segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Artigo: A famosa carteirada

       Acredito firmemente que o exercício do poder exige extrema prudência, espírito público e humanista, equilíbrio, serenidade, ética, mas, acima de tudo, simplicidade e humanidade.
            Lamentável que essa lição não tenha sido digerida por um magistrado no Rio de Janeiro, quando foi abordado pela agente do Detran, Luciana Silva, no momento em que ele dirigia uma Lond Rover sem placa e sem documento. Em continência, o juiz sacou a sua carteira funcional para intimidá-la. Sem titubear, ela disse que “juiz não é Deus”. Revoltado, utilizando de sua posição que exerce no judiciário, deu voz de prisão à agente por desacato.
            Idiotice à parte, uma jabuticaba explícita em seus desígnios, brasileiríssima, digamos assim. Um método muito utilizado para demonstrar hierarquia e superioridade. A famosa “carteirada” é um ato que humilha, gera constrangimentos e vergonha quem é vítima, e causa indignação para os que presenciam tal fato.
            Na Suécia, por exemplo, perguntar “você sabe com quem está falando?”, caracteriza crime. Por isso, em boa hora, o deputado Romário (PSB-RJ), agora senador eleito, indignado com essa situação, apresentou o projeto de Lei 8152/2014, que acrescenta artigo ao Código Penal e tipifica como crime a famosa “carteirada”. A pena será aumentada de um terço se o crime for cometido por membros do Poder Judiciário, Ministério Público, do Congresso Nacional, por ministros, secretários, governador e até presidente da República.
            O que é isso? Em que País vivemos? Algumas autoridades perderam a noção das coisas. Outro exemplo emblemático, em 2002, a guarda de trânsito Rosimeri Dionísio acabou em uma delegacia e autuada depois de multar o carro do filho de um desembargador estacionado em local proibido no bairro de Copacabana. Para mim, uma aberração que agride a nossa inteligência e cidadania.
            Olha, a humildade é um antídoto contra o orgulho! Ela tem o efeito de uma agulha com linha, alinhavando vidas, aproximando as pessoas, unindo mesmo os que são diferentes, enquanto o orgulho é como uma tesoura cega, que corta tudo o que encontra pela frente, machucando e danificando por onde passa.
            Na escola da vida, não precisamos ser melhor que ninguém; basta ter humildade e respeitar o próximo. A sociedade está mais atenta, vigilante e serenamente imune à atitude e ao discurso raivoso dessas figuras, que se arvora de ser autoridade. Uma soberba que os deixam tão ignorantes quanto os fanáticos religiosos.
Para encurtar o assunto, concluo dizendo que ninguém tem o direito de achar acima da lei, e tampouco achar que são deuses.


                                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                                                      lincoln.consultoria@hotmail.com

                                                                                                   Advogado e mestre em Administração

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