quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Nepotismo na política

 

             Estamos sendo conhecidos como o País da cueca, depois de mais um episódio envolvendo agora o senador Chico Rodrigues, pego com dinheiro escondido na cueca (entre as nádegas), provocando a indignação moral de todos.

            Com se não bastasse essa indignação, ele foi substituído automaticamente pelo seu filho Pedro Arthur Rodrigues, como primeiro suplente de senador, enquanto seu pai está preocupado em se defender junto ao Conselho de Ética do Senado. É ou não é um puro deboche?!

            Precisamos pôr o dedo nessa ferida: isso é absolutamente descabido e antidemocrático. O filho não seria eleito se o pai não tivesse sido. Voto não é herança. Isso é monarquia eleitoral.

            Não há escapatória, Brasil não se pode dar ao luxo dessa insensatez. É impossível evoluir numa Reforma Administrativa e Política sem banir a figura do nepotismo.

            Nepotismo é o termo utilizado para designar o favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detrimento de pessoas mais qualificadas especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos, ou indicações políticas com vista de preservar e continuar com interesses de ordem familiar, espécie de feudo político.

            Nestas eleições municipais - por aí, e por aqui -, vimos o patrimonialismo via nepotismo em pleno vapor. Esposas e filhos de candidatos ficha suja vão se autossubstituir. Pais, irmãos, filhos de senadores, deputados federais e estaduais em mandato lançando familiares a vereador. Início da carreira do profissional da política.  

            Já disse noutra oportunidade: a nossa prática tupiniquim tem o péssimo hábito de esbarrar nos ditames da realidade. É o caso da Constituição que faz apenas a ressalva da inelegibilidade reflexa, quando o cônjuge e os parentes dos governantes, para evitar o abuso de poder político, ficam temporariamente impedidos de se candidatarem. De resto, tudo é possível.

            O jeitinho está sempre presente no cotidiano brasileiro. Em matéria eleitoral, vamos encontrar também esse jeitinho na figura do nepotismo cruzado (“você cuida do meu, eu cuido do seu”), burlando assim o mecanismo de controle.

            É uma realidade: as redes sociais são um perigo quando se transforma em vício, quando viram plataforma de desinformação, valorizando o ódio, a luxúria, a discriminação. Contudo, se houver um uso sensato, como atalho para espalhar boas ideias e promoção de causas humanitárias, como também, denunciar a prática vergonhosa do nepotismo, que belo recurso temos em mãos.

            Portanto, sucinto, vou tentar dizer, a meu modo: a cultura do nepotismo se expande em silêncio. Ocupa vazios e sutilezas legais.

 

                                       LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                  Advogado, Administrador e Escritor

               

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