Eu não sei, você não sabe, ninguém sabe
o que nos reserva pós-pandemia. É fato que agora temos menos mortes, menos casos,
as curvas exibem a nova realidade da taxa de contágios. Em razão disso,
ensaia-se o retorno às aulas presenciais, apesar do receio de pais e
profissionais.
Apesar dessa preocupação, mesmo assim, a
Prefeitura Municipal de João Pessoa tomou a decisão de divulgar o calendário de
flexibilização das aulas presenciais a partir do dia cinco do corrente mês. Faltando apenas três meses para o
término do ano letivo.
Faço uma postinha com quem quiser: na verdade,
as escolas estão ansiosas por garantir rematrículas, e os prefeitos estão de
olho nas eleições. Um e outro, com pretensas razões pedagógicas e emocionais,
procuram escamotear a questão mais importante - a única questão, em se tratando
dessa pandemia de um vírus letal e contra o qual ainda não há vacina -, que é a
saúde, a preservação da vida.
Cada vez que escuto ou leio alguma
matéria sobre o assunto, fico convencido que não serão políticos, burocratas ou
empresários que poderão decidir ou decretar o retorno às escolas em segurança,
mas cientistas, especialistas em saúde pública. Até agora não há sequer um
epidemiologista respeitável que garante com confiável margem de certeza que o
convívio de crianças, jovens e adultos no ambiente escolar não causará uma nova
onda de contaminação.
Nesse embate, lamentavelmente, reside
o risco de os apressados utilizarem discurso horroroso, falacioso e
fantasioso, sem coesão ou fluidez para dizer que já há condições para retomada
das aulas presenciais. Assemelhando-se a um carro aos solavancos, dirigido por
um motorista sem habilitação. Um fato é incontestável: ainda não estamos fora
de perigo da pandemia. Pois é grave miopia pensar diferente.
Isento e direto, digo: não bastam
termômetros digitais, tapetes sanitários nas portas das escolas, totens de
álcool em gel, máscaras trocadas a cada duas horas ou rodízio de alunos. O
risco maior reside no contato pessoal entre os colegas e nas aglomerações nos
pátios. Tem mais: querem comparar países do Primeiro Mundo com o Brasil? Aqui
muitas escolas não têm água nem para lavar as mãos.
Ainda, se passa ao largo de
enfrentar a verdade dos fatos. Isso tem um nome: hipocrisia. Quiçá, um pote até
aqui de mágoa. Com responsabilidade, com base em protocolos e medidas de
segurança, dá-se um passo atrás para que se deem dezenas de outros à frente.
Como sou um otimista incorrigível -
embora os fatos, muita vez, me desmintam -, creio que todos querem a volta à
escola, mas sem açodamento e sem que fatores exógenos induzam a decisão das
autoridades governamentais.
Juízo, nada mais resta a dizer.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado,
Administrador e Escritor
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