domingo, 9 de novembro de 2014

Papel da imprensa

            Não quero me tornar um articulista ranzinza, mas não posso ficar calado diante dos atos de vandalismo praticados por tresloucados contra a sede da Editora Abril, em São Paulo, inconformados com a publicação de uma reportagem de capa da revista Veja. Sem cair na baixaria e sem perder o bom humor, se eu encontrasse com algum deles, diria: “Tenha juízo, abandone esse sonho e arrume outro”.
            Ora bolas, numa democracia plural, a referida revista tem o direito de publicar o que quiser. O prejudicado, entretanto, também tem todo direito de protestar, se assim entender que a reportagem publicada teve conteúdo de inverdades. Sem falar que a mesma, por essa prática ilícita, caso tenha ocorrido, está sujeita às penalidades legais por crime de calúnia, infâmia e injúria.
            Independente de qualquer matiz ideológica que fosse, o único objetivo era intimidar a imprensa. Pronto. Isso para não ficar gastando latim depois da missa.
            Quando vejo tal aberração, lembro-me do pronunciamento feito pelo ex-presidente americano Thomas Jefferson, que tive a grata oportunidade de conhecer o seu memorial (EUA): “Como a base do nosso governo é a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser conservar esse direito, e se coubesse a mim decidir entre um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, não titubearia um minuto em preferir este último”.
            Aconteça o que acontecer, não há democracia sem uma imprensa livre e independente. Sem a imprensa, o povo seria apenas um joguete do poder público, pois não há condições de agir quando não há conhecimento das decisões e atos dos governos. A imprensa leva os acontecimentos do centro do poder para as ruas.
            Sim, é verdade. Enquanto a escola ensina conteúdos científicos, a televisão, as rádios, as revistas e os jornais “ensinam” sobre todos os temas da vida. A presença da opinião da imprensa no cotidiano das pessoas é intensiva, enquanto a via inversa (a colocação do ponto de vista do público para a imprensa) é praticamente inexistente, longe de ser uma comunicação de via dupla.
            É imoral um jornal defender um partido ou projeto político? Respondo na lata: Claro que não! Porque o partido pode representar a ideologia do veículo de comunicação. Imoral é deturpar informações, usar a imprensa com meio de calúnia e perseguição, mentir ou omitir em nome de um interesse particular ou de um grupo.
            De resto é inegável que a torpeza de situação, como essa aqui descrita, não deixa ser um “ponto fora da curva” da democracia.


                                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                       lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                          Advogado e mestre em Administração

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