quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Pandemia: volta às aulas

 

Eu não sei, você não sabe, ninguém sabe o que nos reserva pós-pandemia. É fato que agora temos menos mortes, menos casos, as curvas exibem a nova realidade da taxa de contágios. Em razão disso, ensaia-se o retorno às aulas presenciais, apesar do receio de pais e profissionais.

Apesar dessa preocupação, mesmo assim, a Prefeitura Municipal de João Pessoa tomou a decisão de divulgar o calendário de flexibilização das aulas presenciais a partir do dia cinco do corrente mês. Faltando apenas três meses para o término do ano letivo.                                                         

 Faço uma postinha com quem quiser: na verdade, as escolas estão ansiosas por garantir rematrículas, e os prefeitos estão de olho nas eleições. Um e outro, com pretensas razões pedagógicas e emocionais, procuram escamotear a questão mais importante - a única questão, em se tratando dessa pandemia de um vírus letal e contra o qual ainda não há vacina -, que é a saúde, a preservação da vida.

Cada vez que escuto ou leio alguma matéria sobre o assunto, fico convencido que não serão políticos, burocratas ou empresários que poderão decidir ou decretar o retorno às escolas em segurança, mas cientistas, especialistas em saúde pública. Até agora não há sequer um epidemiologista respeitável que garante com confiável margem de certeza que o convívio de crianças, jovens e adultos no ambiente escolar não causará uma nova onda de contaminação.

            Nesse embate, lamentavelmente, reside o risco de os apressados utilizarem discurso horroroso, falacioso e fantasioso, sem coesão ou fluidez para dizer que já há condições para retomada das aulas presenciais. Assemelhando-se a um carro aos solavancos, dirigido por um motorista sem habilitação. Um fato é incontestável: ainda não estamos fora de perigo da pandemia. Pois é grave miopia pensar diferente.

            Isento e direto, digo: não bastam termômetros digitais, tapetes sanitários nas portas das escolas, totens de álcool em gel, máscaras trocadas a cada duas horas ou rodízio de alunos. O risco maior reside no contato pessoal entre os colegas e nas aglomerações nos pátios. Tem mais: querem comparar países do Primeiro Mundo com o Brasil? Aqui muitas escolas não têm água nem para lavar as mãos.

            Ainda, se passa ao largo de enfrentar a verdade dos fatos. Isso tem um nome: hipocrisia. Quiçá, um pote até aqui de mágoa. Com responsabilidade, com base em protocolos e medidas de segurança, dá-se um passo atrás para que se deem dezenas de outros à frente.

            Como sou um otimista incorrigível - embora os fatos, muita vez, me desmintam -, creio que todos querem a volta à escola, mas sem açodamento e sem que fatores exógenos induzam a decisão das autoridades governamentais.

            Juízo, nada mais resta a dizer.

 

                                                        LINCOLN CARTAXO DE LIRA

                                                                      Advogado, Administrador e Escritor

               

 

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