domingo, 30 de novembro de 2014

Reclamação desrespeitosa do consumidor

       O presente texto trata-se de um tema muito comum no mundo dos negócios. Acho não, tenho certeza, que todas as empresas já pronunciaram em algum momento a frase “o cliente tem sempre razão”. Parece papo antigo, mas não é.
            Contudo, atualmente, as organizações começam a se questionar se essa estratégia é sustentável. A máxima, que atravessou décadas e é repetida como uma espécie de mantra do mundo do consumo, está baseada num princípio vital para os negócios: que as empresas precisam dos clientes para prosperar e, por isso mesmo, eles não podem ser contrariados. Os direitos do consumidor são inquestionáveis, mas afirmar que ele tem 100% de razão em todas as situações é um exagero.
            É preciso respeitar os direitos do cliente, mas também os princípios que regem a organização. Se isto não ocorrer a empresa quebra. Atender os anseios do cliente a qualquer custo nunca será um bom negócio. A melhor tática comercial é aquela em que todos ganham.
            É notório que a maior parte das empresas faz o possível para que as reclamações, ainda consideradas injustas, tenham um final satisfatório para os dois lados e não chegue aos tribunais.
            Dias atrás, numa loja de departamento aqui em nossa cidade, presenciei uma conversa do gerente com um de seus colegas de trabalho, onde afirmava: “Tá vendo aquela senhora? Pois bem. Ela levou (comprou) um livro, mesmo tendo já lido da primeira à última linha, pretendia trocar por outra obra, sob o argumento de ter o levado equivocadamente”. Cá com meus botões, situação é tão esdrúxula, até custa a acreditar que seja verdade!
            Interessante é que, com um jeito franco e bem-humorado, ele falou disso como se fosse algo prosaico, sem dar um ar de confidência e importância para uma situação de tamanha gravidade. Apesar de saber que a sua empresa não se pode tornar cúmplice das tramóias aplicadas por clientes mal intencionados.
            Este outro caso eu não presenciei, não. Eu sei de ouvir contar. É como daquela cliente que compra uma roupa, põe a etiqueta para dentro, vai para festa, depois volta para trocar a peça. E quando esse tipo de consumidor (pontuada por arroubos de vaidade) não atinge o seu objetivo, as manifestações de revolta e intolerância encontram, como se sabe, campo livre nas redes sociais para registrar suas “queixas”.
            Por favor, vamos parar com a bobeira de dizer que o cliente sempre tem razão, enfim.


                                                                 LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                            Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Artigo: Governabilidade

       Já escrevi sobre isso aqui, você que acompanha esta coluna deve ter visto minha indignação ao “toma lá, dá cá” entre o governo e os partidos na questão do leilão por cargos. Mal terminou o processo eleitoral, não se fala outra coisa.
            De qualquer modo, essa é a tradição da política brasileira. Símbolo jocoso. Cujo princípio: se o governo não construir uma base de apoio no Congresso Nacional, dificilmente terá condições para governabilidade. Para enfrentar isso, o presidente da República tem 25 mil cargos para negociar.
            Deve reconhecer que esse modelo, ora adotado, é um vício congênito do nosso País. O resultado de tal “loteamento” é a ocupação de cargos estratégicos por políticos sem nenhuma experiência na área e, geralmente, com ambiciosos projetos de poder.
            Na verdade o governo sabe, mas não pratica, que para escolher um ministro, por exemplo, tem que ter um perfil equilibrado entre o técnico e o político, com qualidade intelectual e prestígio profissional suficiente para evitar a impressão de que atuará como mero executor das vontades da autoridade governante. Têm outros funcionários que são contratados e sequer trabalham. Como diria a grande estadista Margaret Thatcher: “Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber”.
            Às vezes digo, meio brincando, meio a sério, se uma empresa funcionasse como o Estado, ela estaria falida. O ideal é que o presidente governe com uma coalizão menor de partidos e convoque os melhores de cada agremiação. Basta dar uma olhada e puxar na memória para ver que o presidente Itamar Franco fez isso e governou sem moedas de troca.
            O Brasil não pode mais avançar desse jeito. Outra medida corajosa seria acabar com os ministérios entregues com “porteiras fechadas” – quando o partido beneficiado recebe a prerrogativa de indicar 100% dos funcionários da pasta, do ministro ao porteiro. Hoje, a rigor, o partido que indica, não usa critérios de competência e de reputação ilibada. As consequências desastrosas estão aí, espalhadas pelas esferas do governo.
            Infelizmente essa praga ainda insiste em assolar o País. Ao contrário dos comissionados, os funcionários de carreira são aqueles que entram no serviço público por meio de concurso e sem apadrinhamento. Ocorre que alguns deles estão sendo “cooptado” por caciques partidários e passem a agir de acordo com os interesses do partido, na maioria das vezes, em coisas desavergonhadas.
            Para esses agentes políticos descarados, pouco importa, o fim justifica os meios.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                         Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Publicidade infantil

