quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Gorda não é palavrão

            Outro dia, estava ouvindo uma conversa num restaurante, na mesa ao lado.

            - Não admito ser chamada de gordinha ou gorda. Tenho consciência dos meus quilinhos a mais. Mas, não aceito que ninguém me trate desse jeito.

            Não possuo aquela verve terapeuta que o caso requer, porém entendo que a “gordofobia” está impregnada em nossa cultura. Mostrando como o machismo e a mídia transformam o corpo feminino em objeto e impõe padrões estéticos artificiais.

            No livro “Gorda não é palavrão”, autoria de Fluvia Lacerda, que retrata a realidade das gordinhas, incentivando as mulheres a deixarem de lado as pressões externas para descobrirem efetivamente qual é o “corpo ideal”.

            Fluvia, em mais de 18 anos de carreira, como modelo plus size (tamanho maior) nos EUA, já foi fotografada em diversas situações e campanhas de moda, mas ainda tem que escutar muita pergunta chata e suportar a perplexidade alheia ao dizer que não pisa na balança e não tem o menor interesse em saber quanto pesa.

            No retorno de viagem ao Brasil pra visitar seus familiares, ela saiu para fazer compras, num dos shoppings em São Paulo. Enquanto estava ao celular, ficou mexendo nas peças dispostas na arara de certa loja. Assim que desligou, ela se dirigiu a uma das vendedoras:

            - Oi! Você tem outras estampas deste modelo aqui?

            A vendedora nem se deu ao trabalho de lhe cumprimentar e disse:

            - Não temos seu manequim nesta loja.

            Imediatamente, a Fluvia desbocada aparece. Respondendo na lata:

            - Acho que você não me ouviu bem. O que perguntei foi se tem outras estampas dessa aqui, não se tem meu tamanho.

            Antes que a vendedora se desse conta da besteira, Fluvia disparou:

            - Eu tenho dinheiro para gastar nesta loja. E não é pouco. Mas vocês perderam a oportunidade de vender porque são preconceituosas.

            Que coisa, hein? Exposição vexatória e deselegante. Não é preciso deitar em nenhum divã de psicanalista para entender a razão dessa cisma com as gordinhas. Não sei bem por quê? Só sei que o corpo perfeito é o corpo que você tem! Sem nenhuma comparação. Sem nenhum parâmetro. Sem nenhum certo ou errado.

            Sem meias palavras, não aceite piadas, não aceite olhares tortos, não aceite julgamentos, não aceite nada que lhe diminua. Se você quiser mudanças em seu corpo, você é livre pra isso, mas faça somente se realmente você deseja, e jamais, porque querem ou te obriguem a fazer essa mudança.

            As gordinhas, meu abraço e meu carinho.

 

 

                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                           Advogado, Administrador e Escritor

                          

 


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