Não quero me tornar um articulista ranzinza, mas não
posso ficar calado diante dos atos de vandalismo praticados por tresloucados
contra a sede da Editora Abril, em São Paulo, inconformados com a publicação de
uma reportagem de capa da revista Veja. Sem cair na baixaria e sem perder o bom
humor, se eu encontrasse com algum deles, diria: “Tenha juízo, abandone esse
sonho e arrume outro”.
Ora bolas, numa democracia plural, a
referida revista tem o direito de publicar o que quiser. O prejudicado,
entretanto, também tem todo direito de protestar, se assim entender que a
reportagem publicada teve conteúdo de inverdades. Sem falar que a mesma, por
essa prática ilícita, caso tenha ocorrido, está sujeita às penalidades legais
por crime de calúnia, infâmia e injúria.
Independente de qualquer matiz
ideológica que fosse, o único objetivo era intimidar a imprensa. Pronto. Isso
para não ficar gastando latim depois da missa.
Quando vejo tal aberração, lembro-me
do pronunciamento feito pelo ex-presidente americano Thomas Jefferson, que tive
a grata oportunidade de conhecer o seu memorial (EUA): “Como a base do nosso
governo é a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser conservar esse direito,
e se coubesse a mim decidir entre um governo sem jornais, ou jornais sem um
governo, não titubearia um minuto em preferir este último”.
Aconteça o que acontecer, não há
democracia sem uma imprensa livre e independente. Sem a imprensa, o povo seria apenas
um joguete do poder público, pois não há condições de agir quando não há
conhecimento das decisões e atos dos governos. A imprensa leva os
acontecimentos do centro do poder para as ruas.
Sim, é verdade. Enquanto a escola
ensina conteúdos científicos, a televisão, as rádios, as revistas e os jornais
“ensinam” sobre todos os temas da vida. A presença da opinião da imprensa no
cotidiano das pessoas é intensiva, enquanto a via inversa (a colocação do ponto
de vista do público para a imprensa) é praticamente inexistente, longe de ser
uma comunicação de via dupla.
É imoral um jornal defender um
partido ou projeto político? Respondo na lata: Claro que não! Porque o partido
pode representar a ideologia do veículo de comunicação. Imoral é deturpar
informações, usar a imprensa com meio de calúnia e perseguição, mentir ou
omitir em nome de um interesse particular ou de um grupo.
De resto é inegável que a torpeza de
situação, como essa aqui descrita, não deixa ser um “ponto fora da curva” da
democracia.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado
e mestre em Administração
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