       Não é do meu feitio voltar a expor texto já publicado neste periódico. Porém, a pedido de uma adolescente muito querida da minha família, peço permissão aos nossos leitores para novamente tornar público o presente artigo (datado: 22/07/14), coincidentemente foi o mesmo tema da redação do Enem 2014. Revejam...
       Pode parecer uma miudeza ou uma questão banal a estratégia das agências de publicidade utilizar crianças para vender de brinquedos a poupanças bancárias - incentivando o consumismo infantil - mas, infelizmente, não é!
            Dito isso, direi mais. O que se verifica é um completo desrespeito à norma. Pois, recentemente, foi publicada a resolução nº. 163 do Comanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que passou a considerar abusiva toda e qualquer publicidade ou comunicação mercadológica dirigidas ao público infantil com menos de 12 anos.
            Não é novidade que a publicidade e a comunicação mercadológica que se dirigem diretamente às crianças, além de ilegais, são antiéticas e imorais. Aproveitam-se da peculiar fase de desenvolvimento dos pequenos, justamente quando não conseguem entender o caráter persuasivo das mensagens ou mesmo diferenciar o conteúdo de entretenimento do comercial.
            Há poucos dias li sobre o documentário “Criança, a alma do negócio”, dirigido por Estela Renner, onde uma mulher, à frente de um grupo de crianças, fala em voz alta: “Aqui tem dois papéis, em um está escrito brincar, e em outro comprar”. Mal ela termina de falar, coloca os papéis no chão, e as crianças se debruçam para escolher qual dos dois elas mais gostam: 3 colocam a mão sobre o papel escrito comprar, 2 sobre o brincar.
            O filme mostra uma realidade chocante em que muitos não estão atentos: a sociedade em que vivemos, por meio principalmente da publicidade, criou uma geração de crianças fanáticas por consumo, que estão deixando para trás aspectos importantes da infância para se dedicar a um hábito que antes era próprio dos adultos.
            Para o mercado publicitário, é muito mais fácil fixar uma marca na cabeça de uma criança do que na de um adulto, então vale tudo para chamar a atenção dos pequenos: animações, atores mirins, jogadores de futebol, apresentadoras etc. De bonecas a plano de celular, tudo deve focar a criança.
            É sério. Estudiosos ligam a prática de assistir muita televisão durante a infância ao grande número de casos de obesidade infantil, ao estímulo à violência, consumismo e perda do potencial criativo das crianças. Tudo isso está ligado a um mercado milionário e perverso: o da publicidade infantil.  Cheio de gracinhas e vazio de conteúdo. Tudo esperteza, claro.
           


                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                               lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                                                      Advogado e mestre em Administração


                                 
           

            

