem documento. Em continência, o juiz sacou a sua carteira funcional para intimidá-la. Sem titubear, ela disse que “juiz não é Deus”. Revoltado, utilizando de sua posição que exerce no judiciário, deu voz de prisão à agente por desacato.
            Idiotice à parte, uma jabuticaba explícita em seus desígnios, brasileiríssima, digamos assim. Um método muito utilizado para demonstrar hierarquia e superioridade. A famosa “carteirada” é um ato que humilha, gera constrangimentos e vergonha quem é vítima, e causa indignação para os que presenciam tal fato.
            Na Suécia, por exemplo, perguntar “você sabe com quem está falando?”, caracteriza crime. Por isso, em boa hora, o deputado Romário (PSB-RJ), agora senador eleito, indignado com essa situação, apresentou o projeto de Lei 8152/2014, que acrescenta artigo ao Código Penal e tipifica como crime a famosa “carteirada”. A pena será aumentada de um terço se o crime for cometido por membros do Poder Judiciário, Ministério Público, do Congresso Nacional, por ministros, secretários, governador e até presidente da República.
            O que é isso? Em que País vivemos? Algumas autoridades perderam a noção das coisas. Outro exemplo emblemático, em 2002, a guarda de trânsito Rosimeri Dionísio acabou em uma delegacia e autuada depois de multar o carro do filho de um desembargador estacionado em local proibido no bairro de Copacabana. Para mim, uma aberração que agride a nossa inteligência e cidadania.
            Olha, a humildade é um antídoto contra o orgulho! Ela tem o efeito de uma agulha com linha, alinhavando vidas, aproximando as pessoas, unindo mesmo os que são diferentes, enquanto o orgulho é como uma tesoura cega, que corta tudo o que encontra pela frente, machucando e danificando por onde passa.
            Na escola da vida, não precisamos ser melhor que ninguém; basta ter humildade e respeitar o próximo. A sociedade está mais atenta, vigilante e serenamente imune à atitude e ao discurso raivoso dessas figuras, que se arvora de ser autoridade. Uma soberba que os deixam tão ignorantes quanto os fanáticos religiosos.
Para encurtar o assunto, concluo dizendo que ninguém tem o direito de achar acima da lei, e tampouco achar que são deuses.


                                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                                   Advogado e mestre em Administração