Acredito
firmemente que o exercício do poder exige extrema prudência, espírito público e
humanista, equilíbrio, serenidade, ética, mas, acima de tudo, simplicidade e
humanidade.
Lamentável que essa lição não tenha
sido digerida por um magistrado no Rio de Janeiro, quando foi abordado pela
agente do Detran, Luciana Silva, no momento em que ele dirigia uma Lond Rover
sem placa e sem documento. Em continência, o juiz sacou a sua carteira
funcional para intimidá-la. Sem titubear, ela disse que “juiz não é Deus”.
Revoltado, utilizando de sua posição que exerce no judiciário, deu voz de
prisão à agente por desacato.
Idiotice à parte, uma jabuticaba
explícita em seus desígnios, brasileiríssima, digamos assim. Um método muito
utilizado para demonstrar hierarquia e superioridade. A famosa “carteirada” é
um ato que humilha, gera constrangimentos e vergonha quem é vítima, e causa
indignação para os que presenciam tal fato.
Na Suécia, por exemplo, perguntar
“você sabe com quem está falando?”, caracteriza crime. Por isso, em boa hora, o
deputado Romário (PSB-RJ), agora senador eleito, indignado com essa situação,
apresentou o projeto de Lei 8152/2014, que acrescenta artigo ao Código Penal e
tipifica como crime a famosa “carteirada”. A pena será aumentada de um terço se
o crime for cometido por membros do Poder Judiciário, Ministério Público, do
Congresso Nacional, por ministros, secretários, governador e até presidente da
República.
O que é isso? Em que País vivemos?
Algumas autoridades perderam a noção das coisas. Outro exemplo emblemático, em
2002, a guarda de trânsito Rosimeri Dionísio acabou em uma delegacia e autuada
depois de multar o carro do filho de um desembargador estacionado em local
proibido no bairro de Copacabana. Para mim, uma aberração que agride a nossa
inteligência e cidadania.
Olha, a humildade é um antídoto contra
o orgulho! Ela tem o efeito de uma agulha com linha, alinhavando vidas,
aproximando as pessoas, unindo mesmo os que são diferentes, enquanto o orgulho
é como uma tesoura cega, que corta tudo o que encontra pela frente, machucando
e danificando por onde passa.
Na escola da vida, não precisamos
ser melhor que ninguém; basta ter humildade e respeitar o próximo. A sociedade
está mais atenta, vigilante e serenamente imune à atitude e ao discurso raivoso
dessas figuras, que se arvora de ser autoridade. Uma soberba que os deixam tão
ignorantes quanto os fanáticos religiosos.
Para
encurtar o assunto, concluo dizendo que ninguém tem o direito de achar acima da
lei, e tampouco achar que são deuses.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e mestre
em Administração
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