domingo, 9 de novembro de 2014

Papel da imprensa

            Não quero me tornar um articulista ranzinza, mas não posso ficar calado diante dos atos de vandalismo praticados por tresloucados contra a sede da Editora Abril, em São Paulo, inconformados com a publicação de uma reportagem de capa da revista Veja. Sem cair na baixaria e sem perder o bom humor, se eu encontrasse com algum deles, diria: “Tenha juízo, abandone esse sonho e arrume outro”.
            Ora bolas, numa democracia plural, a referida revista tem o direito de publicar o que quiser. O prejudicado, entretanto, também tem todo direito de protestar, se assim entender que a reportagem publicada teve conteúdo de inverdades. Sem falar que a mesma, por essa prática ilícita, caso tenha ocorrido, está sujeita às penalidades legais por crime de calúnia, infâmia e injúria.
            Independente de qualquer matiz ideológica que fosse, o único objetivo era intimidar a imprensa. Pronto. Isso para não ficar gastando latim depois da missa.
            Quando vejo tal aberração, lembro-me do pronunciamento feito pelo ex-presidente americano Thomas Jefferson, que tive a grata oportunidade de conhecer o seu memorial (EUA): “Como a base do nosso governo é a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser conservar esse direito, e se coubesse a mim decidir entre um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, não titubearia um minuto em preferir este último”.
            Aconteça o que acontecer, não há democracia sem uma imprensa livre e independente. Sem a imprensa, o povo seria apenas um joguete do poder público, pois não há condições de agir quando não há conhecimento das decisões e atos dos governos. A imprensa leva os acontecimentos do centro do poder para as ruas.
            Sim, é verdade. Enquanto a escola ensina conteúdos científicos, a televisão, as rádios, as revistas e os jornais “ensinam” sobre todos os temas da vida. A presença da opinião da imprensa no cotidiano das pessoas é intensiva, enquanto a via inversa (a colocação do ponto de vista do público para a imprensa) é praticamente inexistente, longe de ser uma comunicação de via dupla.
            É imoral um jornal defender um partido ou projeto político? Respondo na lata: Claro que não! Porque o partido pode representar a ideologia do veículo de comunicação. Imoral é deturpar informações, usar a imprensa com meio de calúnia e perseguição, mentir ou omitir em nome de um interesse particular ou de um grupo.
            De resto é inegável que a torpeza de situação, como essa aqui descrita, não deixa ser um “ponto fora da curva” da democracia.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                          Advogado e mestre em Administração

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Falha no controle financeiro dos jovens

       Segundo pesquisa divulgada pela Serasa Experian, jovens entre 16 a 24 anos são os que têm menos controle da vida financeira. O levantamento mostra que 40% desses jovens admitem não manter a vida financeira sob controle.
            Quanto maior é a idade, mais aumenta o percentual de pessoas que diz manter controle dos gastos. Os jovens precisam evitar agir por impulso e adquirir o hábito de controlar melhor a vida financeira para que eles não sofram as consequências do superendividamente. 
            Fato é que a escola não prepara as crianças para a vida real. Boa formação e notas altas não bastam para garantir o sucesso de alguém. O mundo mudou; a maioria dos jovens tem cartão de crédito, antes mesmo de concluir os estudos, e nunca tiveram aula sobre dinheiro, investimento, juros etc. Ou seja, vão para a escola, mas continuam analfabetos financeiros, despreparados para enfrentar um mundo que dá mais ênfase à despesa do que à poupança.
            Não existe bola de cristal, mas algo é certo: o conselho mais perigoso que se pode dar a um jovem nos dias de hoje é, “vá para a escola, tire notas altas e depois procure um emprego seguro”. Seria ingênuo e tolo não acreditar que as regras mudaram. Não existe mais emprego certo para ninguém. O problema não está entre ser empregado ou empregador, mas entre ter o controle de seu próprio destino ou entregar esse controle a alguém.
            Tem sido tema recorrente nas conversas que tenho comigo mesmo e com os mais próximos, quando falo que o dinheiro não é ensinado nas escolas. Elas se concentram nas habilidades acadêmicas e profissionais, mas não nas habilidades financeiras. Isso explica por que tantos profissionais têm problemas financeiros no decorrer da vida.
            Seja no Brasil, na Itália, seja alhures, sabemos que o dinheiro é uma forma de poder. Mais poderosa ainda, entretanto, é a instrução financeira. O dinheiro vem e vai, mas se você tiver sido educado quanto ao funcionamento do dinheiro, você adquire poder sobre ele e pode começar a construir riqueza.
            A maioria das pessoas não percebe que na vida o que importa não é quanto dinheiro você ganha, mas quanto dinheiro você conserva. Já ouvimos histórias de ganhadores de prêmios na loteria que eram pobres, enriqueceram subitamente e voltaram a ser pobres.
            Fica a dica: é uma besteira imaginar que a formação oferecida pelo sistema de ensino prepara seus filhos para o mundo que eles encontrarão depois de formados. Precisam conhecer as regras básicas do nosso cotidiano financeiro. Não basta só estudar e procurar um emprego.


                                                                             LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                                         Advogado e mestre em Administração