segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tempos Modernos

       O que é bom, dizem, não envelhece e jamais sai de moda: discos de vinil, vídeo-cassetadas, picolés no palito... e os filmes de Charles Chaplin. Por isso, em boa hora, a Folha lança “Festival Carlitos”, a obra (20 livros-DVDs) completa do artista que mudou a história das artes cênicas. Tido como “exceção à própria regra”, parafraseando o grande frasista Millôr.
            Quem ainda não fica inebriado com a beleza de seu talento?  Aquele que revolucionou e poetizou a realidade. Sem casa, família ou sustento, o vagabundo eternizado por Charles Chaplin busca a única felicidade que lhe é possível: o sorriso de quem dele se aproxima.
            Dos títulos agrupados nesse trabalho de resgate e de selo mágico cinematográfico, eu tenho um apreço todo especial pelo “Tempos Modernos”, cuja sátira desmantela a crença no progresso. Onde um operário (Chaplin) enlouquece de tanto apertar parafusos, ataca tudo e todos e vai parar na prisão. E ao lado de uma jovem órfão, tenta viver fora da ordem e fugir rumo a um sonho de liberdade.
            Com “Tempos Modernos” surge, como definiu em 1954 o crítico francês André Bazin, a única Fábula cinematográfica à altura do registro do homem do século 20 face à mecânica social e técnica. Nesse filme, decide manter os textos na forma de letreiros e reserva o som para a obtenção de alguns efeitos cômicos e para as falas que saem de máquinas.
            Muito divertido a cena em que Carlitos (Chaplin) vira, sem querer, líder de manifestação de operários ao carregar uma bandeira que cai de um caminhão. E quando usa sal para temperar a gororoba da cadeia, ficando ele alterado pela cocaína ali escondida, na sequência, torna-se um herói involuntário. Puxa, que barato!
            Dando uma lidinha, segundo Glauber Rocha, em “Tempos Modernos”, a máquina destruindo o homem é prova de fidelidade à imagem pura, à força expressional do cinema adulterada e também do horror ao capitalismo sem alma. Por falar nisso, até hoje, não há grife acadêmica lustrosa que deixe de reconhecer essa sua qualidade criativa e humanística.
Em grau superlativo, ele se envolve com as miudezas cotidianas, através da técnica apurada e virtuosismo. E digo mais: quando ele veio para este planeta, trouxe na bagagem um talento que é só seu. Um talento para realizar algo grandioso. E realizou, majestosamente!
É isso. Chaplin é a marca de um complexo artístico que transcende o cinema.


                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                  lincoln.consultoria@hotmail.com
                                                    Advogado e Administrador de Empresas
                                                             
               
           

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